Crises
econômicas são como o câncer. A origem e
causas da doença na maioria das vezes começaram muitos anos antes da doença ser
percebida, a cura é sempre dolorosa, podendo ser
necessária até a extirpação de órgãos. No
diagnóstico do câncer é impossível estabelecer exatamente a data que ele
começou, já que sua causa pode remontar ao primeiro cigarro que você fumou e
nem se lembra mais.
Apesar
da quase impossibilidade de determinar o início da doença, sua evolução é
bastante previsível variando quanto a velocidade que evolui. A pior coisa que pode acontecer para o
paciente é que o câncer se espalhe por outros órgãos.
As
crises econômicas são realmente parecidas com o câncer. Ainda que analistas tentem identificar seu
início, o primeiro cigarro pode ter sido uma decisão de política monetária que
ninguém deu importância. O quanto antes
você tratar é melhor, maiores as chances de cura. Se for necessária a cirurgia imediata,
medidas paliativas só agravam o problema.
Retardar o tratamento, tomando analgésicos para controlar a dor,
invariavelmente levam à morte.
A
atual crise europeia é o “câncer do momento”.
Sua origem é discutível, alguns a atribuem a um efeito
colateral do tratamento da crise do subprime, em 2008. Parece claro que, para salvar as
Instituições Financeiras Globais e o mundo de uma recessão maior, os governos
se viram obrigados a aumentarem seus gastos, num momento em que suas receitas
caíam criando enormes déficits públicos, tornando seus níveis de endividamento
insuportáveis. Neste sentido, podemos
dizer que esta crise das dívidas soberanas é resultado da transferência das
dívidas privadas para o setor público.
Acontece
que a própria crise de 2008, foi gerada por uma política monetária e fiscal
expansionista americana que ter-se-ia iniciado no governo Bush, em parte para
combater os efeitos da crise pós “bolha das ponto com” e dos atentados às
Torres Gêmeas, no início deste século.
Analistas mais críticos, identificam o início destas crises muito antes:
a partir da chegada de Alan Greenspan ao Fed, em 1987, quando políticas de desregulamentação
financeira começaram a ser tomadas com mais intensidade.
Difícil
dizer. Tal qual um câncer, cuja causa pode remontar a dezenas de abusos
alimentares, aos pequenos porres, àquele cigarrinho... não dá para dizer qual
foi a causa exata. Dá para dizer que
cada um deles contribuiu um pouco.
O
importante em uma crise é tratá-la rapidamente.
O estudo de suas causas serve apenas para entendermos como nos
prevenir no futuro, podemos deixar para depois.
O
diagnóstico desta crise é simples: governos superendividados, bancos em má
situação. O principal sintoma é o crescimento econômico reduzido.
A solução para os Bancos é simples:
enfiar dinheiro neles, coisa que o FED (através do “quantitative easing”) e o
ECB (através dos LTROS) já o fizeram, embora relutem em fazer mais.
Independentemente de eu acreditar
que muitos executivos de bancos deveriam ser exilados para Etiópia, levando
apenas um par de cuecas, não adianta discutir, os bancos precisam ser salvos,
com injeção de dinheiro público e garantias aos depositantes. E já que, os governos estão quebrados, a
única maneira de se fazer isto é emitindo moeda.
Não adianta o povo da Saint of Paul
Oco e a pequena sereia esbravejarem contra o tsunami monetário, pois são as
águas deste tsunami que podem lavar o mar de merda em que estamos enfiados.
Quanto ao problema do endividamento
dos países, a solução é simples. Países à beira da bancarrota tais como a Grécia,
precisam ter seus custos de endividamento reduzidos, seja pelo perdão de parte
das suas dívidas, seja por algum mecanismo (e.g. Eurobonds – bônus da comunidade europeia) que
reduza a taxa de financiamento. Embora medidas de austeridade sejam necessárias à longo prazo, no curto prazo elas
devem ser evitadas à todo custo.
Ora, se a solução é tão
simples. Por que ainda não foi
feito? É aqui que o mundo se perde! O mundo está perdido pela falta de liderança
política global.
