quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O Inferno Cheio de Boas Intenções

           Este velho adágio assombra a humanidade numa frequência e intensidade que não pode ser ignorado. De boas intenções o inferno está cheio.

           Em termos de política e governos esta é uma grande verdade.  Vejamos alguns exemplos:

           - Direitos Humanos
           Quem a não ser um doente mental pode se posicionar contra os direitos humanos?  Mas, basta olhar para a segurança pública, os ataques em SP ou em SC, para ver que alguns conceitos precisam ser urgentemente revistos.
            A menoridade penal e o Estatuto da Criança e do Adolescente são exemplos de peças cheias de boas intenções mas totalmente fora da realidade!
           Quem ao ler os livros ou ver filmes sobre o terror das prisões não chega a ficar consternado?  Alguns chegam a sentir empatia por presos, que eventualmente praticaram atrocidades ainda maiores quando do seu convívio na sociedade.   Mas, não é com indulto e visita íntima que se atinge o objetivo de humanização.  É preciso parar para se pensar!
            E na hora de pensar não podemos ouvir a opinião de advogados a este respeito. Hoje, por exemplo, me deparei no jornal O Estado de SP com um artigo defendendo o "inalienável" direito de um advogado não questionar a origem do dinheiro que lho paga.  Ou seja, ao contrário de todos os cidadãos sujeitos às Leis contra a Lavagem de Dinheiro, a entidade que congrega os advogados, acha que eles devem ser impunes, pois caso contrário cerceariam o direito de defesa de seus clientes. Só para constar, para clientes que não tem dinheiro há a defensoria pública !!!
         
           - Lei Seca
            Há alguém a favor de bêbados dirigindo ?    Claro que não !  Contudo, esta lei é uma subversão a lógica que reprime o bom cidadão, que talvez quisesse tomar uma ou duas taças de vinho durante o jantar com sua esposa ou namorada e não pode mais.  De outro lado, pouco piorou para quem de fato causa a morte de alguém no trânsito.
            Comemoram-se a queda dos acidentes no carnaval.  Só não contam que triplicaram a fiscalização nas estradas.  Será que sem uma nova Lei Seca e com a mesma fiscalização o efeito não seria o mesmo?  Engraçado o que R$ 1.900 de multa é capaz de fazer.  Foram mais de R$ 2 milhões aplicados em multas neste carnaval, devido a Lei Seca.  Mas, qual a estatística de presos foragidos capturados durante o Natal? Quantas armas foram apreendidas com motoristas ?
            A falsidade fica clara quando andamos no trânsito e vemos dezenas de carros irregulares todos os dias e nada é feito.  Claro, carros com insulfim fora do padrão geram uma multa baixa e dão muito mais trabalho do que só fazer um incauto soprar o bafômetro...  Isso para não falar em outras irregularidades.

           - Renegociação das Dívidas dos Estados e Municípios com a União
           Os juros das dívidas dos Estados e Municípios para com a União são exorbitantes face a nova realidade brasileira.  Por outro lado, se não me engano, um dos mais destacados funcionários do Ministério da Fazenda, disse que a principal contribuição para a queda no superávit primário veio dos Estados e Municípios...  Logo, renegociar as dívidas neste momento, cuja consequência é a melhora na capacidade financeira dos Estados e Municípios, dificultará novamente o atingimento da meta de superávit primário deste ano.
           Neste caso, não sei se é caso de "inferno", mas certamente a medida que é positiva, não ajuda no cumprimento das metas.

           --------------------------------     x    ---------------------------
          Em síntese, toda e qualquer medida não pode ser julgada pelo seu efeito mais óbvio, é preciso considerar todas as externalidades ou efeitos colaterais, sob pena de ser mais uma boa intenção que nos leva ao inferno, tais quais àquelas que não canso de citar: juros baixos, câmbio desvalorizado, desonerações e subsídios, cotas, etc...

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Hora de Juntar as Cinzas

         O Brasil é um país sui generis.  Aqui temos dois inícios de ano. Um internacional e outro nacional.

          Sendo eu um otimista, vejo isto como uma grande vantagem.   Se o início do ano gregoriano não foi muito bom, temos a chance de recomeçar no carnaval, o ano novo brasileiro.

           Terminamos 2012 com um "pibinho" e adentramos 2013 com sinais confusos de política econômica. Entre acertos contábeis, inflação em elevação e uma novo política cambial, já não sabemos mais em que apostar.

            Dizem que certa vez Keynes teria sido perguntado por que ele mudara de opinião e ele teria respondido algo como: "Quando estou errado mudo de opinião, você não?"     Nada mais nobre que reconhecer um erro e mudar de opinião, assim, mudanças na política econômica não podem ser criticadas apenas por serem mudanças, mas...

               -------------------           x            --------------------
               Mudando de opinião sobre o Câmbio

         Os poucos leitores habituais de meu blog hão de se lembrar o quanto eu critiquei a política de desvalorização do real.   Entendia que para ela funcionar precisava redundar em queda na renda interna,  caso contrário teríamos uma desvalorização nominal e não real, sem efeitos sobre a competitividade e ou sobre os saldos da balança comercial.  Pior ainda, os efeitos defasados da política refletiriam inicialmente negativamente sobre os investimentos, dado o encarecimento dos bens de capitais (importantes na nossa pauta de importações),  causando no curto prazo redução no crescimento.

         Se a inflação fosse contida durante o processo de desvalorização, alguns ganhos na atividade econômica seriam observados no longo prazo.  Entretanto, seria difícil prever qual a taxa de câmbio necessária para que as perdas necessárias na renda real  e no consumo interno fossem compensadas pela melhora na balança comercial.

          Se partimos de uma taxa de câmbio de R$ 1,80/US$, e  considerando uma inflação de 6%, em um ano, em termos reais, teríamos que R$ 1,90 / US$ seria equivalente.   Ou seja, R$ 1,90 hoje teriam o mesmo poder de compra de R$ 1,80, um ano antes.      O objetivo desta matemática confusa é mostrar que todo o esforço para puxar a taxa de câmbio (desvalorizar o real) está indo por água abaixo por causa da inflação, como esperado, e agora pela reversão da política cambial.

           Como um ingrediente a mais temos a confusão causada nos agentes.  Antes, haviam sinalizações de que a taxa de câmbio desejada pelos policy makers era mais elevada, agora parece que a taxa desejada é por volta de R$ 2, ou um pouco mais baixa.   

            Nada de errado em mudar de opinião, mas é preciso compreender que os investimentos são decididos com expectativas de longo prazo.  A formação de expectativas é resultado do conjunto de políticas adotas pelo governo.  Se há confusão ou falta de compreensão por parte dos investidores à respeito da política econômica há um adiamento dos investimentos, e o "pibão" de novo ficará para outros carnavais.


                        -------------------           x            --------------------
                         Mudando de opinião sobre os Juros

           Há alguns sinais de que o Banco Central não está feliz com a inflação no curto prazo e já são comuns textos que sinalizam uma preocupação com a própria credibilidade do Banco Central.

           Quando o Governo Dilma tomou posse houve uma sinalização clara e muito positiva de mudança no mix de política econômica.  O controle da demanda seria feito muito mais por uma queda no déficit fiscal (ou aumento no superávit primário, como preferirem), tirando o peso da política monetária abrindo-se espaço para a prática de taxas de juros muito menores.    Contribuiria para isso, os níveis baixos das taxas de juros no mundo.  

           Aplausos merecidos.  

           Entretanto, como já se tornou hábito, deixaram de dar a enfase necessária para se explicar os novos rumos.  Em seus comunicados o Bacen creditou as reduções nos juros às pressões deflacionárias no globo. Eu, mal humorado que sou, os criticava já que não é, em minha opinião, papel do Banco Central determinar sua política monetária apenas com base nos preços de commodities, que são voláteis por excelência.    O resultado é que embora a direção da política fosse correta vários economistas  começaram a duvidar da capacidade do COPOM levar a inflação para o centro da meta.

          Ficou mais confuso quando decidiu-se agir também sobre a taxa de câmbio. Está na bíblia: não dá para servir a dois senhores ao mesmo tempo !!    Política monetária menos restritiva e desvalorização cambial são duas coisas que quando combinadas tem um efeito claro: inflação.    Para sorte de todos, a inflação ficou comedida, ou esquecida, pois graças ao cenário recessivo no hemisfério norte os preços em dólares e mesmo das commodities caíram.    

            Vi vários "apoiadores" da política econômica comemorarem o fato de terem provado que juros altos no Brasil eram uma balela.  Não eram.  Não são.   

            Os juros no Brasil eram e ainda são excessivamente altos, mas não é uma questão que se resolva com puro voluntarismo. 

             Voltando para a inflação... A aposta nos preços internacionais baixos que garantiriam a inflação baixa, apesar da reversão na política fiscal (anticíclica), deu "água".  A quebra na safra americana de grãos fez a inflação dos alimentos subir.  E agora, a inflação volta a flertar com o teto da meta, contida apenas por medidas pontuais de desoneração, subsídios e de adiamentos de reajustes.

