quinta-feira, 28 de junho de 2012

O SETOR DE PETRÓLEO E OUTRAS ESTÓRIAS DE SAINT OF PAUL OCO

         Dizem que lá em Saint of Paul Oco foram descobertos bilhões de barris de petróleos em reservas no pré e no pós sal.  Todos comemoravam pois seriam auto-suficientes nesta cara commoditie, que lhes causara grandes dificuldades no passado... Passaram anos após o anúncio das novas descobertas (importante frisar o tempo em função do anúncio já que há muito mais tempo estas reservas potenciais já eram conhecidas) e Saint of Paul Oco continuou liquidamente importando petróleo e o mais engraçado, começou a importar álcool também...

        O legal desta história é que várias novas empresas foram criadas para se explorar o novo mercado do petróleo abundante.  Algumas, já tinham alguma expertise e já geravam caixa quando a moda começou e estas iam bem.   

       Conta-se que havia um aventureiro Maicon, que no velho oeste havia participado da corrida do ouro com muito sucesso.  Segundo estatísticos de Saint Of Paul Oco, a probabilidade de uma mina de ouro ser comercialmente rentável é de aproximadamente 1 em 12, e de um poço de petróleo ser rentável é de 1 em 7.  Esse nosso aventureiro teve uma taxa de sucesso na exploração de ouro muito melhor que a média, dizem, os maldosos,  que foi graças ao Pai Dinorah (pai de santo traveco, ex- funcionário público de Saint of Paul Oco, cujos poderes  eram utilizados para prever morte de famosos e minas de ouro produtivas).   "Ora", pensou nosso aventureiro "se eu sou tão bom pra achar ouro que é mais difícil, em petróleo eu vou arrasar... se eu bater um prego no quintal de casa vai jorrar!".

         E foi assim, com seu histórico vencedor, e sua fama de herói que ele se lançou na difícil empreitada de procurar petróleo.  Calculou suas estimativas, imaginando que teria - como sempre tinha - um sucesso proporcional àquele que ele havia obtido na mineração.  Alguns estatísticos maldosos - sempre tem que ter um FDP maldoso - diziam que os eventos "mina de ouro produtiva" e "poço de petróleo produtivo" eram independentes, logo não seria possível fazer nenhuma inferência sobre um em função do outro.  Mas, isto era bobagem....  

        Como explorar petróleo é caro, nosso aventureiro decidiu fazer um IPO, contratando alguns bancos de investimentos para auxiliá-lo.... Foi a alegria dos investment bankers de Saint of Paul Oco: "Moleza, vender ações de nosso grande herói!"  "Dinheiro fácil no bolso, é só mostrar como nosso herói tem super-poderes e uma visão de raio-X que permite ver ouro e petróleo debaixo da terra!!!"   

          Assim, investment bankers, que ganham valor percentual sobre as ofertas e, portanto, quanto mais caro e maior o volume do IPO, maiores seus ganhos fizeram projeções fantásticas e o IPO se fez.

          O tempo passou... Nosso herói com visão de raio-X precisou ir ao oculista e foi então que se percebeu que não era tão fácil assim.   Dizem que a ação da empresa chegou a cair quase 30% num dia só...  Neste dia, um "investment banker" soltou um relatório que reduzia o preço-alvo de 19 raias para 8 raias (o mais engraçado é que neste banco ninguém foi mandado embora... se fosse na vida real eu teria demitido 3 vezes o analista que fez as primeiras projeções,  se fosse na vida real a CVM ou a SEC iriam apurar a inépcia...mas, não era na vida real, era em Saint of Paul Oco!).

           Enfim, a empresa de nosso aventureiro não virou pó. Ela não é ruim, só valia muito menos, já que ele não tinha super-poderes e Pai Dinorah, após ter previsto a morte da Rainha dos Peixinhos 5 vezes, caiu em descrédito também!


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As Sardinhas e os Tubarões.

       Saint of Paul Oco é um lugar de paz.  Lá, debaixo das profundezas, a palavra para amizade é conchavo.    O conchavo era tão adorado que dizem que até as Sardinhas conchavaram com os Tubarões. Tubarões e sardinhas ficaram tão amigos, que atualmente é difícil saber quem é Tubarão e quem é Sardinha!

     Alguns folcloristas especializados em Saint of Paul Oco defendem a tese que todos são tubarões fantasiados de sardinhas.  Até mesmo os moluscos. Embora eu não entenda o que isto quer dizer.


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O Novo Código Penal de Saint of Paul Oco

        Lá em Saint of Paul Oco o crime ficou tão comum, que  decidiram que alguém deveria convocar um grupo de juristas imbecis para elaborarem uma grande reforma do código penal.

         Em Saint of Paul Oco, os imbecis são realmente adorados, ocupam ministérios, cargos públicos.  Gente de destaque.   Estes - o que se encarregaram do novo código penal - tão imbecis que eram (e, portanto muito adorados e respeitados) decidiram que não precisavam ouvir ou consultar os cidadãos de Saint of Paul Oco (que não eram moluscos, nem sardinhas, nem tubarões, apenas peixes-palhaços!).  Eles - os imbecis - decidiram que não precisavam aumentar as penalidades.  E como não aumentavam penalidade não precisavam reduzir a "maioridade para compensar".

          Decidiram que não pagar imposto, desde que declarado, não seria mais crime.  Portar droga (qualquer uma) também não seria.  Contudo, para compensar, estabeleceram um novo crime "ser cidadão". Quem cometer o crime de ser "cidadão" é automaticamente condenado a pagar impostos abusivos, recebendo em troca  o direito de morrer em casa (sem assistência médica), de ser roubado (também a domicílio)....

        Quem ligava para isso?  Afinal, lá quem não era tubarão (ou molusco) era peixe-palhaço!



       

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Essa Crise não é Nossa! (mas, vai ser) e a Crise em Saint of Paul Oco

       Hoje no jornal Valor encontramos 2 frases destacadas do atual diretor-geral da OMC, Pascal Lamy que veem ao encontro de meu pensamento sobre a situação econômica global e que são cabíveis ao tema deste post, vamos a elas:

       "Os líderes recuaram.  Menos eles cooperam, mais a crise vai durar e, mais a crise dura, menos eles serão legítimos e menos vão cooperar"
       "Se perguntarmos quais são as questões da Rio+20, ninguém sabe.  Isso é representativo da atonia da situação internacional"



       Afora o fato de eu achar de mau gosto a crítica quase debochada da situação econômica européia, várias declarações de políticos brasileiros demonstram um grave autismo econômico e cooperam com o aprofundamento da crise internacional.   Estando geograficamente distantes do centro da crise e, por enquanto, relativamente imunes aos seus piores efeitos, nossos "líderes" deveriam tentar contribuir e cooperar de fato para a solução ao invés de adotar a postura "isso não é comigo".

