quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Alguns Fatos Sobre a Inflação e a Política Econômica



     No Brasil o debate sobre a inflação já foi mais intenso.   Depois do  Plano Real e principalmente após a implantação do Regime de Metas para Inflação parecia que finalmente o monstro estava sendo domado e, por isso, fugiu dos holofotes da mídia econômica.

    Infelizmente, o 2º ano do novo governo vai chegando ao fim e constata-se que inflação parece ter ganho um novo patamar entre 5,5% a.a. e 6%.  A média da inflação destes dois anos, medida pelo IPCA, ficará perto de 6%.  Isso é ruim?

    O objetivo deste post é trazer, no dia da divulgação do novo Relatório de Inflação pelo Banco Central (este texto foi escrito antes de eu ler o relatório – são 7:15hs da manhã), uma luz na discussão sobre o tema.
Embora economistas divirjam na forma e intensidade como os fatores afetam a inflação, algumas relações são indiscutíveis:

            a)      A inflação depende do Hiato do Produto e da velocidade de crescimento da economia;
            b)      A inflação, salários e taxa de desemprego estão interligados;
            c)       A taxa de câmbio e atividade externa afetam a inflação;
            d)      A inflação depende das expectativas dos agentes econômicos;
            e)      O nível de indexação afeta a inflação;
            f)       A taxa de inflação tem uma relação inversa com as taxas de juros reais;

Quanto ao “Hiato do Produto” a discussão é complexa. Primeiro a questão de como calcular o tal hiato, que, grosso modo, é o quanto o produto efetivo está distante, acima ou abaixo, do produto potencial. 

Para ficar mais claro, vamos lançar mão de um exemplo simples (ainda que com algumas falhas de rigor teórico).  Imaginemos que na economia há só uma fábrica e que durante o horário normal de funcionamento ela consegue produzir 10 unidades. Estas 10 unidades são o produto potencial, isto é, o quanto em situação normal a economia consegue produzir.  Se supusermos que  em determinado momento a demanda é de apenas 8 unidades (logo a fábrica produzirá só 8 unidades = produto efetivo) é fácil imaginar que pode haver uma queda nos preços, já que a fábrica gostaria de vender 10 unidades.  Por outro lado, se imaginarmos que a demanda seja de 11 unidades, a fábrica precisará pagar horas extras, para produzir acima da sua capacidade normal, logo haverá uma tendência de aumento de preços. 

O problema é determinar qual é o verdadeiro produto potencial de uma economia (serão 10, 12 ou 9 unidades?).  Para isso, economistas usam métodos matemáticos (econométricos) para tentar determiná-lo, e óbvio, que estes métodos estão sujeitos a grandes erros. Mas, no caso Brasileiro, que é o que importa, aparentemente o produto efetivo está abaixo do seu potencial e, portanto, a inflação deveria cair...

Apesar de alguns indicadores – marcadamente a produção industrial – levarem a crer que o produto está abaixo do seu potencial o que pesa mais é a segunda relação: inflação, salários e desemprego.   Economistas intelectualizados, neste momento trariam a baila a curva de Phillips, Lei de Okun, NAIRU e de novo, um monte de cálculos econométricos.  Nós não precisamos complicar.  É fácil imaginar que quando o desemprego está baixo, os sindicatos conseguem negociar aumentos maiores de salários.  Também é claro que, quando há falta de mão de obra os salários sobem.   Salários são parte fundamental dos custos das empresas e, portanto, dos preços.  No caso atual do Brasil é claro que a situação é essa, o que pode ser visto no crescimento da massa salarial real.

Enfim, apesar da produção industrial abaixo das expectativas, há pressões sobre os preços advindos de gargalos no mercado de trabalho.  Voltando ao exemplo de nossa economia de uma fábrica só, é como se a fábrica fosse capaz de produzir 10 unidades, mas só houvesse mão de obra para produzir 7.         Inflação 1 X 0!

A relação taxa de câmbio e inflação tem uma linha direta em uma economia aberta (apenas para deixar claro a economia brasileira não é muito aberta) através dos preços dos bens tradeables (comercializáveis).  Os bens tradeables são aqueles que podem facilmente ser importados ou exportados e seus preços são fixados pelo mercado global.  Então, se o dólar sobe, já que o preço do trigo é fixado internacionalmente em dólares, o preço do trigo no mercado interno sobe. O mesmo acontece com o açúcar, a soja, o milho, o arroz, o feijão, etc... Outro canal de contágio é o de insumos. Por exemplo, grande parte dos componentes dos automóveis produzidos no Brasil são importados, portanto, uma alta no dólar aumenta os custos de produção, pressionando igualmente os preços.    Como contraponto à taxa de câmbio, a influência externa também se dá pelo nível de atividade da economia mundial.  Se a economia mundial está mais aquecida há uma tendência de alta nos preços, principalmente das commodities, que se refletem no mercado interno.  Em situações normais, no Brasil que é um grande produtor de commodities, a taxa de câmbio age  no sentido inverso, assim, quando os preços de commodites sobem, normalmente a taxa de câmbio cairia.  Por escolha de política econômica, isto não acontece mais.   Inflação 2 X 0!

As expectativas também afetam a inflação. Se todo mundo acredita que a inflação ficará ao redor de 4,5% há uma tendência de nas negociações, orçamentos, etc... dos agentes se balizarem nesta ideia gerando uma convergência para este patamar.  Quando as expectativas dos agentes começa a subir, digamos para 5,5%, o mais provável é que a inflação convirja para este novo patamar.    Inflação 3 x 0!

A indexação de preços também atua no sentido de se criar um patamar para inflação.  Quanto mais indexada for a economia, mais provável será que a inflação do ano seguinte será maior ou igual a do ano interior.  O Brasil ainda tem sua economia com alto nível de indexação, o que torna a inflação mais resiliente, ou difícil de cair.  Então, quando a inflação se acelera por estas bandas é mais difícil ela voltar para seu patamar anterior.  Inflação 4 x 0 !

O papel da política monetária, executada principalmente através da fixação das taxas de juros, é tentar controlar a inflação.  A relação juros e inflação se dá por vários canais.  O mais óbvio – sem recorrer ao excesso de teoria econômica que nos faria dar muitas voltas para chegar a este resultado – é que quanto maiores as taxas de juros, menor a demanda.  Menor demanda = preços mais baixos.    Se as taxas de juros são próximas de zero (e não houver armadilha de liquidez), as pessoas tendem a buscar ativos reais e a consumir mais, pressionando os preços.   Inflação 5 X 0 !

Até agora vimos que a inflação está dando uma goleada na economia.  As perguntas são o que o governo tem feito para segurá-la e por que apesar do patamar mais alto a inflação ainda não saiu de controle?

A inflação ainda não saiu de controle graças a “desgraça” da economia mundial, cujo crescimento em 2013, será novamente pífio, o que segurou os preços de grande parte das commodities.  Ufa!   Inflação 5 x 1 !

A principal ferramenta de controle da inflação utilizada pelo governo tem sido o intervencionismo em suas mais diversas formas.   Congelamento dos preços de combustíveis, afetando o resultado de certas empresas, renegociação de concessões do setor elétrico tentando reduzir os preços da energia na porrada, desonerações setoriais de impostos, etc.  O que de mal tem nisso?  Simples, a longo prazo o crescimento potencial da economia é reduzido, pelos desincentivo aos investimentos (ver meus posts passados) e por reduzir a produtividade da economia.  Enfim, com estas políticas pode-se conter a inflação no curto prazo, mas no longo prazo possivelmente a pressão inflacionária aumentará.

A propósito, as expectativas inflacionária e mesmo a inflação corrente voltaram  a subir. Há uma descrença razoável quanto à queda nos preços da energia ano que vem, fruto dos gargalos e do uso intenso de energia termelétrica.  É possível que a alardeada queda de 20% no preço da energia (na geração hidrelétrica) se reflita numa queda menor de 5% para o consumidor se houver.  Há analistas que creem que não haverá queda nenhuma.  Para piorar, geralmente em anos subsequentes às eleições municipais, geralmente ocorrem aumento nas tarifas de ônibus, que puxarão a taxa de inflação (a prefeitura do Rio já anunciou seu aumento e a assembleia legislativa de SP, por exemplo, já aprovou uma redução no subsídio às tarifas para o orçamento de 2013, o que implica que as tarifas vão subir). 

