segunda-feira, 28 de maio de 2012

Agentes Públicos, Conversas Privativas e Outras Estórias


    Qualquer agente público deveria seguir a máxima da mulher de Cesar: “Não basta ser honesta, precisa parecer honesta”.

     Infelizmente, no Brasil, parece-se dar pouca importância a imagem.  Às vezes, parece que a máxima adotada por estas bandas seria: “Não importa o que você faça, desde que não seja condenado”.    Embora sutil, há grave diferença entre esta máxima e o princípio de que todos são inocentes até que se prove o contrário.   A sutileza da diferença reside na ética, na moral e na transparência.

       Dado que, não sou jurista, nem filósofo, apenas economista, minha abordagem pode ser confusa.   Mas, meu ponto é simples:  independentemente da honestidade presumida – e até que se prove o contrário, factual – não seria mais adequado que ocupantes de importantes cargos públicos não tivessem conversas privativas fora de seus escritórios, sem o devido registro de conteúdo?

         Por exemplo, hoje, na capa do jornal  Valor: “Na semana passada, analistas baseados em Nova York foram chamados para conversas privativas”.    Claro que a matéria pode conter alguma imprecisão, mas meu ponto é que: em nenhum caso se justificam “reuniões privativas” de agentes públicos.   O que é feito pelo agente público, é público, não privado!  Ou eu estou confuso?

       A questão é simples,  se o objetivo das reuniões é  tratar dos ótimos fundamentos brasileiros, por que não divulgá-los em eventos públicos, aberto a todos?   Além do mais, estas reuniões são pagas com meu dinheiro, recolhido rigorosamente aos cofres públicos, através de impostos.   Logo, se de certa forma eu financio, eu devo ter o mesmo direito de qualquer um de conhecer o conteúdo em detalhes das conversas...

     Quanto a matéria da Veja, neste final de semana, com coincidência ou não, houvesse tal encontro ocorrido nos gabinetes do STF,  com acompanhamento de vários servidores, não haveria motivos para celeuma.  Assim, fica o conselho:  REUNIÕES DE AGENTES PÚBLICOS SÓ EM PÚBLICO!

      A propósito, como eu disse acima, não sou nem jurista, nem filósofo.  Apenas, economista.  Mas, devo assumir, mesmo na condição de economista ando confuso: até alguns dias atrás a torcida do flamengo (pelo menos é o que disseram) comemorava a alta do dólar e a fuga dos especuladores. Agora, o BC atua para valorizar a moeda e faz reuniões para convencer os investidores que aqui é legal?  

Atualmente não está fácil torcer para o Flamengo.  Nem ser economista.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

FGC: Fundo Garantidor de Créditos


Ontem o BC publicou o novo regulamento do Fundo Garantidor de Créditos, o FGC.  Vale destacar o artigo 1º:
Art. 1º  O Fundo Garantidor de Créditos (FGC) é uma associação civil sem fins lucrativos, com personalidade jurídica de direito privado, regida pelo presente estatuto e pelas disposições legais e regulamentares aplicáveis.
Parágrafo único.  O FGC não exerce qualquer função pública, inclusive por delegação.

Este parágrafo único foi acrescentado apenas agora.  Não existia quando o FGC foi criado.  Por quê?
A razão é simples, desde a crise de 2008/2009, quando por inépcia alguns bancos sofreram com a falta de liquidez, o socorro e o provimento de liquidez em última instância foi terceirizado, para o FGC.   Claro era, que, este não era objetivo inicial deste fundo. 

Mas, vamos recordar um pouco da história...

O FGC foi criado pela Resolução 2197, de 31 de agosto de 1995, e parte de seus recursos provieram do FGDLI e do RECHEQUE:
Art. 5º   A entidade a que se refere o artigo 1º desta
Resolução, quando de sua criação, absorverá:                        

               I  - o patrimônio do Fundo de Garantia dos Depósitos e
Letras  Imobiliárias  (FGDLI),  disciplinado pelo Regulamento anexo à
Resolução nº 1.861, de 28.08.91;                                    

               II  - o patrimônio da Reserva para Promoção da Estabi-
lidade da Moeda e do Uso do Cheque (RECHEQUE), de que trata a Resolu-
ção nº 2.155, de 27.04.95.

O Recheque era composto por recursos administrados pelo BC: “ Art. 21. A taxa de serviço referida no art. 20 reverterá em favor de reserva especial, gerida pelo Banco Central do Brasil, denominada Reserva para Promoção da Estabilidade da Moeda e do Uso do Cheque (RECHEQUE), destinada a patrocinar a divulgação e promoção da defesa da estabilidade da moeda nacional e do uso correto do cheque, bem como custear despesas com a elaboração e divulgação do Cadastro "de Emitentes de Cheques sem Fundos (CCF)."

O Recheque foi criado em substituição ao FUNCHEQUE, que foi criado com a mesma função.

Já o FGDLI, podemos ver na citada Resolução no. 1861 em seu artigo 1º a origem de seus recursos:
Art. 1º. Aprovar o regulamento anexo, que disciplina o funcionamento do Fundo de Garantia dos Depósitos e Letras Imobiliárias (FGDLI), criado pela Resolução nº 3, do Conselho de Administração do Extinto Banco Nacional da Habitação (BNH), em 25.01.67, e transferido para o Banco Central do Brasil, por força do Decreto-Lei nº 2.291, de 21.11.86, e da Resolução nº 1.219, de 24.11.86”

Enfim, fica claro que embora o FGC sempre tenha sido uma “instituição privada” ele foi criado com recursos administrados pelo setor público, para cumprir uma função determinada em lei que é a garantia, até determinado valor, dos depósitos das pessoas físicas e jurídicas nos Bancos.   Também era claro e legítimo o entendimento que embora privado, o FGC cumpria, sim, um papel público de reduzir o risco do sistema bancário. Afinal, inicialmente também estava previsto que em caso de insuficiência de recursos no FGC, também seriam utilizados recursos provenientes de :

“III - adiantamento de recursos líquidos, em dinheiro, da Reserva Monetária de que trata a Lei n 5.143, de 20.08.74, mediante prévia autorização do Conselho Monetário Nacional;”

Apenas para lembrar, a Reserva Monetária era formada por recursos provenientes da arrecadação do “IOF”, vale ver os artigos abaixo da lei 5143 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5143.htm)

           Art 11. Do produto da arrecadação do imposto será destacada uma parcela, não superior a 2%, destinada às despesas de custeio do Banco Central da República do Brasil na substituição da taxa de fiscalização referida no § 1º do artigo 16 da Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964, que fica extinta.
        Art 12. Deduzida a parcela de que trata o artigo anterior, a receita líquida do impôsto se destinará à formação de reservas monetárias, as quais serão aplicadas, pelo Banco Central da República do Brasil na intervenção dos mercados de câmbio e de títulos, na assistência a instituições financeiras, particularmente ao Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e em outros fins, conforme estabelecer o Conselho Monetário Nacional.”

O FGC foi criado com o objetivo de se reduzir o custo para o setor público da eventual liquidação de um Banco, sem contudo, haver uma total desvinculação, já que em última instância o socorro ao sistema financeiro pode ser uma necessidade pública, devido aos riscos sistêmicos. 

É verdade que os próprios criadores do FGC, foram reduzindo a ligação umbilical do fundo com o setor público, a medida que os ativos do FGC foram crescendo e se tornando suficientes.  Entretanto, e apesar disso,  o FGC deveria continuar – e os pleitos neste sentido a meu ver são legítimos – sob a “responsabilidade” econômica do governo, que define e determina suas normas.

É função do Banco Central preservar a saúde do sistema financeiro. É seu papel, através da fiscalização e de medidas prudenciais, garantir o bom funcionamento do sistema financeiro.

