quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Alguns Fatos Sobre a Inflação e a Política Econômica



     No Brasil o debate sobre a inflação já foi mais intenso.   Depois do  Plano Real e principalmente após a implantação do Regime de Metas para Inflação parecia que finalmente o monstro estava sendo domado e, por isso, fugiu dos holofotes da mídia econômica.

    Infelizmente, o 2º ano do novo governo vai chegando ao fim e constata-se que inflação parece ter ganho um novo patamar entre 5,5% a.a. e 6%.  A média da inflação destes dois anos, medida pelo IPCA, ficará perto de 6%.  Isso é ruim?

    O objetivo deste post é trazer, no dia da divulgação do novo Relatório de Inflação pelo Banco Central (este texto foi escrito antes de eu ler o relatório – são 7:15hs da manhã), uma luz na discussão sobre o tema.
Embora economistas divirjam na forma e intensidade como os fatores afetam a inflação, algumas relações são indiscutíveis:

            a)      A inflação depende do Hiato do Produto e da velocidade de crescimento da economia;
            b)      A inflação, salários e taxa de desemprego estão interligados;
            c)       A taxa de câmbio e atividade externa afetam a inflação;
            d)      A inflação depende das expectativas dos agentes econômicos;
            e)      O nível de indexação afeta a inflação;
            f)       A taxa de inflação tem uma relação inversa com as taxas de juros reais;

Quanto ao “Hiato do Produto” a discussão é complexa. Primeiro a questão de como calcular o tal hiato, que, grosso modo, é o quanto o produto efetivo está distante, acima ou abaixo, do produto potencial. 

Para ficar mais claro, vamos lançar mão de um exemplo simples (ainda que com algumas falhas de rigor teórico).  Imaginemos que na economia há só uma fábrica e que durante o horário normal de funcionamento ela consegue produzir 10 unidades. Estas 10 unidades são o produto potencial, isto é, o quanto em situação normal a economia consegue produzir.  Se supusermos que  em determinado momento a demanda é de apenas 8 unidades (logo a fábrica produzirá só 8 unidades = produto efetivo) é fácil imaginar que pode haver uma queda nos preços, já que a fábrica gostaria de vender 10 unidades.  Por outro lado, se imaginarmos que a demanda seja de 11 unidades, a fábrica precisará pagar horas extras, para produzir acima da sua capacidade normal, logo haverá uma tendência de aumento de preços. 

O problema é determinar qual é o verdadeiro produto potencial de uma economia (serão 10, 12 ou 9 unidades?).  Para isso, economistas usam métodos matemáticos (econométricos) para tentar determiná-lo, e óbvio, que estes métodos estão sujeitos a grandes erros. Mas, no caso Brasileiro, que é o que importa, aparentemente o produto efetivo está abaixo do seu potencial e, portanto, a inflação deveria cair...

Apesar de alguns indicadores – marcadamente a produção industrial – levarem a crer que o produto está abaixo do seu potencial o que pesa mais é a segunda relação: inflação, salários e desemprego.   Economistas intelectualizados, neste momento trariam a baila a curva de Phillips, Lei de Okun, NAIRU e de novo, um monte de cálculos econométricos.  Nós não precisamos complicar.  É fácil imaginar que quando o desemprego está baixo, os sindicatos conseguem negociar aumentos maiores de salários.  Também é claro que, quando há falta de mão de obra os salários sobem.   Salários são parte fundamental dos custos das empresas e, portanto, dos preços.  No caso atual do Brasil é claro que a situação é essa, o que pode ser visto no crescimento da massa salarial real.

Enfim, apesar da produção industrial abaixo das expectativas, há pressões sobre os preços advindos de gargalos no mercado de trabalho.  Voltando ao exemplo de nossa economia de uma fábrica só, é como se a fábrica fosse capaz de produzir 10 unidades, mas só houvesse mão de obra para produzir 7.         Inflação 1 X 0!