Embora eu não acredite, há a possibilidade de aumento de gasolina no começo de 2013, também. 

Estas expetativas com a inflação já se refletem na taxa da NTN_B de 2013, que ontem era ofertada com taxa de -0,10% (isso mesmo: MENOS 0,10).  Ou seja, o mercado já trabalha com juros reais – antes do IR – negativos !

É para se preocupar, embora haja quem acredite que a inflação vai convergir de forma não linear para a meta!

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

MEIOS E FINS, EXISTE JUSTIÇA ACIMA DA LEI? Uma Breve Estória sobre a decadência de Saint of Paul Oco



Houve uma era em que Saint of Paul of Paul Oco foi governada por militares, que, na época da guerra polar (onde o polo norte capitalista se opunha ao polo sul comunista), tomaram o poder para livrar o país da corrupção e do risco dos comunistas.

            Estes militares tomaram conta de Saint of Paul Oco e detiveram o poder absoluto por quase duas décadas. Mas, uma oposição combativa sobreviveu apesar da belicosidade dos governos militares.  Esta oposição, que pregava a revolução como única forma de derrubada do poder militar acreditava que, pela liberdade do povo, qualquer coisa podia ser feita.  Roubar cofres, bancos e assassinar eram apenas um sacrifício menor de princípios em prol do bem maior.  Os fins justificam os meios.

            O problema é que o Governo Militar acreditava na mesma coisa, que os fins justificavam os meios.  Quem se fudeu foi o povo, que estava no meio !

            O tempo passou e a democracia voltou à Saint of Paul Oco.  O povo não entendeu direito aquilo, acostumados que estavam de tomar porrada, decidiu eleger um super herói, pescador de lambaris – como eram conhecidos alguns indivíduos que mamavam no setor público – que prometia com uma bala acabar com todos os problemas daquela terra que já submergia na lama...  Acreditaram que ele era o salvador. Mas, não era.   Saint of Paul Oco afundou ainda mais.

            O tempo passou, nada mudou.  Os políticos continuavam a se locupletar do poder em Saint of Paul Oco, alguns com alguma discrição, outros sem nenhuma.  Mas, enfim, parecia que a desarmonia, tão festejada, entre os poderes poderia mudar a estória de Saint of Paul Oco.  E embora, uma parte significativa da população e mesmo a justiça de Saint of Paul Oco ainda deixassem Netuno, o ex-rei com seu tridente de 9 pontas, incólume e gozando de boa reputação, parecia que iria haver punição a toda corrupção.  O povo, ao menos aqueles cansados da impunidade, comemorava e aplaudia seu novo ídolo, o chefe da Corte, sem perceber que Saint of Paul Oco continuava afundando em sua própria lama.

            O que acontecia é que o julgamento, embora com os resultados (FINS) esperados por aqueles que almejavam o fim da impunidade, seguia caminhos tortos (MEIOS) que no futuro iam desafiar a ordem naquelas terras.  E pelos meios confusos, alguns acusados ganhavam o direito de alegar que o julgamento foi político, derrubando a credibilidade da justiça.

            Alguns historiadores acreditam que a constituição de Saint of Paul Oco, conforme manuscritos encontrados no Afundamento Central, próximo ao local onde teria sido a sede do governo Pauloquense, dizia que:
“Art.51 Perderá o mandato o Deputado ou Senador:
6.9 - que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado.
§ 21º - Nos casos do inciso 6.9 a perda do mandato será decidida pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por voto secreto e maioria absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.’
Obs: qualquer semelhança com alguma outra constituição de algum outro país real é mera coincidência.
            Evidentemente que esta prerrogativa constitucional servia como uma blindagem aos não tão nobres parlamentares daquela terra distante e com paradeiro desconhecido. Os estudiosos das lendas de Saint Of Paul Oco acreditavam que tal dispositivo foi criado apenas com a intenção de proteger os políticos de uma possível volta ao poder dos militares. Vai saber...
            Enfim, aparentemente, a Corte de Saint of Paul Oco decidiu cassar o mandato dos supostos corruptos. Mas, o fez afrontando a constituição que devia defender.
            Infelizmente o Folclore de Saint of Paul Oco, nas décadas que precederam o seu desaparecimento, parece estar repleto de estórias de descasos com a Lei. Começando com o próprio desrespeito na confecção da constituição. Um dos documentos encontrados, supostamente escrito por um ex-membro da Corte Pauloquense e ex-membro da constituinte, um certo Lolquim, contava a estória de como um certo artigo da constituição foi incluído ou alterado sem que fosse votado, caracterizando um suposto vício na origem da carta magna, o que talvez fizesse justificar o desprezo que a corte parecia nutrir por ela.
            Dizem ainda, as Lendas de Saint of Paul Oco, que um dos últimos atos da desarmonia dos poderes, em Saint of Paul Oco, pouco tempo antes de seu completo desaparecimento, foi a expedição de um Mandato de Insegurança que determinava em que ordem as leis deveriam ser votadas no congresso de Pauloquense.
            Eu ainda continuo pesquisando mais sobre Saint of Paul Oco e ainda não achei os rumos que aquela lendária terra seguiu antes de seu afundamento total. Mas, tal qual nas novelas do mundo real, parece-me fácil prever os capítulos futuros. Neste caso, contudo, o final não será feliz!
            Os cidadãos de Saint of Paul Oco estavam certos em querer e em comemorar as punições e por isso deixaram de perceber detalhes do julgamento, tais como as poucas citações à jurisprudência, a tentativa de retroatividade de leis, as contas cujas bases mudavam mas os resultados permaneciam, as punições não previstas e a guerra de egos. Supostamente, este descaso com o trato da justiça,  pelos resíduos encontrados por paleontólogos, não melhoram a segurança, nem a vida dos cidadãos que viriam a se afogar no mar de merda.  O novo poder que surgia, continuava dando indulto de natal para milhares de bandidos que matavam cidadãos honestos ainda antes do ano novo, continuava deixando soltos assassinos e bandidos, que continuaram com mais direitos que o cidadão normal.
            Ainda bem que o Brasil não é Saint of Paul Oco!!!!

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Preço da Energia, Competitividade e Investimentos



Hoje, logo cedo, como sempre, abro o jornal. A notícia em destaque é que o setor público vai adotar medidas análogas ao do setor elétrico para reduzir o preço do gás. Fico com vontade de rir.  Penso se estudar economia não imbeciliza.  Digo isso, principalmente por que eu sou economista e estou me sentindo um imbecil.

Certo fez meu irmão, que estudou história, se não a esquecêssemos não cometeríamos tantos e erros e perceberíamos a incongruência em certas políticas e no tratamento as empresas.  Vejamos o caso do setor elétrico, a apenas alguns anos, o governo brasileiro negociou um aumento no preço da energia elétrica de Itaipu, comprada do Paraguai. Esqueceram-se que por muitos anos compramos esta mesma energia, as vezes sem termos uso para ela, por preços acima do justo para remunerar nosso “parceiro”. Mas, isso é história e já nos esquecemos.  Agora, punimos empresas nacionais dizendo que elas já foram suficientemente remuneradas pelos seus investimentos e, portanto, devem cobrar menos pela energia.  Dá para entender?

A questão do gás é similar.  Renegociamos preços com a Bolívia de seu gás, e agora, talvez, venhamos a punir o produtor nacional. Tsc, tsc, tsc...

Infelizmente, eu estudei economia. Então, voltemos aos aspectos meramente econômicos. 