É o determinismo histórico em ação
(vamos colocar um pouco de polêmica no ar). Depois da Segunda Guerra Mundial, deu-se início a um período de grande
prosperidade, cujas exceções foram as crises do petróleo. Isto aconteceu, em parte, por que graças à
guerra fria foram possíveis o Plano Marshall (reconstrução da Europa), o Plano
Brady (reestruturação das dívidas externas de países subdesenvolvidos”). Enfim, EUA e Rússia, Otan e o Pacto de
Varsóvia, alinhavam os interesses econômicos aos políticos dos países de tal
forma que as soluções lideradas à Oeste pelos EUA e a Leste pela Rússia (que preferia métodos militares aos econômicos), fossem sempre tomadas.
Sem entrar no mérito da “exploração”
do FMI, das revoluções militares patrocinadas muitas vezes pelos EUA, na
discussão de centro x periferia, a questão é que o apoio econômico e financeiro entre nações ocorria. E se ocorriam é por que havia o medo de as “nações”
bandearem para o outro lado.
A medida que nos distanciamos de
quando caiu o “muro de Berlim” e a
necessidade de “defesa mútua” se desfaz, o egoísmo político domina. A razão é simples: se eu não preciso do
aliado X, para me opor ao outro lado, por que eu vou ajudá-lo?
Concordando ou não com meu
raciocínio, o fato é que as nações estão cada vez mais se voltando para dentro,
isto é, estão tomando “Johnny Walker com Actívia” para o resto do mundo, entoando
a canção “Ema, ema, ema... cada qual com seu problema!”.
Ontem, por exemplo, ouvi uma
certa presidenta comentando “EUR 100 bi não resolvem o problema...” . Ela estava certa, contudo, não é o papel de
uma estadista tripudiar sobre a desgraça alheia. A ela, e muitos outros indivíduos de primeiro
escalão de vários países, parece faltar bom-senso: roupa-suja se lava em casa,
na rua sempre dizemos que está tudo bem!
Infelizmente os “mercados” são
movidos por expectativas, e grande parte das expectativas são formadas à partir
dos discursos dos políticos (o mundo tá perdido mesmo, né?). É papel de um estadista atuar na melhora das
expectativas. Já dizia um certo ex-ministro, que curiosamente caiu por esta
frase, “o que é bom a gente conta, o que é ruim a gente esconde”. Em questões econômicas, devido às malditas
expectativas, isto é essencial.
A conclusão deste longo texto é
simples: o mundo parece que vai afundar, por causa da falta de solução
conjunta, enquanto supostos líderes ao invés de trabalharem pela união,
tripudiam sobre a desgraça alheia.
Ontem, por exemplo, ouvi uma certa presidenta comentando “EUR 100 bi não resolvem o problema...” .
ResponderExcluirPode não resolver, mas ameniza aos bancos sob risco sistêmico. Aqui, anos atrás, só com o Banco Nacional, um banco pequeno perto dos Europeus, se não tivéssemos o Refir, era esse o nome?!, levaria o mercado bancário pro brejo.
O buraco é mais embaixo, e nesses paises comoça com o sistema previdenciário. Itália, Espanha, Grécia as pessoas nascem pensando na aposentadoria. A população ativa não cresce, a economia em números relativos idem e só crescem as aposentadorias, cada dia com mais exigência.
Aqui no varonil vamos pagar o preço da incúria da europa adicionada a nossa. Respeito a contratos, etc, etc, à tanto leia o artigo de hoje no Estadão, pag 2 da Prof.Dra Eliana Cardoso da FGV-SP. Nele se não tem tudo sobre nós, enfoca com propriedade grande parte de nossa bagunça e, por gentileza, não trata dos 3 poderes cada vez mais desacreditados
Marito Cobucci
Desculpem, mas vou ser repetitivo, o problema é pensamento coletivo, ninguem pensa. Todos pensam no individual e ai quando são pagos para pensar no coletivo não sabem como fazer.
ResponderExcluirEsta educação de política pública, de feito para o povo e pelo povo caiu por terra. Todos criticam quando estão fora, e todos compartilham quando estam dentro.
Wolverine