A relação taxa de câmbio e inflação tem uma linha direta em uma economia aberta (apenas para deixar claro a economia brasileira não é muito aberta) através dos preços dos bens tradeables (comercializáveis).  Os bens tradeables são aqueles que podem facilmente ser importados ou exportados e seus preços são fixados pelo mercado global.  Então, se o dólar sobe, já que o preço do trigo é fixado internacionalmente em dólares, o preço do trigo no mercado interno sobe. O mesmo acontece com o açúcar, a soja, o milho, o arroz, o feijão, etc... Outro canal de contágio é o de insumos. Por exemplo, grande parte dos componentes dos automóveis produzidos no Brasil são importados, portanto, uma alta no dólar aumenta os custos de produção, pressionando igualmente os preços.    Como contraponto à taxa de câmbio, a influência externa também se dá pelo nível de atividade da economia mundial.  Se a economia mundial está mais aquecida há uma tendência de alta nos preços, principalmente das commodities, que se refletem no mercado interno.  Em situações normais, no Brasil que é um grande produtor de commodities, a taxa de câmbio age  no sentido inverso, assim, quando os preços de commodites sobem, normalmente a taxa de câmbio cairia.  Por escolha de política econômica, isto não acontece mais.   Inflação 2 X 0!

As expectativas também afetam a inflação. Se todo mundo acredita que a inflação ficará ao redor de 4,5% há uma tendência de nas negociações, orçamentos, etc... dos agentes se balizarem nesta ideia gerando uma convergência para este patamar.  Quando as expectativas dos agentes começa a subir, digamos para 5,5%, o mais provável é que a inflação convirja para este novo patamar.    Inflação 3 x 0!

A indexação de preços também atua no sentido de se criar um patamar para inflação.  Quanto mais indexada for a economia, mais provável será que a inflação do ano seguinte será maior ou igual a do ano interior.  O Brasil ainda tem sua economia com alto nível de indexação, o que torna a inflação mais resiliente, ou difícil de cair.  Então, quando a inflação se acelera por estas bandas é mais difícil ela voltar para seu patamar anterior.  Inflação 4 x 0 !

O papel da política monetária, executada principalmente através da fixação das taxas de juros, é tentar controlar a inflação.  A relação juros e inflação se dá por vários canais.  O mais óbvio – sem recorrer ao excesso de teoria econômica que nos faria dar muitas voltas para chegar a este resultado – é que quanto maiores as taxas de juros, menor a demanda.  Menor demanda = preços mais baixos.    Se as taxas de juros são próximas de zero (e não houver armadilha de liquidez), as pessoas tendem a buscar ativos reais e a consumir mais, pressionando os preços.   Inflação 5 X 0 !

Até agora vimos que a inflação está dando uma goleada na economia.  As perguntas são o que o governo tem feito para segurá-la e por que apesar do patamar mais alto a inflação ainda não saiu de controle?

A inflação ainda não saiu de controle graças a “desgraça” da economia mundial, cujo crescimento em 2013, será novamente pífio, o que segurou os preços de grande parte das commodities.  Ufa!   Inflação 5 x 1 !

A principal ferramenta de controle da inflação utilizada pelo governo tem sido o intervencionismo em suas mais diversas formas.   Congelamento dos preços de combustíveis, afetando o resultado de certas empresas, renegociação de concessões do setor elétrico tentando reduzir os preços da energia na porrada, desonerações setoriais de impostos, etc.  O que de mal tem nisso?  Simples, a longo prazo o crescimento potencial da economia é reduzido, pelos desincentivo aos investimentos (ver meus posts passados) e por reduzir a produtividade da economia.  Enfim, com estas políticas pode-se conter a inflação no curto prazo, mas no longo prazo possivelmente a pressão inflacionária aumentará.

A propósito, as expectativas inflacionária e mesmo a inflação corrente voltaram  a subir. Há uma descrença razoável quanto à queda nos preços da energia ano que vem, fruto dos gargalos e do uso intenso de energia termelétrica.  É possível que a alardeada queda de 20% no preço da energia (na geração hidrelétrica) se reflita numa queda menor de 5% para o consumidor se houver.  Há analistas que creem que não haverá queda nenhuma.  Para piorar, geralmente em anos subsequentes às eleições municipais, geralmente ocorrem aumento nas tarifas de ônibus, que puxarão a taxa de inflação (a prefeitura do Rio já anunciou seu aumento e a assembleia legislativa de SP, por exemplo, já aprovou uma redução no subsídio às tarifas para o orçamento de 2013, o que implica que as tarifas vão subir). 