O FGC é uma das instituições mais importantes do mercado. Deturpá-lo, ainda que paulatinamente, é no meu ver, quase um crime contra a economia pública. Não faz sentido distancia-lo cada vez mais do governo, ao mesmo tempo que se torna mais permissivo com as possibilidades de aplicação de seus recursos.  O FGC foi criado com um único objetivo “GARANTIR CRÉDITOS”, prover liquidez ao sistema é papel do BANCO CENTRAL DO BRASIL.  Não dá para misturar.  Misturar é piorar os riscos para os depositantes.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Benefícios Fiscais, Anistias e o Palhaço


       Tem se tornado cada vez mais comum – e por essa razão eu mesmo não entendo porque ainda me revolto – abrir o jornal pela manhã e ler notícias sobre benefícios fiscais ou anistia para algum setor ou grupo.    Não há maior excrescência.  Para usar o estilo gramatical de certo famoso político: “tão cagando na cabeça do cidadão pagador de impostos” (aplausos e risadas por favor!).

       Hoje, abro o jornal Valor Econômico e me deparo com a seguinte notícia: “Medida pode beneficiar R$ 27 bi em dívidas vencidas”.  Em certo ponto do texto o desavisado jornalista escreve “O grande entrave à renegociação é que o crédito renegociado é tributado como uma nova operação!” .  Ora, realmente é fácil falar bobagem dizendo a verdade!   A “nova” operação é tributada, e deve ser tributada, por que a anterior – que estava vencida – foi abatida da base de cálculo dos impostos.

       A operação que foi baixada para prejuízo, e que foi deduzida no imposto, ao ser recuperada deve ter seu resultado revertido (ora, pois a perda não se confirmou) e ser tributada.  É justo, é correto!

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       Ontem ainda, estava lendo uma matéria que dizia que o custo das medidas mais recentes de redução de IPI e IOF para aquecer o setor automotivo custaria ao governo ao redor de R$ 2,7 bilhões.    Tenho uma sugestão melhor: por que não dividir este dinheiro entre os professores das Redes Públicas (federal, estaduais e municipais), pagando-lhes um bônus.   Supondo, e chutando alto, que hajam 2 milhões de professores na rede pública, teríamos um bônus  de R$ 1350 para cada professor e dada a situação de penúria da maioria deles,  grandessíssima parte deste valor iria para o consumo, ajudando a reaquecer a economia!

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      Outra hipótese para os muitos bilhões de benefícios fiscais seria investi-los na construção de mais metrô em SP.  Investir os R$ 2,7 bilhões para acelerar obras, criando novas frentes de trabalho, também gera empregos com externalidades positivas (menos poluição, menos trânsito, redução do custo e tempo de deslocamento do cidadão paulista para o trabalho, menos acidentes de trânsito, etc...).  
A opção, no passado, pelo crescimento a partir do setor automobilístico nos trouxe aonde estamos. Ao sucateamento da rede ferroviária (me irrita, muito, muito mesmo, passar pelo Ceasa e ver vários trilhos cobertos de piche, enquanto enormes caminhões, velhos engarrafam o trânsito na região). 

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       Sobre anistia.  Hoje não tem nada nos jornais sobre o assunto, apesar de estar em pauta a questão do código florestal.   Toda vez que você “perdoa” a custo zero, quem desmata, constrói em lugares proibidos (eg. Na Serra do Mar ao largo da Rodovia Anchieta, às Margens de Mananciais), você dá incentivos para que o errado continue acontecendo.  Qual a vantagem de ser honesto (exceto pelas evidentes razões morais) se o desonesto ganha mais e é perdoado?  A mania de anistiar é o maior incentivo ao malfeito.   Tem de se acabar com isso !!

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     Ué, faltou falar do palhaço....
       Ora, o palhaço sou eu, que pago meus impostos e tenho de ouvir um desfile de soberba da parte de gente que está destruindo a economia de nosso país!

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Apenas um desabafo

Estava agora assistindo ao Bom Dia Brasil. Notícia: Ontem em votação secreta a Câmara dos Deputados aprovou lei que permite políticos com "conta suja" a se candidatarem. É triste! Enquanto a imprensa destacava o "não" depoimento de Carlinhos Cachoeira na CPMI, cujo possível crime foi dar dinheiro a políticos, a Câmara aprovava lei "absolvendo" aqueles que tenham recebido "recursos" não declarados para sua campanha.
Acho que vou abandonar o Blog do Sidão Mal Humorado e criar o Blog do Palhaço Sidão, afinal é assim que me sinto.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Era de Incertezas: Onde investir?



Além de mal humorado, estou pessimista.  Muito. 

Quando um elemento de primeiro escalão do governo alerta, com certa satisfação, que a “a luz no fim do túnel é trem que vai nos atropelar”, estamos perdidos.    Para piorar a situação global, política e econômica, não permite desaforo.  Na Europa, se não me engano, 11 governos já caíram, como resultado da crise.  Nos EUA, Obama sofre com a alta rejeição.   Angela Merckel e seu partido têm perdido as eleições regionais...

A economia global está cambaleante e faltam líderes capazes de sustentá-la.   As perspectivas são ruins, péssimas.  Um breve exercício de futurologia econômica nos leva a três possibilidades principais: um crescimento econômico global menor que medíocre por vários anos, para inflação, ou, para um pouco de cada.  No caso do Brasil, ao contrário do que pensam alguns, face a rápida deterioração das políticas econômicas a tendência é que os efeitos sejam multiplicados.

Nestes cenários lúgubres a pergunta que não cala é: onde ponho meu rico dinheirinho?

Os juros reais e nominais, não só no Brasil, estão historicamente baixos.  Assim, aplicações em renda fixa não são as mais atrativas.  No caso do Brasil, ainda restam NTN-B’s (títulos públicos indexados ao IPCA)  com vencimentos longos (2045, por exemplo) que podem ser adquiridos via tesouro direto, com rendimento ao redor de 4,20% a.a. mais a variação da inflação.  Tirando-se os custos, o investidor receberá ainda por volta de 3% de juros reais líquidos.  É, ainda, a melhor alternativa de preservação do capital a longo prazo, principalmente para fins de aposentadoria.

Contudo, embora as NTN’s sejam indicadas para o longo prazo,  investir todo o dinheiro nelas, dado que o cupom já caiu bastante, e o risco do Brasil tende a crescer no médio prazo, não é prudente.   Assim, acho que devem ser investido neste títulos apenas recursos que a princípio não serão mexidos no longo prazo, apenas com o intuito de preservação do valor, para o fim de aposentadoria.  É o que eu faço.

Vários analistas, inclusive eu, ficam tentados, após razoáveis quedas na Bolsa, a dizer que a Bolsa está barata.   Contudo, a piora paulatina dos fundamentos, a despeito das flutuações de curto prazo,  não tornam a bolsa muito atrativa.  As sinalizações intervencionistas do governo, tais como o congelamento de preço da gasolina, declarações de agências governamentais de vão “acabar” com a correção de tarifas tornam várias ações pouco atrativas.   A propósito me irritam analistas que propagam de maneira inescrupulosa o investimento em ações que pagam dividendos, baseando-se principalmente nos rendimentos passados.

O investimento em empresas do setor elétrico, apesar de ótimos dividendos, embutem riscos regulatórios importantes.  Algumas concessões vencem nos próximos 5 anos.  De outro lado, a tentação governista de “tabelar” preços pode reduzir o potencial crescimento das receitas.   Logo, se no passado, foram porto seguro, hoje as ações deste setor embutem grande risco.

De qualquer maneira, ainda que eu seja reticente, por algum dinheiro na Bolsa é uma boa ideia.  Três regras devem ser observadas:
1    1)      A empresa tem de ser geradora de caixa e ter lucros consistentes nos últimos anos;
2    2)      A receita da empresa deve ser pouco dependente da intervenção governamental;
2    3)      Baixa alavancagem financeira.