             O que o Banco Central não entendeu, tal qual vários economistas, é que a variação de um índice de preços não determina se há inflação ou não. É preciso olhar além.  O que fizermos, durante o período de calmaria, foi regar o germe (gérmen) da inflação, que brotaria com toda certeza.

             Agora é preciso correr atrás e o custo vai ser mais elevado.  Mas, nunca é tarde para se assumir um erro.   Apesar disto, é importante dizer que as "taxas de juros" não são o único instrumento de política monetária.  

            Existem basicamente 3 instrumentos de política monetária : Taxas de Juros, Compulsórios e Contingenciamento do Crédito.    Grosso modo, os três instrumentos agem da mesma forma, regulando a oferta de moeda na economia.

            O que assusta é que ao mesmo tempo que lemos no jornal sobre as preocupações do BC com a inflação e a sua credibilidade, lemos sobre a ação do governo para a expansão do crédito.   Isto não vai dar certo, pois os dois objetivos são incompatíveis.   

             Temos um potencial dilema: o Banco Central não quer subir o juros e quer conter a inflação e o governo quer que o crédito se expanda !!!    Não vai dar certo !   Se no limite, o governo consiga a expansão no crédito o BC teria que subir os juros para conseguir conter a inflação.  É confuso. Vai acabar mal.

             A política monetária mais plausível, não comporta aumento nos juros, nem no crédito.  O razoável é justamente o contrário, o crédito ao consumo deveria ser contido.  A sinalização anterior do BC, de que antes dos juros ele adotaria medidas"macroprudenciais" (compulsório e restrições ao crédito) era neste sentido.  E é minha aposta do que por fim há de acontecer.  

              A tentativa de mirar múltiplos alvos leva à múltiplos erros.

               -------------------           x            --------------------
               Juntando as Cinzas

               Levando em consideração o momento propicio para uma reavaliação da política econômica, tenho 2 sugestões.

               1a) Deve-se definir claramente os objetivos da política econômica, entendendo que algumas vezes eles se opõem.  Tal problema, só pode ser resolvido com a definição de prioridades e atacando um objetivo por vez, sob pena de se gastar toda munição sem atingir nenhum alvo.

                2a) Simplifique.  Mais fácil desonerar todos, eg. acabando com a Cofins do que desonerar aquele   ou este setor, criando ainda mais regras fiscais.

                Por fim, uma recomendação genérica: É IMPORTANTE INVESTIR NUMA COMUNICAÇÃO CLARA E OBJETIVA !
               

           

           

         

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O Carnaval da Pobreza !

      A uns 2 anos atrás, em minha antiga página no facebook,  criei um evento cujo tema era "não quero estádio, quero prisão".  Alguns corinthianos, inclusive amigos meus, acharam que eu estava menosprezando a importância do Corinthians.    Não era o caso.  O que eu queria fazer é mostrar o quão esdrúxulo é o setor público, direta ou indiretamente, bancar um estádio de R$ 1 bilhão seja lá para que clube for enquanto existem demandas sociais ainda mais importantes.

      Com um indivíduo, que ficou mais ofendido com minha proposta, tive uma discussão mais aguerrida, pois ele entendeu que o fato de eu achar "prisão" melhor que "estádio" era uma brincadeira de mau gosto com os esteriótipos atribuídos aos seus irmãos de time.  Expliquei que minha escolha por prisão era pela simples razão que naquele momento começava uma nova escalada do crime em SP e aquela me parecia a prioridade no momento.  Mas, o que eu queria acima de tudo é deixar claro que todo o dinheiro que o setor público gasta com "estádios" ele deixa de gastar não só com segurança, mas também deixa de investir em saúde e educação.  

     O ex-prefeito, que felizmente já seguiu em frente com sua carreira política, na mesma época propunha a cessão de terrenos públicos em troca de construção de creches.  Ora, se faltava dinheiro público para construir creche por que dar uma subvenção de R$ 400 milhões para construir um estádio?  Quantas creches poderiam ser construídas com este valor?

      Hoje, lendo notícias na internet, deparei-me com a seguinte informação: O Carnaval 2013 de São Paulo vai custar R$ 33,9 milhões aos cofres públicos da prefeitura, o que coloca a cidade em segundo lugar no ranking de gastos entre as capitais.

      Não posso deixar de pensar como o meu dinheiro de contribuinte está sendo mal gasto, tendo como desculpa a velha ladainha de que isto atrai turistas para São Paulo...  Se o evento é tão grande e importante e conta com a cobertura da mídia e existem patrocinadores não há a necessidade de dinheiro público e os turistas (poucos) virão do mesmo jeito !!!    Volto a me perguntar, quantas creches consigo construir com R$ 34 milhões.  

       Carros alegóricos são bonitos. Eu gosto de vê-los.   Mas, qual é o "legado" que ele nos deixa?

       Já passou a hora dos políticos abandonarem o "pão e o circo" e começarem a investir nosso dinheiro de maneira mais proveitosa !!!


Game de Política Monetária: recomendação para Saint of Paul Oco


      Como é sabido a política econômica em Saint of Paul Oco era gerenciada de forma voluntarista. Difícil dizer o que era pior.  Pena que na época de Saint of Paul Oco não existia o Game: http://www.frbsf.org/education/activities/chairman/

       Um conselho que eu teria dado ao presidente do Banco Central de Saint of Paul Oco, afora o óbvio "muito faz quem não atrapalha" era ele ficar brincando com este joguinho.  Assim, ele não teria contribuído para o desaparecimento da lendária terra, que todos sabem chafurdou na M...  E, de quebra, brincando, talvez aprendesse um  pouco !!


Inflação

     Ontem foi divulgado o IPCA de janeiro/2013 que apresentou uma variação de 0,86%.  A notícia mais que esperada, afinal a mais de um mês o mercado esperava que a inflação ficaria acima de 0,80%, causou furor.  Para completar a declaração da autoridade monetária de que o patamar da inflação não é confortável  fez as taxas de juros futuros dispararem, contribuindo para os movimentos de baixa na bolsa e no dólar.

       Eu, apesar de meus mais de 20 anos em mesas de operação, não consigo deixar de achar graça na tragédia...   Por dever de ofício leio todos os documentos do Banco Central relacionados às metas de inflação.  Assim, sempre acreditei que certas manifestações deveriam ser guardadas para serem feitas através destes documentos, principalmente no Relatório de Inflação, nos Comunicados e Atas das reuniões do COPOM.   Isso diminuíra e bem o ruído.

         Enfim, tenho repetidamente falado que o maior defeito da política econômica no Brasil é a comunicação !

        O que mais me admira é a reação dos mercados à algo mais do que esperado, já que o número divulgado do IPCA ficou dentro das expectativas.  Mas, por mais interessantes que sejam as reações elas são pouco importantes, pois o que importa são os fundamentos !

            Falando em fundamentos acho importante fazer uma diferença clara entre "processo inflacionário" e alta no índice de preços, que muitas vezes são tidos por sinônimo.  Embora extremamente relacionados, uma coisa e não tem nada a ver com a outra. Vamos a um exemplo de padaria.

              Suponhamos que existam 5 produtos na economia e que são vendidos na padaria do seu Matsunaga: pão, óleo, leite, refrigerantes e cigarros.  E que em dado momento o preço de cada um deles era de R$ 1.  Supondo pesos iguais e constantes, podemos dizer que o IPPM (índice de preços da padaria do Matsunaga) era de 5 (igual a somatória do preço de cada produto).   Suponhamos que, certo dia, o ministro da fazenda, decidiu estabelecer um imposto de 100% sobre o cigarro, logo o preço do cigarro subiria para R$ 2.  E o IPPM para 6 (1+1+1+1+2), apresentando uma variação de 20% !     Isto não é um processo inflacionário é apenas uma alteração em um preço devido a um fator específico.

                 De forma inversa, vamos supor que todos os outros produtos tenham seus preços elevados para 1,25.  O IPPM  subiria para 7 (1,25 X 4 +2), apresentando uma variação de 16,66% (7/6-1).  Isto é inflação.  Agora, por hipótese, imaginemos que um astuto governante, para segurar a "inflação", decida desonerar o cigarro, fazendo que seu preço volte para R$1.  Então o IPPM continuaria em 6 (1,25 X 4 +1), apresentando uma variação de 0%.  Acabou a inflação ?   Não !!

               O objetivo deste exemplo é ressaltar a importância de se olhar a inflação como um processo que é marcado pela alta generalizada de preços e que necessariamente tem um cunho monetário.  O fato de um índice de preços apresentar uma variação mais alta ou mais baixa em determinado momento é pouco relevante, já que preços podem ser afetados por fatores externos (eg. quebra da safra americana de grãos, guerras no golfo pérsico, etc.).   O que a autoridade monetária e os economistas devem fazer é observar a dinâmica.


