segunda-feira, 29 de outubro de 2012

SHOW DA DEMOCRACIA ???


Todas as eleições vemos analistas políticos de diversas matizes comemorando o show da democracia e a demonstração de cidadania dos brasileiros. Vemos também o TSE comemorar o sucesso das eleições. Isso é real?

Primeiro dado óbvio: 27% dos eleitores do país ou não compareceram ou votaram em branco ou nulo. Se considerarmos a população total, veremos que menos de 55% da população votou. Isso significa que qualquer candidato que tenha tido menos do que 90% dos votos válidos não contou com a aprovação da maioria da população. SHOW DE CIDADANIA!!!

Outra falha em nosso processo “democrático” é a obrigatoriedade do voto. Pode uma “eleição democrática” ter voto obrigatório? É uma inconsistência lógica! Mas, não é a única.

Nossas “eleições democráticas” também contam com trabalho escravo. Neste sentido, talvez a inspiração advenha da Grécia Antiga, berço da democracia, onde a escravidão era coisa natural. Eu, por exemplo, trabalhei nas eleições, mesmo tendo declarado explicitamente que não queria.

Para trabalhar nas eleições, você ganha R$ 22,00, para que você possa almoçar. É uma paga aparentemente “justa”, né? Considerando que você não tem sua condução paga (custo de no mínimo R$6) e que você trabalha das 7:00 até as 17:30 horas, com direito a uma hora de almoço. Isto significa que, um mesário recebe menos que um salário mínimo, além de ter seu domingo perdido...

Há alguma diversão em trabalhar nas eleições. Afinal, já que você está lá, não adianta ficar emburrado, é preciso tentar se divertir. Sem me perder em devaneios sobre diversos tipos e comentários que desfilam durante o dia, vale ressaltar o tom geral, ao menos na minha seção, de desilusão. Muitas pessoas não sabiam em quem votar, e perguntavam nossa opinião... Outras não sabiam o número dos candidatos... No corredor ouvimos um indivíduo declarar que ainda não tinha feito sua opção entre a M... e a B... (preencha os pontinhos com sinônimos de fezes).

Enfim, mesmo entre os votos válidos, uma parte razoável foi voto de repúdio (ao adversário) ou foi uma escolha sem convicção, talvez um voto no menos ruim... Houveram com certeza votos sem nenhum objetivo, votou-se neste ou naquele simplesmente por que havia de se votar em alguém.

Piores são os votos convictos, baseados na falta de informação, já que – pelo menos eu não vi – nenhuma rede de TV fez um dossiê imparcial e profundo dos candidatos. Os debates não passam de jograis, onde um pergunta o que quer e o outro responde o que quer, com tempos cronometrados... Saudades dos debates antigos...

Quanto à propaganda se criou a ideia que campanha boa é aquela que não agride, apresentando apenas propostas que nunca serão cumpridas, ou apenas óbvia. Afinal, todo candidato vai melhorar a saúde, a educação, a moradia, o transporte, etc... O passado e as alianças são detalhes que não mereciam ser tocados. Eu, toda vez que via na TV alguém falando que esperava um debate limpo,  me enchia de convicção que assistir ao debate seria perda de tempo. Na minha opinião, o embate deveria ser procurado e não evitado, pois assim, ficariam aparentes a índole e a história de cada um.

Mas, para encerrar, vamos aos custos da eleição. Ou ao que chamo da democracia construída com meu bolso.

  • Fundo Partidário em 2011: R$ 265 milhões. Esta verba é repassada aos partidos políticos não para campanhas, mas como “ajuda de custa” às maquinas partidárias. Se considerarmos que há eleições a cada 2 anos, isto implica, que o governo repassa ao redor de R$ 530 milhões para os partidos por eleição. Quantas vagas adicionais poderiam ser oferecidas em universidades federais com este dinheiro ? Pergunta idiota. Deixa o dinheiro com os partidos, e vamos dar cotas para enganar os otários !!!!
  • Horário Político “Gratuito”: Para quem acredita nesta balela de gratuidade, quero avisar “gratuito porra nenhuma”. Eu paguei uma parte dele, assim como todos contribuintes... O horário gratuito é pago com isenções fiscais para as redes de televisão, e segundo o portal R7, este ano custará aos cofres públicos a mera quantia de R$ 606 milhões. Afora  não ser democrático o fato de sermos obrigados a assistir ou ouvir o horário político obrigatório. Será que não seria melhor gastar este dinheiro construindo “metrô”???
  • Custos da Eleição: Estimativas mostram que o TSE gastará ou gastou ao redor de R$ 800 milhões este ano com as eleições. Parte disto, para nos lembrar que, temos lei da ficha limpa, que o voto é obrigatório e para nos dizer como somos excelentes cidadãos. Eu fico revoltado com cada propaganda do TSE, que nos custa dinheiro e não agrega nada. Comemorar a Lei da Ficha Limpa é comemorar o “cidadão-idiota” e a “falsa-democracia” onde precisamos de uma lei para nos ajudar a votar !
  • Trabalho nas eleições: além da afronta à democracia e ao direito do cidadão que é feito escravo por 1 ou 2 dias, o custo é repassado quando possível ao empregador que é obrigado a dar 2 dias de folga ao empregado por cada dia trabalhado nas eleições. Difícil calcular o custo, mas certamente ele se soma ao tal “custo brasil” que ajuda a definir o preço dos produtos que você encontra nas gondolas do supermercado. No meu caso, ao menos, este custo é só meu, afinal se eu faltar os 4 dias “a que tenho direito” eu é que me estrepo, pois ninguém vai pagar por isso.

