No gráfico a seguir vemos os juros
reais – ex post – de 12 meses. O que ele
mostra é o quanto o CDI acumulado 12 meses rendeu acima da inflação acumulada
(medida pelo IPCA) em 12 meses também.
Nele podemos ver que o rendimento
médio do CDI acima da inflação tem apresentado uma tendência de queda
importante. Grosso modo, podemos ver que os juros reais na década de 1990 foram acima de 15%a.a. e, na primeira década deste século ficaram ao redor de 10% a.a.. Nesta década, os juros reais médios ficaram ao redor de 5% a.a..
Mas, passado é passado. O que
importa é o futuro. Com a nova queda na
taxa Selic, para 7,5%, o juro real bruto (sem descontar os impostos) ficará ao
redor de 2% a.a. Para os padrões
internacionais atuais, ainda é alto, para nossa história, tremendamente baixo,
uma novidade.
O fato é que, os poupadores precisam
se reinventar agora. Eu mesmo, que
trabalho a mais de 20 anos no mercado financeiro, deixei meu dinheiro na maior
parte do tempo investido em ativos indexados ao CDI, pois tinham baixo risco e
alto retorno. Quem investiu sistematicamente
na Bolsa na década de 1990, provavelmente obteve rendimentos abaixo do CDI, com
muito risco. Situação que pouco mudou na década passada. No gráfico a seguir temos o IBOVESPA ajustado
pelo CDI, pode ser ver pela média móvel que quem tivesse comprado todo mês,
durante as últimas décadas, um pouco de bolsa, praticamente teve o mesmo
retorno do CDI.
No outro gráfico, onde temos o Dolar
corrigido pelo juros americanos e descontado o CDI, podemos ver que quem
comprou dólares e aplicou o dinheiro em FED FUNDS (a taxa “Selic” americana),
perdeu muito em relação ao CDI.
Enfim, não havia dúvidas: o CDI era a
melhor opção.
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Antigamente, eu fazia conta de
quanto dinheiro eu precisava guardar para ter uma aposentadoria confortável, sem
risco, vivendo só de juros. A conta era
simples, se eu quisesse ter uma aposentadoria de R$ 5000,00 por mês (mais a
aposentadoria do INSS) com juros reais de 6% a.a. eu precisava poupar R$
1.000.000,00. Agora, para ter a mesma
aposentadoria vou precisar poupar por volta de R$ 3.000.000,00. Na tabela a
seguir, vemos quanto precisaríamos poupar para ter uma renda de R$ 5.000,00 ao
mês, dada uma expectativa de juros reais.
Juro Real
|
Poupança
|
6%
|
1.000.000
|
5%
|
1.200.000
|
4%
|
1.500.000
|
3%
|
2.000.000
|
2%
|
3.000.000
|
1%
|
6.000.000
|
Cabe ressaltar, que esta conta que
eu fazia considerava que eu jamais iria mexer no principal aplicado (ou seja, o
valor de minha poupança viraria herança no final de minha vida) e que ela não
considera impostos, ou de outra forma, a conta considerava apenas os juros reais
líquidos.
Esta conta é diferente da conta que
faz um plano de previdência que leva em consideração a expectativa de vida
(isto é, o principal é também consumido durante o tempo de aposentadoria).
Abaixo, fiz uma tabela hipotética de quanto um indivíduo precisaria poupar,
considerando que ele se aposentasse aos 60 anos, com expectativa de viver até
os 95 anos.
Juro Real
|
Atuarial
|
8%
|
703.966,69
|
7%
|
782.648,55
|
6%
|
876.901,13
|
5%
|
990.711,73
|
4%
|
1.129.242,37
|
3%
|
1.299.206,84
|
2%
|
1.509.375,78
|
Esta segunda conta é importante para
os planos de pensão públicos e privados.
Os novos juros reais aumentam a necessidade de composição de reservas em
1,6x aproximadamente. Ou seja, um fundo de pensão que imaginava que com um
patrimônio de R$ 1 bi poderia arcar com suas necessidades atuariais, agora
precisará de R$ 1,6 bi.
O importante a ressaltar é que
a moleza acabou. Agora há necessidade das pessoas serem exorcizadas do CDI e
começarem a pensar em novas alternativas de investimentos e
diversificação. Infelizmente, o mercado
é cheio de riscos, então, o mais importante é que agora as pessoas vão precisar
perder tempo e estudar para aplicar seu rico dinheirinho. Juntar R$ 1 milhão não era fácil, juntar R$
2,5 milhões é muito mais difícil (bem mais difícil que a aritmética faz
parecer, já que o dia não será esticado para 60 horas = 24horas x 2,5 ).
O tesouro direto, as NTN-b´s que
vencem em 2050, são uma (apenas uma) das possíveis opções para quem pensa em
poupar para a aposentadoria. Ações devem ser pensadas. Fundo Imobiliários e CRI´s são outras
opções. Mas, existem muitas mais. É hora
de estudar, de ler, de sair do conforto da agência bancária do bairro e
procurar opções. As únicas dicas que dou
é: se tiver dúvidas do risco não invista. Se tiver muita certeza de que um
investimento é bom, questione mais, pergunte para outras instituições, pesquise
na internet. As armadilhas são muitas. Não fiquem parados.
Além das consequências para os
poupadores diretos, há outras para o mercado como todo. Uma delas, abordei indiretamente quando falei
dos fundos de previdência e planos de pensão. .
A maioria deles trabalhava com os tais juros reais de 6%, que não
existem mais. Eles vão precisar rever as contribuições de associados e
mantenedoras, para cima, e precisarão também diversificar ainda mais seus
portfólios.
Outra consequência é sobre a
indústria de fundos. Para as Assets e os Bancos continuarem a serem
remunerados, eles também vão precisar modificar seus produtos, para poderem
continuar a cobrar taxas de administração próximas e acima de 1%. Os fundos sem liquidez diária vão começar a
virar rotina e, por conta disso, nós poupadores também teremos de sair do
conforto.
Os juros também afetam as decisões
dos investidores/empreendedores, de duas maneiras diretamente associadas. De um lado pela redução do custo de
oportunidade, isto é, se antes um negócio que rendia, por exemplo, 10% a.a.
acima da inflação não valia a pena pois ele preferia aplicar no CDI, agora vai
começar a compensar. De outro lado, o
custo de capital também se reduz, se antes um empréstimo lhe custava 10% a.a. (por
exemplo) acima da inflação, talvez agora ele passe a custar 8% a.a., tornando
aquele negócio que rendia 10% viável.
É no lado do investimento real que
os fatores positivos da queda dos juros se manifesta. Por outro lado, (de novo este “mas” – Truman certa
feita teria dito que queria um economista maneta, já que os economistas usavam
constamente a expressão ”On the other hand”), para que isto ocorra, outras
condições são necessárias. Primeiro, os
investidores precisam acreditar que o juro baixo veio para ficar (isto demora
um pouco e depende das expectativas com a inflação). Segundo, os empresários
precisam acreditar que haverá demanda no futuro para seu produto. Terceiro, é
preciso haver oferta de infraestrutura e estabilidade institucional. Isto será tema de um próximo post.