         No gráfico acima, vemos a evolução do índice de difusão do IPCA,  Este índice indica qual o percentual de produtos da cesta que apresentou alta.  Vemos que, em janeiro de 2013, aproximadamente 75% dos produtos que compõem o IPCA apresentaram elevação de preços.  É fácil observar que este é um dos piores resultados desde o início do sistema de Metas de Inflação, só superado pelo período no final de 2002, quando o dólar chegou a bater R$ 4.     

            Outro destaque no gráfico é que o índice de difusão está em clara tendência de alta, o que pode ser percebido pela sua média móvel de 12 meses (linha preta).

             Tudo isso para dizer, que a manifesta preocupação parece tardia e que medidas paliativas de desoneração reduzem a variação nos índices de preços mas não combatem o processo inflacionário.
               Olhando o gráfico acima, onde temos a variação acumulada em 12 meses do IPCA (em preto) e de alguns grupos de produtos vemos claramente que: o que contribui para conter a inflação, desde 2010 foram os preços administrados (controlados pelo governo) e os bens tradeables (aqueles que tem seu preço determinado pelos mercados globais).  No lado superior do gráfico vemos que os grupos que mais contribuíram para a inflação foram os "serviços" e os "nontradeables", que são aqueles produtos cujos preços não dependem do mercado internacional.  Apenas, para não me acusarem de tendencioso, os serviços compõem a maior parte dos nontradeables.

                 A conclusão clara é que a variação nos preços no Brasil foi contida apenas pelo desaquecimento global e pelas determinações governamentais.   Para mim, isto tem cara de processo inflacionário.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A Função de Satisfação dos Governantes de Saint of Paul Oco

          Uma das questões mais intrigantes aos estudiosos da lenda  é o que movia os governantes de Saint of Paul Oco em sua preferência por políticas "complexas".

         No intenso debate sobre a questão, na qual participam alguns economistas, levantou-se a questão da função utilidade dos políticos. Para facilitar, alguns antropólogos preferiram trocar o termo função utilidade por "Função de Satisfação".   Esta função, representada numa tabela,  enumera diversos objetivos e a suposta satisfação (ou prazer) obtido pelos políticos ao atingi-los.    A ideia era simples, a partir de uma engenharia reversa, isto é, das medidas adotadas pelo governo, eles tentariam descobrir quais os objetivos dos governantes de Saint of Paul Oco.

         A aparentemente simples tarefa era, na verdade, bastante complexa. A seguir vou relatar apenas algumas especulações feitas a partir do brain storm dos estudiosos.

        Inicialmente, tentaram simplificar os possíveis objetivos pessoais dos governantes ou políticos.  Após muita discussão conseguiram reduzi-los a 3: 

        - Enriquecimento;
        - Notoriedade;
        - Altruísmo.

        O primeiro objetivo é óbvio. Tudo mundo quer ter mais dinheiro.  Neste sentido, para determinar a função satisfação, o importante era determinar qual a importância ou grau de satisfação atribuído pelos governantes ao enriquecimento próprio.

          O objetivo de "Notoriedade" é um pouco mais complexo, mas em suma, ele diz respeito à satisfação que o governante tem em ser reconhecido como um grande estadista ou policy maker.  Dentro desta categoria o que importa é a importância  que o governante dá aos adjetivos que lhes são atribuídos pela mídia, pelo povo e a expectativa que ele tem sobre como a história registrará sua passagem.

           O terceiro item foi difícil conseguir a concordância da maioria para incluí-lo.  Mas, enfim, embora não seja fácil acreditar, algumas pessoas se satisfazem em fazer o bem ao próximo.  Certamente, como um chato fez questão de deixar registrado, em muitos casos o altruísmo é apenas um meio para se atingir a notoriedade, contudo,  ao menos pela paz de espírito entre os estudiosos, decidiram concordar que é possível haver alguém cujo prazer está em simplesmente praticar o bem.

            Tendo conseguido determinar os leitmotifs dos políticos a tarefa agora era analisa-los em face das medidas tomadas por cada governo . A partir daí ficaria fácil determinar qual a função de satisfação dos políticos.

            A primeira observação, para alegria do economista chato, é que raramente se encontrou altruísmo nas medidas.  Após três meses de discussão, a frase mais proferida pelo tal chato era: "Eu avisei!".

              A segunda observação dos analistas das lendas e dos supostos registros arqueológicos de Saint of Paul Oco era que, para se alcançar a notoriedade não eram necessárias medidas efetivas mas, apenas uma boa manipulação dos escribas, responsáveis pelos registros históricos e pela divulgação dos atos de governo.   Assim, uma pequena esmola podia ganhar vulto e parecer a solução eterna dos problemas da pobreza.    

               Um cientista político, que faz parte dos debates, ressaltou que, mesmo que a única coisa que dê satisfação ao governante seja o próprio enriquecimento era precisava da notoriedade para conseguir se manter no poder!    Enfim, os objetivos de notoriedade e enriquecimento não eram excludentes e sim complementares.   

                As coisas começaram a ficar claras.  Os políticos sempre vão precisar de notoriedade.  E, como todos, sempre querem ficar mais ricos.  Então, para determinar a função de satisfação dos políticos ficou fácil: bastava ver os custos das medidas que davam notoriedade versus todas as outras.

                 Em poucas horas, percebeu-se que as políticas de cotas, lei úmida (em Saint of Paul Oco, a lei que proibia bebidas alcoolicas era chamada de Lei Úmida já que nada era seco numa terra que havia chafurdado na m...), reurbanização de áreas invadidas, etc., serviam apenas para o objetivo da notoriedade e que o custo delas era mínimo. Por outro lado, a análise das medidas realmente importantes, sempre direcionadas à um grupo/setor ou outro, e não a população em geral (apesar do estardalhaço dos escribas que faziam questão de registrar o oposto) só poderiam servir ao primeiro objetivo: ENRIQUECIMENTO.


                Enfim, os estudiosos pareciam começar a compreender o que levou a lendária Saint of Paul Oco a desaparecer, afundando para sempre na M...

              Ainda bem, que Saint of Paul Oco e só uma lenda.  E, eu, sou muito feliz por viver no Brasil, onde estas hipóteses são impensáveis !!!


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Os Agentes Econômicos e Suas Escolhas: um pouco de teoria à guiza de introdução ao próximo post.

      Quando estudamos economia passamos grande parte do tempo tentando entender como as pessoas fazem suas escolhas.   Embora já existam críticas contundentes à hipótese de que os agentes são racionais, não há dúvidas de que - salvo alguns malucos irrelevantes - que as pessoas buscam maximizar seu bem-estar.

          A maximização do bem-estar envolve - como já abordado aqui muitas vezes - um trade-off entre preço e satisfação.  As pessoas vão sempre preferir o que lhes dá mais satisfação ao menor preço. Como geralmente as coisas que mais satisfazem são as mais caras o dilema imposto é quanto a pessoa está disposta a gastar a mais pelo aumento da satisfação.  

             A escolha de vinhos nos dá um bom exemplo de como as escolhas ocorrem.   Ao entrarmos numa adega, encontramos diversos vinhos aos mais diversos preços.  Possivelmente, o melhor vinho custará mais de R$ 1000,00 e o pior ao redor de R$ 10,00.  A maioria das pessoas possivelmente vai preferir um vinho entre R$ 50 e R$ 100, devido ao orçamento e a qualidade do vinho. Eventualmente, para uma ocasião especial a pessoa pode dispor-se a gastar mais.  Em outras situações, tal como quando alguém quer fazer vinho quente ou sangria, possivelmente a escolha será por um mais barato.  Mas, sempre a escolha envolverá o preço e uma opinião sobre a satisfação que o vinho trará.
         
           Economistas ranzinzas vão tentar encontrar provas de irracionalidade, pois perceberão que algumas pessoas não teriam o escolhido o "melhor" vinho dado certo preço.   Embora isto realmente aconteça, o fato é que gosto não se discute e que também há um processo de aprendizado nas escolhas e este fato não invalida o contexto teórico, de forma suficiente.    

           Economistas mais radicais pressupõem um total egoísmo dos agentes acreditando que eles fazem suas escolhas independentemente dos impactos que causem nas outras pessoas.

             Economistas estudiosos sabem que altruísmo também traz satisfação e que portanto, o que as vezes parece irracional, não o é.

              Neste contexto - da teoria econômica - as pessoas em geral nunca tomam decisões ruins, já que de forma altruística ou egoísta sempre estão tentando fazer o que mais lhes satisfaz.

               Infelizmente, muitas vezes a satisfação de um causa prejuízo a outrem.  Para isso, foram criadas as leis e instituições: para garantir que a sociedade não seja "prejudicada" pelo egoísmo.