Está mais que na hora de acabar com o voto obrigatório, com o serviço eleitoral obrigatório e transformar o país numa real democracia. Está na hora de parar de se dar dinheiro a partidos (que além disso discutem o financiamento público de campanhas) e de se gastar grandes somas com a festa lúgubre da pseudo democracia.

Não faria sentido Lei da Ficha Limpa, se fosse dada educação suficiente ao povo para que ele fosse capaz de escolher livremente seus candidatos.

Quem ganhou as eleições? A DESILUSÃO !!


terça-feira, 2 de outubro de 2012

O PERFIL DO INVESTIDOR: DESAFIOS DO SUITABILITY


    Uma nova linha de regulamentação do mercado de capitais é a exigência de que os produtos oferecidos aos clientes lhes sejam adequados (suitable).  Para isso, os Bancos, corretoras, assets, etc. submetem questionários aos seus clientes tentando identificar se o perfil deles é, por exemplo, arrojado ou conservador.

                Eu sempre acho um pouco de graça nesta tentativa de traçar o perfil de alguém.  São conhecidos casos onde as respostas do cliente não condizem com o portfólio de investimento ou com a resposta esperada pelos princípios da Teoria de Finanças.  Por exemplo, ontem,uma colega comentava do caso de um cliente que tinha em seu portfólio apenas ações de uma só empresa e se dizia conservador...

                Além da dificuldade de tentar se definir o perfil de um investidor através de um questionário, o qual muitas vezes é preenchido com pouca atenção e só por obrigação, às vezes há uma dicotomia entre o que o cliente diz ser e o que ele precisa ser em função de suas necessidades e planos.   Por exemplo, imaginemos uma pessoa que deseja poupar para aposentadoria e se diz ultraconservadora e que aplique todo seu dinheiro em investimentos indexados ao CDI. Este porfólio está condizente com a meta do investidor?      Talvez. Eu acho que não !

                Se uma pessoa pensa em poupar para a aposentadoria (longo prazo) a principal preocupação dela deve ser a preservação do valor real de sua poupança de modo a garantir um rendimento real estável no futuro.   Assim, provavelmente o investimento mais adequado para este investidor “ultra conservador”, dado o seu objetivo, deveria ser em títulos públicos indexados ao IPCA, de prazo semelhante à sua expectativa de vida.

                No mundo empresarial eu conheço um caso, que me causa estranheza.  Uma grande empresa concessionária de serviços públicos considera-se “sem risco” com seus ativos e passivos financeiros indexados ao CDI.  Em minha opinião, não faz o menor sentido.  Possivelmente a maior parte da receita desta empresa deve estar altamente correlacionada com a inflação e o mesmo pode-se dizer de seus custos.  Logo, para minimizar o risco para seus resultados, possivelmente, o mais adequado seria que seus ativos e passivos fossem igualmente ligados à inflação.    E mais, de forma geral, não faz muito sentido uma empresa, cujas receitas e despesas são pouco relacionadas com a taxa de juros, ter ativos e passivos indexados ao CDI.  Ao indexar ao CDI, principalmente dívidas de longo prazo, aumenta-se  a variabilidade do resultado esperado da empresa (CDI sobe, resultado esperado cai,  CDI cai, resultado esperado sobe...).  Será que isto faz sentido?

                Também acho engraçado falar-se em “suitability” (adequação) quando muitos dos produtos oferecidos pelos bancos aos seus clientes fazem pouco sentido.  Não é um investimento adequado para ninguém um fundo de curto prazo com taxa de administração de 2% a.a. (por exemplo).  Não é adequado para ninguém um plano de previdência com taxa de carregamento de 4%, mais taxa de administração de 2%...  Também tenho dúvidas  se qualquer plano de capitalização seria adequado para alguém...

                Evidente que os questionários enviados pelos Bancos possuem duas dimensões, tentando quantificar o nível de aversão ao risco e os objetivos / motivos da poupança.  Contudo, com disse, há muitas vezes certa dicotomia pois nem sempre o que o cliente gosta é o mais adequado para seus objetivos.  E eu também me pergunto, quantas vezes ao se deparar com um extenso questionário (pesquisa) que o separa de uma operação que você quer fazer, você simplesmente não o responde sem prestar muita atenção, apenas para concluí-lo rapidamente ?

                Eu acredito que a melhor opção – e a mais difícil – é ensinar o cliente a tomar suas próprias decisões.  Para isso, os produtos precisam ser mais transparentes (alguém já tentou ler as 500 e tantas páginas de um prospecto de um FIDC ou de um IPO?).  O gerente do Banco também não pode ser movido por meta de venda por produto, ele precisa ter a liberdade e obrigação de conversar com seu cliente, conhecê-lo, entendê-lo e lhe oferecer os produtos realmente adequados.   Além disso, no plano escolar, ao invés de se discutir o ensino de religião, artes, filosofia, etc... dever-se-ia ensinar economia e finanças, pelo menos no ensino médio.  Em resumo, eu não acredito em questionários e perfis traçados por terceiros, eu acredito na liberdade das pessoas escolherem onde querem investir,  na responsabilidade de quem oferece os produtos e na educação.

               Para terminar segue uma sugestão de portfólio para quem pretende guardar dinheiro para aposentadoria:
                - Maior parte em NTNB´s, vários prazos, principalmente as mais longas (compradas no tesouro direto através de corretoras que não cobram taxas adicionais) (meu chute uns 70%);
                - Pequena parte diversificada em uns 10 fundos imobiliários (que de preferência invistam em CRI´s e ou vários imóveis) (meu chute uns 10%);
                - Investimento em Debêntures com benefício fiscal (5% a 10%);
                - Carteira de ações (no máximo 10 ações) (5%);
                - Títulos de Bancos (LCI´s, LCA´s ou CDB´s) (5% a 10%).