sexta-feira, 1 de junho de 2012

ECONOMIA E POLÍTICA: A CRISE REAL


        Nós, economistas, somos tentados a nos ater aos dados e estatísticas econômicas,  e com base nelas e nas políticas econômicas projetar a catástrofe que se avizinha.  Verificar os dados de desemprego, déficits públicos e crescimento medíocre, principalmente dos países periféricos na Zona do Euro, face as medidas econômicas que tem sido tomadas, deixam pouca margem à esperança: um novo mergulho vem aí!

       Normalmente, ante o desenho de uma crise profunda, cuja origem quase sempre remete aos anos de euforia, os governos adotam fortes medidas de socorro.  Os mais ortodoxos reagem vociferando contra o moral hazard, afinal, a certeza do socorro é o que alimenta a imprudência dos agentes econômicos.  Do outro lado, economistas e analistas ligados principalmente aos mercados financeiros aplaudem as medidas salvadoras, afinal, seus empregos serão salvos às custas da sociedade.   Se de um lado, a salvação é execrável, e neste sentido os ortodoxos estão corretos, de outro é necessária. 

       Evidente que o “moral hazard” se perpetua. As crises e pacotes de salvação se sucedem.  Assim, é natural que atualmente se discutam medidas fortes de prevenção as crises, tais como a "Volcker Rule", Basiléia III, etc...  É de se estranhar, contudo, que o debate sobre medidas de penalização  daqueles que cometem os excessos e estão ou estavam no epicentro gestacional das crises fique em segundo plano.  Bônus gigantes continuam sendo pagos, operadores, CFO’s, CEO’s de instituições falidas continuam ricos e se enriquecendo, enquanto no lado de baixo, o desemprego cresce, cidadãos perdem suas casas...

       O objetivo deste texto não é o debate filosófico sobre culpas e perdões.  O objetivo é olhar para a crise – ou a segunda pernada da mesma crise – que se avizinha.  O ponto focal deste texto é mostrar porque esta crise pode acontecer.

        Do ponto de vista da conjuntura econômica os problemas são claros e já foram citados: desemprego  e dívidas públicas elevadas, bancos com baixa solvência e baixo ou negativo crescimento econômico.  Embora, estas condições estejam mais em evidência na Zona do Euro, em parte ela acontece em vários países com algumas nuances diferentes. 

        Do ponto de vista da teoria e da história econômica sabemos que a adoção de ajustes fiscais em meio a recessão só a aprofunda. Logo, ajustes fiscais não são a solução. Contudo, parece legítima a ideia que os países da periferia do Euro, mantendo os atuais níveis de déficits públicos caminham para a total insolvência, devido às expectativas dos agentes.  Daí surge o debate entre economistas, uns sugerindo o ajuste fiscal já, supondo que isto melhoraria às expectativas dos agentes levando-os a voltarem a investir, e de outro lado, economistas sugerindo que nada seja feito no lado fiscal e que sejam dados mais incentivos monetários.     O meio caminho, que parece mais razoável, está na ideia da sinalização.  Os governos adotam e divulgam planos críveis de redução dos déficits que ocorreriam apenas daqui a alguns anos, garantindo suporte para a demanda no curto prazo, enquanto os Bancos Centrais continuam provendo liquidez aos mercados. Parece simples.  Mas, as tais expectativas são “geniosas” e difíceis de serem domadas.  Como consequência, o custo de financiamento dos déficits públicos são crescentes tornando praticamente impossível a redução dos níveis de endividamento dos países da periferia do Euro. A solução seria garantir-lhes o financiamento barato de suas dívidas.  Em alguns casos, a renegociação das dívidas, parece inevitável.  

       Em síntese, a solução para o problema exige que nenhum ajuste fiscal seja feito imediatamente, que os Bancos Centrais garantam liquidez aos mercados e que sejam criados mecanismos importantes de redução dos custos das dívidas.  O problema verdadeiro começa aqui: esta solução exige coordenação dos países.
Algumas lições das crises das décadas de 1980 e 1990 ficaram claras,  a principal é que o quanto antes e quanto maior o volume do pacote de ajuda, menor e mais rápida seria a crise e suas consequências.  O protelamento da ajuda ou o minimalismo eram pecados capitais,  que simplesmente levavam ao agravamento e ao aumento do custo de salvamento.

          Vamos nos ater a Zona do Euro que está no epicentro da crise. 

       A Europa abusa do minimalismo e da protelação. O custo ficou enorme.  Em geral, uma regra econômica é sempre aplicada: uma instituição ou país sempre será salvo se o custo de salvá-los for menor do que o custo de deixá-los quebrar.  Até pouco tempo atrás, eu tinha convicção que o custo de salvar a periferia do Euro era menor do que o custo de deixar o Euro desintegrar. Hoje, esta minha convicção diminuiu, e a cada volta que a Terra dá ao redor do Sol, o custo de salvar aumenta.  Então, a chance de salvar a economia global de uma nova recessão está na capacidade de articulação rápida dos governos.

       O novo problema é que os governos estão fracos. Fracos politicamente, sofrem de falta de apoio. Mas, principalmente, estão fracos de liderança.  Em meio a todo noticiário catastrófico uma das coisas que mais me assustou foi uma notícia aparentemente boba sobre uma gafe de Angela Merckel, a chanceler alemã: “ Primeira-ministra da Alemanha derrapa na geografia e diz que Berlim fica na Rússia. Alunos de escola caíram na gargalhada.” ( http://migre.me/9hAj7 ) .  Assusta pensar que o destino da Europa está nas mãos de uma pessoa incapaz de encontrar em um Mapa a cidade sede de seu próprio governo...

        Assusta-me pensar que muitos economistas se preocupem com o “tsunami monetário”, cujas águas são necessárias para ajudar na limpeza da sujeira do passado.  Assustam-me líderes de vários países acharem que estão “em guerra econômica”.  Assusta-me perceber que os presidentes da maioria dos países não percebam os custos da inação.   Assustam-me os economistas que aproveitam a situação para um debate ideológico inútil.

         A crise econômica é importante.  Mas o que vai torná-la pior, fazê-la acontecer, é a crise política.  As vezes, me pergunto se as bestas do apocalipse já estão trabalhando, dominando o mundo.  Assusta-me pensar que uma destas bestas pode estar aqui, no Brasil.

Um comentário:

  1. Achei muito interessante o comentário de Ricardo Giannetti da Fonseca, no Valor economico de 04/06. Que pais é este?
    Quem é que pode mudar o todo?
    Storm

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