quarta-feira, 13 de junho de 2012

O MUNDO PERDIDO: ANATOMIA DE UMA CRISE


                Crises econômicas são como o câncer.  A origem e causas da doença na maioria das vezes começaram muitos anos antes da doença ser percebida,   a cura é sempre dolorosa, podendo ser necessária até a extirpação de órgãos.   No diagnóstico do câncer é impossível estabelecer exatamente a data que ele começou, já que sua causa pode remontar ao primeiro cigarro que você fumou e nem se lembra mais.

               Apesar da quase impossibilidade de determinar o início da doença, sua evolução é bastante previsível variando quanto a velocidade que evolui.  A pior coisa que pode acontecer para o paciente é que o câncer se espalhe por outros órgãos.

                As crises econômicas são realmente parecidas com o câncer.   Ainda que analistas tentem identificar seu início, o primeiro cigarro pode ter sido uma decisão de política monetária que ninguém deu importância.  O quanto antes você tratar é melhor, maiores as chances de cura.  Se for necessária a cirurgia imediata, medidas paliativas só agravam o problema.  Retardar o tratamento, tomando analgésicos para controlar a dor, invariavelmente levam à morte.

                A atual crise europeia é o “câncer do momento”.  Sua origem é discutível, alguns a atribuem a um efeito colateral do tratamento da crise do subprime, em 2008.   Parece claro que, para salvar as Instituições Financeiras Globais e o mundo de uma recessão maior, os governos se viram obrigados a aumentarem seus gastos, num momento em que suas receitas caíam criando enormes déficits públicos, tornando seus níveis de endividamento insuportáveis.   Neste sentido, podemos dizer que esta crise das dívidas soberanas é resultado da transferência das dívidas privadas para o setor público.

                Acontece que a própria crise de 2008, foi gerada por uma política monetária e fiscal expansionista americana que ter-se-ia iniciado no governo Bush, em parte para combater os efeitos da crise pós “bolha das ponto com” e dos atentados às Torres Gêmeas, no início deste século.   Analistas mais críticos, identificam o início destas crises muito antes: a partir da chegada de Alan Greenspan ao Fed, em 1987,  quando políticas de desregulamentação financeira começaram a ser tomadas com mais intensidade.

                Difícil dizer. Tal qual um câncer, cuja causa pode remontar a dezenas de abusos alimentares, aos pequenos porres, àquele cigarrinho... não dá para dizer qual foi a causa exata.  Dá para dizer que cada um deles contribuiu um pouco.

                O importante em uma crise é tratá-la rapidamente.  O estudo de suas causas serve apenas para entendermos como nos prevenir no futuro, podemos deixar para depois.

             O diagnóstico desta crise é simples: governos superendividados, bancos em má situação. O principal sintoma é o crescimento econômico reduzido.

 A solução para os Bancos é simples: enfiar dinheiro neles, coisa que o FED (através do “quantitative easing”) e o ECB (através dos LTROS) já o fizeram, embora relutem em fazer mais.     

Independentemente de eu acreditar que muitos executivos de bancos deveriam ser exilados para Etiópia, levando apenas um par de cuecas, não adianta discutir, os bancos precisam ser salvos, com injeção de dinheiro público e garantias aos depositantes.  E já que, os governos estão quebrados, a única maneira de se fazer isto é emitindo moeda. 

Não adianta o povo da Saint of Paul Oco e a pequena sereia esbravejarem contra o tsunami monetário, pois são as águas deste tsunami que podem lavar o mar de merda em que estamos enfiados.

Quanto ao problema do endividamento dos países, a solução é simples. Países à beira da bancarrota tais como a Grécia, precisam ter seus custos de endividamento reduzidos, seja pelo perdão de parte das suas dívidas, seja por algum mecanismo (e.g.  Eurobonds – bônus da comunidade europeia) que reduza a taxa de financiamento.  Embora  medidas de austeridade sejam necessárias à longo prazo, no curto prazo elas devem ser evitadas à todo custo.

Ora, se a solução é tão simples.  Por que ainda não foi feito?  É aqui que o mundo se perde!    O mundo está perdido pela falta de liderança política global.