Como consequência destas regras, deve se evitar empresas estatais e em fase pré-operacional.  De preferência o investimento deve ser distribuído nos próximos 3 meses, período em que grandes quedas podem acontecer.  Embora seja um chavão imbecil, na maior parte das vezes, e eu mesmo o odeie, o investimento em ações deve ser pensado no longo prazo,  no melhor estilo “Warren Buffet”.

Investimentos de curto prazo, podem ser feitos tanto em pré, como em CDI.  A diferença de rentabilidade entre ambos não é importante.  Uma boa dica, é aproveitar-se do FGC e investir valores de até R$ 60.000,00 (O FGC garante depósitos de até R$ 70.000, mas é aconselhável investir-se um pouco menos, para ter a garantia estendida  para os rendimentos também) em bancos pequenos que pagam taxas acima do CDI.  Alguns bancos chegam a oferecer  LCI’s (letras de crédito imobiliário) com rendimentos acima de 95% do CDI, e já que sobre seus rendimentos não incidem IR,  são equivalentes a 115% do CDI.

Fundos de investimentos, genericamente falando, devem ser evitados no momento atual.  Primeiro,  por que as taxas de administração para pequenos investidores ainda continuam muito altas.  Segundo, por que, dada as fortes quedas nas taxas de juros no mercado, os ativos nas carteiras dos fundos estão bastante valorizados, aumentando o risco de um ajuste de preços no curto prazo.

Cuidado especial deve ser tomado com investimentos em imóveis e fundos imobiliários.  Em épocas de juros baixos, os aluguéis se tornam muito atraentes, mas os preços dos imóveis estão sujeitos a variações.  Se meus piores pesadelos com a economia se tornarem realidade os preços dos imóveis cairão e a taxa de vacância aumentará.  A propósito, não creio que haja bolha imobiliária no Brasil, mas desvalorizações - com ou sem bolhas - acontecem.

Dólar e ouro, não são investimentos. São bons para especular. Portanto, deixem-nos  para os especuladores.

Nem macro, nem micro: Cadê a Prudência?


                Recentemente, nos textos econômicos, na imprensa especializada e principalmente os condutores da política econômica brasileira passaram a utilizar o termo “medidas macroprudenciais”.  E, eu, mal humorado que sou, fico me perguntando:  e daí?

           O que é ser prudente?  Em tempos modernos, procuramos o significado na internet, no Wikicionário: “pru.den.te. que tem ou usa de prudência · cauteloso na forma como procura antecipar ou evitar perigos”.     Será que o governo tem sido prudente?

                Façamos uma breve pausa, para esclarecer uma coisa: o que estes economistas pseudomodernos pregam como medidas macroprudenciais estão nos livros textos de economia há muito, muito tempo.  Ou seja, apenas cunharam um termo bonito, bastante chic, para dizer que governos dispõem de mais ferramentas de política econômica que apenas as taxas de juros e o orçamento.

                Voltemos ao ponto.  Ontem, o governo novamente anunciou medidas de estímulo, voltadas principalmente ao setor automotivo.  Isto me irrita.  Meu estômago ferve!!  Há apenas algum tempo, 2 bancos precisaram ser socorridos com enormes rombos advindos do crédito (principalmente consignado).   Outros bancos receberam ajuda do FGC (fundo garantidor de créditos).     Certo banco, que tem como sócio um banco estatal, apresentou enormes prejuízos nos últimos trimestres advindos de sua carteira de crédito.   A razão é simples: faltou prudência!

                Faltou prudência, faltaram medidas macroprudenciais.   Era papel das autoridades ter restringido o crédito, principalmente de veículos e consignado para evitar o excessivo endividamento das famílias e o consequente e posterior aumento da inadimplência que agora ocorre.    Claro é que o crescimento teria sido menor, mas quem é prudente é avesso ao risco e se previne.  Melhor crescer menos e crescer sempre.

                O que um governo prudente deveria fazer é maximizar o crescimento do país no longo prazo, garantindo uma vida melhor para várias gerações, não apenas para o empresário X ou Y.

                A falta de prudência fica evidente nas medidas tomadas ontem.  Ser prudente exige planejamento, ser ativo e não reativo.  A impressão que temos é que se definiu: quero dólar alto, juros baixos! Faça-se!!!   E se está fazendo.  Só que...  Ninguém pensou no país à longo prazo.  Cadê a prudência?   Um motorista prudente, planeja seu caminho, dá seta antes de reduzir, olha nos retrovisores e aí sim vira.  Um motorista que vira de repente, sem sinalizar, sem olhar, derrubando ciclistas, atropelando pedestres e provocando acidentes e depois chama a ambulância não é prudente!

                Juros baixos são bons para o país.  Não há dúvidas.  Uma taxa de câmbio supervalorizada é ruim para o país.  Também não há duvidas.  Mas, aonde está a prudência?

                Quando vejo medidas para beneficiar um setor, seja ele qual for, eu me pergunto: por que este setor e não aquele outro?  Será que a montadora é melhor que a cervejaria?  Quando falam da desoneração da folha de pagamentos para alguns setores, o que eu vejo é mais confusão, mais regras.  E eu me pergunto, novamente, por que desonerar a folha de pagamento do setor de tecnologia e não dos bancos?     Eu respondo:

C.... !!!   O PAPEL DE UM GOVERNO NÃO É BENEFICIAR A ALGUÉM, É BENEFICIAR A TODOS !!!!!

                Em resumo, ao invés de ações reativas, o governo deveria implantar uma agenda de desoneração e de simplificação de regras tributárias, para todos.  Ao invés de se dar “R$ 2,7 bi de subsídios setoriais” melhor seria reduzir alíquotas de algumas contribuições e taxas (para todos) até que sejam extintas.  Fazendo a reforma tributária aos poucos, melhorando a competitividade da economia brasileira.

                A criação de benefícios setoriais, a edição de medidas e mais medidas de incentivo nos levarão de volta a década de 1980. Os mais velhinhos, como eu, sabem como era ruim! 

                Só hoje na capa do Valor de hoje, afora o destaque para as medidas de ontem, temos duas notícias que mostram para onde estamos indo. A primeira “MP 556 traz um festival de isenções” cujo texto da chamada diz “ A MP, que já trazia várias regras tributárias desconexas...”.  A segunda: “Protecionismo atinge até as batatas fritas” e no corpo do texto a declaração de um executivo desolado: “Nunca tivemos um problema desses com o Brasil”.

                Se a Caixa e o BNDES precisarão vender “ativos ruins” para uma nova empresa estatal, para limpar seus balanços, é por falta de prudência!   Se vários bancos recorrem ao FGC para ajudar na sua sobrevivência, é por falta de prudência!

                Medidas macro ou microprudenciais são panaceias. É preciso ser prudente.  Pensar o futuro. Governos são tentados a viver o presente.  Verdadeiros estadistas pensam o futuro.  Pensar o futuro, não é construir estádios para a copa, é construir ferrovias, investir em geração de energia, melhorar o ensino, tornar a justiça eficaz!   O que tira a competitividade do Brasil não é a taxa de juros, nem a taxa de câmbio, é o imediatismo, a corrupção, o ego de alguns.

                Quando vejo ministros sorridentes anunciando medidas, vejo ego acima da seriedade.  Quando leio entrevistas, onde dados do mercado financeiro são falseados(eg “a taxa de câmbio no brasil ando em linha com as outras moedas nas últimas semanas”), o que vejo é um candidato a extradição... Minha vontade é mandar todos à M...

