Em São Paulo a desculpa mais comum para atrasos
é o trânsito, que justamente naquela hora estava terrível. Ora, os paulistas já sabem que o trânsito em
São Paulo é ruim e sujeito a muitas surpresas, logo, a culpa não é nunca do
trânsito, mas do incauto que deixou de sair cedo para seu compromisso. Mas, imagine só chegar atrasado a uma
reunião falando a verdade: “saí em cima da hora pois estava surfando na
internet” ...
É sempre mais fácil escolher desculpas fáceis e
prontas, que eliminam a responsabilidade por mais esforços. Contudo, uma análise mais detalhada revela a
verdade.
A taxa de câmbio é a desculpa esfarrapada mais
conhecida. Empresários jogam a culpa da
falta de competitividade no câmbio. O
governo incorpora a desculpa. Todos felizes. Empresários que anulam a competição externa e
podem manter suas margens elevadas e o governo que deixa de fazer uma reforma
tributária e de investir em infraestrutura fica em sua zona de conforto
gastando mal os recursos públicos.
Aqueles mais velhinhos – como eu – lembram-se
como era o mercado de automóveis antes da abertura, iniciada pelo Governo
Collor, e do plano Real que permitiu a valorização do câmbio. Aqueles ainda um
pouco mais velhos lembrarão da proibição de importação de produtos de
informática. Vivíamos nos tempos da
caverna, enquanto o mundo avançava a passos largos para o século XXI. Mesmo assim, o câmbio ainda era um dos
culpados de plantão.
A taxa de câmbio é um ótimo culpado de plantão.
Uma minoria articulada repete, publica e divulga que a taxa de câmbio está
destruindo empregos e a indústria nacional. Pronto! O governo articula
políticas para desvalorizar a moeda, dividindo a conta entre uma maioria
silenciosa, cujas preocupações mais imediatas se relacionam apenas indireta e
de forma pouco clara com o câmbio. Sem
perceber, esta maioria paga um imposto, que vira subsídio. Um subsídio recebido pelos empresários que
gritaram e que agora ficam felizes. A “máquina
governamental” fica feliz, pois manteve seu status quo, pois não precisou
reduzir seus custos, nem aumentar sua produtividade trabalhando mais. Ficam felizes milhares de servidores
indicados por padrinhos, as vezes inconfessáveis, ficam felizes policy makers
que podem fugir do embate político.
A questão
das cotas raciais é parecida.
Antigamente, quem fazia FUVEST não precisava identificar sua cor para
participar do vestibular, entravam aqueles
que tinham as melhores notas. Não consigo
ver racismo nisso. Posso não gostar e
não gostava. Fiz colégio técnico não
tinha menor chance de entrar na USP sem fazer cursinho e não tinha tempo para
cursinho pois trabalho desde os meus 15 anos de idade. Posso não achar “justo” comigo, mas o
processo de seleção era democrático. Hoje meu filho presta vestibular e tal
qual um judeu caçado por nazistas precisa se identificar, sou branco! Os autores deste tipo de política esquecem
que o primeiro passo para o racismo é “carimbar” as raças.
Similarmente às cotas raciais, as cotas para
estudantes de escolas públicas também são distorsivas. Por exemplo, no cursinho (caro) que meu filho
faz, há estudantes – que não trabalham –
e fizeram escola pública que terão, apesar de ao fazerem cursinho e se
equipararem, o benefício de cotas ou aumento de nota. Isto é justo ?
O que a política de cotas esconde é uma verdade
mais importante. A escola pública, na
média, é sofrível. De novo, jogar a culpa
no racismo é um caminho fácil. De um
lado “uma liderança” abraça a causa, se elege e reelege, mamando no estado, precisando apenas balançar, de vez em quando, a bandeira da causa. De outro lado, o corporativismo
político-estatal se coloca na zona de conforto e continua pagando mal a
professores e outros profissionais ligados a educação, enquanto os casos de desperdício do dinheiro
público enchem páginas de jornais. Ainda
hoje, ouvi no rádio que um dos Ministros do Supremo defenderia a tese de que as
cotas não eram problema, pois muitas vezes, nem são preenchidas, e por isso,
ele seria a favor delas. (??????????)
Falta coragem de se dizer as cotas apenas
servem para mascarar um sistema de ensino abandonado pelo setor público. Podem professores viver e ensinar adequadamente
com salários miseráveis ? Pode haver
livros com erros crassos de português?
Pode um aluno passar de ano, sem aprender a ler? Pode um aluno passar de ano, sem saber
tabuada?
Cotas são aberrações que servem para perpetuar
um péssimo sistema de ensino, que por sua vez serve para sustentar em seus cargos políticos
inescrupulosos.
Cotas e taxa desvalorizada de câmbio são
caminhos fáceis, para quem não quer mudar o país, aumentando sua competitividade
que ademais só pode ser alcançada pelo aumento da produtividade resultante da
melhora do capital humano (educação), da infraestrutura e da eficiência do
Estado.