Tem uma Lei de Mercado – inquestionável – que diz que o preço de um produto no mercado em equilíbrio deve ser igual ao custo marginal de se produzir mais uma unidade.  Traduzindo, se para produzir 1 Megawatt a mais custar R$ 200, o preço da energia deve ser de R$ 200.  Por que isso?   Por duas razões.  A primeira, sob a qual se baseia parte das medidas, é que o empresário tenta maximizar seus lucros, então, independentemente do seu custo (que por exemplo pode ser de R$ 100) ele vai vender seu produto a R$ 200, pois sabe que até este preço não haverá aumento da oferta. Porcos Capitalistas!  A segunda razão, a que o governo parece não perceber, é consequência da primeira: se o custo de se produzir mais energia é de 200, e o preço de mercado for de 100, ninguém vai investir para produzir mais, poiscada unidade adicional de energia produzida vai gerar uma perda de 100 !   E, assim, não há investimentos.....

            Então, reduções no preço da energia, que preservem o retorno dos novos investimentos, através da redução de impostos e encargos são benéficos.  Canetadas, não !

            Se pensarmos no petróleo, aquele produto líquido negro que seríamos autossuficientes na produção e que importamos um montão, vemos que a política de preços é prejudicial.   A autossuficiência não foi atingida por várias razões, mas, uma delas é que a queda no retorno da principal empresa reduz o ritmo de investimentos. 

Enfim, a relação preço de energia e investimentos é uma questão de escolha: podemos ter preços baixos e menos investimentos ou preços de mercado e mais investimentos.

Tenho um amigo ecomarxista, ao qual simpaticamente apelidamos de Nikita – mas vale dizer que é um economista de rara inteligência – que, quando discutimos este assunto sempre me lembra de outro aspecto do preço da energia: suas externalidades.  Economistas chamam de externalidade as consequências econômicas indiretas de um ato.  Por exemplo, quando se desmata uma floresta para produzir soja, há consequências, as vezes não óbvias, deste desmatamento, tais como o aquecimento global.   Em síntese, o preço de um produto deve refletir não só as condições econômicas diretas (equilíbrio oferta x demanda) mas também as consequências que o consumo e ou a produção daquele bem pode trazer à sociedade.

Para ficar clara a questão da externalidade, vamos à mais um exemplo: o cigarro.  Suponha que o preço de um maço de cigarro – já embutido o lucro econômico da empresa produtora - seja de R$ 0,50. Ao preço de R$ 0,50 possivelmente mais pessoas fumariam.  Empresas produtoras de cigarro e fumantes estariam felizes.  Entretanto, com mais gente fumando, o número de doentes aumenta, criando a necessidade de mais hospitais e médicos, gerando um custo para a sociedade. Então, neste caso, a intervenção do governo é bem vinda.  O governo cria tributos de tal forma que o número de fumantes se reduza e a receita adicional seja capaz de cobrir seus os gastos com saúde.

De volta à questão energética.  A energia é um bem escasso, cuja produção adicional enseja grandes impactos ambientais.  Então, o raciocínio de Nikita – meu amigo ecomarxista – é que o preço da energia tem de se alto o suficiente para desincentivar o  consumo ineficiente e o desperdício.

Já diria o Bardo, “há mais entre o céu e a terra do que pode sonhar nossa vã filosofia...”. O preço da energia precisa ser suficientemente alto para viabilizar investimentos e reduzir desperdícios e ao mesmo tempo precisa ser suficientemente baixo para não impactar o custo e a competitividade das outras indústrias.   Atingir o ponto ótimo não é fácil.  Fácil é dizer que uma ou uma dúzia de medidas provisórias não resolvem a questão, principalmente se usadas como bandeiras ideológicas ou partidárias.

Para mim, que me julgo um liberal, eu acho que a melhor opção é agir apenas na redução dos custos fiscais da energia e principalmente para energia destinada à indústria, pois, a melhor forma de se atrair e criar investimentos é deixar o mercado se ajustar.



sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

A CORTE DE SAINT OF PAUL OCO



A lendária Saint of Paul Oco teria um regime político inovador, difícil de se descrever. Embora presidencialista, ela era administrada como uma monarquia provincial. Os três poderes viviam harmonicamente em conflito.  Como assim? Os três poderes fingiam se digladiar, para a plebe imaginar que existia fiscalização, enquanto os mesmos se perpetuavam no poder.

O Presidencialismo Monárquico Provincial é uma espécie de “feudalismo colonial”, que em muitos aspectos remetem a idade média.  Lá ainda se discutia a posse de terras entre índios e colonos, se discutia o desmatamento mas não se acabava com o usucapião, que permitia aos “capitães hereditários” se apossarem da terra.  Os conflitos pela terra tinham a participação da igreja (muitas vezes com interesses econômicos), duques e lordes pertencentes a famílias de longa linhagem política, bárbaros e nativos.  A plebe coitada, que vivia sob a lei ficava alijada desta briga, geralmente morando em periferias abandonadas pelo poder público.

A corte de Saint of Paul Oco, segundo documentos achados, cuja veracidade ainda não foi confirmada, em seus últimos tempos era comandada por uma Rainha. Daí  surgem algumas dúvidas sobre a veracidade, pois a descrição da Rainha parece muito com aquela de um conto de Lewis Carrol.  Enfim, a Rainha teria herdado o trono diretamente de Netuno – o DEUS REI desonipresente (afinal ele nunca estava lá e nem sabia de nada).  

O judiciário era comandado pelo chapeleiro maluco que era endeusado pela plebe que acreditava quase cegamente nele. O chapeleiro maluco fazia do judiciário uma extensão do seu humor.  A lei era um detalhe para ser interpretada conforme sua conveniência. Dizia ele que o “sistema judiciário de Saint of Paul Oco não poderia ser “laughable”, mas, parecia não entender que risível era o indulto de natal dado a presos que poderiam piorar ainda mais a violência na principal cidade de Saint of Paul Oco.  Risível é ele definir uma pena não prevista na lei.  Risível é ele criticar um colega por atrasar o julgamento e em seguida suspender a sessão para ir ao velório de um artista da corte. Que risível era o sistema carcerário, onde presos tinha acesso a sistemas de vídeo conferência, televisão, festas, etc...  Risível era a centena de milhares de processos por julgar ...

Por falar em artista, dizem que em Saint of Paul Oco morrera um grande arquiteto, que houvera projetado Oquisília, a capital de Saint of Paul Oco, cujo mapa parecia um submarino, o que servia para lembrar a todos que um dia aquelas terras afundariam na lama, o que de fato, aconteceu.   Mesmo neste aspecto Saint of Paul Oco, lembrava a idade média aqui das terras emersas: quando haviam de fato grandes artistas, que contratados pela realeza e pela elite produziram obras maravilhosas – outras terríveis – que custaram altas somas, enquanto o povo não tinha comida, nem casa para morar.  Óbvio que o artista não tinha culpa por isso, mas era ridículo.  Os sarais de música clássica que deliciavam os nobres serviam para encobrir o som das lamúrias do povo.

Falando do funeral deste artista de Saint of Paul Oco, a Rainha decidiu emprestar o Barco 51 para buscar o corpo que estava longe da capital, para poder vela-lo em sua maior obra. O Barco 51 que custou milhões aos cofres, foi, buscou e depois levou o corpo de volta para a terra onde o nobre artista viveu a maior parte de sua vida.  Quanto aos “camudongos’ como eram conhecidos os milhares (ao redor de 60 mil) trabalhadores que suaram e trabalharam arduamente para construir Oquisília, quando morriam mal tinham direito à uma vala comum e um caixão de  papelão. Afinal, eles serviam apenas para isso, para construir, depois podiam ser esquecidos.