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Receita para Quebrar um País


Quebrando Um País: Receita Básica (versão simplificada)

(  ) Há uma bonança.  O Governo aumenta seus gastos, a medida que a economia cresce e a oferta de crédito é abundante.  O setor privado e bancário se alavancam.  Tudo está “como nunca antes”.
(  ) Algum evento, geralmente externo, reduz o crescimento da economia. O governo sai em socorro do setor privado, cujo endividamento se torna crítico face ao menor crescimento econômico. Aumenta gastos, dá subsídios.  Adota medidas protecionistas.  Tudo continua “como nunca antes”.
(  )A atividade econômica não reage.    O governo aumenta os gastos, dá subsídios.  Adota medidas protecionistas.
(  )A arrecadação para de crescer.  Os gastos não. O desemprego cresce.  A dívida cresce. O desemprego cresce. O consumo estagna.
(  )O governo adota medidas de incentivo ao emprego, isto é, aumenta os gastos, dá subsídios.  Adota medidas protecionistas. 
(  )A inadimplência cresce. Bancos começam a ter problemas. O governo socorre. Aumenta os gastos, dá subsídios.  Adota medidas protecionistas. 
(  )Enfim os gastos do governo atingem níveis muito elevados. A dívida começa a crescer explosivamente, o custo da dívida sobe.
(  )A dívida se torna impagável.

A receita acima exige anos de cocção.   Em geral, quando começam a acontecer o resultado final é pouco perceptível.   Tudo parece estar indo muito bem.  Ninguém reclama.  Quando se percebe é tarde demais.   
A adição dos ingredientes pode não ocorrer exatamente na ordem acima, já que “cada” cozinheiro dá o seu toque pessoal.  O resultado do banquete, é uma elite mais gorda e uma população mais magra.
Se por acaso, para algum hipotético país, você assinalou mais de 3 “ingredientes” acima.  Você pode imaginar qual será o cozido. E tenha certeza, a sua participação no banquete, se limitará a lavar os pratos depois!
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COZIDO À GREGA
Este já está pronto.  Só falta servir.    O setor privado já se fartou.  As elites já levaram suas “quentinhas “  para os países vizinhos.   Talvez, a única vantagem é que ao invés de lavarem os pratos, eles serão somente quebrados e jogados no lixo.
Enfim, ontem eu li, em uma matéria da CNBC, o mais provável caminho do ocaso Grego.  Pelo menos o que me pareceu mais racional, entre tudo que li até agora.
Países  cujo endividamento ocorreu em sua própria moeda podem se dar ao luxo do calote “implícito”, via inflação.  Não se enganem, juros reais negativos são a forma mais simples de calote!
Países que não tem moeda própria, tal como a Grécia, não têm a inflação como opção. O ajuste fiscal é um suicídio lento, a medida que, os cortes nos gastos reduzem também a atividade econômica e a arrecadação, mantendo a relação dívida/PIB em sentido crescente.  A única opção ao calote unilateral é o calote “multilateral”, isto é, os países credores concordarem com uma grande redução (hair cut) na dívida grega.   Esta opção, não parece estar na mesa, já que as condições políticas nos principais países europeus não é nada favorável a ela, basta se ver as importantes derrotas que os governos tem sofrido nas eleições em seus países.  Logo, sobrou o calote puro.
O problema é que o calote puro e simples implica na saída da Grécia do Euro. Coisa pouco banal. Como trocar todo o meio-circulante (em Euros) por Dracmas?  Ninguém vai querer. Quem pode manterá seus Euros embaixo do colchão ou em bancos de outros países da Zona Européia. Uma tentativa destas, da noite para o dia, provocaria uma gigantesca e instantânea recessão e uma desvalorização enorme da nova moeda (o que no longo prazo é a solução).  Mais, como o governo grego conseguiria imprimir discretamente “novos Dracmas” para fazer a conversão do meio circulante e os distribuiria entre os Bancos? 
Enfim, o que o artigo da CNBC sugere é que a Governo Grego, que em breve ficará sem dinheiro,  começará a pagar funcionários e fornecedores com IOU’s (promessas de pagamento) tal como adotou o Estado da Califórnia no auge da crise.   Estes IOU’s passariam a ser aceitos pelos bancos e comércio com grandes deságio e seriam uma proxy para o novo Dracma.  A partir daí, 2 coisas podem acontecer: 
- A população sentindo o destino doloroso que a “nova moeda” lhes trará, aceita a formação de um governo de coalizão e baixa a cabeça aos desígnios alemães, retomam o ajuste fiscal e recebem o dinheiro do socorro, protelando o calote, enquanto rezam para que o mundo volte a crescer e lhes possibilitem sair do burado;
- Os pagamentos e o volume de IOU´s crescem na economia, expulsando (tal qual previsto na Lei de Gresham “a moeda má, expulsa a boa”) abrindo o caminho para a “Dracmização”.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Câmbios e Salários: Uma Verdade Inconveniente


     Dogmatismo é uma coisa que me irrita.  Muito !   Quando ouço próceres da república repetindo a ladainha que a alta do câmbio não preocupa  e que o câmbio é flutuante só posso pensar duas coisas: que eles continuam lendo livros da década de 60 ou que não se incomodam em mentir.

    Quanto as mentiras, em texto anterior, defendi a ideia de que homens públicos tem o direito de mentir, em certas ocasiões.    Se o problema for de dogmatismo é motivo para sérias preocupações.

    Antes de discutirmos teorias sobre câmbio é necessário esclarecer uma verdade:  a taxa de câmbio só afeta a competitividade de um país quando o poder de compra dos assalariados é reduzido.   A questão da “competitividade chinesa” é resultado de salários baixos e da pobreza da maioria da população. A análise reducionista que culpa ou atribui totalmente ao câmbio a vantagem chinesa é uma grandessíssima  mentira!
Apenas para ilustrar de 1994 até agora o Remminbi (Yuan) se valorizou 34% e o real se desvalorizou 50% (passou de R$ 1, para R$2).  Antes que alguém se sinta tentado a culpar o diferencial de inflação, afirmo que a inflação dos dois países (Brasil e China) é semelhante.  Um colega economista, a partir de dados extraídos do FED, observou que a moeda brasileira na década de 1980 compraria 9 yuanes, atualmente compra aproximadamente 3 yuanes.  

     Enfim, câmbio sozinho não é garantia de competitividade. Salários baixos são!  Logo, o que nossos policy maker escondem é que para as “indústrias ganharem mais” alguém – provavelmente você – precisa ganhar menos!

     Indo além do câmbio, medidas protecionistas não melhoram a situação.  Se é melhor termos carroças caras do que “Azeras baratos” é uma questão de opinião.  Mas a extrapolação das medidas protecionistas inequivocamente beneficiam produtos de menor qualidade e maior preço, pelo simples fato de serem produzidos aqui.  Fizemos muito isso nas décadas de 1970 e 1980. Não me recordo exatamente, mas acho que no final acabamos com salários defasados e alto desemprego.

     Câmbio é como remédio, doses elevadas são veneno!!

     Em tempo: o jornal O ESTADO DE S. PAULO, está na minha mesa e leio uma das manchetes: “Comissão da Verdade não vai Investigar Militantes”.  Só posso pensar uma coisa, temos um governo que flerta constantemente com as  “MEIAS VERDADES”.   Posso me enganar, mas, para mim,  meias verdades são grandes mentiras !