          A frase "a crise não é nossa" faz parte de um discurso da autoridade monetária brasileira. Outro prócer da república debochou "a luz no fim do túnel é o trem" que vai passar sobre os europeus.... ha ha ha. Morri de rir.  No caso do primeiro, o individuo parece cultivar a dialética de forma extremada, pois mesmo afirmando que a crise não é nossa, dirige a política monetária pautando-a pelos efeitos da crise na terra brasilis...

         A crise é de todos!  Ignorar isso é um desastre.  Os riscos de contágio são estúpidos. Os fundamentos  brasileiros ainda são bons, mas são frágeis e o sinal é de piora.  Para que ninguém seja ludibriado pelos números supostamente excelentes do Brasil, vou reproduzir alguns trechos de uma matéria, também no jornal Valor de hoje: 
        "A Irlanda é uma prova viva de que austeridade fiscal, por si só, não deixa ninguém imune a crises" 
        "O país tinha as finanças públicas em ordem até ser atingida pela crise financeira internacional... A dívida do governo equivalia a 24,8% do PIB, endividamento menor que o do Brasil de hoje, da ordem de 36% do PIB."
        "O pecado da Irlanda foi uma bolha no mercado imobiliário, financiado por um sistema financeiro com regulação e supervisão inadequadas. Para evitar uma quebradeira, com efeitos potencialmente devastadores sobre a economia, o governo foi obrigado a socorrer os bancos com dinheiro público.  A dívida subiu para 108,2% do PIB em 2011".
          
          Quem me conhece sabe que eu não acredito na ideia de bolha imobiliária no Brasil, mas alguns ajustes irão acontecer e já estão a caminho.   Quanto a socorrer bancos...  A propósito, a razão de eu ter dado destaque à questão da regulação e supervisão inadequadas foi justamente para fazer um contra-ponto.  Aqui no Brasil, felizmente, vemos a atuação rápida que identificou vários rombos em bancos médios nos últimos anos.... Parabéns a nós.  Somos imunes a crises.

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A CRISE EM SAINT OF PAUL OCO

           Óbvio que a crise na superfície não tem nada a ver com a economia de Saint of Paul Oco.  Saint of Paul Oco, diz a lenda, está submersa num mar de merda, que jorrou da política.

            Apesar dos bancos Atchim, da Ursa Maior e o GranAtlantidano, em Saint of Paul Oco a autoridade monetária se vangloria do moderno sistema estatístico que identifica fraudes com uma antecedência de uns 3 anos depois.    A regulação e a supervisão não era problema para eles que contam com modernos sistemas computacionais, assim, incentivar o crescimento do crédito não era preocupação, apesar da inadimplência elevada e crescendo.

            As condições econômicas de Saint of Paul Oco eram tão excelentes, apesar dos problemas dos países da superfícies, que em certa data (por exemplo ontem), aprovaram uma emenda, numa comissão, que acaba com os tetos salariais para os servidores públicos.     Os números fiscais auspiciosos de Saint of Paul Oco mereciam ser comemorados, já que o risco do sistema financeiro era nenhum, isto por que, a maior parte do crescimento do crédito nos anos antes do fim do mundo, foi feito por bancos públicos.  Grande sacada, se quem quebra são os bancos públicos não haverá desgaste com o socorro de bancos privados !

               Outra grande sacada foi fazer aumentos de capitais nos bancos públicos. Afinal, aumento de capital não impacta no déficit público, e para que a dívida líquida do governo não aumente é só não haver inadimplência.

            Lá em Saint of Paul Oco, os fundamentos eram excelentes, tão bons, que o setor público não precisava prover segurança, nem educação, muito menos saúde. Seus cidadãos estavam tão bem, na merda, que podiam se virar sozinhos e ainda lhes sobrava dinheiro para pagarem muitos impostos, sustentando elevados gastos públicos jamais revertidos ao público. É o que lá eles chamavam de PPP (parceria público privada); "a gente arrecada dinheiro público para enfiar na privada".

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Bom dia a todos !









        

quinta-feira, 21 de junho de 2012

COMPETITIVIDADE E IMPOSTOS (E DEPOIS UMA ESTÓRIA SOBRE O REI NU)


                Ontem recebi a apresentação preparada por uma importante gestora.  Um dos gráficos apresentados está abaixo (os dados são da OCDE e da Receita Federal  - elaboração do Gráfico do CSHG).



                Duas coisas, que já foram tema deste blog, são claramente visíveis:
1)                           A carga tributária brasileira não é  tão elevada (31% do PIB x 33% do PIB para a média dos países da OCDE);
2)                           Tributa-se pouco a renda das pessoas físicas e se tributa muito sobre produtos e empresas

As consequências desta política tributária são que a classe média e os pobres acabam arcando, indiretamente, com a maior parte dos custos e de outro lado os “rentistas” pagam muito pouco imposto.  Em relação à competitividade, já que o IR das empresas é maior e os impostos que incidem sobre bens e serviços são maiores, ceteris paribus, os produtos brasileiros são sempre mais caros, mas é óbvio que esta ilação é estúpida, já que a torcida do flamengo sabe que o problema é no câmbio, né?

A profusão de Families Offices é um reflexo desta realidade tributária.  O ex-empresário que, por ventura, vendeu seu negócio não vê razões para investir (no sentido econômico, ie, voltar à atividade produtiva) e prefere montar uma estrutura para administrar suas aplicações no mercado financeiro.  Fique claro que esta é, na maioria das vezes, a melhor decisão, posto que, conforme a estrutura ou ativos que se aplique o imposto tende a zero, ao passo que na atividade produtiva ele arcará com alíquotas de imposto acima de 20%....  Escolha fácil!

Sendo repetitivo: não adianta estabelecer subsídios e benesses setoriais, que além de não resolverem o problema, aumentam distorções.

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A FOTO DO REI NU

Parece que anteontem alguém na multidão decidiu gritar: “O rei está nu!!”