Me faz lembrar uma música clássica da MPB (mas que fique muito claro Saint of Paul Oco não tem nada a ver com o Brasil e em nada se assemelham):

Tá vendo aquele edifício moço?
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição
Eram quatro condução
Duas pra ir, duas pra voltar
Hoje depois dele pronto
Olho pra cima e fico tonto
Mas me chega um cidadão
E me diz desconfiado, tu tá aí admirado
Ou tá querendo roubar?
Meu domingo tá perdido
Vou pra casa entristecido
Dá vontade de beber
E pra aumentar o meu tédio
Eu nem posso olhar pro prédio
Que eu ajudei a fazer
Tá vendo aquele colégio moço?
Eu também trabalhei lá
Lá eu quase me arrebento
Pus a massa fiz cimento
Ajudei a rebocar
Minha filha inocente
Vem pra mim toda contente
Pai vou me matricular
Mas me diz um cidadão
Criança de pé no chão
Aqui não pode estudar
Esta dor doeu mais forte
Por que que eu deixei o norte
Eu me pus a me dizer
Lá a seca castigava mas o pouco que eu plantava
Tinha direito a comer
Tá vendo aquela igreja moço?
Onde o padre diz amém
Pus o sino e o badalo
Enchi minha mão de calo
Lá eu trabalhei também
Lá sim valeu a pena
Tem quermesse, tem novena
E o padre me deixa entrar
Foi lá que cristo me disse
Rapaz deixe de tolice
Não se deixe amedrontar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asas
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asas
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar’
Resta dizer que sonho com a lição que esta fábula mal contada por mim seja aprendida.
Artistas não são melhores, nem piores que o povo, que o mendigo que sem esperança morreu de fome esquecido na esquina.  Podemos admirá-los, odiá-los, tanto faz. Podemos achar a obra deles boa ou ruim, também não importa.  Mas, num mundo de recursos escassos, de pessoas passando fome, de trabalhadores que caminham quilômetros para chegar num emprego mal remunerado, o culto aos mortos é uma ofensa !!

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Crescimento Medíocre: O que os economistas não entenderam


Quando olhamos o PIB por item, vemos que as piores variações são da FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo = Investimentos), Consumo do Governo e serviços.




Vemos que o pior desempenho é o dos Investimentos.  Há duas razões para isso, de um lado o mercado imobiliário, ainda forte, mas que desacelerou.  A outra razão menos evidente é a taxa de câmbio. Neste ponto, muitos se confundem.

Os investimentos no Brasil são fortemente dependentes da importação de bens de capitais, sendo assim, um aumento na taxa de câmbio reduz, a priori, os investimentos.  Além disso, as barreiras – principalmente tarifárias – para a captação externa reduziu importante fonte de financiamento e tendo em vista que o financiamento externo é uma importante fonte de capital, a desvalorização da moeda afeta o custo dos investimentos !

Além da política cambial ter jogado contra, temos a questão das expectativas, que foram impactadas pelos discursos confusos dos policy makers, recheados de  voluntarismo, e de brados contra certos segmentos. É sintomático o caso das concessões no setor de energia, mesmo que comemorado pela FIESP, a forma e a confusão do anúncio pareceu uma agressão às concessionárias.   Certamente, há razão em se rever o modelo e detalhes das concessões, mas, a postura precisa ser construtiva e não combativa, sob pena de se afugentar investidores.   As medidas antes de serem implementadas precisam ser debatidas e extensivamente estudadas, até para que, não seja necessário revê-las, como está sendo o caso agora.

Discursos agressivos e voluntaristas afugentam o investimento.

O segundo grupo com pior desempenho foi o de serviços. “O setor de serviços cresceu 1,4% na comparação com o mesmo período do ano anterior. Influenciada pela redução do spread bancário e da taxa de juros Selic, bem como o aumento da inadimplência, a intermediação financeira e seguros recuou 1,0%, seguida pelo transporte, armazenagem e correio (-0,7%). As demais atividades registraram crescimento: Administração, saúde e educação pública (2,7%), serviços de informação (2,3%), outros serviços (1,7%), serviços imobiliários e aluguel (1,5%) e comércio (1,2%).”  (fonte IBGE)

Vemos no texto do IBGE que a “intermediação financeira” puxou o desempenho do grupo para baixo.  Interessante é observar que este segmento foi um dos que mais sofreu com “intervenções” da política econômica ativista.  Não podemos, entretanto, deixar de observar que parte deste desempenho negativo provém de certos bancos que sofreram intervenções ou que estavam/estão apresentando resultados negativos.

Como tem virado praxe, seguindo o conselho de um amigo, não vou alongar mais o texto.    A mensagem que eu quero passar é que o PIB cresceu pouco por uma simples razão: excesso de voluntarismo governamental!




sexta-feira, 23 de novembro de 2012

É A MICROECONOMIA, ESTÚPIDO !!



Em “As Bases da Política Econômica” afirmei que, embora ameaçados, os pilares da política macroeconômica ainda sobreviviam.  Ouvi algumas críticas, bem vindas, por isso.

De fato, o câmbio já não é mais “tão flutuante” e também o centro da meta de inflação não é mais perseguido.  E, principalmente, a austeridade fiscal está ameaçada.  Apesar disto tudo eu argumentei que não há evidências de que a taxa de juros no Brasil está fora de seus fundamentos e que a relação DIV/PIB está em patamar confortável e com tendência de estabilização ou queda.  

Meu texto parecia uma defesa da atual política econômica. Mas, infelizmente, não fui capaz de ressaltar os riscos e os aspectos da política econômica que põem em xeque a capacidade de crescimento econômico brasileiro.  Este post é um mea culpa! Ao focar o texto anterior no “macroeconômico” deixei de  me aprofundar nas questões microeconômicas, que é, na minha opinião, onde parecem residirem os  “pecados” da atual gestão.

            Normalmente associa-se a política fiscal tão somente à macroeconomia. Esta é apenas a face mais conhecida e cujos resultados se fazem sentir mais rapidamente na atividade econômica.  Uma política fiscal contracionista resulta em menos crescimento e, uma política fiscal expansionista, no curto prazo, resulta em mais crescimento econômico.  Fácil assim!

            O lado microeconômico dos ajustes fiscais (contracionista ou expansionista) é muitas vezes ignorado no debate já que suas consequências não são tão percepitíveis.  Em termos microeconômicos se analisa não o resultado fiscal, mas sim como se chega a ele.  O que importa é como os recursos são gastos ou arrecadados e o ambiente institucional que garante o resultado.   Assim, por exemplo, a Lei da Responsabilidade Fiscal é um “aspecto microeconômico” do ajuste que se implementou nas contas públicas.

            Ao garantir que estados e municípios deveriam ter “responsabilidade fiscal” e ao limitar  a capacidade de endividamento deles, se sinalizou a “perpetuação” da austeridade fiscal.  Esta garantia contrabalançou o aspecto do  ajuste contracionista no curto prazo ao dar previsibilidade aos agentes, que viram o risco do “estado” diminuído, tornando o ambiente mais propício ao investimento.

            O que vemos atualmente é a destruição pari passu desta Lei, à medida que demandas para maior endividamento de estados e municípios tem sido parcialmente atendidas. 

             A concessão de subsídios, ainda que contrabalançada por aumento de arrecadação ou redução de gastos, gera distorções alocativas na economia, tornando-a menos eficiente e mais incerta.  Hoje parece melhor investir em “montadoras de automóveis” do que em empresas de refrigerantes, pois as primeiras recebem subsídios as segundas tiveram ou terão impostos aumentados.  Amanhã, quem sabe?  Este tipo de incerteza gera desconfiança no empreendedor que prefere adiar investimentos.

            Falando em “concessões”, temos o caso recente do setor elétrico. Independentemente das razões, de concordar ou não com as medidas, o fato é que a medida – microeconômica – gerou incerteza que pode vir a afastar empreendedores do setor de geração de energia.

            Ainda do lado fiscal, temos os bancos públicos que tem recebido aportes para serem capazes de exercerem o papel desejado pelas autoridades. Sem entrar no mérito da questão, o problema é que a atuação dos bancos públicos que tem aumentado significativamente à concessão de crédito gera um risco substancial à longo prazo para a sustentabilidade fiscal. 

            As políticas governamentais no âmbito microeconômico estão intimamente ligadas com o efeito da “sinalização”.  Em mais de uma oportunidade defendi que uma das condições necessárias para o crescimento econômico são as expectativas que, em grande parte, são criadas a partir de aspectos microeconômicos.  A adição de incertezas reduz o crescimento econômico.