P.S.: No final de semana farei um texto mais extenso sobre a questão do câmbio.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

O Mark-to-Market da Política Monetária


Hoje no jornal Valor há uma matéria citando o presidente do Banco Central que teria ressaltado “a necessidade de maior transparência na comunicação dos Bancos Centrais, para evitar interpretações extremas”.   Continua o Jornal, “Tombini disse que a crise deixou clara a necessidade dos Bancos Centrais serem menos herméticos, mais transparentes, na sua comunicação”.   Excelente! 
Mas, aí vem a parte que não entendi: “Não se trata apenas de fortalecer os mecanismos de formação de expectativas dos agentes, mas também de evitar que interpretações com variância excessiva possam afetar o funcionamento dos mercados”.  Claro.  Mas, segundo ele, “ao benefício de uma maior transparência na comunicação se contrapõem mudanças mais frequentes nas sinalizações.  Mas não penso que por conta disso vamos ou devemos retornar ao hermetismo do passado ou a um estilo de comunicação que permanece em generalidades e perde em precisão. Neste momento de transição, esse ‘tradeoff’ apenas tende a acarretar um custo reputacional um pouco maior para os Bancos Centrais.”              
Não entendi !   O objetivo da transparência é reduzir a volatilidade, mas ela aumenta? ??
O FED (o banco central americano) é transparente.  Muito mais transparente que a maioria dos Bancos Centrais.  Isso não o faz mudar de opinião a cada swing dos mercados.  Há algum tempo, dados melhores da economia americana fizeram que críticos de Bernanke (presidente do FED) disparassem suas metralhadoras contra ele. Em nenhum momento, Bernanke mudou seu discurso de manter os juros baixos até 2014.  Tivesse o FED reagido aos novos dados, o comunicado emitido após suas reuniões teria mudado esta indicação e, agora que os dados voltaram a fraquejar, ele voltaria a sinalizar que os juros ficariam baixos por longo prazo.   Não vimos isso acontecer.
           Como já disse, em um de meus primeiros posts,  as decisões de política econômica sempre serão controversas já que os interesses e opiniões dos diversos agentes dos mercados (empresas, governos, trabalhadores, estudantes, ricos, pobres) são naturalmente divergentes.  Juros altos são desejados pelos rentistas  e juros baixos são a bandeira dos empresários.  A arte de se “achar” a  melhor taxa de juros não é cabal e sempre haverá quem acha determinado nível suficiente ou insuficiente.    Portanto, a discussão a respeito de uma determinada decisão de política monetária, tomada dentro de certos limites, é quase inócua e apenas um bom assunto para se conversar ao redor de uma mesa de chopp.  Contudo, a comunicação do Banco Central a partir das teorias sobre expectativas racionais e no contexto de “Metas para  Inflação” deve ser precisa. É a partir delas que os agentes econômicos tomam suas decisões.
          Um empresário decide investir com base em projeções, que dependem em grande parte das sinalizações emitidas pelos “policy makers”.   Contratar ou demitir, aumentar a fábrica ou não, exportar ou importar, são decisões que envolvem custos e riscos e não podem ser tomadas com base na variação do IBOVESPA no dia anterior, elas dependem da compreensão do cenário econômico e das políticas econômicas.
           Dados econômicos nos períodos pré-crises e pós-crises são naturalmente voláteis e muitas vezes contraditórios.  Não é razoável tomar-se uma decisão por que o dado de vendas no varejo subiu ou caiu em determinado mês.  Menos razoável é tomar uma decisão com base na variação de índices de bolsas.  O “cenário” econômico não pode mudar a cada 40 dias.  Por isso,  economistas usam modelos econométricos que tentar separar  tendências de flutuações.  É também papel dos “operadores” dos modelos fazer suposições quanto algumas variáveis com base no estudo e discussão dos eventos econômicos visando reduzir a volatilidade dos resultados destes modelos.
           Perda de credibilidade não é um efeito colateral menor. Um Banco Central não pode arriscar sua credibilidade, nunca !     A credibilidade do Banco Central é condição sine qua non para o Modelo de Metas Para Inflação, que é o mandato que o Banco Central Brasileiro tem.
              Independentemente de mandato, de se ter metas de inflação ou não, o objetivo final das políticas econômicas é o desenvolvimento econômico.  Incertezas diminuem o crescimento.  Confiança é um ativo difícil de se conquistar, custou uma década ao Brasil.  Perde-la é rápido.  Reconquistar é quase impossível.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Conflitos de Agência, Teoria dos Jogos e Sofismas: A decadência da sociedade


Há algum tempo, ao explicar Teoria dos Jogos, uma professora de Microeconomia propôs um jogo que era mais ou menos assim:
Cada aluno deveria colocar num papel um número de 0 a 10.  Se todos colocassem “10”, todos teriam 2 pontos a mais na nota.  Se alguém colocasse um valor menor que “10”, aquele que colocou o menor valor receberia aquela quantidade de pontos.   Naquele dia, um aluno de minha sala colocou “0,01”.  Ou seja, este aluno, teve somado em sua nota 0,01 pontos. Mas, também foi grande a quantidade de pessoas que colocaram valores abaixo de 10, apesar de ter sido permitido que todos alunos combinassem e conversassem.  O que aconteceu?
A racionalidade, aparentemente, indicaria que todos deveriam colocar “10” e todos ganhariam 2 pontos a mais na média.  Numa sala de 30 alunos, resultaria que ao todo 60 pontos seriam distribuídos para a sala.  Se apenas uma pessoa colocasse, por exemplo “9”, ela receberia 9 pontos e, assim, a “sala” perderia 51 pontos.  Contudo, a Teoria dos Jogos mostra que as pessoas não pensam no coletivo, desconfiam dos outros jogadores, prevendo que os outros são também racionais e egoístas e tentam se antecipar.  No caso do jogo proposto, é razoável pensar que alguém  irá colocar um valor abaixo de 10. Se você imagina que alguém colocará 9, então melhor colocar um valor menor.  Mas, se cada um tenta antecipar o movimento do outro, o resultado será um valor pequeno no final e todos perdem.  No final este jogo é similar ao popular “DILEMA DO PRISIONEIRO”.
Esta professora vem aplicando este exercício em salas de aula de graduação e mestrados de economia e apesar de fazê-lo a mais de 10 anos, nunca,  em nenhuma sala todos colocaram “10”.  Para ela, a maior surpresa é ter este retorno em salas de graduação, onde sua disciplina, Microeconomia, é aplicada nos primeiros semestres do curso, pois imaginava ela que dado o fato que os alunos de graduação conviverão por vários anos juntos, o medo da repreensão afetar o resultado do jogo.

Em microeconomia também estudamos os conflitos de agência.  Estes surgem da dissociação entre os interesses dos gerentes e os interesses dos sócios das empresas.  Este tipo de conflito foi muito claro durante a crise do subprime.  Os gerentes (entenda-se gerentes, neste caso, como aqueles que administram a empresa) tinham total interesse nos lucros de curto prazo que lhes garantiam polpudos bônus.  O foco no “máximo resultado no curto prazo” vem de encontro ao objetivo do acionista que é a maximização do resultado no LONGO PRAZO. 
O conflito de agência, na crise do subprime, ficou  claro quando se observou que apesar de várias instituições financeiras quebrarem, seus “gerentes” tinham ficado milionários, pois tinham acumulado polpudos bônus até o início da crise.

Em Economia estudamos também “sofismas”, nas matérias de Introdução a Economia e de Métodos Científicos.   Um dos sofismas que mais chamou minha atenção é o Sofisma da Composição que se baseia na ideia de que nem sempre o que é válido para o particular é válido para o todo.  Por exemplo, num estádio de futebol, se você se levanta para ver o jogo, você terá visão melhor. Mas, se todos ficarem em pé, não fará  nenhuma diferença.   Outro exemplo é o do agricultor que tem uma excelente colheita e imagina que terá ótimos retornos, mas ao descobrir que todos tiveram colheitas excelentes percebe que a queda nos preços lhe resultará em um péssimo retorno.
No dia-a-dia é comum vermos pessoas “cometendo” o sofisma da composição,  tal qual o indivíduo que fica em pé no estádio, imaginando que verá melhor o jogo, esquecendo que o ato dele, simplesmente fará que todos fiquem em pé, sem que ninguém (ou poucos) levem vantagem.
Enfim, quando unimos conflitos de agência, teoria dos jogos e sofismas podemos compreender melhor a decadência da civilização.   Se cada um objetivar apenas seu bem-estar, no final todos ficam em situação pior.  Infelizmente, a teoria mostra que se partimos do pressuposto correto de que os outros vão tentar levar vantagem,  racionalmente deveríamos nos antecipar para garantirmos para nós o máximo retorno.  O Estado existe para disciplinar os atos dos indivíduos para que a barbárie resultante da racionalidade extrema não destrua a sociedade, mas, se o “estado” se ausenta não há salvação.    Vou voltar a este tema.
Hoje eu sei que vou ser idiota de novo, pois terei uma aula de teoria dos jogos com esta professora e possivelmente ela proporá este jogo, e, eu, sonhador, vou por “10” em meu papelzinho.  Não vou ganhar nenhum ponto adicional em minha nota, mas eu me recuso a ser racional neste nível, prefiro crer que um dia teremos uma sociedade melhor !!