O engraçado é que faz tempo que o rei esta nu.   Afinal, não é de hoje que Maluf, Collor, Sarney e Lula partilham palanques.  Até onde sei, na esfera federal os partidos destes fazem parte ou fizeram parte da base de sustentação do governo.  Qual a surpresa?

Me indigna também a reação da ex-candidata a vice-prefeita que disse: “A aliança com esse quadro político exaurido que está aí é norma mesmo quando não há identidade ideológica” (grifos meus, fonte o ESTADO, pag A4 20/06/2012).  Na capa do mesmo jornal vemos a seguinte observação, que ela “teria dito que o problema não era a coligação em si, mas a forma como ela foi conduzida”.  

O REI NU pode caminhar por aí fudendo todo mundo, desde que  ninguém perceba !

A propósito vale citar um conhecido aforismo:  “Ética é o que você faz quando tem alguém por perto… O que você faz quando não tem ninguém por perto chama-se caráter.

Em tempo:  eu acredito que todos políticos tentam ser éticos, de verdade!

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Carga Tributária e a Política de Subvenções

    No estudo publicado pela Receita Federal "Carga Tributária no Brasil 2010- Análise por Tributos e Bases de Incidência", em setembro de 2011  , algumas informações tornam evidentes os equívocos da politica econômica e a eleição de demônios (taxa de câmbio e banqueiros) responsáveis pela falta de competitividade da indústria brasileira.

     O primeiro fato é que (na tabela na pág. 9 do estudo citado)  podemos contar 31 tributos e taxas,  considerando as rubricas "Outros" e "Demais", como se fossem apenas 1 item, e desconsiderando o FGTS(que de fato não é tributo, nem taxa) e as contribuições dos funcionários públicos (estou considerando por exemplo que "contribuições previdenciárias" públicas ou privadas como apenas 1 item). O sistema "S" é considerado como apenas um item.  Sem estas considerações, tributos, taxas e contribuições seriam mais de 40. Fácil !!

     O outro fato, a partir dos dados do FMI, é que em 2010, o Brasil era o 50o. país com maior carga tributária (de um total de 182), a China ocupava o 150o. lugar.  A carga tributária brasileira, pelos dados do FMI, que divergem ligeiramente dos dados da Receita, estava em 36,631% do Pib.  A da China em 20% do PIB.  A dos EUA em 31,651%.  Enfim, o Brasil tributa muito, embora esteja longe de ser o pior. Quando olhamos para a tabela dos países que tributam mais que o Brasil, 2 tipos de países se destacam: países produtores de petróleo ou com ditaduras ferrenhas ou países com sistemas de seguridade social (aposentadorias, seguro desemprego, etc) com altas garantias.  Logo...

       Um fato que não transparece nas tabelas é o grau de complexidade dos tributos, taxas e contribuições. Por exemplo, o PIS e COFINS tem duas formas de tributação.  A partir da "desoneração" promovida pelo governo contribuições e taxas sobre a folha de pagamentos também passou a ter duas formas (incidentes sobre o faturamento ou sobre a própria folha).  Se alguém já teve curiosidade, ou necessidade, de se pesquisar a regulamentação do IPI ou ICMS deve ter se assustado com as milhares de páginas.

       A forma de tributar, onde vários tributos, taxas e contribuições incidem sobre o faturamento é um dos fatores que mais encarecem o produto brasileiro. São comuns produtos cujos preços finais de venda são compostos por mais de 50% de tributos.  Enquanto isso, a arrecadação de IR (PF's e PJ's) é de apenas 5,81% do PIB.     A pergunta é: num sistema como esse quem paga mais imposto ?   É evidente que o sistema além de ineficiente - por afetar a competitividade da indústria brasileira - também é regressivo, o consumidor paga mais imposto que o rentista, a classe média (a estatística e no velho conceito) paga mais impostos que o rico.  Isto definitivamente não favorece o consumo.

        Apenas para ficar muito claro, o fato de o consumo interno não crescer mais pouco se relaciona com a oferta de crédito, mas muito com a forma que tributamos.

        Em função dos argumentos acima, fico extremamente revoltado quando o governo decide adotar políticas "setoriais" reduzindo tributos sobre alguns produtos e elevando sobre outros.  É o remédio errado, que só aumenta ineficiências.  Melhor seria começar uma reforma tributária "por dentro", sem necessidade de grandes projetos de lei, bastaria começar a se eliminar tributos e taxas para todos, paulatinamente.  Por exemplo a arrecadação do PIS somou R$ 30 bilhões em 2010, se considerarmos que as subvenções recentemente aprovadas somem R$ 3 bi, poder-se-ia alternativamente reduzir em 10% a alíquota desta contribuição para todos. Qual seria a dificuldade de se aprovar uma redução de impostos no Congresso?

            Outro argumento contra políticas de subvenção é que você gera incentivos alocatícios errados.  É como você subisse o imposto das padarias em 200% - com perdão pelo exagero - e reduzisse para 0% a carga sobre restaurantes japoneses.    Nesta situação o seu Manoel, português fera em padarias, se veria compelido a transformar sua padaria em restaurante japonês.  Claro que a "PortugaMakeria" seria ruim.  Grosso modo, é isto que se faz quando você beneficia setores e prejudica outros, você direciona recursos que poderiam ser melhores investidos - em setores que temos vantagens - para setores menos competitivos. Quem paga a conta é a sociedade.




quarta-feira, 13 de junho de 2012

Instituições Financeiras de Saint of Paul Oco


O tema é largo e existem muitas lendas sobre o sistema Financeiro de Saint of Paul Oco.  Já contamos algumas.  Hoje vou contar outra.

                Dizem que lá em Saint of Paul Oco, certo dia, por exemplo, ontem, um dos principais bancos sofreu com a greve de vários de seus funcionários, sem que a notícia ganhasse destaque na imprensa.  Um especialista em lendas de Saint of Paul Oco, diz que as duas coisas estão relacionadas à decadência do país.  De um lado, a imprensa de Saint of Paul Oco que se recusa a aprofundar-se ou divulgar notícias negativas de seus principais anunciantes, contribuindo para alienação do povo de Saint of Paul Oco, que acredita em seus políticos e instituições.  De outro, segundo ele, este grande Banco, o banco da Pedra Coral, que em outros tempos teria se destacado como um dos melhores lugares para se trabalhar, teria passado a adotar um sistema de remuneração que incentiva a irresponsabilidade.