              O problema é que o governo é formado por pessoas, elas mesmas egoístas.  Então, ao invés do governo fazer escolhas em pró da sociedade as escolhas são determinadas pela satisfação pessoal dos governantes.  Daí que para entender como um governo "opera" é preciso entender a função de satisfação de seus membros (os indivíduos que o compõem).  Quando penso nisso fico assustado !!

                


terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

A Política Em Saint of Paul Oco: uma breve estória

           Alguns arqueologistas, especialistas na nossa lendária terra, encontraram registros que aparentemente   seriam do Congresso Nacional de Saint of Paul Oco. Ficaram confusos e por isso ainda não divulgaram suas conclusões.  Também não cheguei à nenhuma conclusão, então apenas vou relatar alguns dados retirados destes registros.

           A primeira coisa que deixa confusos os arqueólogos é a questão de sobrenomes.  Mesmo havendo quase 1 século de registros e Saint Of Paul Oco ter passado por vários regimes políticos, desde governos de esquerdas até ditaduras de extrema direita, alguns sobrenomes estão presentes em quase todas as épocas, às vezes, ligados à esquerda e outras à direita.  O que eles não tem certeza é se de fato há parentesco entre estas pessoas, o que indicaria que no fundo - do mar de m... onde Saint Of Paul Oco chafurdou - o sistema político lá praticado seria a oligarquia engabelatória.

           Os novos nomes que surgiram nos registros e que, aparentemente, fizeram ferrenha oposição aos governos anteriores de direita parecem ter se associado à eles.  Tudo muito confuso.

            Outro dado "estranho" nos registros encontrados era sobre um tal mesadão. Uma espécie de auxílio à prática política.  Eles não conseguiram entender de onde vinham os recursos, mas parece que vinham do próprio orçamento já que eram destinados à diversos partidos.  Mas, além da origem incerta, o mais estranho é que não havia regularidade nem na periodicidade, nem valor.  Ficando claro, que ao menos, em Saint of Paul Oco nunca houve mensalão.

             Mais uma coisa apurada pelos estudiosos na lenda de Saint of Paul Oco parece não fazer sentido.  Aparentemente, nomes relacionados à situações pouco claras num passado recente voltavam a assumir posições de destaque.

              Em meio à tanta confusão e à dificuldade em se entender tal sistema político, e já que Saint of Paul Oco é apenas uma lenda, os estudiosos pensam se não valeria a pena apagar toda estória e tentar escrever uma nova...

A BOVESPA E A PETROBRAS: UMA BREVE NOTA

             Os 5 leitores deste blog devem já estar acostumados com meu pessimismo com o Brasil.  Não vejo "upside" na Bovespa, já que não acredito na atual política econômica e em face do crescimento ainda baixo da economia global.  Por outro lado, eu também acho que alguns papéis já descontaram suficientemente o cenário negativo.  É o caso da Petrobrás em minha opinião.

              Petrobrás divulgou seus resultados ontem e hoje os jornais dão destaques aos inúmeros dados negativos. Mas, resultados, às vezes, são como copos que podem estar meio-cheios ou meio-vazios, dependendo do ponto de vista.    A mídia, aparentemente, preferiu o copo meio vazio. Eu o vejo como meio cheio.  Vou mostrar as duas visões a partir de uma tabela, divulgada pela própria Petrobrás, ontem:


        A esquerda está o copo meio-cheio, que eu prefiro.  A direita, o copo meio-vazio destacado pela mídia.  Do lado direito, os dados anuais, mostram, uma queda em todas as linhas.  De fato, terrível !.  Do lado esquerdo, o que vemos é que comparando o 4o. Trim de 2012 com o 3o. Trim. de 2012, houve uma melhora considerável no Lucro.  O EBITDA caiu. Mas, eu (sei que o Warren Buffet também)  não acredito em EBITDA. Meu conselho: ignore-o, a não ser que você vá comprar a empresa, zerar suas dívidas, sonegar impostos e não reinvestir nem 1 tostão por conta do desgaste dos equipamentos.

         O Lucro Líquido no 4o Trim. de 2012 também melhorou em relação ao 4o. Trim de 2011.

         Enfim, a situação ainda não é boa.  O aumento da gasolina e do diesel aprovado neste ano, também parece menor do que seria ideal.  Mas, a situação está melhorando.

         A nova gestão parece ser mais cuidadosa que a anterior.  

         Em resumo: se derrubarem Petro, talvez seja um ótimo buy opportunity.


Apenas para ficar claro: tenho CNPI, CPA-20 e sou gestor autorizado pela CVM, caso acidentalmente algum leitor, além dos meus 5 amigos habituais do blog, não goste de minha análise.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Para aonde vão os juros?

     Quando a Dilma foi eleita e começava a formar a equipe econômica os sinais eram promissores.  Finalmente parecia que o "mix" de políticas econômicas tomaria uma forma que levaria o Brasil a um novo patamar.   A combinação de maior austeridade fiscal e a redução dos juros era promissora.

        A volta de Palocci à equipe de governo também era uma boa sinalização. Além da macroeconomia, haveria alguém preocupado em dar continuidade às reformas microeconômicas, sem as quais o Brasil continuaria com limitações ao crescimento econômico.  

         Eu estava certo desta melhora.  Em janeiro de 2011 passei um email aos meus colegas de mercado financeiro ressaltando meu otimismo.  Mas, o tempo passa, o tempo voa e nada ficou numa boa...

          A questão das metas e instrumentos de política econômica já foram alvos de outros textos neste blog. Também foi alvo de meu mal humor o intervencionismo que se tornou comum, neste novo governo.  O que parecia que ia ser bom deixou de ser.

           E agora, com os juros nominais ao redor de 7% e os juros reais brutos ao redor de 2% e com a piora dos fundamentos macroeconômicos,  uma das grandes dúvidas dos traders no mercado financeiro e dos aplicadores financeiros é: para aonde vão os juros?

              Antes de responder para aonde vão, é necessário entender aonde estão.   Acho que existem 2 questões fundamentais que explicam o atual patamar dos juros e nenhuma delas tem a ver com a sagacidade de certos policy makers que se vangloriam do feito.  A primeira, e mais importante razão, são os juros praticados nas principais economias do globo, que se encontram nos menores níveis da história e em vários casos, abaixo da inflação.

              Voltando aos conceitos econômicos básicos, vale lembrar a paridade coberta e descoberta das taxas de juros.  Sem me aprofundar nos dois conceitos, suas diferenças e a discussão de qual é mais apropriado, vou ao ponto.  Grosso modo, a taxa de juros de um país - dada uma taxa de câmbio - é determinada pela diferença entre as taxas externas e a expectativa de valorização/desvalorização cambial.  Em síntese, se a taxa de juros americana é de 0%, a taxa no Brasil será de 0% mais a depreciação cambial esperada (que tende a ser próxima da taxa de inflação) mais um prêmio de risco.  Assim, a taxa de juros de equilíbrio no Brasil seria aproximadamente igual a 0% (juros americanos) + 5,5% (inflação esperada) + 1,3% (risco brasil) = 6,8%.(obs: não é mera coincidência a SELIC estar fixada em 7,25%, ou seja, muito próximo deste valor).

               A segunda questão fundamental é relacionada ao "regime monetário" adotado. Até o final do governo Lula, aparentemente, o Banco Central, dado o objetivo que lhe é fixado por lei, perseguia o centro da meta de inflação de 4,5%.  A partir do governo Dilma, esta preocupação com o centro da meta parece ter sido reduzida.  Agora o BACEN parece se contentar com a "convergência não linear" da taxa de inflação para o centro da meta. Isto é, aparentemente, o Banco Central atualmente não se preocupa com a convergência "imediata" da taxa inflação, desde que em algum momento, em seu modelos, a inflação venha a atingir os 4,5%.   A consequência disto é que a resposta da política monetária a elevação dos níveis correntes de inflação é... nenhuma !!

             Em resumo, a os juros nominais estão ao redor dos 7% por que as condições internacionais permitem e por que o Banco Central não reage às "elevações temporárias" na inflação.

                   Tendo determinado por que os juros estão aonde estão, podemos seguir em frente e pensar na resposta à pergunta tema deste texto.  

                  Podemos afirmar, com base nas sinalizações dos principais Bancos Centrais do mundo, que as taxas de juros nos mercados internacionais permanecerão baixas por um ainda longo tempo.  Então, em minha opinião, é provável que até 2015, do lado internacional, não haverá, a princípio, fatores que forcem uma elevação nas taxas de juros.

              Do ponto de vista da "função resposta" do Banco Central e do governo às pressões inflacionárias, sobram sinais de que a última coisa que desejam é a alta nas taxas de juros.  Do lado do Bacen, em sua comunicação com o mercado fica claro que inicialmente, caso a taxa de inflação fique em uma zona de desconforto,  eles se utilizarão de medidas "macroprudenciais".  Em síntese, antes do aumento das taxas de juros haverá aumento nos compulsórios e medidas de restrição ao crédito, e se estas medidas falharem, aí sim, haverá aumento das taxas de juros.