Embora eu não acredite, há a possibilidade de aumento de gasolina no começo de 2013, também. 

Estas expetativas com a inflação já se refletem na taxa da NTN_B de 2013, que ontem era ofertada com taxa de -0,10% (isso mesmo: MENOS 0,10).  Ou seja, o mercado já trabalha com juros reais – antes do IR – negativos !

É para se preocupar, embora haja quem acredite que a inflação vai convergir de forma não linear para a meta!

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

MEIOS E FINS, EXISTE JUSTIÇA ACIMA DA LEI? Uma Breve Estória sobre a decadência de Saint of Paul Oco



Houve uma era em que Saint of Paul of Paul Oco foi governada por militares, que, na época da guerra polar (onde o polo norte capitalista se opunha ao polo sul comunista), tomaram o poder para livrar o país da corrupção e do risco dos comunistas.

            Estes militares tomaram conta de Saint of Paul Oco e detiveram o poder absoluto por quase duas décadas. Mas, uma oposição combativa sobreviveu apesar da belicosidade dos governos militares.  Esta oposição, que pregava a revolução como única forma de derrubada do poder militar acreditava que, pela liberdade do povo, qualquer coisa podia ser feita.  Roubar cofres, bancos e assassinar eram apenas um sacrifício menor de princípios em prol do bem maior.  Os fins justificam os meios.

            O problema é que o Governo Militar acreditava na mesma coisa, que os fins justificavam os meios.  Quem se fudeu foi o povo, que estava no meio !

            O tempo passou e a democracia voltou à Saint of Paul Oco.  O povo não entendeu direito aquilo, acostumados que estavam de tomar porrada, decidiu eleger um super herói, pescador de lambaris – como eram conhecidos alguns indivíduos que mamavam no setor público – que prometia com uma bala acabar com todos os problemas daquela terra que já submergia na lama...  Acreditaram que ele era o salvador. Mas, não era.   Saint of Paul Oco afundou ainda mais.

            O tempo passou, nada mudou.  Os políticos continuavam a se locupletar do poder em Saint of Paul Oco, alguns com alguma discrição, outros sem nenhuma.  Mas, enfim, parecia que a desarmonia, tão festejada, entre os poderes poderia mudar a estória de Saint of Paul Oco.  E embora, uma parte significativa da população e mesmo a justiça de Saint of Paul Oco ainda deixassem Netuno, o ex-rei com seu tridente de 9 pontas, incólume e gozando de boa reputação, parecia que iria haver punição a toda corrupção.  O povo, ao menos aqueles cansados da impunidade, comemorava e aplaudia seu novo ídolo, o chefe da Corte, sem perceber que Saint of Paul Oco continuava afundando em sua própria lama.

            O que acontecia é que o julgamento, embora com os resultados (FINS) esperados por aqueles que almejavam o fim da impunidade, seguia caminhos tortos (MEIOS) que no futuro iam desafiar a ordem naquelas terras.  E pelos meios confusos, alguns acusados ganhavam o direito de alegar que o julgamento foi político, derrubando a credibilidade da justiça.