            Para mim, a discussão em torno do superávit primário, se ele é 1% do PIB maior ou menor, é de pouco relevância a medida que a relação DIV/PIB tem comportamento benigno e que, no contexto global, o Brasil apresenta um resultado fiscal invejável.  O problema reside nos riscos que estão sendo criados para o futuro.  Na minha opinião, estamos voltando à década 80, após o milagre econômico.  A situação atual me faz lembrar de um gráfico em que o Golbery, no livro Geopolítica do Brasil, colocava a esquerda muito próxima da direita.   Os mais velhinhos, como eu, hão de se lembrar para onde o “ativismo estatal” levou nossa economia!

COTAS, ENEM, DESIGUALDADES E O ESTADO AUSENTE



            Todos que leem meu blog – embora sejam poucos – sabem que sou completamente contra cotas.  A razão de minha oposição é simples: as cotas não solucionam – e até pelo contrário – o problema da desigualdade de oportunidades. 

            Têm sido uma rotina, políticos promoverem leis ilógicas tendo com o único objetivo de mascarar o fato inequívoco do mau uso do dinheiro público.  Mau uso que pode ser percebido na qualidade dos serviços públicos oferecidos. Não é preciso ir além das primeiras páginas dos jornais para se constatar que não há segurança, dos descasos com a saúde pública e de inúmeros casos de corrupção.  Enfim, o setor público rotineiramente falta com seus deveres e, para compensar, cria leis – entre elas as de cotas – que apenas servem para manter os políticos em seus cargos e conter uma revolta ainda maior da população.

            Quanto ao ensino público as cotas servem como um contrapeso à sua péssima qualidade. Já que o Estado proporciona uma educação de M...., ele garante cotas nas faculdades para os "desfavorecidos" (?).  Hoje, com base em dados do ENEM de 2011, vou mostrar que nem este objetivo é atingido.  Vamos ver que mais injustiças são cometidas sob a bandeira da “inclusão social”!

            Vamos às estatísticas.

11)      Comparação de Médias por Rede

REDE
Média de MEDIA_GERAL
Estadual
477,3899755
Federal
567,6136327
Municipal
504,2650358
Privada
560,5856312
Total geral
519,0841394
Primeiro dado interessante que vemos é que a média das notas do ENEM das escolas federais foi acima da média das privadas.   Ora, o aluno das escolas federais também tem direito às cotas.  Quem vocês acham que vai conseguir vaga na faculdade: o aluno da escola municipal ou o da federal?

22)      Escolas Públicas com Média Acima das Privadas

221 escolas públicas, com 25812 estudantes que fizeram a prova do ENEM, tiveram média superior às escolas privadas.  Estes 25812 estudantes correspondem a 4,63% do total.  A maioria destas escolas são ETEC´s, que em geral têm vestibulinhos para entrar.

Quantas delas ficam, por exemplo, no interior do Nordeste?  Nenhuma.

De novo: quem vocês acham que vai conseguir vaga na faculdade, o pobre do interior ou uma minoria que teve acesso às ETECs?

33)      Escolas Privadas com Média Abaixo do ENEM


856 escolas privadas, com 23227 estudantes que fizeram a prova do ENEM, tiveram média inferior à média geral . 

Não é difícil de perceber que parte delas ficam nas periferias das cidades.



       Estes poucos dados mostram a criação de “uma nova elite” de beneficiados. Já que os 25 mil estudantes em escolas federais e ETECs poderiam em tese tomar todas as vagas reservadas para os cotistas provenientes de escolas públicas !   Enquanto isso, pais zelosos que, na falta de alternativa (seja pela inexistência da oferta de vagas, seja por falta de segurança), com muito custo matricularam seus filhos em escolas privadas da periferia, às vezes abrindo mão de sua própria qualidade de vida,  pois sonharam em proporcionar aos seus filhos um futuro melhor, os veem alijados da possibilidade de entrar numa faculdade pública !!!


ISTO É JUSTO ????????????

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

As Bases da Política Econômica



Na Teoria Econômica o debate sobre quais as melhores políticas no curto prazo são intensos.   No curto prazo, o debate com aperfeiçoamentos técnicos, remonta a primeira metade do século passado onde Keynesianos e Clássicos se digladiavam sobre a efetividade das políticas fiscais e monetárias. 

Aqui no Brasil, tal debate, tornou-se conhecido como a briga entre “desenvolvimentistas” x “monetaristas”.  

No debate econômico há espaço para nomes mais pomposos como neoclássicos ou neokeynesianos, mas, enfim, o embate é sempre o mesmo: qual a taxa de juros e o déficit público ideal?  Uns defendem mais juros e menos déficit, outros mais juros e menos déficit, outros menos juros e mais déficit de acordo com suas crenças e suas matizes políticas.  Cada qual tem seus argumentos e a discussão, por não se tratar de ciência exata é quase como tentar convencer Palmeirenses e Corinthianos que o Santos FC é o melhor time do mundo.  Impossível, né?

Tal discussão se esvai em grande parte no “longo prazo”.  Há um consenso que o crescimento econômico no longo prazo depende das Instituições, do avanço da produtividade e da estabilidade econômica.

As Instituições dizem respeito ao arcabouço legal e político do país.  Leis claras, estáveis e uma justiça ágil melhoram o ambiente de negócios ao dar segurança aos empreendedores.    O empreendedor ao investir num negócio quer ter certeza de que não será surpreendido por mudanças de regra no meio do jogo. Ele precisa de leis que protejam seu negócio de concorrência desleal, roubo de patentes, etc...   O investidor requer também segurança política, isto é, seu negócio não pode ser significativamente afetado por todo e qualquer mudança no poder.    Além disso, quanto menos dificuldades e burocracia houver mais propício será o ambiente para o investimento.

O avanço da produtividade depende de tecnologia e infraestrutura.  Melhores meios de escoar a produção melhoram a rentabilidade do negócio e atraem mais investidores.  Melhor nível técnico e melhor a qualidade de ensino, mais produtivo será o trabalhador.  Um mercado de capitais eficiente também amplia o acesso dos empreendedores ao capital que lhes permite investir em máquinas e novas tecnologias que aumentam sua produtividade e o retorno sobre o investimento.  

A estabilidade econômica de longo prazo completa o tripé.  Inflação sob controle é essencial para a capacidade de se planejar o futuro.  Mas, a estabilidade econômica também depende da “Consistência Fiscal de Longo Prazo”.  Quem em sã consciência investe em um país fadado a quebrar?    Neste ponto, encontramos, em parte, o motivo do debate econômico em torno das políticas no curto prazo: até que ponto aumentar os gastos públicos é benéfico para o crescimento?

Sabemos que, e neste aspecto não há dúvidas, que um aumento no gasto público aumenta a demanda, e portanto o PIB do país, desde que este aumento não coloque em dúvida a sustentabilidade fiscal de longo prazo.  É mais ou menos como a decisão de comprar uma casa financiada: é uma boa ideia se você tiver renda suficiente para arcar com as prestações e uma péssima ideia se você souber que em algum momento no futuro você ficará incapaz de pagar o financiamento.   Para um país a situação é semelhante, exceto pelo fato que países em geral tem o poder de emitir moeda para pagar suas dívidas.

Dado este extenso preâmbulo, vamos às bases da política econômica no Brasil.  Não nos enganemos: parte da bonança que vivemos hoje começou a ser construída no Governo Collor, que colocou na agenda as Reformas Fiscal e Patrimonial do Estado e a abertura econômica.  FHC continuou deixando alguns legados, entre eles, a independência de fato do Banco Central (que na minha opinião é melhor do que garantida por lei), a Lei de Responsabilidade Fiscal (que disciplinou os gastos de estados e municípios), o câmbio flutuante e o princípio de ajuste fiscal (no 2º mandato). 

Menos percebido durante o governo FHC foi o fim de um monte de subsídios setoriais que existiam, ajustando questões alocativas. Também foi responsável, ainda que de maneira criticável, por um importante ajuste no sistema financeiro nacional, praticamente acabando com bancos estatais deficitários e instituições financeiras insolventes.