                Vale contar um pouco sobre a lenda da política de Recursos Marinhos, adotada pelo Banco da Pedra Coral.    Dizem que lá, depois de passarem por uma grande fusão, vários de seus executivos foram demitidos e aparentemente quem teria tomado conta de áreas importantes teriam sido os executivos do Banco Desunião.  Não vem ao caso, desta lenda, as razões e motivos desta movimentação.   Mas, dizem, que mais ou menos a partir daí, o banco da Pedra Coral passou a adotar um sistema de “limpeza dos cardumes”.

                Para quem não sabe, cardumes e rebanhos são vítimas de ataques de predadores.  Dizem que os ataques dos predadores melhoram a qualidade dos rebanhos e cardumes, já que são justamente os animais doentes ou lerdos que são capturados, sobrevivendo os mais ágeis e aptos.  O resultado é que os “cardumes” a longo prazo se tornam “ótimos”, pois eles serão formados apenas pelos melhores.  

                Os mais radicais (puta que pariu, sempre tem que ter algum radical!) comparam o sistema de “limpeza de cardumes” ao nazismo.  De novo, não vem ao caso. O que importa na lenda são os efeitos desta política para o Banco da Pedra Coral.   Vamos antes explicá-la um pouco.

                Todos os funcionários do Banco da Pedra Coral são classificados periodicamente em “quintis”, ou seja, são divididos em grupos da seguinte forma: os 20% melhores (que recebem ótimos bônus); os 20% seguintes, que foram bem que recebem bons bônus, os 20% que ficaram na média  recebem bônus medianos, os 20% seguintes, logo abaixo dos médios, recebem um cala boca, e os 20% piores são avisados que se continuarem assim podem ser mandados embora no ano seguinte, afinal o cardume precisa melhorar.

                O pior do problema é que esta classificação entre bons e ruins é feita setorialmente.  Para entender melhor imaginem que a área A, apresentou resultados fantásticos, muito acima de qualquer outra área do banco e das metas determinadas.  Suponhamos que você é o funcionário X, que pertence a área A, e que você também bateu suas metas e teve ótimos resultados, eventualmente acima de qualquer outro funcionário das outras áreas, mas, como você é um tremendo pé-frio, você foi o pior funcionário da área A.  Você será admoestado, por sua incompetência, seu MERDA !

                Como ninguém quer ser um “merda”, coisa que acontece se você estiver entre os piores da sua área, você não tem razão nenhuma para cooperar com seus colegas de área. É cada um por si (eita ambiente bom pra se trabalhar!).  Eventualmente você até torce para seu colega se fuder, é melhor que ele seja o “merda” do que você.  

                Já que o ambiente que você trabalha é ruim, e você corre o risco de ser mandado embora mesmo tendo resultado bons, você tem o incentivo para arriscar o máximo, principalmente por que você odeia seu patrão.  
                Eu não conheço o final desta lenda, mas parece que o Banco da Pedra Coral, que outrora foi o maior banco privado de Saint of Paul Oco, começou a perder espaço e a chafurdar no mar de lama.
          
                O pior, dizem os especialistas em lendas ligadas ao sistema financeiro de Saint of Paul Oco, é que este modelo é semelhante ao que levou os países da superfície às crises da atualidade.  E, infelizmente, sistemas de remuneração que incentivam a irresponsabilidade, teriam acontecido em bancos que operam consignado (lenda já abordada no blog) e em bancos que operam financiamento de veículos, tais como o Banco da Represa.    Segundo estes especialistas, estes modelos, associados a ineficiência regulatória e fiscalizadora do Banco Central de Saint of Paul Oco (apesar de seus avançados modelos estatísticos), teriam levado Saint of Paul Oco a afundar ainda mais na merda.

O MUNDO PERDIDO: ANATOMIA DE UMA CRISE


                Crises econômicas são como o câncer.  A origem e causas da doença na maioria das vezes começaram muitos anos antes da doença ser percebida,   a cura é sempre dolorosa, podendo ser necessária até a extirpação de órgãos.   No diagnóstico do câncer é impossível estabelecer exatamente a data que ele começou, já que sua causa pode remontar ao primeiro cigarro que você fumou e nem se lembra mais.

               Apesar da quase impossibilidade de determinar o início da doença, sua evolução é bastante previsível variando quanto a velocidade que evolui.  A pior coisa que pode acontecer para o paciente é que o câncer se espalhe por outros órgãos.

                As crises econômicas são realmente parecidas com o câncer.   Ainda que analistas tentem identificar seu início, o primeiro cigarro pode ter sido uma decisão de política monetária que ninguém deu importância.  O quanto antes você tratar é melhor, maiores as chances de cura.  Se for necessária a cirurgia imediata, medidas paliativas só agravam o problema.  Retardar o tratamento, tomando analgésicos para controlar a dor, invariavelmente levam à morte.

                A atual crise europeia é o “câncer do momento”.  Sua origem é discutível, alguns a atribuem a um efeito colateral do tratamento da crise do subprime, em 2008.   Parece claro que, para salvar as Instituições Financeiras Globais e o mundo de uma recessão maior, os governos se viram obrigados a aumentarem seus gastos, num momento em que suas receitas caíam criando enormes déficits públicos, tornando seus níveis de endividamento insuportáveis.   Neste sentido, podemos dizer que esta crise das dívidas soberanas é resultado da transferência das dívidas privadas para o setor público.

                Acontece que a própria crise de 2008, foi gerada por uma política monetária e fiscal expansionista americana que ter-se-ia iniciado no governo Bush, em parte para combater os efeitos da crise pós “bolha das ponto com” e dos atentados às Torres Gêmeas, no início deste século.   Analistas mais críticos, identificam o início destas crises muito antes: a partir da chegada de Alan Greenspan ao Fed, em 1987,  quando políticas de desregulamentação financeira começaram a ser tomadas com mais intensidade.

                Difícil dizer. Tal qual um câncer, cuja causa pode remontar a dezenas de abusos alimentares, aos pequenos porres, àquele cigarrinho... não dá para dizer qual foi a causa exata.  Dá para dizer que cada um deles contribuiu um pouco.

                O importante em uma crise é tratá-la rapidamente.  O estudo de suas causas serve apenas para entendermos como nos prevenir no futuro, podemos deixar para depois.