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Criminalidade, política e seus incentivos econômicos


Estou puto da vida!  Cada vez mais cansado com os rumos que a sociedade toma.  Em geral, o objetivo do blog do sidao mal humorado é ser um lugar para se propor um discussão econômica séria além de preconceitos de correntes ideológicas.  Meus posts, embora tratem de temas macroeconômicos (câmbio, inflação, juros),  se fundamentam num só pilar: toda e qualquer ação política é resultado de interesses que podem, ou não, virem ao encontro dos interesses da sociedade. 
Hoje, vou fugir do tema puramente econômico, para esbravejar contra a corja de egoístas que tomam conta da política nacional fundamentando minhas críticas na questão da insegurança pública.  Hoje, também, vou fugir da regra  de limitar a extensão do texto, por que quero falar tudo que sinto e penso.
Meu filho foi assaltado na sexta-feira.  Um indivíduo abordou-o na rua, quando ele saía do cursinho.  Apontou uma arma para sua cabeça e pediu que lhe entregasse a carteira e o celular.  Felizmente, meu filho não reagiu e entregou tudo que lhe foi pedido.   Mas, se meu filho não reagiu, e eu estou orgulhoso e feliz por isso, eu, não posso deixar de reagir.  E gostaria que este meu post chegasse às mãos de um presidente da OAB ou algum político para ver  sua reação e se eles seriam capazes de rebater publicamente, dizendo e provando que meu raciocínio está errado.
Vamos ao que interessa.
Há muitas razões para a criminalidade. Há centenas de estudos que mostram a relação entre a criminalidade e a educação.  Há centenas de estudos que mostram a relação entre a criminalidade e a pobreza e a má distribuição de renda.   Há pouca ou nenhuma dúvida quanto isso. 
Há também estudos mostrando que cadeia não resolve. Mas, também há estudos que dizem que cigarro não vicia.  A lógica é a mesma, quem tem interesse paga estudos que defendam seu ponto de vista.
Eu afirmo – e a lógica está a meu favor – que qualquer crime é resultado de incentivos e da impunidade.  Afinal, as pessoas são racionais, sendo assim, em toda e qualquer atitude, mesmo que inconscientemente, elas avaliam a relação risco/retorno.  Se o risco é consideravelmente menor que o retorno, o ato vale a pena.
Iniciemos pelo “lado do retorno do crime”. Há duas facetas: a do ladrão “pé de chinelo” e a do crime organizado.  Quanto ao crime organizado, acho que não preciso elaborar que o retorno é totalmente financeiro e econômico.   
No caso do ladrão “pé de chinelo” os incentivos são mais difíceis de serem compreendidos, já que o retorno financeiro de cada roubo é mínimo.  Normalmente o ladrão “pé de chinelo” é levado ao crime pela falta de alternativas de trabalho e, muitas vezes, porque está condenado à permanecer na mesma situação social precária durante toda sua vida.  Então, as opções de “renda” para este indivíduo são poucas, e o roubo é apenas a mais fácil delas.  Por outro  lado, para ele, a situação da vida na cadeia não é muito pior que as condições de vida que ele tem.
Neste caso, do ladrão pé de chinelo, a ação deveria estar focada principalmente na prevenção. E é neste ponto que o crime “comum” tem suas motivações e perpetuação misturada com a questão do crime organizado.   Afinal, um dos melhores caminhos para  prevenção do crime “comum” é uma educação de qualidade acompanhada de mobilidade social.  A pergunta que é indispensável ser feita é: por que a sistema educacional brasileiro é precário?
A educação no Brasil é uma MERDA, por que esta é maneira mais fácil da cambada de políticos vagabundos que dirigem nosso país se manter no PODER.  E não se deixem enganar com nomes de partidos pois PT, PSDB, PMDB, Democratas ou o caralho  dividem e loteiam o poder há décadas no país, ou é mera coincidência que o tal do Cachoeira, segundo se lê na imprensa, teria dado dinheiro, direta ou indiretamente para membros do PT, do PSDB e do Democratas ?  Será coincidência que o escândalo do Mensalão ter ganhado vulto com gravações onde supostamente um membro do PT combinava propina com o Cachoeira ?    Será coincidência que escândalos comecem com políticos indignados esbravejando nas tribunas e acabem quase sempre esquecidos, sem punições e sem que ninguém os relembre ?  Eu, por exemplo, por ocasião da CPI do Cachoeira, ainda não vi ninguém o associando ao Mensalão.
Será coincidência que políticos supostamente inimigos, quase mortais, frequentem os mesmos palanques de mãos dadas como se todos eles fossem por uma mão divina perdoados pelos pecados que eles mutuamente  se acusavam ?
Pois bem, EU NÃO ACREDITO EM COINCIDÊNCIAS !!!!!
Embora, a questão social e educacional mereça mais discussão, quero ir ao ponto nevrálgico deste texto: a relação entre política e criminalidade que se dá no nível do crime organizado.
Por que políticos não aprovam leis que tornem as punições aos criminosos mais efetivas, tanto na celeridade quanto na intensidade ? Primeiro, por que ao contrário do cidadão comum eles tem seguranças pagos pelo nosso dinheiro.  Veja  o caso do José Police Neto que se orgulha de ir para a Câmara de bicicleta escoltado por um policial – igualmente de bicicleta.  Por que se preocupar com assalto ? http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1062711-com-escolta-da-pm-pedalada-de-vereador-em-sp-e-mais-segura.shtml.   Quero um PM para escoltar meu filho, que pega TREM na LUZ, para onde vai depois de sair do cursinho na Rua da Consolação  !! Será que eu tenho direito ?
Será que este “nosso presidente da Câmara”, que tem horário flexível de trabalho acompanhamento da PM, bom salário está preocupado com a segurança pública ? Será que alguém que tem uma representação movida pelo Ministério Público por gasto ou captação ilícito de recurso financeiros de campanha eleitoral se preocupa em punir criminosos ? http://www.excelencias.org.br/@candidato.php?id=35538&cs=30&pt=-1
Quando pensamos nas leis e nos processos penais logo vem a nossa cabeça a ideia de morosidade e impunidade e faz sentido. Só relembrando,  os  réus do Mensalão  podem ficar impunes, não por que foram inocentados mas por que nem foram julgados...
A pergunta que tem de ser feita é quem ganha com isso ?
O primeiro grupo  que mais ganha com processos morosos, inúmeros habeas corpus, liminares, etc. são os advogados, perfeitamente organizados em sua guilda conhecida como OAB.   Um ex-colega meu, advogado, costumava dizer que na aula inaugural de seu curso de direito na PUC, um grande político, advogado,  proferiu que algo sobre o “inalienável direito de mentir”...  (??????????????).   As pessoas tem, sim, o direito de mentir para não serem presos. Mas uma pessoa inteligente e decente tem de saber que o objetivo da Justiça é descobrir a VERDADE.  Assim, é uma deturpação do objetivo de um julgamento, do ponto de vista ético e de cidadania, a ideia de que um advogado de defesa tem o direito de mentir e levar às últimas consequências a defesa de seu cliente.  O objetivo de um advogado de defesa decente é garantir um julgamento justo para o seu cliente.  O resultado de um julgamento justo nem sempre é a absolvição  !!  Lógico que alguns advogados vão argumentar que meu raciocínio está errado já que eles tiram o seu sustento daí.  
Mas, como sou leigo, perguntemos para grandes advogados tal como o Márcio Thomaz Bastos, que segundo jornais foi contratado para defender o Cachoeira: ele quer um julgamento justo ou quer a absolvição do seu cliente ?  Até onde um advogado que recebe milhões de honorários tem interesse num processo célere e cabal e que ao final dele a justiça seja feita?  
Gostaria de saber da OAB quantas liminares e habeas corpus em média são emitidos por processo?  Qual é o ganho médio dos advogados por cada uma destas liminares ou habeas corpus?  Quanto em média um advogado recebe durante o processo à algum possível membro de uma quadrilha do crime organizado ?   Com estas respostas, talvez seja fácil entender por que eu não vejo a OAB defendendo mudanças nas leis (e nos códigos de processos) e nos tribunais  que tornassem os processos mais rápidos.
O segundo grupo de mais se beneficia das leis brandas e dos processos lentos são os criminosos.  A pergunta é como criminosos que deveriam ser “marginais”  conseguem que as leis, os processos e a própria execução penal sejam brandas para eles ?  Será que eles contratam “lobistas” ?   Gostaria que o Demóstenes me respondesse  essa !
Além de, aparentemente, contratarem lobistas, o que parece é que os próprios políticos tem interesse na impunidade. Afinal, basta acessar a internet e achar centenas de políticos que estão sofrendo processos pelos mais diversos crimes.   Também me parece clara a relação entre corrupção e crime organizado.  Neste sentido, acho engraçada a acusação de que Demóstenes deve ser caçado por ter defendido os interesses de Cachoeira... Será que os ruralistas que votaram o Código Florestal que talvez anistiasse a eles mesmos ou seus vizinhos pelo desmatamento são melhores que o Demóstenes ?   
Todos votam no próprio interesse, seja por que  se beneficiam diretamente – mesmo que seja por conta de votos que receberão por votar uma matéria popular – ou por que seus financiadores são beneficiados.   Se isto é verdade, a impunidade, como resultado de penas brandas, códigos processuais caóticos, estrutura do judiciário aquém da necessária é resultado do interesse dos próprios políticos!
Em tempo: quero registrar que o Delegado e a equipe de plantão que atendeu ao meu filho na Delegacia da Rua Aurora foi perfeita em todos os pontos: rápidos e educados prestaram todo o apoio que meu filho necessitava.   Parabéns a estes policiais e delegados, que apesar de tudo dificultando o trabalho deles ainda se dedicam para ajudar a sociedade !!!

