Nós, economistas, somos tentados a nos ater aos
dados e estatísticas econômicas, e com
base nelas e nas políticas econômicas projetar a catástrofe que se avizinha. Verificar os dados de desemprego, déficits
públicos e crescimento medíocre, principalmente dos países periféricos na Zona
do Euro, face as medidas econômicas que tem sido tomadas, deixam pouca margem à
esperança: um novo mergulho vem aí!
Normalmente, ante o desenho de uma crise
profunda, cuja origem quase sempre remete aos anos de euforia, os governos
adotam fortes medidas de socorro. Os
mais ortodoxos reagem vociferando contra o moral hazard, afinal, a certeza do
socorro é o que alimenta a imprudência dos agentes econômicos. Do outro lado, economistas e analistas
ligados principalmente aos mercados financeiros aplaudem as medidas salvadoras,
afinal, seus empregos serão salvos às custas da sociedade. Se de um lado, a salvação é execrável, e neste sentido os ortodoxos estão corretos, de
outro é necessária.
Evidente que o “moral hazard” se perpetua. As
crises e pacotes de salvação se sucedem.
Assim, é natural que atualmente se discutam medidas fortes de prevenção
as crises, tais como a "Volcker Rule", Basiléia III, etc... É de se estranhar, contudo, que o debate
sobre medidas de penalização daqueles
que cometem os excessos e estão ou estavam no epicentro gestacional das crises
fique em segundo plano. Bônus gigantes
continuam sendo pagos, operadores, CFO’s, CEO’s de instituições falidas
continuam ricos e se enriquecendo, enquanto no lado de baixo, o desemprego
cresce, cidadãos perdem suas casas...
O objetivo deste texto não é o debate
filosófico sobre culpas e perdões. O
objetivo é olhar para a crise – ou a segunda pernada da mesma crise – que se
avizinha. O ponto focal deste texto é
mostrar porque esta crise pode acontecer.
Do ponto de vista da conjuntura econômica os
problemas são claros e já foram citados: desemprego e dívidas públicas elevadas, bancos com baixa
solvência e baixo ou negativo crescimento econômico. Embora, estas condições estejam mais em
evidência na Zona do Euro, em parte ela acontece em vários países com algumas
nuances diferentes.
Do ponto de vista da teoria e da história
econômica sabemos que a adoção de ajustes fiscais em meio a recessão só a
aprofunda. Logo, ajustes fiscais não são a solução. Contudo, parece legítima a ideia
que os países da periferia do Euro, mantendo os atuais níveis de déficits
públicos caminham para a total insolvência, devido às expectativas dos
agentes. Daí surge o debate entre
economistas, uns sugerindo o ajuste fiscal já, supondo que isto melhoraria às
expectativas dos agentes levando-os a voltarem a investir, e de outro lado,
economistas sugerindo que nada seja feito no lado fiscal e que sejam dados mais
incentivos monetários. O meio
caminho, que parece mais razoável, está na ideia da sinalização. Os governos adotam e divulgam planos críveis
de redução dos déficits que ocorreriam apenas daqui a alguns anos, garantindo
suporte para a demanda no curto prazo, enquanto os Bancos Centrais continuam
provendo liquidez aos mercados. Parece simples.
Mas, as tais expectativas são “geniosas” e difíceis de serem domadas. Como consequência, o custo de financiamento
dos déficits públicos são crescentes tornando praticamente impossível a redução
dos níveis de endividamento dos países da periferia do Euro. A solução seria
garantir-lhes o financiamento barato de suas dívidas. Em alguns casos, a renegociação das dívidas,
parece inevitável.
Em síntese, a solução para o problema exige que
nenhum ajuste fiscal seja feito imediatamente, que os Bancos Centrais garantam
liquidez aos mercados e que sejam criados mecanismos importantes de redução dos
custos das dívidas. O problema verdadeiro
começa aqui: esta solução exige coordenação dos países.
Algumas lições das crises das décadas de 1980 e
1990 ficaram claras, a principal é que o
quanto antes e quanto maior o volume do pacote de ajuda, menor e mais rápida
seria a crise e suas consequências. O
protelamento da ajuda ou o minimalismo eram pecados capitais, que simplesmente levavam ao agravamento e ao
aumento do custo de salvamento.
Vamos nos ater a Zona do Euro que está no epicentro da crise.
A Europa abusa do minimalismo e da protelação.
O custo ficou enorme. Em geral, uma
regra econômica é sempre aplicada: uma instituição ou país sempre será salvo se
o custo de salvá-los for menor do que o custo de deixá-los quebrar. Até pouco tempo atrás, eu tinha convicção que
o custo de salvar a periferia do Euro era menor do que o custo de deixar o Euro
desintegrar. Hoje, esta minha convicção diminuiu, e a cada volta que a Terra dá
ao redor do Sol, o custo de salvar aumenta.
Então, a chance de salvar a economia global de uma nova recessão está na
capacidade de articulação rápida dos governos.
O novo problema é que os governos estão fracos.
Fracos politicamente, sofrem de falta de apoio. Mas, principalmente, estão
fracos de liderança. Em meio a todo
noticiário catastrófico uma das coisas que mais me assustou foi uma notícia
aparentemente boba sobre uma gafe de Angela Merckel, a chanceler alemã: “ Primeira-ministra da Alemanha
derrapa na geografia e diz que Berlim fica na Rússia. Alunos de escola caíram
na gargalhada.” ( http://migre.me/9hAj7 ) . Assusta
pensar que o destino da Europa está nas mãos de uma pessoa incapaz de encontrar
em um Mapa a cidade sede de seu próprio governo...
Assusta-me pensar que muitos economistas se
preocupem com o “tsunami monetário”, cujas águas são necessárias para ajudar na
limpeza da sujeira do passado. Assustam-me
líderes de vários países acharem que estão “em guerra econômica”. Assusta-me perceber que os presidentes da
maioria dos países não percebam os custos da inação. Assustam-me os economistas que aproveitam a
situação para um debate ideológico inútil.
A crise
econômica é importante. Mas o que vai
torná-la pior, fazê-la acontecer, é a crise política. As
vezes, me pergunto se as bestas do apocalipse já estão trabalhando, dominando o
mundo. Assusta-me pensar que uma destas
bestas pode estar aqui, no Brasil.
Achei muito interessante o comentário de Ricardo Giannetti da Fonseca, no Valor economico de 04/06. Que pais é este?
ResponderExcluirQuem é que pode mudar o todo?
Storm