             Do lado do governo Dilma  já vimos a preferência por medidas paliativas de contenção da inflação. Tais como a desoneração da carga tributária incidente sobre certos produtos e serviços, como por exemplo é o caso dos preços da energia elétrica.   Vale ressaltar que a redução média ao redor de 18% nas tarifas  sobre o consumo residencial de energia causará uma redução de 100 bps na taxa de inflação medida pelo IPCA (apenas para deixar claro: se a variação no IPCA prevista para 2013 fosse de 6%, antes da queda, se tudo o mais permanecesse constante, a expectativa para o IPCA cairia de 6% para 5% !!!).  Embora eu já tenha manifestado claramente meu desgosto com estas medidas, não podemos menosprezá-las em sua capacidade de reduzir a inflação no curto prazo.

            Em resumo, aqueles que esperam uma elevação nas taxas de juros em 2013 correm o risco de estarem redondamente enganados.  Acho que a chance de haver alta de juros neste ano, pelas razões expostas, é próxima de 0 !   Em meu cenário básico, em  2013, novamente serão frustradas as expectativas de crescimento forte do PIB brasileiro o que contribui para esta visão.

               Para 2014 é mais difícil prever se haverá ou não alta de juros.  Embora não seja razoável imaginar que o FED (banco central norte americano) suba as taxas de juros já em 2014 é possível que as discussões sobre uma elevação sejam mais intensas e, que, portanto, as taxas internacionais de médio e longo prazo comecem a subir.  Do ponto de vista do Bacen, 2014 pode ser um ano crucial na medida do sucesso ou fracasso de sua diretoria em conter a inflação, já que eles estarão indiretamente sendo julgados pelos eleitores e também, deste sucesso ou não, dependerá a manutenção deles em seus cargos no novo governo em 2015 (mesmo que Dilma seja reeleita, que é o cenário mais provável neste momento).   Então, também é possível imaginar um Banco Central menos condescendente com os desvios da meta. Mesmo assim, em qualquer cenário, que não contemple alguma crise global, não é razoável imaginar qualquer alta significativa (maior que 100 bps) na taxa SELIC.  E se, meu pessimismo, se confirmar, o crescimento do PIB será ainda frustrante, logo, o mais provável ainda será mais do mesmo.

             O problema das taxas juros, e o risco de alta, torna-se realmente relevante à partir de 2015, quando é provável que a maioria dos bancos centrais comecem a abandonar suas políticas de expansionismo monetário e os fluxos cambiais se encaminhem de forma mais contundente para as economias "centrais".  Além disso, a queda na produtividade relativa (vs outras economias) no Brasil começará a cobrar seu preço de forma mais intensa.

            Bottom Line:  aplicações em títulos pré-fixados até 2 anos, ainda são uma boa ideia. Além deste, prazo não o risco é muito grande.  Em termos de "trading" eu sou comprador de curva longa !!
                  















quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Trade-offs da Política Econômica



Apenas poucas coisas são consensos absolutos entre economistas, que em geral adoram o debate.   Uma destas coisas é que os recursos são escassos e as necessidades infinitas.   Em outras palavras, o cobertor é curto.  Não dá para cobrir o corpo inteiro.  Se cobrir os pés, as costas ficam descobertas e vice-versa...

Dada a escassez de recursos e os desejos infindáveis todos nós  somos forçados a fazer escolhas, assim como  o governo.  Escolher um objetivo sempre significará sacrificar outros.  Não dá para desvalorizar o câmbio, baixar os juros e gastar mais simultaneamente sem que a inflação aumente.   

Não bastasse o cobertor curto a adoção de medidas gera consequências. O que me faz lembrar outro consenso entre os economistas: “There is no free lunch!”  Normalmente as consequências da política econômica são percebidas nos preços, no consumo e no investimento.

Quando alguém do tesouro nacional diz que haverá em 2013, R$ 85 bilhões em desonerações, pensando na ideia de cobertor curto, isto implica que alguns estão sendo beneficiados as custas de outros.  Então, de certa forma, é como dizer que comer carne é melhor do que ter uma mecânica, ou que produzir IPADS é melhor que aumentar o número de vagas em faculdades... É apenas uma questão de escolha.

O problema é que ao fazer escolhas há consequências ou trade-offs.  Poderia voltar ao exaustivo caso dos preços de energia elétrica. Quando se decide baixar estes preços, a consequência imediata é um aumento no consumo e uma redução dos incentivos para se investir no setor.  Poderia citar o caso do preço da gasolina.  Quando se decide mantê-lo baixo, também se incentiva um maior consumo, que provoca mais importação e que diminui o resultado das empresas produtoras.

Quando se decide desonerar a folha de pagamentos de um setor ao invés de outro, você sinaliza preferência.

Há um trade-off implícito da intervenção que é a conturbação do sistema alocativo.

Além das discussões apaixonada entre  capitalistas e socialistas, parece claro que a falência do segundo se deu pela dificuldade crescente do planejamento econômico e pela ausência do mecanismo de mercado na alocação dos recursos.  A vantagem do livre mercado é permissão das pessoas escolherem o que querem consumir ou produzir, e o resultado destas escolhas é visto nos preços das mercadorias determinados pela oferta e demanda.

Vale um pequeno aposto, com o objetivo de manifestar que não sou um “capitalista ferrenho”, citando 2 livros interessantes novamente: Salvando o Capitalismo dos Capitalistas e  A Sociedade Afluente.  Que são dois livros que abordam de maneira inteligente os defeitos do capitalismo e merecem ser lidos.

Os preços, no livre mercado, sinalizam as vontades dos consumidores vis-a-vis os recursos escassos.  Um exemplo de produtos substitutos pode ser bem ilustrativo do funcionamento dos mecanismos de preços.  

Eu, por exemplo, gosto mais de manteiga do que de margarina.  Mesmo assim, quando vou ao mercado vejo o preço dos dois produtos. Se a manteiga custar R$ 3,00 e a margarina R$ 2,50, eu compro a manteiga que eu prefiro. Contudo, se por alguma razão o preço da manteiga subir para R$ 5 e o da margarina ficar estável, eu vou comprar margarina.  Quando faço isso, reduzo a demanda de manteiga, diminuindo a pressão sobre o preço. Por outro lado, o eventual aumento na lucratividade do produtor da manteiga, atrairá novos investidores que vão ofertar mais produtos.  Então é provável que em algum momento futuro, o preço da manteiga, dada a ação de produtores e consumidores volte a cair um pouco.  Enfim, produtores e consumidores vão provocar um ajuste natural no mercado, que resultará em novas quantidades e preços negociados no mercado de manteiga e da margarina, que possivelmente, também terá um pequeno aumento em seus preços.

Agora, imaginem que, por alguma razão, algum ache que a R$ 5 a manteiga é muito cara e por esta razão decidem dar um subsídio aos 2 maiores produtores de manteiga, para que ela continue sendo vendida a R$ 3.  Neste caso, eu continuaria comprando manteiga, e, portanto, não haveria um ajuste na demanda.  Por outro lado, outros investidores que não receberam o mesmo benefício, não vão produzir mais manteiga...  Além disso, o produtor de margarina, que poderia ser beneficiado pelo aumento da demanda em seu produto deixou de sê-lo.  A consequência é que a quantidade consumida de manteiga e margarina será diferente nesta situação.  O engraçado desta situação é que os trade-offs ou consequências não são claramente percebidos pelos consumidores, já que eles não sabem como seria o mercado sem intervenção. A sensação do consumidor é que ele foi beneficiado, pois é assim que ele se sente.

Entretanto, um trade-off claro desta política é uma redução nos investimentos, não um aumento.  Assim, haverão no futuro menos empregos e menor crescimento.  Posto assim, talvez fique mais fácil de entender o que tem acontecido no PIB brasileiro.

No caso Brasileiro dá-se para tomar a liberdade de adjetivar as intervenções como excessivas, comparando o total de desonerações previstas face ao superávit nominal deste ano: é quase o mesmo valor!   Há uma outra consequência nisto, fatal para os investidores, que é a perda de referências, o que, no mínimo, dificulta o planejamento.

O conselho que eu venderia (afinal não existe nada de graça) é que ao invés de se fazer desonerações pontuais o governo podia iniciar um processo de desarme do que aparentemente fazia parte da herança maldita, que é começar a reduzir o número de tributos e alíquotas para todos.  Por exemplo, com apenas uma parte dos R$ 85 bi, poder-se-ia extinguir o PIS, beneficiando a todas empresas.  Poderiam ainda reduzir a alíquota da  COFINS. A sinalização seria a oposta a que está sendo dada agora.

Se é uma meta do Governo reduzir custo dos empréstimos, por que não zerar a alíquota de IOF para as empresas?

O simples é melhor que o complicado !!