             O diagnóstico desta crise é simples: governos superendividados, bancos em má situação. O principal sintoma é o crescimento econômico reduzido.

 A solução para os Bancos é simples: enfiar dinheiro neles, coisa que o FED (através do “quantitative easing”) e o ECB (através dos LTROS) já o fizeram, embora relutem em fazer mais.     

Independentemente de eu acreditar que muitos executivos de bancos deveriam ser exilados para Etiópia, levando apenas um par de cuecas, não adianta discutir, os bancos precisam ser salvos, com injeção de dinheiro público e garantias aos depositantes.  E já que, os governos estão quebrados, a única maneira de se fazer isto é emitindo moeda. 

Não adianta o povo da Saint of Paul Oco e a pequena sereia esbravejarem contra o tsunami monetário, pois são as águas deste tsunami que podem lavar o mar de merda em que estamos enfiados.

Quanto ao problema do endividamento dos países, a solução é simples. Países à beira da bancarrota tais como a Grécia, precisam ter seus custos de endividamento reduzidos, seja pelo perdão de parte das suas dívidas, seja por algum mecanismo (e.g.  Eurobonds – bônus da comunidade europeia) que reduza a taxa de financiamento.  Embora  medidas de austeridade sejam necessárias à longo prazo, no curto prazo elas devem ser evitadas à todo custo.

Ora, se a solução é tão simples.  Por que ainda não foi feito?  É aqui que o mundo se perde!    O mundo está perdido pela falta de liderança política global.

É o determinismo histórico em ação (vamos colocar um pouco de polêmica no ar).  Depois da Segunda Guerra Mundial, deu-se início a um período de grande prosperidade, cujas exceções foram as crises do petróleo.  Isto aconteceu, em parte, por que graças à guerra fria foram possíveis o Plano Marshall (reconstrução da Europa), o Plano Brady (reestruturação das dívidas externas de países subdesenvolvidos”).  Enfim, EUA e Rússia, Otan e o Pacto de Varsóvia, alinhavam os interesses econômicos aos políticos dos países de tal forma que as soluções lideradas à Oeste pelos EUA e a Leste pela Rússia (que preferia métodos militares aos econômicos), fossem sempre tomadas.

Sem entrar no mérito da “exploração” do FMI, das revoluções militares patrocinadas muitas vezes pelos EUA, na discussão de centro x periferia, a questão é que o apoio econômico  e financeiro entre nações ocorria.   E se ocorriam é por que havia o medo de as “nações” bandearem para o outro lado.

A medida que nos distanciamos de quando caiu o  “muro de Berlim” e a necessidade de “defesa mútua” se desfaz, o egoísmo político domina.  A razão é simples: se eu não preciso do aliado X, para me opor ao outro lado, por que eu vou ajudá-lo?

Concordando ou não com meu raciocínio, o fato é que as nações estão cada vez mais se voltando para dentro, isto é, estão tomando “Johnny Walker com Actívia” para o resto do mundo, entoando a canção “Ema, ema, ema... cada qual com seu problema!”.  

Ontem, por exemplo, ouvi uma certa presidenta comentando “EUR 100 bi não resolvem o problema...” .   Ela estava certa, contudo, não é o papel de uma estadista tripudiar sobre a desgraça alheia.  A ela, e muitos outros indivíduos de primeiro escalão de vários países, parece faltar bom-senso: roupa-suja se lava em casa, na rua sempre dizemos que está tudo bem!

Infelizmente os “mercados” são movidos por expectativas, e grande parte das expectativas são formadas à partir dos discursos dos políticos (o mundo tá perdido mesmo, né?).  É papel de um estadista atuar na melhora das expectativas. Já dizia um certo ex-ministro, que curiosamente caiu por esta frase, “o que é bom a gente conta, o que é ruim a gente esconde”.  Em questões econômicas, devido às malditas expectativas, isto é essencial.

A conclusão deste longo texto é simples: o mundo parece que vai afundar, por causa da falta de solução conjunta, enquanto supostos líderes ao invés de trabalharem pela união, tripudiam sobre a desgraça alheia.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Um Pouco Mais Sobre Câmbio e Competitividade e Saint of Paul Oco

      Ontem vi que as exportações do agronegócio bateram recorde em maio.  Entre os produtos que se destacaram a carne e o açúcar e o álcool.

      Vou me ater apenas ao açúcar e o álcool.  E, para simplificar, já que ambos os produtos são extremamente correlacionados vou me referir a ambos, como se fossem um produto só: o álcool.

            Sabemos que os preços das commodities são formados nos mercados internacionais e que, por razões diversas, seus preços são inversamente correlacionados com a cotação do dólar.  Esta segunda relação será neste texto propositalmente esquecida, então, vamos supor que os preços das commodities estão estáveis nos mercados globais.

             A partir da suposição da estabilidade do preço do álcool no mercado internacional, podemos verificar alguns efeitos importantes da atual política cambial.

             Primeiro, já que o produtor de álcool pode escolher entre vender no mercado interno ou exportar, ele preferirá a opção de maior retorno.  Assim, a medida que o dólar sobe mais produtores preferirão  exportar e, como consequência, haverá menor oferta do produto localmente, elevando seus preços para o consumidor brasileiro, de tal forma que oferta e demanda se equilibrem.   Se os mercados forem perfeitos, a quantidade consumida no Brasil de álcool será menor e a um preço maior.

             Apenas para ficar muito claro: uma alta na taxa de câmbio, ceteris paribus, reduz o consumo e aumenta os preços do álcool e do açúcar no mercado interno.  Tal raciocínio pode ser replicado para qualquer commoditie: arroz, feijão, milho, soja, etc...   Se você que está lendo, está tão feliz quanto eu, você ficará ainda mais feliz agora, que vou contar um pouco sobre Saint of Paul Oco

                 Lá em Saint of Paul Oco a Petropaul  não reajusta os preços - defasados - dos combustíveis devido a ingerência da pequena sereia.  Como o preço do álcool, graças as embarcações flex, é limitado à um percentual do preço da gasolina, já que acima de determinado nível todos os moradores de Saint of Paul  Oco vão preferir abastecer apenas com gasolina, se a demanda externa (dos países da superfície) for grande o suficiente todo o álcool seria exportado.

