Uma nova linha de regulamentação
do mercado de capitais é a exigência de que os produtos oferecidos aos clientes lhes sejam adequados (suitable).
Para isso, os Bancos, corretoras, assets, etc. submetem questionários
aos seus clientes tentando identificar se o perfil deles é, por exemplo, arrojado ou
conservador.
Eu sempre acho um pouco de graça
nesta tentativa de traçar o perfil de alguém.
São conhecidos casos onde as respostas do cliente não condizem com o
portfólio de investimento ou com a resposta esperada pelos princípios da Teoria
de Finanças. Por exemplo, ontem,uma
colega comentava do caso de um cliente que tinha em seu portfólio apenas ações
de uma só empresa e se dizia conservador...
Além da dificuldade de tentar se
definir o perfil de um investidor através de um questionário, o qual muitas
vezes é preenchido com pouca atenção e só por obrigação, às vezes há uma dicotomia
entre o que o cliente diz ser e o que ele precisa ser em função de suas
necessidades e planos. Por exemplo,
imaginemos uma pessoa que deseja poupar para aposentadoria e se diz
ultraconservadora e que aplique todo seu dinheiro em investimentos indexados ao
CDI. Este porfólio está condizente com a meta do investidor? Talvez. Eu acho que não !
Se uma pessoa pensa em poupar
para a aposentadoria (longo prazo) a principal preocupação dela deve ser a
preservação do valor real de sua poupança de modo a garantir um rendimento real
estável no futuro. Assim, provavelmente
o investimento mais adequado para este investidor “ultra conservador”, dado o
seu objetivo, deveria ser em títulos públicos indexados ao IPCA, de prazo
semelhante à sua expectativa de vida.
No mundo empresarial eu conheço
um caso, que me causa estranheza. Uma
grande empresa concessionária de serviços públicos considera-se “sem risco” com
seus ativos e passivos financeiros indexados ao CDI. Em minha opinião, não faz o menor
sentido. Possivelmente a maior parte da
receita desta empresa deve estar altamente correlacionada com a inflação e o
mesmo pode-se dizer de seus custos.
Logo, para minimizar o risco para seus resultados, possivelmente, o mais
adequado seria que seus ativos e passivos fossem igualmente ligados à
inflação. E mais, de forma geral, não faz
muito sentido uma empresa, cujas receitas e despesas são pouco relacionadas com
a taxa de juros, ter ativos e passivos indexados ao CDI. Ao indexar ao CDI, principalmente dívidas de
longo prazo, aumenta-se a variabilidade
do resultado esperado da empresa (CDI sobe, resultado esperado cai, CDI cai, resultado esperado sobe...). Será que isto faz sentido?
Também acho engraçado falar-se
em “suitability” (adequação) quando muitos dos produtos oferecidos pelos bancos
aos seus clientes fazem pouco sentido.
Não é um investimento adequado para ninguém um fundo de curto prazo com
taxa de administração de 2% a.a. (por exemplo).
Não é adequado para ninguém um plano de previdência com taxa de
carregamento de 4%, mais taxa de administração de 2%... Também tenho dúvidas se qualquer plano de capitalização seria
adequado para alguém...
Evidente que os questionários
enviados pelos Bancos possuem duas dimensões, tentando quantificar o nível de
aversão ao risco e os objetivos / motivos da poupança. Contudo, com disse, há muitas vezes certa dicotomia pois nem sempre o que o cliente gosta é o mais adequado para seus
objetivos. E eu também me pergunto,
quantas vezes ao se deparar com um extenso questionário (pesquisa) que o separa
de uma operação que você quer fazer, você simplesmente não o responde sem
prestar muita atenção, apenas para concluí-lo rapidamente ?
Eu acredito que a melhor opção –
e a mais difícil – é ensinar o cliente a tomar suas próprias decisões. Para isso, os produtos precisam ser mais
transparentes (alguém já tentou ler as 500 e tantas páginas de um prospecto de
um FIDC ou de um IPO?). O gerente do
Banco também não pode ser movido por meta de venda por produto, ele precisa ter
a liberdade e obrigação de conversar com seu cliente, conhecê-lo, entendê-lo e
lhe oferecer os produtos realmente adequados. Além disso, no plano escolar, ao invés de se
discutir o ensino de religião, artes, filosofia, etc... dever-se-ia ensinar
economia e finanças, pelo menos no ensino médio. Em resumo, eu não acredito em questionários e
perfis traçados por terceiros, eu acredito na liberdade das pessoas escolherem
onde querem investir, na
responsabilidade de quem oferece os produtos e na educação.
Para terminar segue uma
sugestão de portfólio para quem pretende guardar dinheiro para aposentadoria:
- Maior parte em NTNB´s, vários
prazos, principalmente as mais longas (compradas no tesouro direto através de
corretoras que não cobram taxas adicionais) (meu chute uns 70%);
- Pequena parte diversificada em
uns 10 fundos imobiliários (que de preferência invistam em CRI´s e ou vários
imóveis) (meu chute uns 10%);
- Investimento em Debêntures com
benefício fiscal (5% a 10%);
- Carteira de ações (no máximo
10 ações) (5%);
- Títulos de Bancos (LCI´s,
LCA´s ou CDB´s) (5% a 10%).
Bom dia, Mau Humorado... Aliás, bom dia por que??
ResponderExcluirDá pra ir bem mais fundo na inconsistência/incoerência dos questionários de suitability. Primeiro, até hoje não vi nenhum questionário que consiga aliar poder de síntese com efetividade. Se você faz um questionário completo o suficiente, ou cliente se recusa a responder ou se o fizer, o fará como você mesmo disse, displicentemente. Segunda situação: o cliente responde ao questionário e não se enquadra ao objetivo da operação/investimento. Basta um telefonema e a indicação de quais respostas o tornam apto para aquela operação (já vi isso de monte). Por último, uma empresa vai responder ao questionário. O responsável pelo departamento financeiro preenche o questionário. Ai eu pergunto, qual será o percentual de pessoas que respondem ao questionário segregando aquilo que representa o perfil da empresa de suas convicções pessoais (já vi isso de monte 2)?
Aí eu me pergunto, mantém-se o questionário para que?
Abs,
Ácido Lático
Ácido Lático... Excelente comentário !!!
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