Lula, ao assumir, deu continuidade, preservando a independência do BC, o câmbio flutuante e intensificou o ajuste fiscal.  Com o ministério da Fazenda sob o comando de Palocci também se começou uma agenda de reformas microeconômicas importantes tais como a “alienação fiduciária”, o “patrimônio líquido de afetação”, etc.  Lula teve ainda a esperteza de investir nos programas sociais que também ajudaram a modificar a cara do país.

Sucesso absoluto, o Brasil se tornou um dos queridinhos do Mundo. Os BRICs saíram das páginas de um antigo relatório da Goldman Sachs para as manchetes econômicas de um novo mundo.

Linda história.  O futuro chegou ao Brasil!   Será?

Recentemente, vemos o debate sobre os fundamentos de política econômica de volta às manchetes dos jornais.   Será que a estabilidade monetária e fiscal estão em risco?   Será que as instituições estão abaladas?

Comecemos pela questão monetária:  a estabilidade monetária está em risco?

Talvez.   Vejamos por quê. 

De um lado, a favor dos juros baixos temos a “paridade coberta das taxas de juros”, que, grosso modo, estabelece que a taxa de juros real do país deve ser igual a taxa real de juros externa (geralmente a americana) mais o prêmio de risco.  Neste caso teríamos que i = i*+CDS, sendo i* a taxa real de juros americanas, que é dada por 0,25 – 2 = -1,75 ( i*= taxa de juros nominal-inflação). Logo, i = -1,75+1,15=-0,6.  Considerando que a inflação esperada no Brasil é ao redor de 5,5%, teríamos que os juros nominais no Brasil poderiam ser ao redor de 4,9%....  Há quem faça esta conta de outra maneira, simplesmente somando aos juros externos a inflação local e o prêmio de risco, neste caso: 0,25+5,5+1,15= 6,90%. 

A ideia que permeia estas contas é que, já que o prêmio de risco embute – com perdão ao tautologismo – compensação para os riscos do país. Se os juros forem mais altos haverá incentivo para a entrada de “especuladores estrangeiros” que se aproveitarão dos diferenciais de juros e vice-versa, se os juros praticados forem menores, até mesmo os brasileiros prefeririam aplicar seu dinheiro no exterior, provocando grandes saídas de recursos.  No primeiro caso a moeda brasileira se valorizaria e no segundo se desvalorizaria.

Em síntese: pode-se dizer que a taxa de juros local está alinhada com os fundamentos globais.

Por outro lado, temos o problema da inflação.  No Brasil adota-se o regime de Metas para Inflação, cuja meta é de 4,50% com tolerância de 2% para cima ou para baixo.  Isto é, se a inflação no ano ficar entre 2,5% e 6,5% considera-se que o Banco Central obteve sucesso.  Considerando a inflação esperada para este ano e o próximo ao redor de 5,5%, o Banco Central está sendo bem sucedido.

Se o Banco Central está sendo bem sucedido e as taxas de juros estão em equilíbrio com os fundamentos externos, qual a razão de tantas críticas?

O problema, na minha opinião, está na forma e na comunicação.  Para analistas distantes e ou xiitas a aparência é que há certa leniência da parte do BC. Para os xiitas o BC deveria perseguir a todo custo o centro da meta. Para os mais distantes a comunicação faz parecer que a autoridade monetária está pautando suas decisões em apostas quanto ao futuro da atividade global, ignorando os gargalos locais para expansão da oferta.  Soma-se a isto o fim do “câmbio flutuante” e se chega à um monte de dúvidas.  Para muitos o fato que a inflação convergirá de maneira “não linear” para o centro da meta, soa como um dia a inflação voltará para o centro, enquanto isso ela vai ficar oscilando para cima e pra baixo perto do teto...E, eu, num to nem aí!

Enfim, a comunicação parece estar ruim, já que gera dúvidas.   Mas, devemos, a bem da verdade, não levar as críticas muito a sério, afinal muitos dos críticos defendem o seu próprio “peixe” já que alguns deles viviam de “floating” ou da renda elevada propiciada pelo CDI.   A mamata acabou !

Quanto as questões institucionais, as recentes medidas adotadas para as concessões do setor de energia e a prática pela Petrobrás de preços inferiores ao ideal geram incertezas negativas para o investidor.  Além disso, a agenda microeconômica parece abandonada...

E quanto a “consistência fiscal de longo prazo”?  Quando olhamos as tabelas do “Monitor Fiscal do FMI” ou outras divulgadas na imprensa, vemos que o Brasil está com melhores fundamentos fiscais que a maioria dos países, ao apresentar um déficit nominal bastante baixo e ter uma relação dívida líquida/PIB ao redor de 35%.  Na atualidade, esta é uma situação invejável!   Entretanto a crítica surge quando se olha os “números por dentro”, e os riscos que estão sendo moldados para o futuro, a medida que grande parte da política econômica é canalizada via setor financeiro público e quando olhamos aos gastos correntes ainda crescentes. 

O ponto é: o Brasil estará ótimo enquanto o ciclo for positivo, mas, se por alguma razão o crescimento econômico no Brasil ficar negativo há um potencial de deterioração rápida das contas públicas, pelo crescimento na inadimplência na carteira de crédito dos bancos públicos, pela queda da arrecadação que não poderá ser acompanhada na mesma velocidade por reduções nos gastos e pela possível elevação nos custos de financiamento da máquina pública.

Nos jornais está a discussão sobre a redução dos juros da dívida refinanciada de estados e municípios.  Ainda que tal discussão seja razoável, o fato é: tal renegociação aumentará o poder de gasto de estados e municípios que passarão a contribuir menos para as metas fiscais.   Estados e municípios também voltaram a se endividar de maneira silenciosa através da venda /  securitização de recebíveis e de direitos.

Posto a extensão do texto, vou concluí-lo abruptamente.  Até agora não há nada estruturalmente errado com a política econômica brasileira, de fato, os pilares ainda estão de pé.  Mas, a confiança neles já está abalada pelos sinais difusos passados pelos formadores de política.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

SHOW DA DEMOCRACIA ???


Todas as eleições vemos analistas políticos de diversas matizes comemorando o show da democracia e a demonstração de cidadania dos brasileiros. Vemos também o TSE comemorar o sucesso das eleições. Isso é real?

Primeiro dado óbvio: 27% dos eleitores do país ou não compareceram ou votaram em branco ou nulo. Se considerarmos a população total, veremos que menos de 55% da população votou. Isso significa que qualquer candidato que tenha tido menos do que 90% dos votos válidos não contou com a aprovação da maioria da população. SHOW DE CIDADANIA!!!

Outra falha em nosso processo “democrático” é a obrigatoriedade do voto. Pode uma “eleição democrática” ter voto obrigatório? É uma inconsistência lógica! Mas, não é a única.

Nossas “eleições democráticas” também contam com trabalho escravo. Neste sentido, talvez a inspiração advenha da Grécia Antiga, berço da democracia, onde a escravidão era coisa natural. Eu, por exemplo, trabalhei nas eleições, mesmo tendo declarado explicitamente que não queria.

Para trabalhar nas eleições, você ganha R$ 22,00, para que você possa almoçar. É uma paga aparentemente “justa”, né? Considerando que você não tem sua condução paga (custo de no mínimo R$6) e que você trabalha das 7:00 até as 17:30 horas, com direito a uma hora de almoço. Isto significa que, um mesário recebe menos que um salário mínimo, além de ter seu domingo perdido...

Há alguma diversão em trabalhar nas eleições. Afinal, já que você está lá, não adianta ficar emburrado, é preciso tentar se divertir. Sem me perder em devaneios sobre diversos tipos e comentários que desfilam durante o dia, vale ressaltar o tom geral, ao menos na minha seção, de desilusão. Muitas pessoas não sabiam em quem votar, e perguntavam nossa opinião... Outras não sabiam o número dos candidatos... No corredor ouvimos um indivíduo declarar que ainda não tinha feito sua opção entre a M... e a B... (preencha os pontinhos com sinônimos de fezes).

