sexta-feira, 15 de junho de 2012

Carga Tributária e a Política de Subvenções

    No estudo publicado pela Receita Federal "Carga Tributária no Brasil 2010- Análise por Tributos e Bases de Incidência", em setembro de 2011  , algumas informações tornam evidentes os equívocos da politica econômica e a eleição de demônios (taxa de câmbio e banqueiros) responsáveis pela falta de competitividade da indústria brasileira.

     O primeiro fato é que (na tabela na pág. 9 do estudo citado)  podemos contar 31 tributos e taxas,  considerando as rubricas "Outros" e "Demais", como se fossem apenas 1 item, e desconsiderando o FGTS(que de fato não é tributo, nem taxa) e as contribuições dos funcionários públicos (estou considerando por exemplo que "contribuições previdenciárias" públicas ou privadas como apenas 1 item). O sistema "S" é considerado como apenas um item.  Sem estas considerações, tributos, taxas e contribuições seriam mais de 40. Fácil !!

     O outro fato, a partir dos dados do FMI, é que em 2010, o Brasil era o 50o. país com maior carga tributária (de um total de 182), a China ocupava o 150o. lugar.  A carga tributária brasileira, pelos dados do FMI, que divergem ligeiramente dos dados da Receita, estava em 36,631% do Pib.  A da China em 20% do PIB.  A dos EUA em 31,651%.  Enfim, o Brasil tributa muito, embora esteja longe de ser o pior. Quando olhamos para a tabela dos países que tributam mais que o Brasil, 2 tipos de países se destacam: países produtores de petróleo ou com ditaduras ferrenhas ou países com sistemas de seguridade social (aposentadorias, seguro desemprego, etc) com altas garantias.  Logo...

       Um fato que não transparece nas tabelas é o grau de complexidade dos tributos, taxas e contribuições. Por exemplo, o PIS e COFINS tem duas formas de tributação.  A partir da "desoneração" promovida pelo governo contribuições e taxas sobre a folha de pagamentos também passou a ter duas formas (incidentes sobre o faturamento ou sobre a própria folha).  Se alguém já teve curiosidade, ou necessidade, de se pesquisar a regulamentação do IPI ou ICMS deve ter se assustado com as milhares de páginas.

       A forma de tributar, onde vários tributos, taxas e contribuições incidem sobre o faturamento é um dos fatores que mais encarecem o produto brasileiro. São comuns produtos cujos preços finais de venda são compostos por mais de 50% de tributos.  Enquanto isso, a arrecadação de IR (PF's e PJ's) é de apenas 5,81% do PIB.     A pergunta é: num sistema como esse quem paga mais imposto ?   É evidente que o sistema além de ineficiente - por afetar a competitividade da indústria brasileira - também é regressivo, o consumidor paga mais imposto que o rentista, a classe média (a estatística e no velho conceito) paga mais impostos que o rico.  Isto definitivamente não favorece o consumo.

        Apenas para ficar muito claro, o fato de o consumo interno não crescer mais pouco se relaciona com a oferta de crédito, mas muito com a forma que tributamos.

        Em função dos argumentos acima, fico extremamente revoltado quando o governo decide adotar políticas "setoriais" reduzindo tributos sobre alguns produtos e elevando sobre outros.  É o remédio errado, que só aumenta ineficiências.  Melhor seria começar uma reforma tributária "por dentro", sem necessidade de grandes projetos de lei, bastaria começar a se eliminar tributos e taxas para todos, paulatinamente.  Por exemplo a arrecadação do PIS somou R$ 30 bilhões em 2010, se considerarmos que as subvenções recentemente aprovadas somem R$ 3 bi, poder-se-ia alternativamente reduzir em 10% a alíquota desta contribuição para todos. Qual seria a dificuldade de se aprovar uma redução de impostos no Congresso?

            Outro argumento contra políticas de subvenção é que você gera incentivos alocatícios errados.  É como você subisse o imposto das padarias em 200% - com perdão pelo exagero - e reduzisse para 0% a carga sobre restaurantes japoneses.    Nesta situação o seu Manoel, português fera em padarias, se veria compelido a transformar sua padaria em restaurante japonês.  Claro que a "PortugaMakeria" seria ruim.  Grosso modo, é isto que se faz quando você beneficia setores e prejudica outros, você direciona recursos que poderiam ser melhores investidos - em setores que temos vantagens - para setores menos competitivos. Quem paga a conta é a sociedade.




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