Na Teoria
Econômica o debate sobre quais as melhores políticas no curto prazo são
intensos. No curto prazo, o debate com
aperfeiçoamentos técnicos, remonta a primeira metade do século passado onde
Keynesianos e Clássicos se digladiavam sobre a efetividade das políticas
fiscais e monetárias.
Aqui no
Brasil, tal debate, tornou-se conhecido como a briga entre
“desenvolvimentistas” x “monetaristas”.
No debate
econômico há espaço para nomes mais pomposos como neoclássicos ou
neokeynesianos, mas, enfim, o embate é sempre o mesmo: qual a taxa de juros e o
déficit público ideal? Uns defendem mais
juros e menos déficit, outros mais juros e menos déficit, outros menos juros e
mais déficit de acordo com suas crenças e suas matizes políticas. Cada qual tem seus argumentos e a discussão,
por não se tratar de ciência exata é quase como tentar convencer Palmeirenses e
Corinthianos que o Santos FC é o melhor time do mundo. Impossível, né?
Tal discussão
se esvai em grande parte no “longo prazo”.
Há um consenso que o crescimento econômico no longo prazo depende das
Instituições, do avanço da produtividade e da estabilidade econômica.
As
Instituições dizem respeito ao arcabouço legal e político do país. Leis claras, estáveis e uma justiça ágil
melhoram o ambiente de negócios ao dar segurança aos empreendedores. O empreendedor ao investir num negócio quer
ter certeza de que não será surpreendido por mudanças de regra no meio do jogo.
Ele precisa de leis que protejam seu negócio de concorrência desleal, roubo de
patentes, etc... O investidor requer
também segurança política, isto é, seu negócio não pode ser significativamente
afetado por todo e qualquer mudança no poder.
Além disso, quanto menos dificuldades e burocracia houver mais propício
será o ambiente para o investimento.
O avanço da
produtividade depende de tecnologia e infraestrutura. Melhores meios de escoar a produção melhoram
a rentabilidade do negócio e atraem mais investidores. Melhor nível técnico e melhor a qualidade de
ensino, mais produtivo será o trabalhador.
Um mercado de capitais eficiente também amplia o acesso dos empreendedores
ao capital que lhes permite investir em máquinas e novas tecnologias que
aumentam sua produtividade e o retorno sobre o investimento.
A estabilidade
econômica de longo prazo completa o tripé.
Inflação sob controle é essencial para a capacidade de se planejar o
futuro. Mas, a estabilidade econômica
também depende da “Consistência Fiscal de Longo Prazo”. Quem em sã consciência investe em um país fadado
a quebrar? Neste ponto, encontramos,
em parte, o motivo do debate econômico em torno das políticas no curto prazo:
até que ponto aumentar os gastos públicos é benéfico para o crescimento?
Sabemos que, e
neste aspecto não há dúvidas, que um aumento no gasto público aumenta a
demanda, e portanto o PIB do país, desde que este aumento não coloque em dúvida
a sustentabilidade fiscal de longo prazo.
É mais ou menos como a decisão de comprar uma casa financiada: é uma boa
ideia se você tiver renda suficiente para arcar com as prestações e uma péssima
ideia se você souber que em algum momento no futuro você ficará incapaz de
pagar o financiamento. Para um país a
situação é semelhante, exceto pelo fato que países em geral tem o poder de
emitir moeda para pagar suas dívidas.
Dado este
extenso preâmbulo, vamos às bases da política econômica no Brasil. Não nos enganemos: parte da bonança que
vivemos hoje começou a ser construída no Governo Collor, que colocou na agenda
as Reformas Fiscal e Patrimonial do Estado e a abertura econômica. FHC continuou deixando alguns legados, entre
eles, a independência de fato do Banco Central (que na minha opinião é melhor
do que garantida por lei), a Lei de Responsabilidade Fiscal (que disciplinou os
gastos de estados e municípios), o câmbio flutuante e o princípio de ajuste
fiscal (no 2º mandato).
Menos
percebido durante o governo FHC foi o fim de um monte de subsídios setoriais que
existiam, ajustando questões alocativas. Também foi responsável, ainda que de
maneira criticável, por um importante ajuste no sistema financeiro nacional,
praticamente acabando com bancos estatais deficitários e instituições
financeiras insolventes.
Lula, ao
assumir, deu continuidade, preservando a independência do BC, o câmbio
flutuante e intensificou o ajuste fiscal.
Com o ministério da Fazenda sob o comando de Palocci também se começou
uma agenda de reformas microeconômicas importantes tais como a “alienação
fiduciária”, o “patrimônio líquido de afetação”, etc. Lula teve ainda a esperteza de investir nos
programas sociais que também ajudaram a modificar a cara do país.
Sucesso
absoluto, o Brasil se tornou um dos queridinhos do Mundo. Os BRICs saíram das
páginas de um antigo relatório da Goldman Sachs para as manchetes econômicas de
um novo mundo.
Linda
história. O futuro chegou ao
Brasil! Será?
Recentemente,
vemos o debate sobre os fundamentos de política econômica de volta às manchetes
dos jornais. Será que a estabilidade
monetária e fiscal estão em risco? Será
que as instituições estão abaladas?
Comecemos pela
questão monetária: a estabilidade
monetária está em risco?
Talvez. Vejamos por quê.