            Alguns historiadores acreditam que a constituição de Saint of Paul Oco, conforme manuscritos encontrados no Afundamento Central, próximo ao local onde teria sido a sede do governo Pauloquense, dizia que:
“Art.51 Perderá o mandato o Deputado ou Senador:
6.9 - que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado.
§ 21º - Nos casos do inciso 6.9 a perda do mandato será decidida pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por voto secreto e maioria absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.’
Obs: qualquer semelhança com alguma outra constituição de algum outro país real é mera coincidência.
            Evidentemente que esta prerrogativa constitucional servia como uma blindagem aos não tão nobres parlamentares daquela terra distante e com paradeiro desconhecido. Os estudiosos das lendas de Saint Of Paul Oco acreditavam que tal dispositivo foi criado apenas com a intenção de proteger os políticos de uma possível volta ao poder dos militares. Vai saber...
            Enfim, aparentemente, a Corte de Saint of Paul Oco decidiu cassar o mandato dos supostos corruptos. Mas, o fez afrontando a constituição que devia defender.
            Infelizmente o Folclore de Saint of Paul Oco, nas décadas que precederam o seu desaparecimento, parece estar repleto de estórias de descasos com a Lei. Começando com o próprio desrespeito na confecção da constituição. Um dos documentos encontrados, supostamente escrito por um ex-membro da Corte Pauloquense e ex-membro da constituinte, um certo Lolquim, contava a estória de como um certo artigo da constituição foi incluído ou alterado sem que fosse votado, caracterizando um suposto vício na origem da carta magna, o que talvez fizesse justificar o desprezo que a corte parecia nutrir por ela.
            Dizem ainda, as Lendas de Saint of Paul Oco, que um dos últimos atos da desarmonia dos poderes, em Saint of Paul Oco, pouco tempo antes de seu completo desaparecimento, foi a expedição de um Mandato de Insegurança que determinava em que ordem as leis deveriam ser votadas no congresso de Pauloquense.
            Eu ainda continuo pesquisando mais sobre Saint of Paul Oco e ainda não achei os rumos que aquela lendária terra seguiu antes de seu afundamento total. Mas, tal qual nas novelas do mundo real, parece-me fácil prever os capítulos futuros. Neste caso, contudo, o final não será feliz!
            Os cidadãos de Saint of Paul Oco estavam certos em querer e em comemorar as punições e por isso deixaram de perceber detalhes do julgamento, tais como as poucas citações à jurisprudência, a tentativa de retroatividade de leis, as contas cujas bases mudavam mas os resultados permaneciam, as punições não previstas e a guerra de egos. Supostamente, este descaso com o trato da justiça,  pelos resíduos encontrados por paleontólogos, não melhoram a segurança, nem a vida dos cidadãos que viriam a se afogar no mar de merda.  O novo poder que surgia, continuava dando indulto de natal para milhares de bandidos que matavam cidadãos honestos ainda antes do ano novo, continuava deixando soltos assassinos e bandidos, que continuaram com mais direitos que o cidadão normal.
            Ainda bem que o Brasil não é Saint of Paul Oco!!!!

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Preço da Energia, Competitividade e Investimentos



Hoje, logo cedo, como sempre, abro o jornal. A notícia em destaque é que o setor público vai adotar medidas análogas ao do setor elétrico para reduzir o preço do gás. Fico com vontade de rir.  Penso se estudar economia não imbeciliza.  Digo isso, principalmente por que eu sou economista e estou me sentindo um imbecil.

Certo fez meu irmão, que estudou história, se não a esquecêssemos não cometeríamos tantos e erros e perceberíamos a incongruência em certas políticas e no tratamento as empresas.  Vejamos o caso do setor elétrico, a apenas alguns anos, o governo brasileiro negociou um aumento no preço da energia elétrica de Itaipu, comprada do Paraguai. Esqueceram-se que por muitos anos compramos esta mesma energia, as vezes sem termos uso para ela, por preços acima do justo para remunerar nosso “parceiro”. Mas, isso é história e já nos esquecemos.  Agora, punimos empresas nacionais dizendo que elas já foram suficientemente remuneradas pelos seus investimentos e, portanto, devem cobrar menos pela energia.  Dá para entender?

A questão do gás é similar.  Renegociamos preços com a Bolívia de seu gás, e agora, talvez, venhamos a punir o produtor nacional. Tsc, tsc, tsc...

Infelizmente, eu estudei economia. Então, voltemos aos aspectos meramente econômicos. 