                É evidente que esta situação limite (todo o álcool de Saint of Paul Oco) não ocorre. Mas, em algum grau acontece, se consumindo menos álcool e mais gasolina.  O usineiro buscará sempre a melhor combinação (isto é aquela que maximiza seu lucro) de produtos que ele deve vender (açúcar ou álcool) e o qual volume será exportado ou será vendido localmente.  Inevitavelmente, o consumidor local sofrerá algum impacto, já que os incentivos são maiores para ele aumentar sua exportação.

                 Devido a redução no consumo do álcool, a Petropaul precisa importar mais gasolina ou petróleo da superfície para abastecer o mercado de Saint of Paul Oco.  Mas, como os preços em Saint of Paul Oco estão defasados o lucro da Petropaul cai.
           
                  Noves fora, Petropaul perde, usineiros ganham.  Foi criado um mecanismo de transferência de renda da Petropaul para os usineiros.

                   Chegamos ao ponto deste texto: diz a lenda que Saint of Paul Oco, chafurdou cada vez mais na  merda devido as políticas discricionárias que reduziam sua competitividade devido as ineficiências alocativas.

                   Se isto acontecesse no Brasil, quem pagaria a conta seríamos NÓS!!!


Pass-through: Câmbio e Inflação


                Há vários trabalhos econométricos que tentam mostrar qual o repasse (pass-through) de uma desvalorização cambial para a inflação.  Estes trabalhos, graças a capacidade de processamento dos microcomputadores, geralmente focam na análise dos dados através de técnicas de regressão.   Sendo assim, os resultados dependem fortemente dos períodos analisados e na metodologia utilizada. 

                Alguns fatos sobre o pass-through são certos:

1º  O nível de repasse depende do nível anterior da taxa de câmbio
A respeito deste aspecto, sabe-se que quanto mais valorizada a taxa de câmbio estiver antes da desvalorização menor será o repasse para a inflação.

2º O nível de repasse depende do “hiato do produto”
Neste caso a relação é mais intuitiva, grosso modo, se a economia está muito aquecida maior será o repasse aos preços da desvalorização cambial, e vice-versa.

3º O nível de repasse depende do “caminho da taxa de câmbio”
Se a taxa de câmbio estava “estacionada” num determinado nível por um longo período de tempo, maior será o repasse.   Analogamente, se a taxa  de câmbio tiver se valorizado recentemente e imediatamente tenha voltado a se desvalorizado o repasse será pequeno.

4º O nível de repasse depende do tempo que perdura a desvalorização
De certa forma, esta observação é estreitamente ligada a anterior.  Se a taxa de câmbio se desvaloriza por curto período de tempo, menor será seu impacto sobre a inflação ou, inversamente, se a taxa de câmbio permanece desvalorizada por longo período de tempo, maior será seu impacto sobre a inflação.


                Embora as observações anteriores sejam relevantes,  eles deixam de abordar questões ainda mais importantes para se entender como  a taxa de câmbio afeta a economia, através dos preços.  Vamos a elas.
                O primeiro impacto da oscilação na taxa de câmbio é direto e se dá através dos produtos dito tradables, isto é, que podem ser comercializados internacionalmente.  O exemplo mais óbvio de produtos tradables são as commodities agrícolas tais como: milho, açúcar, café e soja.  Este grupo, compõe aproximadamente 35% do IPCA.  Então, ceteris paribus, uma desvalorização cambial de 10% causaria um impacto na inflação de no mínimo 3,5%.   Contudo, sabemos que há defasagem, isto é, o repasse não é imediato, portanto, este impacto se diluiria em vários meses (alguns dos trabalhos econométricos estimam que quase a totalidade do impacto ocorre em 9 meses).

                Se no parágrafo anterior dissemos “acima de” é por uma razão simples, mas que é mais fácil de ser explicada com um exemplo:  os combustíveis são tradables (isto é, podem ser comercializados internacionalmente, podendo ser importados ou exportados), mas acontece que a gasolina também é um insumo,  fazendo parte do custo  de muitas mercadorias direta ou indiretamente, já que, pelo menos parcialmente, o transporte é feito por via rodoviária.  Assim, uma alta no preço dos combustíveis, ceteris paribus, aumenta o preço dos outros produtos.

                Dissemos também que o nível de repasse depende do nível de atividade da economia. A razão é simples: suponha que você consome muitos produtos tradables, se o mercado de trabalho estiver muito aquecido, dado que os preços subiram muito, você vai brigar por maiores aumentos salariais e com maior probabilidade vai obtê-los.  Ato contínuo, a indústria para a qual você trabalha, e teve seus custos elevados, vai aumentar seus preços também.

               Enfim, poderia ficar enumerando várias razões pela qual o repasse para inflação seria maior de 35% (o que só seria verdade se todas as condições fossem mantidas constantes). Mas, uma dica que recebi sobre meu blog é não ser prolixo.  Então, vou dar “um corte”, e fazer uma afirmação importante: “O REPASSE DA DESVALORIZAÇÃO CAMBIAL EM GERAL É MENOR DO QUE O ESPERADO POIS OS PREÇOS DAS COMMODITIES (PRINCIPAL PRODUTO QUE EXPORTAMOS CAEM QUANDO O DÓLAR SOBE FRENTE AO REAL”.

                A implicação desta última observação é a seguinte: quando desvalorizamos nossa taxa de câmbio o que fazemos  é uma transferência de renda do consumidor brasileiro que passa a pagar mais para o consumidor estrangeiro que passa a pagar menos.
                SEJAMOS FELIZES !

