Apenas poucas
coisas são consensos absolutos entre economistas, que em geral adoram o
debate. Uma destas coisas é que os
recursos são escassos e as necessidades infinitas. Em outras palavras, o cobertor é curto. Não dá para cobrir o corpo inteiro. Se cobrir os pés, as costas ficam descobertas
e vice-versa...
Dada a
escassez de recursos e os desejos infindáveis todos nós somos forçados a fazer
escolhas, assim como o governo. Escolher um objetivo
sempre significará sacrificar outros.
Não dá para desvalorizar o câmbio, baixar os juros e gastar mais
simultaneamente sem que a inflação aumente.
Não bastasse o
cobertor curto a adoção de medidas gera consequências. O que me faz lembrar
outro consenso entre os economistas: “There is no free lunch!” Normalmente as consequências da política
econômica são percebidas nos preços, no consumo e no investimento.
Quando alguém
do tesouro nacional diz que haverá em 2013, R$ 85 bilhões em desonerações,
pensando na ideia de cobertor curto, isto implica que alguns estão sendo beneficiados
as custas de outros. Então, de certa
forma, é como dizer que comer carne é melhor do que ter uma mecânica, ou que
produzir IPADS é melhor que aumentar o número de vagas em faculdades... É
apenas uma questão de escolha.
O problema é
que ao fazer escolhas há consequências ou trade-offs. Poderia voltar ao exaustivo caso dos preços
de energia elétrica. Quando se decide baixar estes preços, a consequência
imediata é um aumento no consumo e uma redução dos incentivos para se investir
no setor. Poderia citar o caso do preço
da gasolina. Quando se decide mantê-lo
baixo, também se incentiva um maior consumo, que provoca mais importação e que
diminui o resultado das empresas produtoras.
Quando se
decide desonerar a folha de pagamentos de um setor ao invés de outro, você
sinaliza preferência.
Há um
trade-off implícito da intervenção que é a conturbação do sistema alocativo.
Além das
discussões apaixonada entre capitalistas
e socialistas, parece claro que a falência do segundo se deu pela dificuldade
crescente do planejamento econômico e pela ausência do mecanismo de mercado na
alocação dos recursos. A vantagem do
livre mercado é permissão das pessoas escolherem o que querem consumir ou
produzir, e o resultado destas escolhas é visto nos preços das mercadorias
determinados pela oferta e demanda.
Vale um
pequeno aposto, com o objetivo de manifestar que não sou um “capitalista
ferrenho”, citando 2 livros interessantes novamente: Salvando o Capitalismo dos
Capitalistas e A Sociedade Afluente. Que são dois livros que abordam de maneira
inteligente os defeitos do capitalismo e merecem ser lidos.
Os preços, no
livre mercado, sinalizam as vontades dos consumidores vis-a-vis os recursos
escassos. Um exemplo de produtos
substitutos pode ser bem ilustrativo do funcionamento dos mecanismos de
preços.
Eu, por exemplo, gosto mais de
manteiga do que de margarina. Mesmo
assim, quando vou ao mercado vejo o preço dos dois produtos. Se a manteiga
custar R$ 3,00 e a margarina R$ 2,50, eu compro a manteiga que eu prefiro.
Contudo, se por alguma razão o preço da manteiga subir para R$ 5 e o da
margarina ficar estável, eu vou comprar margarina. Quando faço isso, reduzo a demanda de
manteiga, diminuindo a pressão sobre o preço. Por outro lado, o eventual
aumento na lucratividade do produtor da manteiga, atrairá novos investidores
que vão ofertar mais produtos. Então é
provável que em algum momento futuro, o preço da manteiga, dada a ação de
produtores e consumidores volte a cair um pouco. Enfim, produtores e consumidores vão provocar
um ajuste natural no mercado, que resultará em novas quantidades e preços negociados
no mercado de manteiga e da margarina, que possivelmente, também terá um
pequeno aumento em seus preços.
Agora,
imaginem que, por alguma razão, algum ache que a R$ 5 a manteiga é muito cara e
por esta razão decidem dar um subsídio aos 2 maiores produtores de manteiga,
para que ela continue sendo vendida a R$ 3.
Neste caso, eu continuaria comprando manteiga, e, portanto, não haveria
um ajuste na demanda. Por outro lado,
outros investidores que não receberam o mesmo benefício, não vão produzir mais
manteiga... Além disso, o produtor de
margarina, que poderia ser beneficiado pelo aumento da demanda em seu produto
deixou de sê-lo. A consequência é que a
quantidade consumida de manteiga e margarina será diferente nesta
situação. O engraçado desta situação é
que os trade-offs ou consequências não são claramente percebidos pelos
consumidores, já que eles não sabem como seria o mercado sem intervenção. A
sensação do consumidor é que ele foi beneficiado, pois é assim que ele se
sente.
Entretanto, um
trade-off claro desta política é uma redução nos investimentos, não um
aumento. Assim, haverão no futuro menos
empregos e menor crescimento. Posto
assim, talvez fique mais fácil de entender o que tem acontecido no PIB brasileiro.
No caso
Brasileiro dá-se para tomar a liberdade de adjetivar as intervenções como
excessivas, comparando o total de desonerações previstas face ao superávit
nominal deste ano: é quase o mesmo valor! Há uma outra consequência nisto, fatal para
os investidores, que é a perda de referências, o que, no mínimo, dificulta o
planejamento.
O conselho que
eu venderia (afinal não existe nada de graça) é que ao invés de se fazer
desonerações pontuais o governo podia iniciar um processo de desarme do que
aparentemente fazia parte da herança maldita, que é começar a reduzir o número
de tributos e alíquotas para todos. Por
exemplo, com apenas uma parte dos R$ 85 bi, poder-se-ia extinguir o PIS, beneficiando
a todas empresas. Poderiam ainda reduzir
a alíquota da COFINS. A sinalização
seria a oposta a que está sendo dada agora.
Se é uma meta
do Governo reduzir custo dos empréstimos, por que não zerar a alíquota de IOF
para as empresas?
O simples é
melhor que o complicado !!
Quando se
complica e se administra de forma voluntarista fica fácil entender por que as
coisas não andam. No caso do Brasil é fácil entender o IBOVESPA patinando muito
longe de suas máximas históricas !