É o determinismo histórico em ação (vamos colocar um pouco de polêmica no ar).  Depois da Segunda Guerra Mundial, deu-se início a um período de grande prosperidade, cujas exceções foram as crises do petróleo.  Isto aconteceu, em parte, por que graças à guerra fria foram possíveis o Plano Marshall (reconstrução da Europa), o Plano Brady (reestruturação das dívidas externas de países subdesenvolvidos”).  Enfim, EUA e Rússia, Otan e o Pacto de Varsóvia, alinhavam os interesses econômicos aos políticos dos países de tal forma que as soluções lideradas à Oeste pelos EUA e a Leste pela Rússia (que preferia métodos militares aos econômicos), fossem sempre tomadas.

Sem entrar no mérito da “exploração” do FMI, das revoluções militares patrocinadas muitas vezes pelos EUA, na discussão de centro x periferia, a questão é que o apoio econômico  e financeiro entre nações ocorria.   E se ocorriam é por que havia o medo de as “nações” bandearem para o outro lado.

A medida que nos distanciamos de quando caiu o  “muro de Berlim” e a necessidade de “defesa mútua” se desfaz, o egoísmo político domina.  A razão é simples: se eu não preciso do aliado X, para me opor ao outro lado, por que eu vou ajudá-lo?

Concordando ou não com meu raciocínio, o fato é que as nações estão cada vez mais se voltando para dentro, isto é, estão tomando “Johnny Walker com Actívia” para o resto do mundo, entoando a canção “Ema, ema, ema... cada qual com seu problema!”.  

Ontem, por exemplo, ouvi uma certa presidenta comentando “EUR 100 bi não resolvem o problema...” .   Ela estava certa, contudo, não é o papel de uma estadista tripudiar sobre a desgraça alheia.  A ela, e muitos outros indivíduos de primeiro escalão de vários países, parece faltar bom-senso: roupa-suja se lava em casa, na rua sempre dizemos que está tudo bem!

Infelizmente os “mercados” são movidos por expectativas, e grande parte das expectativas são formadas à partir dos discursos dos políticos (o mundo tá perdido mesmo, né?).  É papel de um estadista atuar na melhora das expectativas. Já dizia um certo ex-ministro, que curiosamente caiu por esta frase, “o que é bom a gente conta, o que é ruim a gente esconde”.  Em questões econômicas, devido às malditas expectativas, isto é essencial.

A conclusão deste longo texto é simples: o mundo parece que vai afundar, por causa da falta de solução conjunta, enquanto supostos líderes ao invés de trabalharem pela união, tripudiam sobre a desgraça alheia.

2 comentários:

  1. Ontem, por exemplo, ouvi uma certa presidenta comentando “EUR 100 bi não resolvem o problema...” .
    Pode não resolver, mas ameniza aos bancos sob risco sistêmico. Aqui, anos atrás, só com o Banco Nacional, um banco pequeno perto dos Europeus, se não tivéssemos o Refir, era esse o nome?!, levaria o mercado bancário pro brejo.
    O buraco é mais embaixo, e nesses paises comoça com o sistema previdenciário. Itália, Espanha, Grécia as pessoas nascem pensando na aposentadoria. A população ativa não cresce, a economia em números relativos idem e só crescem as aposentadorias, cada dia com mais exigência.
    Aqui no varonil vamos pagar o preço da incúria da europa adicionada a nossa. Respeito a contratos, etc, etc, à tanto leia o artigo de hoje no Estadão, pag 2 da Prof.Dra Eliana Cardoso da FGV-SP. Nele se não tem tudo sobre nós, enfoca com propriedade grande parte de nossa bagunça e, por gentileza, não trata dos 3 poderes cada vez mais desacreditados
    Marito Cobucci

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  2. Desculpem, mas vou ser repetitivo, o problema é pensamento coletivo, ninguem pensa. Todos pensam no individual e ai quando são pagos para pensar no coletivo não sabem como fazer.
    Esta educação de política pública, de feito para o povo e pelo povo caiu por terra. Todos criticam quando estão fora, e todos compartilham quando estam dentro.
    Wolverine

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