Tem uma Lei de Mercado – inquestionável – que diz que o preço de um produto no mercado em equilíbrio deve ser igual ao custo marginal de se produzir mais uma unidade.  Traduzindo, se para produzir 1 Megawatt a mais custar R$ 200, o preço da energia deve ser de R$ 200.  Por que isso?   Por duas razões.  A primeira, sob a qual se baseia parte das medidas, é que o empresário tenta maximizar seus lucros, então, independentemente do seu custo (que por exemplo pode ser de R$ 100) ele vai vender seu produto a R$ 200, pois sabe que até este preço não haverá aumento da oferta. Porcos Capitalistas!  A segunda razão, a que o governo parece não perceber, é consequência da primeira: se o custo de se produzir mais energia é de 200, e o preço de mercado for de 100, ninguém vai investir para produzir mais, poiscada unidade adicional de energia produzida vai gerar uma perda de 100 !   E, assim, não há investimentos.....

            Então, reduções no preço da energia, que preservem o retorno dos novos investimentos, através da redução de impostos e encargos são benéficos.  Canetadas, não !

            Se pensarmos no petróleo, aquele produto líquido negro que seríamos autossuficientes na produção e que importamos um montão, vemos que a política de preços é prejudicial.   A autossuficiência não foi atingida por várias razões, mas, uma delas é que a queda no retorno da principal empresa reduz o ritmo de investimentos. 

Enfim, a relação preço de energia e investimentos é uma questão de escolha: podemos ter preços baixos e menos investimentos ou preços de mercado e mais investimentos.

Tenho um amigo ecomarxista, ao qual simpaticamente apelidamos de Nikita – mas vale dizer que é um economista de rara inteligência – que, quando discutimos este assunto sempre me lembra de outro aspecto do preço da energia: suas externalidades.  Economistas chamam de externalidade as consequências econômicas indiretas de um ato.  Por exemplo, quando se desmata uma floresta para produzir soja, há consequências, as vezes não óbvias, deste desmatamento, tais como o aquecimento global.   Em síntese, o preço de um produto deve refletir não só as condições econômicas diretas (equilíbrio oferta x demanda) mas também as consequências que o consumo e ou a produção daquele bem pode trazer à sociedade.

Para ficar clara a questão da externalidade, vamos à mais um exemplo: o cigarro.  Suponha que o preço de um maço de cigarro – já embutido o lucro econômico da empresa produtora - seja de R$ 0,50. Ao preço de R$ 0,50 possivelmente mais pessoas fumariam.  Empresas produtoras de cigarro e fumantes estariam felizes.  Entretanto, com mais gente fumando, o número de doentes aumenta, criando a necessidade de mais hospitais e médicos, gerando um custo para a sociedade. Então, neste caso, a intervenção do governo é bem vinda.  O governo cria tributos de tal forma que o número de fumantes se reduza e a receita adicional seja capaz de cobrir seus os gastos com saúde.

De volta à questão energética.  A energia é um bem escasso, cuja produção adicional enseja grandes impactos ambientais.  Então, o raciocínio de Nikita – meu amigo ecomarxista – é que o preço da energia tem de se alto o suficiente para desincentivar o  consumo ineficiente e o desperdício.

Já diria o Bardo, “há mais entre o céu e a terra do que pode sonhar nossa vã filosofia...”. O preço da energia precisa ser suficientemente alto para viabilizar investimentos e reduzir desperdícios e ao mesmo tempo precisa ser suficientemente baixo para não impactar o custo e a competitividade das outras indústrias.   Atingir o ponto ótimo não é fácil.  Fácil é dizer que uma ou uma dúzia de medidas provisórias não resolvem a questão, principalmente se usadas como bandeiras ideológicas ou partidárias.

Para mim, que me julgo um liberal, eu acho que a melhor opção é agir apenas na redução dos custos fiscais da energia e principalmente para energia destinada à indústria, pois, a melhor forma de se atrair e criar investimentos é deixar o mercado se ajustar.



sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

A CORTE DE SAINT OF PAUL OCO



A lendária Saint of Paul Oco teria um regime político inovador, difícil de se descrever. Embora presidencialista, ela era administrada como uma monarquia provincial. Os três poderes viviam harmonicamente em conflito.  Como assim? Os três poderes fingiam se digladiar, para a plebe imaginar que existia fiscalização, enquanto os mesmos se perpetuavam no poder.