Quando se complica e se administra de forma voluntarista fica fácil entender por que as coisas não andam. No caso do Brasil é fácil entender o IBOVESPA patinando muito longe de suas máximas históricas !

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O Cãmbio, os Juros e a Política Econômica em Saint of Paul Oco



Antes de começar o texto, acho justo alertar que Saint of Paul Oco é um país fictício e que quaisquer semelhanças com eventos que ocorram em algum país real é mera coincidência!

Em algum momento, num logínguo século, possivelmente ao redor de 1400 ou 1500, quando as práticas mercantilistas estavam em voga, os conselheiros do Rei em Saint of Paul Oco perceberam que o país deles estava sendo alvo de uma guerra cambial, cujo objetivo maior era destruir a indústria do país.   Naquela época a taxa de câmbio era ao redor de P$ 1,60 (1,60 pauls  por dólar).  E ninguém questionou muito, pois quase todos concordavam que aquela taxa de câmbio estava exagerada. Os pauls estavam mais firmes do que deviam.

Foi então que o Conselheiro Bufão decidiu contra-atacar e disparou sua metralhadora contra os especuladores. E, como os tiros eram disparados à esmo, algumas balas perdidas ricochetearam contra o próprio sistema produtivo.  De qualquer forma, ainda que fossem questionáveis alguns dos tiros disparados, em parte se caminhava para um equilíbrio mais saudável.

Aos agentes dos “mercados”, investidores, empresários e especuladores a grande pergunta era: Qual a taxa de câmbio desejada pelo conselheiro Bufão, que às gargalhadas, além de tiros, disparava anátemas em direção dos agentes de mercado e da mídia?

Ninguém tinha certeza.  Analistas mais atentos percebiam que, embora uma posição mais ofensiva na guerra cambial fosse razoável, a política de desvalorização cambial era inútil sem o acompanhamento de uma política monetária ativa (que evitaria a elevação da inflação, que por si só anularia o efeito da desvalorização) e de uma política fiscal também contracionista ( que ajudaria na contenção da inflação, com menor custo monetário, e reduziria a absorção doméstica ).

Enfim o Conselheiro Bufão e a equipe do Banco Central de Saint of Paul Oco estavam fechados com a Rainha e decidiram continuar baixando os juros, pois assim reduziriam o déficit nominal do setor público, diminuiriam a atração de capitais especulativos que para lá iam se aproveitar dos juros elevados, criando um novo equilíbrio mágico com câmbio desvalorizado, crescimento forte e nenhuma inflação.  Afinal, Saint of Paul Oco, além de uma terra lendária, também era uma terra de faz-de-conta !

Faltava-lhes entender a inconsistência do conjunto de medidas.  Lá eles não conseguiam entender muito a diferença entre real e nominal e entre o que era real e o que era faz-de-conta...

Voltemos às taxas de câmbio de Saint of Paul Oco, cujos registros foram encontrados em um esgoto, por historiadores que acreditam que o tal esgoto vem direto de Saint of Paul Oco, que como vocês sabem teria chafurdado na M... há séculos atrás.  Os registros mostram que os agentes econômicos acompanhavam as medidas do BC de St of Paul Oco em busca de sinalizações sobre qual a taxa de câmbio desejada.

Haviam sinais de mudança de regime cambial, de flutuante para “bandas móveis”.   Mas, ninguém sabia ao certo qual seria esta banda.  Mas, como dito, os agentes no mercado tentam observar qual o nível de taxa de câmbio, para tomarem decisões, a partir das sinalizações do BC e do conselheiro Bufão.

Assim foi... A taxa de câmbio foi subindo de P$ 1,60 (1,60 pauls por dólar) para, 1,80, depois 1,90 e finalmente ultrapassaram os 2 pauls por dólar.  A preocupação dos agentes com a inflação começou a crescer, pois uma desvalorização cambial desta monta, simultaneamente ao relaxamento cambial e à expansão dos gastos públicos, era inconsistente. Mas, aos agentes e à mídia não cabia reclamar mas tentar entender as sinalizações.

Por volta de agosto de xx12 (o século deixamos em aberto pois registros encontrados estavam rasurados, provavelmente era ao redor de 1400 ou 1500), o dólar já custava mais de 2 pauls, e o BC e o Conselheiro da Rainha haviam parado de atuar, então a taxa de câmbio começou a cair.  Em 12 de setembro daquele distante ano, quando a taxa de câmbio ameaçou romper a barreira de 2 pauls para baixo o BC fez um leilão de swap, “comprando dólar” e contendo a valorização cambial.  Parecia certo: embora não pudesse se dizer de que forma alguma haveria mais valorização, a sinalização era de a taxa de câmbio deveria ficar acima de 2 pauls.

Por alguns dias, já que a taxa de câmbio não subia, o BC continuou a fazer swaps e a rolar sua posição comprada.  Parecia inequívoco, a taxa de câmbio desejada era acima de 2 pauls.

Como parecia uma certeza, os agentes passaram a se planejar, baseados na nova realidade.  Empresas investiram, algumas montaram equipes para exportar...  A inflação começou a subir, mas isto era culpa das pessoas que continuavam a comer apesar da safra ruim no hemisfério norte.  O conselheiro bufão, chegou a pensar em decretar uma dieta compulsória para reduzir o consumo de grãos e segurar a inflação...  Foi quando o Lobo Mal, de nosso país de faz-de-conta, outro conselheiro da Rainha deu a ideia: vamos baixar o preço da energia elétrica, assim, além de melhorarmos a competitividade, vamos também baixar a inflação.   A rainha decretou três dias de festa, por conta desta maravilhosa ideia, apesar dos baixos investimentos no setor elétrico e na certa escassez de oferta de energia...

A taxa de câmbio continuou a subir e chegou a bater 2,10 pauls por dólar. Foi quando o BC decidiu vender um pouco os dólares que havia comprado.  Os agentes pensaram entender o recado, o câmbio de “conforto” era entre 2 e 2,10 pauls.

Mas, aí a surpresa !!  O BC que comprara três meses antes o dólar a 2,01, 2,02 pauls, e vendera ao redor de 2,10, 2,07  - e por isso se vangloriavam de sua mega hyper máster esperteza – e que conseguira que a taxa de câmbio momentaneamente se estabilizasse ao redor de P$ 2,03 – P$ 2,04, decidiu “rolar” suas vendas, sinalizando aos estúpidos agentes que pensavam que tinham entendido a política cambial, que a taxa de câmbio ainda não havia caído suficientemente... Recado dado, recado entendido: a taxa de câmbio em Saint of Paul Oco caiu abaixo de 2 pauls !!!

Os historiadores ainda estão analisando os registros encontrados e não sabemos ao certo como a estória do câmbio em Saint of Paul Oco acabou. Mas, até onde eles puderam apurar, naquela época, as empresas que pensavam em começar a exportar, começaram também a rever seu planejamento...

Não bastasse a confusão no câmbio, a confusão da política econômica já havia se espalhado em relação as políticas monetária e fiscal.  Quanto a política monetária, já havia ficado claro que o enredo da ópera bufona ignorava os instrumentos clássicos (taxas de juros e compulsórios) dando ênfase a administração de preços.  Historiadores mais experientes, mas que ainda não tinham conseguido descobrir evidências sobre o que aconteceria posteriormente em Saint of Paul Oco, lembravam que histórias similares em países da superfície acabaram muito mal.

Em relação à política fiscal, embora os resultados reais não fossem ruins, o que assustava a todos era a falta de clareza. Todo o tipo de artifício para torná-los mais atraentes foi utilizado para cumprir com as metas almejadas.  O Jeca Tatu, personagem de um importante escritor brasileiro, e que parece ter passado por Saint of Paul Oco, em sua simplicidade sagaz perguntava a si mesmo: não era mais fácil simplesmente dizer a verdade !!

O consenso entre os estudiosos das lendas de Saint of Paul Oco e de economistas que desenvolveram teses a partir delas diz que o maior problema era a perda de credibilidade. Além dos aforismos óbvios do tipo credibilidade é difícil conquistar, fácil de perder, impossível recuperar, o problema da credibilidade relacionada à política econômica era muito mais simples: quanto menor a credibilidade maior o esforço necessário da política econômica.

A questão da credibilidade funciona mais ou menos como no caso de um pai e um filho. Quando o filho entende claramente a educação que recebe e acredita no seu pai, um simples olhar basta para que ele pare de fazer arte.  Quando o pai não tem moral, não adianta esbravejar e gritar que o moleque não para. Por fim o pai agride o filho que pára, mas fica achando que o pai é um fdp  e fica a espera do pai sair da sala para voltar a se comportar mal.     Na política econômica, se por exemplo o Banco Central goza de credibilidade, assim como no Brasil (né?), para controlar as expectativas inflacionárias é necessário apenas uma pequena ação.  Num país onde o BC não goza de credibilidade para conter as expectativas ele possivelmente terá de realizar grandes movimentos nas taxas de juros...

