Há
vários trabalhos econométricos que tentam mostrar qual o repasse (pass-through)
de uma desvalorização cambial para a inflação.
Estes trabalhos, graças a capacidade de processamento dos microcomputadores,
geralmente focam na análise dos dados através de técnicas de regressão. Sendo assim, os resultados dependem
fortemente dos períodos analisados e na metodologia utilizada.
Alguns
fatos sobre o pass-through são certos:
1º O
nível de repasse depende do nível anterior da taxa de câmbio
A respeito deste aspecto, sabe-se que quanto
mais valorizada a taxa de câmbio estiver antes da desvalorização menor será o
repasse para a inflação.
2º O nível de repasse depende do “hiato do
produto”
Neste caso a relação é mais intuitiva, grosso
modo, se a economia está muito aquecida maior será o repasse aos preços da
desvalorização cambial, e vice-versa.
3º O nível de repasse depende do “caminho da
taxa de câmbio”
Se a taxa de câmbio estava “estacionada” num
determinado nível por um longo período de tempo, maior será o repasse. Analogamente, se a taxa de câmbio tiver se valorizado recentemente e
imediatamente tenha voltado a se desvalorizado o repasse será pequeno.
4º O nível de repasse depende do tempo que
perdura a desvalorização
De certa forma, esta observação é estreitamente
ligada a anterior. Se a taxa de câmbio
se desvaloriza por curto período de tempo, menor será seu impacto sobre a
inflação ou, inversamente, se a taxa de câmbio permanece desvalorizada por
longo período de tempo, maior será seu impacto sobre a inflação.
Embora
as observações anteriores sejam relevantes, eles deixam de abordar questões ainda mais
importantes para se entender como a taxa
de câmbio afeta a economia, através dos preços.
Vamos a elas.
O
primeiro impacto da oscilação na taxa de câmbio é direto e se dá através dos
produtos dito tradables, isto é, que podem ser comercializados
internacionalmente. O exemplo mais óbvio
de produtos tradables são as commodities agrícolas tais como: milho, açúcar,
café e soja. Este grupo, compõe
aproximadamente 35% do IPCA. Então,
ceteris paribus, uma desvalorização cambial de 10% causaria um impacto na
inflação de no mínimo 3,5%. Contudo, sabemos que há defasagem, isto é, o
repasse não é imediato, portanto, este impacto se diluiria em vários meses
(alguns dos trabalhos econométricos estimam que quase a totalidade do impacto
ocorre em 9 meses).
Se
no parágrafo anterior dissemos “acima de” é por uma razão simples, mas que é
mais fácil de ser explicada com um exemplo:
os combustíveis são tradables (isto é, podem ser comercializados
internacionalmente, podendo ser importados ou exportados), mas acontece que a
gasolina também é um insumo, fazendo
parte do custo de muitas mercadorias direta
ou indiretamente, já que, pelo menos parcialmente, o transporte é feito por via
rodoviária. Assim, uma alta no preço dos
combustíveis, ceteris paribus, aumenta o preço dos outros produtos.
Dissemos
também que o nível de repasse depende do nível de atividade da economia. A
razão é simples: suponha que você consome muitos produtos tradables, se o
mercado de trabalho estiver muito aquecido, dado que os preços subiram muito,
você vai brigar por maiores aumentos salariais e com maior probabilidade vai
obtê-los. Ato contínuo, a indústria para
a qual você trabalha, e teve seus custos elevados, vai aumentar seus preços
também.
Enfim,
poderia ficar enumerando várias razões pela qual o repasse para inflação seria
maior de 35% (o que só seria verdade se todas as condições fossem mantidas
constantes). Mas, uma dica que recebi sobre meu blog é não ser prolixo. Então, vou dar “um corte”, e fazer uma
afirmação importante: “O REPASSE DA DESVALORIZAÇÃO CAMBIAL EM GERAL É MENOR DO
QUE O ESPERADO POIS OS PREÇOS DAS COMMODITIES (PRINCIPAL PRODUTO QUE EXPORTAMOS
CAEM QUANDO O DÓLAR SOBE FRENTE AO REAL”.
A
implicação desta última observação é a seguinte: quando desvalorizamos nossa
taxa de câmbio o que fazemos é uma
transferência de renda do consumidor brasileiro que passa a pagar mais para o
consumidor estrangeiro que passa a pagar menos.
SEJAMOS
FELIZES !
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