O Presidencialismo Monárquico Provincial é uma espécie de “feudalismo colonial”, que em muitos aspectos remetem a idade média.  Lá ainda se discutia a posse de terras entre índios e colonos, se discutia o desmatamento mas não se acabava com o usucapião, que permitia aos “capitães hereditários” se apossarem da terra.  Os conflitos pela terra tinham a participação da igreja (muitas vezes com interesses econômicos), duques e lordes pertencentes a famílias de longa linhagem política, bárbaros e nativos.  A plebe coitada, que vivia sob a lei ficava alijada desta briga, geralmente morando em periferias abandonadas pelo poder público.

A corte de Saint of Paul Oco, segundo documentos achados, cuja veracidade ainda não foi confirmada, em seus últimos tempos era comandada por uma Rainha. Daí  surgem algumas dúvidas sobre a veracidade, pois a descrição da Rainha parece muito com aquela de um conto de Lewis Carrol.  Enfim, a Rainha teria herdado o trono diretamente de Netuno – o DEUS REI desonipresente (afinal ele nunca estava lá e nem sabia de nada).  

O judiciário era comandado pelo chapeleiro maluco que era endeusado pela plebe que acreditava quase cegamente nele. O chapeleiro maluco fazia do judiciário uma extensão do seu humor.  A lei era um detalhe para ser interpretada conforme sua conveniência. Dizia ele que o “sistema judiciário de Saint of Paul Oco não poderia ser “laughable”, mas, parecia não entender que risível era o indulto de natal dado a presos que poderiam piorar ainda mais a violência na principal cidade de Saint of Paul Oco.  Risível é ele definir uma pena não prevista na lei.  Risível é ele criticar um colega por atrasar o julgamento e em seguida suspender a sessão para ir ao velório de um artista da corte. Que risível era o sistema carcerário, onde presos tinha acesso a sistemas de vídeo conferência, televisão, festas, etc...  Risível era a centena de milhares de processos por julgar ...

Por falar em artista, dizem que em Saint of Paul Oco morrera um grande arquiteto, que houvera projetado Oquisília, a capital de Saint of Paul Oco, cujo mapa parecia um submarino, o que servia para lembrar a todos que um dia aquelas terras afundariam na lama, o que de fato, aconteceu.   Mesmo neste aspecto Saint of Paul Oco, lembrava a idade média aqui das terras emersas: quando haviam de fato grandes artistas, que contratados pela realeza e pela elite produziram obras maravilhosas – outras terríveis – que custaram altas somas, enquanto o povo não tinha comida, nem casa para morar.  Óbvio que o artista não tinha culpa por isso, mas era ridículo.  Os sarais de música clássica que deliciavam os nobres serviam para encobrir o som das lamúrias do povo.

Falando do funeral deste artista de Saint of Paul Oco, a Rainha decidiu emprestar o Barco 51 para buscar o corpo que estava longe da capital, para poder vela-lo em sua maior obra. O Barco 51 que custou milhões aos cofres, foi, buscou e depois levou o corpo de volta para a terra onde o nobre artista viveu a maior parte de sua vida.  Quanto aos “camudongos’ como eram conhecidos os milhares (ao redor de 60 mil) trabalhadores que suaram e trabalharam arduamente para construir Oquisília, quando morriam mal tinham direito à uma vala comum e um caixão de  papelão. Afinal, eles serviam apenas para isso, para construir, depois podiam ser esquecidos.

Me faz lembrar uma música clássica da MPB (mas que fique muito claro Saint of Paul Oco não tem nada a ver com o Brasil e em nada se assemelham):