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Discussões Politicamente Corretas: Falta de bom-senso


            Em pleno século XXI, quaisquer críticas aos movimentos sociais, humanistas e ecológicas parecem vir de pessoas desconexas da realidade.  Além do mais, ser politicamente “incorreto” é quase como grafar um alvo na própria testa, dando a todos o direito de tripudiar sobre sua “ignorância”.  Sei que, portanto, este meu post causará alguma celeuma e muitas críticas, até por que em razão do exíguo espaço não poderei aprofundar as questões que critico.
            O problema dos defensores dos direitos civis e da ecologia não está na preocupação justa e legítima com a liberdade e o desenvolvimento sustentável.  O problema reside na incapacidade de perceber que um mundo com 6,9 bilhões de habitantes certas manifestações são simplesmente estúpidas.  Como sou mal-humorado vamos falar sobre elas.
                A primeira questão é a questão ecológica.  Em tempos de RIO+20, várias discussões a respeito da sustentabilidade tomam conta do noticiário, dando relevância à questão da “pegada ecológica”.   É claro que, quanto menos cada um consumir, menor será o impacto da civilização sobre o meio ambiente.  Contudo, imaginemos que, de repente,  todos passássemos a consumir 20% a menos (coisa extremamente factível)... O que aconteceria com a economia mundial?  Uma retração maior do que 20% no Pib global, já que ocorreria paralelamente um grande aumento no desemprego !  
                Enfim, a discussão ecológica só faz sentido se, antes houver um redesenho econômico. Hoje a economia global é uma economia de consumo, o seu crescimento e a melhora do bem-estar depende do crescimento do consumo, querer reduzi-lo, sem antes resolver problemas distributivos graves é uma grande bobagem.
                A propósito da RIO+20: Não vejo nada mais agressivo ao ambiente do que dezenas de milhares de pessoas se locomovendo pelo globo para discutir o meio ambiente.  Talvez os ambientalistas ainda não saibam, mas atualmente existe tecnologia eficiente para tais encontros não precisem ocorrer pessoalmente!    Também acho engraçado ambientalistas bem vestidos e gordinhos, pois sinalizam o popular discurso “façam o que eu falo, não o que eu faço”.
                Ser ecológico é ser racional. Eu não vejo muita racionalidade na maior parte dos ambientalistas, que em geral são movidos por emoção.  A propósito, eu acho importante a preocupação ecológica, pena que ela seja eivada de inconsistências.  Para quem gostar do debate sério  sobre questões ecológicas sugiro a leitura dos textos de Lester R. Brown (digitando-se o nome em pesquisador na internet encontrar-se-ão vários textos e trabalhos dele).
                A segunda questão é sobre os direitos humanos.  Não existe nada mais estúpido que a defesa e a impunidade de criminosos!   Sempre que vejo um criminoso livre por erros processuais, por descarte de provas em nome dos “direitos civis” vejo uma arbitrariedade e uma agressão à sociedade honesta.  Uma prova forjada deve ser descartada, mas uma prova real ainda que obtida ilegalmente não o pode.  Se a prova foi obtida ilegalmente ela não torna o bandido inocente, apenas origina um novo bandido, assim a primeira pena não pode ser cancelada, mas uma nova deve ser adicionada àquele que extrapolou os limites da lei.
                A punição de quem afronta a sociedade tem de ser extrema e não podemos nos enganar com o ideal de recuperação do criminoso.  Aquele que comete um pequeno furto talvez se recupere, mas um assassino nunca vai se recuperar.  Quem rouba a mão armada repetirá o ato. O direito às visitas (íntimas ou não) é uma afronta àqueles que tiveram seus parentes e amigos para sempre tirados de seu convívio.  
Eu defendo um código penal e de processos simples: roubou, matou. Prisão perpétua, sem direito a contato com exterior e foda-se !!!  Simples assim.  Discussões sobre princípios não cabem num  mundo onde há bilhões de pessoas.  Se uma pessoa a cada mil cometer crime e ficar impune haverá 7 milhões de criminosos potenciais nas ruas.  Isto não é inteligente, nem adequado!

terça-feira, 5 de junho de 2012

O Cambio e o BC de Saint of Paul Oco

    Isso teria acontecido em Saint of Paul Oco há uns 300 anos atras.  Diz-se que era uma tarde chuvosa, embora Saint of Paul Oco estivesse submersa. Após um dia em que os mercados de moedas do fundo do mar terem se comportado razoavelmente bem e o santo (a moeda de Saint of Paul Oco) ter apresentado um desempenho bem ruim.

      No dia seguinte, a situação inversa parecia acontecer, as moedas ao redor do mundo iam mal e a abertura em Saint Paul Oco havia sido calma.  Eis que o BC decidiu vender santos e fez a moeda se valorizar ainda mais.  Dizem que até hoje a população de Saint of Paul Oco não entende os critérios de atuação do BC, nem sabem quem ganha dinheiro com isso.  Abaixo um gráfico de como supostamente o santo haveria se comportado contra uma cesta de moedas naquela época.

Crédito Consignado: Euforia e Falência


Quando olho a arrancada no crescimento econômico brasileiro na era Lula vejo dois fatores que se destacam: elevação dos preços das commodities e crescimento do crédito no Brasil.

Quanto à questão dos preços das commodities, sabemos que eles foram impulsionados de um lado pelo crescimento Chinês e de outro pela política monetária frouxa americana.  Mas, isto não será assunto deste post.   Vamos ao crescimento do crédito.

No Brasil, por diversas razões, o crédito na maior parte do tempo sempre foi muito caro, começando com a taxa básica (selic) que por si só já era elevada.  Complementariamente o spread bancário também era elevado, entre outros fatores, devido as dificuldades de execução das dívidas.  O crédito consignado soluciona o 2º problema, o risco de cobrança, já que as parcelas são debitadas na folha de pagamentos, reduzindo-se significativamente, principalmente no caso de funcionários públicos, aposentados e pensionistas.

Para se ter uma ideia em janeiro de 2004 a taxa média dos empréstimos para crédito pessoal (inclusive consignado) era de 79,06% a.a..  No mesmo mês, a taxa de juros média dos empréstimos consignados era de 41,4%

No gráfico a seguir, vemos a evolução do Saldo Total de Operações de Crédito ao Setor Privado (desde 2001) e do Saldo crédito consignado para trabalhadores públicos (inclusive aposentados e pensionistas) em relação ao PIB. 


Podemos ver que o crédito consignado saiu de aproximadamente 0,5% do PIB para quase 3% do Pib.  Em termos de valores nominais, o crescimento é de R$9 bilhões para R$140 bilhões.  Se fizermos uma conta grotesca, veremos que o crédito consignado aumentou o PIB em aproximadamente 0,2 pp, em média por ano (e.g. apenas para ficar claro: se o crescimento do Pib fosse de 3%, graças ao consignado ele passaria para 3,2%).

Até aqui, contamos a parte legal da estória.  Vamos a parte confusa.  Os Bancos Médios e pequenos foram os primeiros a se aventurarem pela seara do crédito consignado que, além do baixo risco, garantia altos retornos.  Os Bancos grandes ficaram fora do segmento pois, a princípio, não queriam canibalizar seus lucros advindos do cheque especial, onde cobravam taxas acima de 10% a.m.(será?) . 