sexta-feira, 4 de maio de 2012

As Mentiras que os Governantes Podem Contar: Será que o BC está certo?


Desprezo os políticos.  Acho um nonsense a cassação de um senador por que ele mentiu. Se fosse eu o julgado parafrasearia Jesus:  “Aquele que nunca mentiu que vote sim”.  Eu seria cassado e mais uma mentira seria somada ao histórico de alguns senadores, mas, ao menos deixaria explícita a incoerência do processo político, onde mentir faz parte do jogo.
Meu desprezo por políticos  vem daí: cada político é um mentiroso em potencial.  Quantos partidos já não foram pegos com recursos “não contabilizados”, quantos projetos não foram aprovados por motivos diferentes daqueles declarados?   Lobbies existem.
O fato é que, embora deploráveis,  algumas mentiras são necessárias.  No limite, até o mais desonesto dos políticos têm a obrigação de se declarar inocente.  Imaginem, se, tal qual no filme “O Mentiroso”, todos os políticos saíssem a dizer a verdade: “De fato, temos recursos não contabilizados”, “Tenho dinheiro em Jersey”,  “Roubei , mas quem não rouba?”...  O resultado seria a banalização da corrupção, do malfeito, o fim do Estado de Direito (qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência).
Especificamente no caso dos condutores da política econômica a mentira é muitas vezes escusável e necessária.   Lembro-me de um Ministro da Fazenda que caiu após uma declaração, mais ou menos assim, “O que o bom a gente fala, o que é ruim a gente esconde”,  vazar para antenas parabólicas.  Em política a verdade derruba mais rápido que a mentira. 
Quando um governante sabe antecipadamente de uma catástrofe por vir,  ele deve  medir as consequências de se alertar a população sobre ela. Em certos casos, a reação ao alerta pode agravar ao invés de reduzir as perdas esperadas. Quando as perdas prováveis em consequência do alerta forem maiores  o governante deve mentir.  Cabe a ele, somente, tomar todas as medidas no sentido de minimizar as perdas futuras.
Nos últimos dias, tenho conversado com vários amigos e muitos deles, como eu, são muito críticos e veem elevados riscos na forma como a política monetária vem sendo conduzida.  Será que o BC está apostando alto numa possível recessão global, fortemente deflacionária, ou ele tem mais informações que nós, simples analistas de mercado?  
Ontem, conversando com um dos melhores economistas do mercado, ele colocou em nossa discussão a hipótese de que o COPOM poderia estar reduzindo os juros baseado em informações privilegiadas que eles teriam sobre a situação na Europa.  Embora esta hipótese seja possível, afinal o Tombini e outros diretores do BC tenham conversas diretas com o Draghi, o Bernanke, a Lagarde e outros importantes “policy makers”, é pouco provável.  Claro que eles tem mais informações sobre a situação da Europa que nós, meros analistas.  Não há dúvidas quanto a isso.  Mas, é pouco provável que estas informações adicionais sobre um assunto amplamente escrutinizado que lhes deem grau de certeza suficiente para que eles se adiantem na política econômica.   Seria uma aposta agressiva.
Outra hipótese, que vale uma mentira, é que a situação do sistema financeiro, vide resultados de alguns bancos, esteja pior do que o percebido pelo mercado.  Em minha opinião, esta hipótese é mais forte, já que sobre este assunto o BC tem indubitavelmente mais informação, além dos balanços, que qualquer player.   Para pensar.
 Em tempo, antes que me chamem de profeta do apocalipse, não acredito e não há no momento nenhum risco de algum banco quebrar,  apenas, é possível que o aperto no crédito, via ajuste de carteiras, seja mais intenso e que as medidas que o BC está tomando sejam apenas e suficientes para compensá-lo.
Podem haver outras hipóteses que eu não tenha pensado. Contudo, na hipóteses levantada por muitos de que o BC abandonou as “metas para a inflação” ou de que quem manda na política monetária é a Dilma, eu não acredito.  Se fossem verdadeiras estas hipóteses eu teria que ficar muito pessimista com o futuro econômico de nosso país.    Eu sofro de mau humor, mas sou um eterno otimista!
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Para relaxar lembrei-me de uma piada sobre o episódio de Jesus e a pecadora.
“Naquele dia, em que levaram a Jesus a adúltera, passava por lá um cidadão de origem desconhecia chamado Manuel, que ouvia atentamente a pregação do Mestre.   Perguntaram, então, a Jesus: “O que devemos fazer com esta pecadora?”  E Jesus respondeu: “Quem não tiver errado que atire a primeira pedra!”
Zuuuuuuuummmmmmmmm. Paft !!!!!      Uma pedra atingiu a mulher.
Jesus surpreso perguntou a Manuel: “Manuel, tu nunca erraste”
E Manuel respondeu :“Mestre, desta distância ?  Nunca !!