Imaginem o que aconteceu em Saint of Paul Oco ....

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A tragédia e os políticos: mais um desabafo!


Na hora da tragédia os governantes aparecem. Largam tudo o que tinham ou não tinham para fazer e correm para as câmeras, choram, se mostram preocupados...
Falsidade !!!   Primeiro por que a presença deles nada acrescenta.  Segundo: é a omissão do setor público a principal culpada pela tragédia.  Um estabelecimento sem alvará, sem condições, funcionando normalmente. O que a prefeitura e o estado fizeram para prevenir a tragédia?   Muito triste perder entes queridos desta maneira. Quem já perdeu pessoas muito próximas, e de maneira inesperada, sabe que a dor não se apaga.  Não adianta políticos agora posarem como que preocupados com o povo e que tudo farão.... Eles já deixaram de fazer, vidas foram perdidas!
Aí eu me pergunto por qual razão adiaram a "comemoração dos 500 dias para a Copa" que seria hoje... E eu penso, com uma esperança vã, de que talvez ainda haja um pouco de vergonha na cara destes governantes inúteis que dirigem nosso país, nossos estados e nossas cidades.  E que, talvez, por um momento eles tenham percebido quão absurdo é gastar bilhões em estádios para uma COPA, enquanto milhares de pessoas morrem por causa do descaso público.
Pena, que esta esperança seja realmente vã.  Por que como costumo dizer, nossos políticos se preocupam mais com a imagem do que com a ação. E, infelizmente, com a desculpa de levar conforto - como se de fato conforto houvesse - aos familiares, o que estes políticos fazem é apenas mais um culto à própria imagem. Lágrimas de crocodilo, ávidos pelas próximas vítimas!! Vítimas da corrupção e do descaso, que morrem em boates que não deviam funcionar, vítimas que morrem em corredores de hospitais que deveriam funcionar...

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A Sociedade Excrescente – Parte II



As vezes, é fácil entender por qual razão certas DOENTAS precisaram mentir sobre sua titulação em economia pois provam que desta matéria nada entendem.  Nem o meu professor de Economia do colegial (que tinha o sugestivo nome de Cid Banks Moreira)  a aprovaria!

Ontem, continuando a saga do “MAIS FÁCIL PARECER DO QUE FAZER” começou-se a perpetrar mais um crime contra a razoabilidade econômica.  

Tenho acompanhado diariamente os níveis dos reservatórios e conversado com amigos que acompanham as projeções de pluviosidade de longo prazo.  Não vai haver racionamento neste ano !  Quanto aos apagões, é outra estória do mesmo livro de fábulas da incompetência.  Mas, o sistema está operando próximo do limite, logo baixar tarifas neste momento é dar uma sinalização errada, que vai provocar aumento de consumo e aumentar o risco.  Além disso, para conseguir “baixar a inflação” e mostrar que “tão cagando e andando”, pois energia não nos falta, o governo, para garantir esta redução, aumentará seus gastos, conforme notícias, em mais R$ 5,5 bilhões por ano!!

Baixar preço de ativos escassos é pedir pelo aumento da escassez !!

De certa forma é a repetição do que se faz com a gasolina. Segura-se o preço, aumenta-se o consumo, importa-se cada vez mais e certa empresa de petróleo passa correr o risco de ter seu “rating” rebaixado enquanto precisa rever seus investimentos.  Tal situação se agrava, quando se olha para a Balança Comercial e vê-se que o volume de importação de petróleo (ué, aquele outro não disse que éramos autossuficientes na produção de petróleo ???) contribuir significativamente para um dos maiores déficits comerciais em um mês de janeiro... Parabéns, seus CORNOS !.    Mas, fiquem felizes, pois para quem não percebe, parece estar tudo bem.  Afinal é este o lema: “MAIS FÁCIL PARECER DO QUE FAZER”.

A nova no jornal é 'Vôos regionais terão R$ 1 bi em subsídios do governo" !! ????  Fico até confuso, não sei se uso exclamações ou interrogações para uma estupidez desta magnitude.  Será que este mesmo “1 bi” não seria melhor gasto em novas estações de metrô, que resultaria em muitos mais beneficiados?   A pergunta é retórica, já que a estupidez é clara. De novo, parece que faltaram a primeira aula de “INTRODUÇÂO A ECONOMIA” quando se discute qual o objeto da economia. Uma definição clássica é  :  “a economia é a ciência que trata da alocação de recursos escassos tendo em vista necessidades ilimitadas”.  Em síntese, um bom economista se preocupa com a melhor alocação possível dos recursos... Acho que estes estúpidos que comandam o país ainda não chegaram neste ponto...

Enquanto isso, nos jornais, mais crimes praticados por criminosos foragidos, após o benefício de indulto em uma data qualquer.  E ouço certo indivíduo no rádio (este outro rebotalho parece fazer parte de algum governo também) dizendo que a solução é escalonar os indultos ????   Não seria mais lógico e óbvio perceber que vivemos em momento de exceção e que as facções que controlam os presídios provocam os beneficiários de indulto a cometerem crimes e, portanto, simplesmente acabar com o benefício ???     

- Sidão além de mal humorado você não se preocupa com os direitos humanos ?  

A minha resposta é simples:  pare, pense !  O maior direito humano é o da vida! Logo, aqueles que atentam contra a vida devem ser exclusos de forma definitiva da sociedade!!

A saga das idiotices governamentais vai além da questões judiciárias e econômicas.  Passa pelo povo.

O povo,  PQP!!   O que mais me irrita é o ativismo imbecil.  Pior que um estúpido, só um estúpido cheio de ideias.  Em SP, uma das mais modernas e que ganha destaque na mídia pautada é o CICLOATIVISMO.  Aí vem um corno e morre atropelado andando de bicicleta na av. Paulista na faixa de ônibus. O desgraçado é sempre o motorista de ônibus. Agora ninguém pára para pensar: Quantos ônibus e quantas pessoas estão nos ônibus, lotados, quentes, e que precisam reduzir a velocidade por que só 1 bonitinho quer andar de bicicleta, achando que tá ajudando o meio ambiente???  

A lógica é fácil. Uma bicicleta economiza a gasolina de um carro. Perfeito. Normalmente, este indivíduo que anda de bicicleta em grandes e avenidas centrais mora a menos de 10 km do seu destino, o que graças ao trânsito, de carro este idiota, levaria 30 minutos.  Então ele pega a bicicleta e anda pela Av. Paulista, forçando os ônibus a reduzirem ou a avançarem para a faixa da esquerda fazendo com que os carros das outras faixas também reduzam a velocidade.  Supondo que  apenas 100 carros sejam afetados e que cada um só perca 30 segundos, veremos que o conjunto das outras pessoas ficou um total de 50 minutos a mais no trânsito... Logo o imbecil economizou 30 minutos ao custo de 50 minutos para a sociedade... E vejam, não considerei que um ônibus no horário de pico pode ter mais de 50 passageiros, aí a conta seria bem pior !!!

Mas, é lindo andar de bicicleta na Paulista as 9 horas da manhã numa segunda-feira, não é?  Políticos de todas as partes de mobilizam a favor dos ciclistas, afinal dá votos !! Parece que eles – os políticos – estão fazendo algo para melhorar a cidade.   “MAIS FÁCIL PARECER DO QUE FAZER”.   Estes estúpidos poderiam ler – esqueci que grande parte deles se orgulham de não gostarem de ler – Lester R. Brown (um dos economistas mais respeitáveis na área de desenvolvimento sustentável e líder do WorldWatch Institute – vale a pena conferir na internet), e perceber que a experiência com bicicletas em grandes cidades está ligada à uma ótima estrutura de transporte público, ou no outro extremo, como alternativa à total falta de recursos.   Sem me alongar no assunto, o ponto é a OBRIGAÇÃO PÚBLICA é garantir transporte público de qualidade aos cidadãos o cicloativismo além de não resolver cria uma desculpa e uma aparência de que o estado tá trabalhando.. Mas, não está !!!

São inúmeros os exemplos da falta de vergonha dos cornos que nos governam e cujas soluções paliativas vêm ao encontro de ativistas (Movimento dos Sem Teto e dos Sem Terra por exemplo).  É o caso por exemplo da ocupação irregular de áreas. Funciona assim. Uma pessoa pobre e necessitada precisa de moradia. Moradia esta que o estado não lhe provem, já que estão ocupados em darem subsídios ridículos, com mensalões, com as festas nos palácios, com passeios de helicópteros, com a corrupção.  Aí o indivíduo ocupa, por exemplo, uma área de proteção ambiental na Serra do Mar.  O Estado se omite.  Deixa o indivíduo lá. Assim, ninguém reclama.   Quando o adensamento da ocupação irregular chega no extremo e os indivíduos começam a reclamar o estado vai lá e urbaniza a serra do mar !!!! (para quem tiver curiosidade e oportunidade, quando forem de SP para Santos, peguem a via Anchieta onde poder-se-á ver, no meio da serra uma placa do Governo se vangloriando de gastar X milhões na “REURBANIZAÇÃO DA SERRA”.  E quem reclama ?  E eu fico tentando entender por que que eu odeio o Alckmin....