De um lado, a
favor dos juros baixos temos a “paridade coberta das taxas de juros”, que,
grosso modo, estabelece que a taxa de juros real do país deve ser igual a taxa
real de juros externa (geralmente a americana) mais o prêmio de risco. Neste caso teríamos que i = i*+CDS, sendo i*
a taxa real de juros americanas, que é dada por 0,25 – 2 = -1,75 ( i*= taxa de
juros nominal-inflação). Logo, i = -1,75+1,15=-0,6. Considerando que a inflação esperada no
Brasil é ao redor de 5,5%, teríamos que os juros nominais no Brasil poderiam
ser ao redor de 4,9%.... Há quem faça
esta conta de outra maneira, simplesmente somando aos juros externos a inflação
local e o prêmio de risco, neste caso: 0,25+5,5+1,15= 6,90%.
A ideia que
permeia estas contas é que, já que o prêmio de risco embute – com perdão ao
tautologismo – compensação para os riscos do país. Se os juros forem mais altos
haverá incentivo para a entrada de “especuladores estrangeiros” que se
aproveitarão dos diferenciais de juros e vice-versa, se os juros praticados
forem menores, até mesmo os brasileiros prefeririam aplicar seu dinheiro no
exterior, provocando grandes saídas de recursos. No primeiro caso a moeda brasileira se
valorizaria e no segundo se desvalorizaria.
Em síntese:
pode-se dizer que a taxa de juros local está alinhada com os fundamentos
globais.
Por outro
lado, temos o problema da inflação. No
Brasil adota-se o regime de Metas para Inflação, cuja meta é de 4,50% com
tolerância de 2% para cima ou para baixo.
Isto é, se a inflação no ano ficar entre 2,5% e 6,5% considera-se que o
Banco Central obteve sucesso.
Considerando a inflação esperada para este ano e o próximo ao redor de
5,5%, o Banco Central está sendo bem sucedido.
Se o Banco
Central está sendo bem sucedido e as taxas de juros estão em equilíbrio com os
fundamentos externos, qual a razão de tantas críticas?
O problema, na
minha opinião, está na forma e na comunicação.
Para analistas distantes e ou xiitas a aparência é que há certa
leniência da parte do BC. Para os xiitas o BC deveria perseguir a todo custo o
centro da meta. Para os mais distantes a comunicação faz parecer que a autoridade
monetária está pautando suas decisões em apostas quanto ao futuro da atividade
global, ignorando os gargalos locais para expansão da oferta. Soma-se a isto o fim do “câmbio flutuante” e
se chega à um monte de dúvidas. Para
muitos o fato que a inflação convergirá de maneira “não linear” para o centro
da meta, soa como um dia a inflação voltará para o centro, enquanto isso ela
vai ficar oscilando para cima e pra baixo perto do teto...E, eu, num to nem aí!
Enfim, a
comunicação parece estar ruim, já que gera dúvidas. Mas, devemos, a bem da verdade, não levar as
críticas muito a sério, afinal muitos dos críticos defendem o seu próprio
“peixe” já que alguns deles viviam de “floating” ou da renda elevada propiciada
pelo CDI. A mamata acabou !
Quanto as
questões institucionais, as recentes medidas adotadas para as concessões do
setor de energia e a prática pela Petrobrás de preços inferiores ao ideal geram
incertezas negativas para o investidor.
Além disso, a agenda microeconômica parece abandonada...
E quanto a
“consistência fiscal de longo prazo”?
Quando olhamos as tabelas do “Monitor Fiscal do FMI” ou outras
divulgadas na imprensa, vemos que o Brasil está com melhores fundamentos
fiscais que a maioria dos países, ao apresentar um déficit nominal bastante baixo
e ter uma relação dívida líquida/PIB ao redor de 35%. Na atualidade, esta é uma situação invejável! Entretanto a crítica surge quando se olha os
“números por dentro”, e os riscos que estão sendo moldados para o futuro, a
medida que grande parte da política econômica é canalizada via setor financeiro
público e quando olhamos aos gastos correntes ainda crescentes.
O ponto é: o
Brasil estará ótimo enquanto o ciclo for positivo, mas, se por alguma razão o
crescimento econômico no Brasil ficar negativo há um potencial de deterioração
rápida das contas públicas, pelo crescimento na inadimplência na carteira de
crédito dos bancos públicos, pela queda da arrecadação que não poderá ser
acompanhada na mesma velocidade por reduções nos gastos e pela possível
elevação nos custos de financiamento da máquina pública.
Nos jornais
está a discussão sobre a redução dos juros da dívida refinanciada de estados e
municípios. Ainda que tal discussão seja
razoável, o fato é: tal renegociação aumentará o poder de gasto de estados e
municípios que passarão a contribuir menos para as metas fiscais. Estados e municípios também voltaram a se
endividar de maneira silenciosa através da venda / securitização de recebíveis e de direitos.
Posto a
extensão do texto, vou concluí-lo abruptamente.
Até agora não há nada estruturalmente errado com a política econômica
brasileira, de fato, os pilares ainda estão de pé. Mas, a confiança neles já está abalada pelos
sinais difusos passados pelos formadores de política.
Bom dia Vietã! uma belo texto Sidão, um pouco longo, mas sem a recapitulação dos fatos seria impossível colocar-se. Só paira uma dúvida: BC independente? como no governo anterior? você tem certeza disto? acho que está mais parecendo fato para inglês ver, se você me entende. Quando ao futuro economico do pais concordo contigo, os pilares etão de pé, mas com grandes trincas sim. Um pais que nao investe em reforma tributária quer que o empresario invista e gere emprego como? Você deveria escrever sobre empreendedorismo neste pais e burocracia quanto tempo se leva para abrir um negocio? o BNDES o dito banco de desenvolvimento funciona para o pequeno? somos ratos de laboratorio, o problema é o cientista sabe o que etá testando ou está brincando de quimica? Hoje sem sede de sangue, estoque cheio.
ResponderExcluirVampire