Enfim, mesmo entre os votos válidos, uma parte razoável foi voto de repúdio (ao adversário) ou foi uma escolha sem convicção, talvez um voto no menos ruim... Houveram com certeza votos sem nenhum objetivo, votou-se neste ou naquele simplesmente por que havia de se votar em alguém.

Piores são os votos convictos, baseados na falta de informação, já que – pelo menos eu não vi – nenhuma rede de TV fez um dossiê imparcial e profundo dos candidatos. Os debates não passam de jograis, onde um pergunta o que quer e o outro responde o que quer, com tempos cronometrados... Saudades dos debates antigos...

Quanto à propaganda se criou a ideia que campanha boa é aquela que não agride, apresentando apenas propostas que nunca serão cumpridas, ou apenas óbvia. Afinal, todo candidato vai melhorar a saúde, a educação, a moradia, o transporte, etc... O passado e as alianças são detalhes que não mereciam ser tocados. Eu, toda vez que via na TV alguém falando que esperava um debate limpo,  me enchia de convicção que assistir ao debate seria perda de tempo. Na minha opinião, o embate deveria ser procurado e não evitado, pois assim, ficariam aparentes a índole e a história de cada um.

Mas, para encerrar, vamos aos custos da eleição. Ou ao que chamo da democracia construída com meu bolso.

  • Fundo Partidário em 2011: R$ 265 milhões. Esta verba é repassada aos partidos políticos não para campanhas, mas como “ajuda de custa” às maquinas partidárias. Se considerarmos que há eleições a cada 2 anos, isto implica, que o governo repassa ao redor de R$ 530 milhões para os partidos por eleição. Quantas vagas adicionais poderiam ser oferecidas em universidades federais com este dinheiro ? Pergunta idiota. Deixa o dinheiro com os partidos, e vamos dar cotas para enganar os otários !!!!
  • Horário Político “Gratuito”: Para quem acredita nesta balela de gratuidade, quero avisar “gratuito porra nenhuma”. Eu paguei uma parte dele, assim como todos contribuintes... O horário gratuito é pago com isenções fiscais para as redes de televisão, e segundo o portal R7, este ano custará aos cofres públicos a mera quantia de R$ 606 milhões. Afora  não ser democrático o fato de sermos obrigados a assistir ou ouvir o horário político obrigatório. Será que não seria melhor gastar este dinheiro construindo “metrô”???
  • Custos da Eleição: Estimativas mostram que o TSE gastará ou gastou ao redor de R$ 800 milhões este ano com as eleições. Parte disto, para nos lembrar que, temos lei da ficha limpa, que o voto é obrigatório e para nos dizer como somos excelentes cidadãos. Eu fico revoltado com cada propaganda do TSE, que nos custa dinheiro e não agrega nada. Comemorar a Lei da Ficha Limpa é comemorar o “cidadão-idiota” e a “falsa-democracia” onde precisamos de uma lei para nos ajudar a votar !
  • Trabalho nas eleições: além da afronta à democracia e ao direito do cidadão que é feito escravo por 1 ou 2 dias, o custo é repassado quando possível ao empregador que é obrigado a dar 2 dias de folga ao empregado por cada dia trabalhado nas eleições. Difícil calcular o custo, mas certamente ele se soma ao tal “custo brasil” que ajuda a definir o preço dos produtos que você encontra nas gondolas do supermercado. No meu caso, ao menos, este custo é só meu, afinal se eu faltar os 4 dias “a que tenho direito” eu é que me estrepo, pois ninguém vai pagar por isso.

Está mais que na hora de acabar com o voto obrigatório, com o serviço eleitoral obrigatório e transformar o país numa real democracia. Está na hora de parar de se dar dinheiro a partidos (que além disso discutem o financiamento público de campanhas) e de se gastar grandes somas com a festa lúgubre da pseudo democracia.

Não faria sentido Lei da Ficha Limpa, se fosse dada educação suficiente ao povo para que ele fosse capaz de escolher livremente seus candidatos.

Quem ganhou as eleições? A DESILUSÃO !!


terça-feira, 2 de outubro de 2012

O PERFIL DO INVESTIDOR: DESAFIOS DO SUITABILITY


    Uma nova linha de regulamentação do mercado de capitais é a exigência de que os produtos oferecidos aos clientes lhes sejam adequados (suitable).  Para isso, os Bancos, corretoras, assets, etc. submetem questionários aos seus clientes tentando identificar se o perfil deles é, por exemplo, arrojado ou conservador.

                Eu sempre acho um pouco de graça nesta tentativa de traçar o perfil de alguém.  São conhecidos casos onde as respostas do cliente não condizem com o portfólio de investimento ou com a resposta esperada pelos princípios da Teoria de Finanças.  Por exemplo, ontem,uma colega comentava do caso de um cliente que tinha em seu portfólio apenas ações de uma só empresa e se dizia conservador...

                Além da dificuldade de tentar se definir o perfil de um investidor através de um questionário, o qual muitas vezes é preenchido com pouca atenção e só por obrigação, às vezes há uma dicotomia entre o que o cliente diz ser e o que ele precisa ser em função de suas necessidades e planos.   Por exemplo, imaginemos uma pessoa que deseja poupar para aposentadoria e se diz ultraconservadora e que aplique todo seu dinheiro em investimentos indexados ao CDI. Este porfólio está condizente com a meta do investidor?      Talvez. Eu acho que não !

                Se uma pessoa pensa em poupar para a aposentadoria (longo prazo) a principal preocupação dela deve ser a preservação do valor real de sua poupança de modo a garantir um rendimento real estável no futuro.   Assim, provavelmente o investimento mais adequado para este investidor “ultra conservador”, dado o seu objetivo, deveria ser em títulos públicos indexados ao IPCA, de prazo semelhante à sua expectativa de vida.

                No mundo empresarial eu conheço um caso, que me causa estranheza.  Uma grande empresa concessionária de serviços públicos considera-se “sem risco” com seus ativos e passivos financeiros indexados ao CDI.  Em minha opinião, não faz o menor sentido.  Possivelmente a maior parte da receita desta empresa deve estar altamente correlacionada com a inflação e o mesmo pode-se dizer de seus custos.  Logo, para minimizar o risco para seus resultados, possivelmente, o mais adequado seria que seus ativos e passivos fossem igualmente ligados à inflação.    E mais, de forma geral, não faz muito sentido uma empresa, cujas receitas e despesas são pouco relacionadas com a taxa de juros, ter ativos e passivos indexados ao CDI.  Ao indexar ao CDI, principalmente dívidas de longo prazo, aumenta-se  a variabilidade do resultado esperado da empresa (CDI sobe, resultado esperado cai,  CDI cai, resultado esperado sobe...).  Será que isto faz sentido?

                Também acho engraçado falar-se em “suitability” (adequação) quando muitos dos produtos oferecidos pelos bancos aos seus clientes fazem pouco sentido.  Não é um investimento adequado para ninguém um fundo de curto prazo com taxa de administração de 2% a.a. (por exemplo).  Não é adequado para ninguém um plano de previdência com taxa de carregamento de 4%, mais taxa de administração de 2%...  Também tenho dúvidas  se qualquer plano de capitalização seria adequado para alguém...

                Evidente que os questionários enviados pelos Bancos possuem duas dimensões, tentando quantificar o nível de aversão ao risco e os objetivos / motivos da poupança.  Contudo, com disse, há muitas vezes certa dicotomia pois nem sempre o que o cliente gosta é o mais adequado para seus objetivos.  E eu também me pergunto, quantas vezes ao se deparar com um extenso questionário (pesquisa) que o separa de uma operação que você quer fazer, você simplesmente não o responde sem prestar muita atenção, apenas para concluí-lo rapidamente ?