To be continued...

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

A SOCIEDADE EXCRESCENTE



Aprendi a gostar de ler lá pela oitava série do ginásio. Mas, meu primeiro livro de “economia” eu havia lido muito tempo e várias vezes antes: “O Manual do Tio Patinhas”.  Ali aprendi a gostar de economia.  Foi então que os dois gostos se encontraram. 

Minha preferência eram os títulos ligados à economia monetária, entre eles os que mais gostei “Moedas e Bancos”, do Lopes e do Rosseti, hoje em dia publicado com o nome de Economia Monetária, e o livro do Gudin.   Um dia li o livro do Galbraith (John K.) sobre a crise de 1929 e reconheci um autor que me acompanharia pela vida.  O livro dele que mais me marcou chamava-se “A Sociedade Afluente”.

Em “A Sociedade Afluente”, Galbraith, descreve como as “elites” dominam o pensamento e fazem valer sua vontade.  Ao pensamento dominante ele chamou de “saber convencional”.  Ele mesmo um anticonvencional assumido (ele se declarava “liberal”, o que nos EUA tem um sentido de “esquerdista” ou não convencional), percebia que o poder do “saber convencional” era neutralizar as críticas, pois quem criticasse, mais do que de excêntrico poderia ser taxado de burro.

Enfim, para variar, acordei mal humorado!  E enquanto caminhava pensando na vida, no Brasil, no meu mal humor, me lembrava de uma época em que eu gostava de pensar o mundo e me lembrei da dedicatória de um amigo, dos tempos de colegial, em um livro, citando o Legião Urbana: “até bem pouco tempo atrás poderíamos mudar o mundo, quem roubou nossa coragem ?”    

Nos últimos tempos, quando olho para trás, sinto que troquei o tema de minha vida.  Do rock da adolescência pelo pagode... “deixa a vida me levar.  Vida, leva eu !!!”.    Lembro de ir trabalhar  - mesmo já sendo Trader e tendo posições consideráveis em derivativos e ações – vestindo uma bata do Black Sabbath, tênis Bamba velho e surrado e, simplesmente não ligar para politicagem empresarial, tocando o trabalho com o máximo bom humor.   Ninguém jamais me via ficar mal humorado no trabalho.  Por outro lado, eu era extremamente combativo, trabalhava horas a fio, com prazer, com alegria...

Mas, eu acho que o tempo passou... Percebi que mesmo trabalhando e estudando, as vezes muito mais que todos, eu precisava ser “convencional” para “subir” na carreira...  Comecei a mudar, a seguir a convenção... E hoje vejo que não sou mais feliz com o que faço, como faço. Perdi meu humor, a paciência.  E não estou feliz...

De qualquer maneira, este texto não é para “desabafar”, mas, talvez o início de uma reviravolta, começando o dia com uma crítica mais ácida à nossa sociedade: A SOCIEDADE EXCRESCENTE!  

As “sociedades” sempre viveram de aparência.  Regras elaboradas de etiqueta serviam e servem para separar nobres de pobres, quando não simplesmente para colocar os pobres em seus lugares.  Mas, recentemente, no Brasil, está se levando este conceito no limite,  o mote governamental devia ser: “MAIS FÁCIL ENGANAR, QUE FAZER !”.

O Governo não dá educação de qualidade à todos. Mas, dá “COTAS”.  Com isso a “canalha governamental” finge melhorar as oportunidades.  Neste caso, como já descrevi neste blog, vemos que na verdade o governo não só mascara a sua sem-vergonhice, como dá tiro no alvo errado, criando uma nova elite de privilegiados, em grande parte filhos de funcionários públicos (civis e militares) que estudam em colégios federais, enquanto os pobres das periferias continuam alijados, presenteados em SP, com o programa de educação continuada, que garante que “até um analfabeto pode ter diploma”.   Queria aproveitar a ocasião para mandar um abraço pro Alckmin, pro Chalita, pra Dilma...

Mas, enfim, sem fazer nada, mas enganando muito, aparecem os movimentos sociais. A propósito, vou fazer um “break”, dedicado especialmente aos sindicatos, as centrais sindicais e as entidades de classe. Antes, contudo, uma pergunta: quem dos poucos leitores se sente representado pelo seu sindicato ou sua entidade de classe?   Se por acaso, alguém respondeu que realmente se sente representado pelo sindicato, faço-lhe outra pergunta: Você sabe à qual Central Sindical seu sindicato é afiliado?

Alguém sabe quantas são as “Centrais Sindicais” e quais são?  Eu não sei, mas aqui vai algumas delas:  CTB, CGTB, CUT, Força Sindical, NCST e UGT.   Acho que há tantas centrais, quantos partidos... Qual a razão disso?   Não é uma razão, mas duas.  A primeira e mais importante é a fatia da Contribuição Sindical, cobrada compulsoriamente de trabalhadores e empregadores e que serve para sustentar uma elite de párias que fingem nos representar (esta é a segunda razão).  Fingindo nos representar, recebendo dinheiro fácil, nos fazem acreditar que as decisões do governo são discutidas com a sociedade.  “MAIS FÁCIL ENGANAR, QUE FAZER”

 Para que servem algumas ONG’s.  Para “representarem” a sociedade civil.  Mas, grande parte delas recebe dinheiro do governo, isto é, de nosso impostos.  Mas, quem lhes transfere a titularidade é o governo, logo a quem a lealdade das ONG’s é garantida ?  ONG, por definição é NÃO GOVERNAMENTAL, logo não deveria receber dinheiro de governo.  Lógico que há muitas ONG’s descentes, mas mesmo assim não deveriam receber dinheiro do governo.  A desculpa dos governos para dar dinheiro para ONG´s é que elas fazem o que ele – governo – devia e deixa de fazer. Como resultado disso, se pesquisarmos na internet, veremos inúmeros casos de desvios de verbas e de corrupção. Em compensação no orçamento público veremos que muitas verbas foram destinadas “à sociedade”, ainda que seja para a “sociedade dos amigos corruptos”!!! 

Na gestão da economia, também estão sendo usados velhos hábitos, sobre o novo mote:”MAIS FÁCIL ENGANAR QUE FAZER”.  Assim falam na desoneração de folhas de pagamento, mas não se extingue de uma vez por todas (extinguir significa dar fim e não substituir por outras formas, ou mudar o nome) as contribuições sindicais, pois isso, acabaria com a mamata de certos companheiros e se destruiria um grande instrumento para controlar a sociedade. 

Voltemos à economia e a coisa do “ENGANAR”.   Para parecer que a inflação não está explodindo, criou-se o contingenciamento de aumentos de tarifas, para garantir que a inflação convirja para meta de forma não linear, sem ultrapassar o teto.  Então, certa empresa de petróleo pode ter prejuízos, mas o aumento da gasolina só ocorrerá quando houver “espaço” nos índices de inflação.  As tarifas de ônibus de SP e RJ subirão apenas quando for conveniente para a gestão das metas de inflação. O metrô de SP – não sei por quê mas cada vez mais odeio nosso governador – também só terá suas tarifas aumentadas quando for conveniente para as metas inflacionárias.  Desta forma, a inflação, já elevada e com risco de sair de controle, parece domada.  “MAIS FÁCIL ENGANAR QUE FAZER”.

O lema é levado ao extremo.  Vemos mensaleiros condenados e a sociedade comemora !!  Aconselho ler a entrevista do juiz, condenado na operação anaconda, para o jornal O Estado de São Paulo do domingo passado.  Lá, ele cita caso de assassinos condenados a menos de 5 anos de prisão, conta que deu consultoria no presídio e fala que sua condenação teve a ver com certo homicídio de um ex-prefeito na região do ABC. A mídia, a TV, quer nos fazer crer que todos estão sendo finalmente punidos! Fiquemos felizes por sermos enganados, enquanto  o aparente beneficiário maior das verbas não contabilizadas e do mensalão continua solto e bonachão.  Enquanto condenados, assassinos cruéis, estão foragidos, depois de receberem indultos, matando mulheres grávidas, crianças e quem quer que lhes cruze a frente.  Nada mudou na justiça brasileira. “MAIS FÁCIL ENGANAR QUE FAZER”.

O texto está ficando longo e imagino que metade dos leitores (os 12 ou 13) do blog já desistiram de lê-lo...  Então vou ao ponto: qual foi a rede de televisão que questionou o julgamento do mensalão e ausência de certos réus potenciais?  Quais ONG´s e órgãos da mídia que discutem ou questionam publicamente a impunidade no Brasil?  O que você tem recebido de serviço público e que o deixa contente?   Quem explora isso? Quem realmente nos representa e nos defende?
To be continued.....