Tá vendo aquele edifício moço?
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição
Eram quatro condução
Duas pra ir, duas pra voltar
Hoje depois dele pronto
Olho pra cima e fico tonto
Mas me chega um cidadão
E me diz desconfiado, tu tá aí admirado
Ou tá querendo roubar?
Meu domingo tá perdido
Vou pra casa entristecido
Dá vontade de beber
E pra aumentar o meu tédio
Eu nem posso olhar pro prédio
Que eu ajudei a fazer
Tá vendo aquele colégio moço?
Eu também trabalhei lá
Lá eu quase me arrebento
Pus a massa fiz cimento
Ajudei a rebocar
Minha filha inocente
Vem pra mim toda contente
Pai vou me matricular
Mas me diz um cidadão
Criança de pé no chão
Aqui não pode estudar
Esta dor doeu mais forte
Por que que eu deixei o norte
Eu me pus a me dizer
Lá a seca castigava mas o pouco que eu plantava
Tinha direito a comer
Tá vendo aquela igreja moço?
Onde o padre diz amém
Pus o sino e o badalo
Enchi minha mão de calo
Lá eu trabalhei também
Lá sim valeu a pena
Tem quermesse, tem novena
E o padre me deixa entrar
Foi lá que cristo me disse
Rapaz deixe de tolice
Não se deixe amedrontar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asas
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asas
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar’
Resta dizer que sonho com a lição que esta fábula mal contada por mim seja aprendida.
Artistas não são melhores, nem piores que o povo, que o mendigo que sem esperança morreu de fome esquecido na esquina.  Podemos admirá-los, odiá-los, tanto faz. Podemos achar a obra deles boa ou ruim, também não importa.  Mas, num mundo de recursos escassos, de pessoas passando fome, de trabalhadores que caminham quilômetros para chegar num emprego mal remunerado, o culto aos mortos é uma ofensa !!

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Crescimento Medíocre: O que os economistas não entenderam


Quando olhamos o PIB por item, vemos que as piores variações são da FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo = Investimentos), Consumo do Governo e serviços.




Vemos que o pior desempenho é o dos Investimentos.  Há duas razões para isso, de um lado o mercado imobiliário, ainda forte, mas que desacelerou.  A outra razão menos evidente é a taxa de câmbio. Neste ponto, muitos se confundem.

Os investimentos no Brasil são fortemente dependentes da importação de bens de capitais, sendo assim, um aumento na taxa de câmbio reduz, a priori, os investimentos.  Além disso, as barreiras – principalmente tarifárias – para a captação externa reduziu importante fonte de financiamento e tendo em vista que o financiamento externo é uma importante fonte de capital, a desvalorização da moeda afeta o custo dos investimentos !

Além da política cambial ter jogado contra, temos a questão das expectativas, que foram impactadas pelos discursos confusos dos policy makers, recheados de  voluntarismo, e de brados contra certos segmentos. É sintomático o caso das concessões no setor de energia, mesmo que comemorado pela FIESP, a forma e a confusão do anúncio pareceu uma agressão às concessionárias.   Certamente, há razão em se rever o modelo e detalhes das concessões, mas, a postura precisa ser construtiva e não combativa, sob pena de se afugentar investidores.   As medidas antes de serem implementadas precisam ser debatidas e extensivamente estudadas, até para que, não seja necessário revê-las, como está sendo o caso agora.

Discursos agressivos e voluntaristas afugentam o investimento.

O segundo grupo com pior desempenho foi o de serviços. “O setor de serviços cresceu 1,4% na comparação com o mesmo período do ano anterior. Influenciada pela redução do spread bancário e da taxa de juros Selic, bem como o aumento da inadimplência, a intermediação financeira e seguros recuou 1,0%, seguida pelo transporte, armazenagem e correio (-0,7%). As demais atividades registraram crescimento: Administração, saúde e educação pública (2,7%), serviços de informação (2,3%), outros serviços (1,7%), serviços imobiliários e aluguel (1,5%) e comércio (1,2%).”  (fonte IBGE)

Vemos no texto do IBGE que a “intermediação financeira” puxou o desempenho do grupo para baixo.  Interessante é observar que este segmento foi um dos que mais sofreu com “intervenções” da política econômica ativista.  Não podemos, entretanto, deixar de observar que parte deste desempenho negativo provém de certos bancos que sofreram intervenções ou que estavam/estão apresentando resultados negativos.

Como tem virado praxe, seguindo o conselho de um amigo, não vou alongar mais o texto.    A mensagem que eu quero passar é que o PIB cresceu pouco por uma simples razão: excesso de voluntarismo governamental!