quinta-feira, 3 de maio de 2012

A Poupança, o Tesouro Direto, CDB's, os Fundos de Investimentos e os Bancos

Em tempos de juros altos, a discussão quase sempre é focada nos spreads ou nos juros dos empréstimos bancários. A discussão dos spreads bancários, calcada no lado do ativo dos bancos, pauta-se numa análise reducionista da atividade bancária moderna. É muito fácil condenar banqueiros que se aproveitam da carência do povo para cobrar juros escorchantes em busca de lucros gigantescos.
 Malditos banqueiros que comem criancinhas e bebem sangue !
Como sempre, fato que tem sido objeto recorrente deste blog, ressalto que condenar os outros é o caminho mais fácil para se esconder a ineficiência do Estado.
Os juros dos empréstimos são altos, sim ! Mas, parte disso, é culpa do próprio estado e suas instituições. Quando um banco faz um empréstimo, sobre o spread incide PIS e Cofins de 4,65%, o tomador do empréstimo ainda paga IOF sobre o valor total que tomou. Ainda na questão tributária, os Bancos pagam uma alíquota de 40% de IR + CSLL sobre seus lucros, enquanto as outras empresas tributadas pelo lucro real pagam 34%.
Finalmente há as questões institucionais e jurídicas: Quanto tempo um banco leva em média para executar uma garantia real ? Quantas vezes um banco nem mesmo consegue executar esta garantia? Enfim, a ineficiência do judiciário também entra na conta da taxa de juros dos empréstimos bancários. Sem me alongar na questão do spread bancário, que será tema de um futuro post, quero apenas registrar que banqueiros e governo tem alguma razão em seus argumentos.
Este longo prólogo serve de gancho para o tema de hoje, que é a consequência da queda de juros para os pequenos aplicadores. Um dos primeiros pontos que acho importantíssimo assinalar é que, atualmente, ao contrário do que aparece no debate, grande parcela dos lucros dos bancos não advém das "taxas de juros abusivas dos empréstimos" mas sim das taxas sobre serviços cobradas de correntistas e aplicadores. Estas receitas, no caso de um dos maiores bancos brasileiros, chegam a quase 30% do resultado da intermediação financeira, isto é, grosso modo, corresponde a 1/3 do receita líquida obtida na aplicação dos recursos do bancos.
Além das taxas explícitas, há ainda uma parte menos visível no resultado dos bancos, que é o lucro obtido através do custo de captação menor que a taxa Selic. Quero pontuar que sou favorável aos bancos terem lucro e que não acho errado qualquer tentativa dos banqueiros de buscarem a maximização dos resultados de suas empresas.
As observações acima são apenas constatações que nos levam aos produtos disponíveis ao pequeno aplicador, pois a medida que a taxa básica de juros cai se torna cada vez mais relevante a discussão da rentabilidade das aplicações populares. Na tabela a seguir, vemos a rentabilidade líquida que um investidor terá em 4 tipos distintos de aplicação, em face de alguns cenários para a taxa Selic e considerando 2 hipóteses para a nova remuneração da poupança.

A primeira coisa que fica evidente é que dificilmente a poupança terá uma remuneração acima de 70% da taxa Selic pois, caso contrário, a poupança inviabilizará as outras aplicações. A segunda observação é que, considerando a inflação ao redor de 5% a.a., quase todas as aplicações terão rendimento real líquido abaixo da inflação.   Aparentemente, temos aí uma das razões pelas quais a "gritaria" contra os banqueiros tenha aumentado: seria uma cortina de fumaça para que o pequeno poupador não perceba que pode ter o seu dinheiro confiscado pelo mais vil dos impostos: a inflação ???
Voltando a questão dos resultados dos bancos, fundos com taxas de administração acima de 1% deixarão de ser competitivos, e as receitas com floating e  parte do resultado construída pela captação abaixo da taxa básica serão diminuídas.
A questão do Tesouro Direto, que surgiu e cumpriu um papel importante na democratização do acesso ao mercado títulos públicos, tem ficado fora do debate. Acima na tabela, considerando apenas a taxa de custódia cobrada pela CBLC vemos que os rendimentos líquidos já se aproximam da "futura poupança" e perderá dos CDB's dos Bancos.  Está mais do que na hora de rever esta taxa de custódia abusiva, cortando-a no mínimo pela metade.
Voltaremos ao assunto do spread bancário e da rentabilidade dos investimentos, nos próximos posts.
obs: os cálculos da rentabilidade líquida consideram o IR para aplicações de até 180 dias (alíquota de 22,50%)


quarta-feira, 2 de maio de 2012

Reservas e Dívida: Alguns Cálculos Improváveis e Questionamentos Inconvenientes

Primeiramente, deixem-me esclarecer porque  “Cálculos Improváveis”.   Dei este título por uma única razão: se por ventura alguém que tenha acesso aos dados oficiais detalhados venha a questionar minhas contas, certamente, encontrará erros e facilmente os questionará, era, então necessário deixar claro que os cálculos são grosseiros.
Vale ao leitor a pergunta: se as contas estão erradas por qual razão deveria eu ler este texto? A razão é simples: embora os cálculos sejam imprecisos, eles fazem sentido porque dão uma dimensão dos custos da dívida externa e interna face ao volume de reservas.   As observações valem por dimensionarem (em ordem de grandeza) o custo financeiro da política de reservas.
Vamos a alguns dados retirados da Nota à Imprensa: Setor Externo divulgada pelo Banco Central  em 24/04/2012:  A dívida externa sobre o Setor público não financeiro em dezembro de 2011 era de US$ 77,3 bilhões.  Sobre a dívida externa do Setor Público não Financeiro foram pagos US$ 4,2 bilhões de juros, o que dá uma taxa aproximada de 5,4% a.a. .  Antes da crítica, vai o alerta: esta taxa foi obtida pela simples divisão do total de juros pagos em 2011 sobre o saldo em final do período, o cálculo correto deveria levar em consideração os saldos e juros pagos mês a mês. 
Vamos arredondar a conta e dizermos que o Setor Público paga ao redor de 5% de juros sobre sua dívida.
A taxa média das remunerações das reservas  foram ao redor de 1,94% em 2011.  Vamos arredondar, agora para cima, e dizermos que foi 2%.   Temos que, a diferença entre taxa de remuneração e custo é de aproximadamente 3% a.a., assim, 3% x a US$ 77 bi = US$ 2,3 bilhões.
Questionamento Inconveniente: Por que cargas d’água o Tesouro emitiu mais dívida externa tendo o Brasil o volume atual de reservas ?
Vale dizer que nas contas de juros, não somam-se os custos de emissão de dívida, entre os quais comissões e custos de Road-show (incluindo viagens ao exterior, etc..).
Por outro lado, podemos supor que o resto das reservas, compradas no mercado, são esterelizadas.  Isto é, para cada dólar que o BC compra, o tesouro emite o equivalente em dívida. Logo,  temos que o equivalente a  US$ 274 bi ou atualmente mais ou menos R$ 500 bi (com dólar a 1,82) custa a taxa média da dívida pública mobiliária federal, que para facilitar, vamos equipará-lo a Selic de 9%.  Então, o custo de 9% menos 2% (taxa de remuneração das reservas) = 7% x  R$ 500 bi = R$ 35 bi, dividindo por R$ 1,90 e somando o “prejuízo” das reservas obtidas através da dívida externa pública temos que o custo para o setor público das reservas é de aproximadamente  US$ 20 bi, ou mais ou menos 1/3 do déficit em transações correntes do país.
Estas contas um pouco esdrúxulas tem o intuito de levantar duas questões:
1ª) Até que ponto faz sentido acumular reservas ?
2ª) Faz algum sentido dados o volume atual de reservas, o diferencial de juros interno e externos, o prêmio de risco do Brasil o Tesouro fazer novas emissões ?
Quanto a segunda questão confesso que fico ainda mais confuso, já que algumas semanas antes da última emissão externa em R$ foram dadas declarações de que o governo pretendia recomprar parte da dívida.
Quem tiver respostas que me ajude a entender!!