                Eu acredito que a melhor opção – e a mais difícil – é ensinar o cliente a tomar suas próprias decisões.  Para isso, os produtos precisam ser mais transparentes (alguém já tentou ler as 500 e tantas páginas de um prospecto de um FIDC ou de um IPO?).  O gerente do Banco também não pode ser movido por meta de venda por produto, ele precisa ter a liberdade e obrigação de conversar com seu cliente, conhecê-lo, entendê-lo e lhe oferecer os produtos realmente adequados.   Além disso, no plano escolar, ao invés de se discutir o ensino de religião, artes, filosofia, etc... dever-se-ia ensinar economia e finanças, pelo menos no ensino médio.  Em resumo, eu não acredito em questionários e perfis traçados por terceiros, eu acredito na liberdade das pessoas escolherem onde querem investir,  na responsabilidade de quem oferece os produtos e na educação.

               Para terminar segue uma sugestão de portfólio para quem pretende guardar dinheiro para aposentadoria:
                - Maior parte em NTNB´s, vários prazos, principalmente as mais longas (compradas no tesouro direto através de corretoras que não cobram taxas adicionais) (meu chute uns 70%);
                - Pequena parte diversificada em uns 10 fundos imobiliários (que de preferência invistam em CRI´s e ou vários imóveis) (meu chute uns 10%);
                - Investimento em Debêntures com benefício fiscal (5% a 10%);
                - Carteira de ações (no máximo 10 ações) (5%);
                - Títulos de Bancos (LCI´s, LCA´s ou CDB´s) (5% a 10%).



quarta-feira, 26 de setembro de 2012

QUANTITATIVE EASING 3: A SALVAÇÃO?


             Ontem, durante o dia vimos na internet a crítica de que a “política monetária não pode ser a única salvação da crise”.  Também não são poucos, alguns meus amigos, que criticam fortemente o Quantitative Easing americano e o Europeu que está por vir.   A questão é: estas críticas são justas?    E, independentemente da resposta anterior, algo mais pode ser feito?  O mundo vai sair da crise?

                A título de preâmbulo vamos lembrar um pouco os dados e a história da recente crise global.  O fato é que até 2008 a alavancagem do setor privado (bancos, empresas e famílias) bateram níveis elevados, por exemplo, nos EUA o endividamento das famílias chegou a quase 130% do PIB, enquanto no Reino Unido foi acima de 150% do PIB. (ver gráfico abaixo retirado de do  texto da Mckinsey: Debt and Deleveraging: Uneven Progress on The Path to Growth” de jan/2012)


                Enfim a chamada crise do “subprime”  não passou de um estouro numa grande bolha creditícia, processo muito estudado por economistas e portanto, bastante conhecido (vale a leitura do livro do Galbraith sobre a crise de 1929). Acontece que o processo de desalavancagem tende a criar uma espiral desinflacionária, ou seja, os preços tendem a cair e as pessoas passam a  adiar ainda mais o consumo e, a medida que fazem isso, aumentam ainda mais o desemprego, os preços caem ainda mais, as pessoas adiam mais o consumo...   Ben Bernanke, o presidente do FED é um economista que estudou isso em profundidade e que entende claramente este e risco e que o papel de um Banco Central nesta hora é garantir que isto não aconteça emitindo tanta moeda quanto necessário.             Assim surgiu o QE – 1.

               Lógico que medidas econômicas são envoltas em interesses políticos e econômicos, e naquele momento, o setor financeiro que corria grande risco de colapsar apoiou todas as medidas de expansão monetária, fazendo o possível para que elas também atingissem objetivos particulares (moral hazard).

                De qualquer maneira, Keynes ressuscitado das catacumbas, também alertava para a questão da demanda agregada (para os leigos: demanda agregada é consumo total de um país, dado pela soma do consumo das famílias, dos investimentos das empresas e dos gastos do governo) e da importância do gasto governamental.   Ora, encher a economia de moeda não é suficiente, é necessário dar um impulso na demanda. e no meio de uma recessão este impulso deve partir do Estado através de seus gastos.   No caso americano este impulso partiu principalmente através da devolução de impostos, do aumento da cobertura do seguro desemprego e através da salvação de instituições quebradas.   Como resultado desta política fiscal, agravada pela queda na arrecadação de tributos, o endividamento dos países cresceu.

                No gráfico abaixo (obtido através do FRED-St Louis Fed) vemos que enquanto o endividamento das famílias caiu de 100% do PIB para 85% entre 2009 e 2011, aproximadamente, o endividamento público fez exatamente o caminho inverso.


                Este preâmbulo é apenas para me permitir dizer que em grande parte a desalavancagem global não foi concluída e que basicamente se transferiu o problema privado para o setor público. De forma geral, isto aconteceu em vários países, que hoje frequentam o noticiário. No site http://www.usdebtclock.org/world-debt-clock.html podemos ver uma “projeção real time” do endividamento público de vários países.   O endividamento médio dos países da OCDE subiu de aproximadamente 75% do PIB para quase 105% do PIB, entre 2007 e 2011. O da Espanha subiu de 36% do PIB em 2008 para 73% do PIB (segundo conceito de Maastricht, fonte FMI). 

               No “Monitor Fiscal” do FMI, divulgado em julho de 2012, vemos que o déficit público médio das economias ditas avançadas deve ficar em 5,8% do PIB em 2012.  O déficit americano será ao redor de 8,2% do PIB !!   E apesar dos grandes déficits a economia global derrapa, com as “economias avançadas” crescendo apenas 1,4% e área do Euro apresentado uma queda de 0,3% no PIB.

                Este conjunto de alto endividamento, alto déficit público e baixo crescimento limita o poder de ação dos governos, principalmente do lado fiscal.  Não há espaço para mais incentivos fiscais nas principais economias mundiais.  O que Bernanke percebeu é que se o FED deixar de fazer sua parte, deixando que a economia americana volte a desaquecer, o fantasma da espiral deflacionária voltará a assombrar.  

                Evidentemente que o QE3 - a emissão monetária - não salvará o mundo.  Também é claro que o efeito de um novo QE é menor que os dos anteriores. Mas, existem poucas opções. Não há espaço para aumento nos gastos públicos e o déficit público americano só não é maior por que os juros reais estão negativos, graças aos QE’s.  Sem eles, se o juro real americano ficasse positivo em 1% a.a. (mais ou menos a média histórica) o déficit público americano aumentaria em 2% do PIB ao ano. 
Com poucas contas é fácil perceber que, dado o nível de endividamento das economias avançadas e a expectativa de crescimento, com juros altos a relação DIV/Pib de vários países se tornaria explosiva.  Soma-se a isso a impossibilidade de se fazer ajustes fiscais significativos, sem abalar o frágil crescimento econômico,  e temos uma grande limitação de instrumentais de política econômica.

Concluindo: ruim com QE, pior sem ele!

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                Para o Brasil o efeito mais visível da expansão monetária alimentada pelos principais Bancos Centrais do Mundo (FED – EUA, BOJ – Japão, BoE – Inglaterra, ECB – Europa) é a tendência de valorização do Real.
                O que não é visível e difícil de medir são os efeitos positivos  sobre a balança comercial brasileira, a medida que a expansão monetária ajuda a sustentar os preços de commodities, principal item de nossa pauta de exportação.   Também é difícil de dizer o que aconteceria com nossa economia caso o desaquecimento econômico global fosse ou viesse a ser mais intenso...
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                Meu primeiro chefe, certa feita, me passou uma tarefa que era criticar certo trabalho, eu jovem, impetuoso (no auge de minha sabedoria aos 16 anos de idade), debrucei-me intensamente sobre aquele trabalho encontrando múltiplos defeitos que eu não hesitei em demonstrá-los.  Ao entregar a conclusão de meu estudo meu chefe me falou: “Perfeito, muito bom!  Mas, como solucionar os problemas. O objetivo de uma crítica é melhorar o trabalho, sem isso ela é inútil.  Então, sempre que me trouxer um crítica, me traga alternativas para solução junto.”   Esta lição ficou para sempre.  O trabalho eu refiz, e percebi que algumas das soluções que eu critiquei não eram as excelentes, mas as possíveis e que eu era incapaz de propor solução melhor. Descobri também que eu não era tão esperto quanto eu pensava...