terça-feira, 12 de junho de 2012

Pass-through: Câmbio e Inflação


                Há vários trabalhos econométricos que tentam mostrar qual o repasse (pass-through) de uma desvalorização cambial para a inflação.  Estes trabalhos, graças a capacidade de processamento dos microcomputadores, geralmente focam na análise dos dados através de técnicas de regressão.   Sendo assim, os resultados dependem fortemente dos períodos analisados e na metodologia utilizada. 

                Alguns fatos sobre o pass-through são certos:

1º  O nível de repasse depende do nível anterior da taxa de câmbio
A respeito deste aspecto, sabe-se que quanto mais valorizada a taxa de câmbio estiver antes da desvalorização menor será o repasse para a inflação.

2º O nível de repasse depende do “hiato do produto”
Neste caso a relação é mais intuitiva, grosso modo, se a economia está muito aquecida maior será o repasse aos preços da desvalorização cambial, e vice-versa.

3º O nível de repasse depende do “caminho da taxa de câmbio”
Se a taxa de câmbio estava “estacionada” num determinado nível por um longo período de tempo, maior será o repasse.   Analogamente, se a taxa  de câmbio tiver se valorizado recentemente e imediatamente tenha voltado a se desvalorizado o repasse será pequeno.

4º O nível de repasse depende do tempo que perdura a desvalorização
De certa forma, esta observação é estreitamente ligada a anterior.  Se a taxa de câmbio se desvaloriza por curto período de tempo, menor será seu impacto sobre a inflação ou, inversamente, se a taxa de câmbio permanece desvalorizada por longo período de tempo, maior será seu impacto sobre a inflação.


                Embora as observações anteriores sejam relevantes,  eles deixam de abordar questões ainda mais importantes para se entender como  a taxa de câmbio afeta a economia, através dos preços.  Vamos a elas.
                O primeiro impacto da oscilação na taxa de câmbio é direto e se dá através dos produtos dito tradables, isto é, que podem ser comercializados internacionalmente.  O exemplo mais óbvio de produtos tradables são as commodities agrícolas tais como: milho, açúcar, café e soja.  Este grupo, compõe aproximadamente 35% do IPCA.  Então, ceteris paribus, uma desvalorização cambial de 10% causaria um impacto na inflação de no mínimo 3,5%.   Contudo, sabemos que há defasagem, isto é, o repasse não é imediato, portanto, este impacto se diluiria em vários meses (alguns dos trabalhos econométricos estimam que quase a totalidade do impacto ocorre em 9 meses).

                Se no parágrafo anterior dissemos “acima de” é por uma razão simples, mas que é mais fácil de ser explicada com um exemplo:  os combustíveis são tradables (isto é, podem ser comercializados internacionalmente, podendo ser importados ou exportados), mas acontece que a gasolina também é um insumo,  fazendo parte do custo  de muitas mercadorias direta ou indiretamente, já que, pelo menos parcialmente, o transporte é feito por via rodoviária.  Assim, uma alta no preço dos combustíveis, ceteris paribus, aumenta o preço dos outros produtos.

                Dissemos também que o nível de repasse depende do nível de atividade da economia. A razão é simples: suponha que você consome muitos produtos tradables, se o mercado de trabalho estiver muito aquecido, dado que os preços subiram muito, você vai brigar por maiores aumentos salariais e com maior probabilidade vai obtê-los.  Ato contínuo, a indústria para a qual você trabalha, e teve seus custos elevados, vai aumentar seus preços também.

               Enfim, poderia ficar enumerando várias razões pela qual o repasse para inflação seria maior de 35% (o que só seria verdade se todas as condições fossem mantidas constantes). Mas, uma dica que recebi sobre meu blog é não ser prolixo.  Então, vou dar “um corte”, e fazer uma afirmação importante: “O REPASSE DA DESVALORIZAÇÃO CAMBIAL EM GERAL É MENOR DO QUE O ESPERADO POIS OS PREÇOS DAS COMMODITIES (PRINCIPAL PRODUTO QUE EXPORTAMOS CAEM QUANDO O DÓLAR SOBE FRENTE AO REAL”.

                A implicação desta última observação é a seguinte: quando desvalorizamos nossa taxa de câmbio o que fazemos  é uma transferência de renda do consumidor brasileiro que passa a pagar mais para o consumidor estrangeiro que passa a pagar menos.
                SEJAMOS FELIZES !

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