O problema é que os Bancos pequenos e médios não tem rede de agências, então para produzirem grandes volumes de consignado eles precisavam de correspondentes bancários (em Saint of Paul Oco ocorriam grandes barbaridades, diz a lenda – fato que não ocorreu no brasil,ver abaixo).   Estes correspondentes bancários eram disputados a tapa, e passaram a exigir remunerações cada vez maiores.  Para se ter uma ideia, em determinado momento chegou-se a pagar 30% de comissão para um empréstimo de consignado para aposentados no prazo de 60 meses.  

Estes comissões que eram cobradas a vista e incidiam sobre o valor do empréstimo.  Então, por exemplo, se um aposentado pedia um empréstimo de R$ 1.000,00, o correspondente recebia R$ 300,00, no momento da liberação do empréstimo.  Caramba !!  Mas, pagando tudo isso de comissão ainda era um bom negócio para o Banco?   Seria se a operação fosse até o vencimento, pois o custo da comissão se diluiria pelo período da operação sobrando ainda um lucro para o Banco de 5% a 15% a.a., dependendo da comissão paga.

Além do problema de capilaridade, os Bancos pequenos e médios sofriam de outro problema: funding.  Isto é, faltava-lhes também  a captação de recursos para que eles pudessem crescer o volume de empréstimos.   Foram encontradas duas soluções: FIDC’s e venda de carteiras.  Estas duas soluções tem em comum o mesmo denominador que são as cessões de crédito. Os FIDC’s, geralmente eram vendidos para investidores institucionais e as carteiras eram vendidas para os bancos grandes (ué, os bancos grandes não eram aqueles que não tinham interesse em que esta modalidade crescesse, pois competia com suas próprias linhas de crédito?).

As cessões de crédito resolviam várias problemas numa cajadada só.  

Outro problema que surgia para os Bancos que se aventuravam no crédito consignado era o elevado custo de entrada (marketing, sistemas, contratação de pessoal) que ocorria no início da operação, afora as comissões.   Estes custos lançados no Balanço, gerariam de antemão grandes prejuízos.  Assim, quando vendiam as carteiras, através das cessões de créditos, os Bancos antecipavam seus lucros futuros, cobrindo seus custos iniciais.
 
A título de exemplo, imaginemos que para emprestar R$ 10.000.000 para aposentados em 30 de dezembro, o Banco tenha pago R$ 3.000.000 de comissões e tenha tido de custos de  R$ 2.000.000.  Para facilitar nosso exemplo, vamos supor que no vencimento estes aposentados tivessem de pagar  ao bancos R$ 20.000.000, depois de 12 meses (10 milhões de principal + 10 milhões de juros).  Na contabilidade, no primeiro ano, seriam lançados como despesa R$5 milhões e nada de receitas.   No segundo ano, ele apropriaria os R$ 10 milhões da receita do empréstimo.

Quando o Banco fazia a cessão dos créditos – suponhamos que no mesmo dia da concessão – ele o fazia por uma taxa mais baixa que a taxa dos empréstimos, por exemplo a 25% a.a..  Neste caso, o banco receberia, pela venda dos créditos, R$ 16.000.000,00, apurando um lucro imediato de R$ 1.000.000,00. (valor recebido – valor emprestado – despesas = 16 – 10 – 5).  Esta situação era extremamente vantajosa para o Banco, que ao invés de ter prejuízo no início das operações, conseguia contabilizar ótimos lucros.

Os lucros contabilizados faziam a alegria de todos.  Executivos que tinham excelentes bônus (lembram do subprime americano?),  banqueiros felizes com suas operações, Receita Federal (que recebia impostos).  

Para um Banco, a contabilização de Lucros, que aumenta seu patrimônio líquido reduz seu custo de captação (pela melhora da percepção de seu risco pelo mercado) ao mesmo tempo que lhe permite crescer a carteira de crédito.  Excelente.

Se parasse por aí, seria excelente mesmo.  Mas...

Imagine que você é um correspondente bancário.  Você acabou de convencer o seu Zé, seu vizinho aposentado, a tomar R$ 1000 emprestados do banco XYZ e você, por isso, ganhou R$ 300 de comissão.  No dia seguinte, você convenceu Dna. Maria, sua outra vizinha, também aposentada, a tomar R$ 1000 emprestados, também do Banco XYZ.  Você recebeu mais R$ 300, de comissões.  Você começou a tomar gosto pela coisa, mas passaram-se 3 meses e você não tem mais vizinhos aposentados. Então, você descobre que o banco WZH, também paga comissões de 30% e você sabe que seu Zé e Dna Maria podem pagar antecipado seus empréstimos no Banco XYZ.  Então, você os convence que é uma boa ideia eles pagarem sua dívida no XYZ, tomando R$ 1000, cada um, no banco WZH.  Seu Zé e Dna Maria, ficam felizes, pois pagando o saldo devedor que tinham (vamos supor R$ 800), e pegando o novo empréstimo eles receberiam R$ 200 e continuariam a pagar a mesma prestação.  Enquanto isso, você espertão, ganhou mais R$ 600 de comissões.

A situação neste momento é a seguinte: você recebeu em apenas 3 meses  R$1200 de comissões. E o Banco XYZ, ao invés de ter lucro com a operação, teve um prejuízo de uns R$ 500 em cada operação.  Só que o Banco XYZ, tinha contabilizado um lucro, já que tinha cedido a carteira de crédito de R$ 2000.   Portanto, ele deveria lançar em seu balanço a reversão desta receita.  Se isso acontecesse, o executivo deixaria de ganhar seu bônus e o banqueiro pararia a operação e talvez, até fechasse o banco.

A estória começa a ficar divertida.  Agora o banco, para não apresentar prejuízo ele precisa aumentar sua produção de créditos e as cessões, pois precisa não só cobrir os custos das novas operações como também o prejuízo das primeiras.    Enquanto isso, mais alguns meses se passaram e você já está sentindo saudades de suas comissões.  O Banco XYZ te liga e te suplica para você produzir créditos para ele.  Eis que você tem a excelente ideia,  “vou ligar de novo para o seu Zé e para a Dna Maria e sugerir-lhes pagarem suas operações no banco WZH e tomarem de novo no Banco XYZ”...   A estória se repete e você vai, a cada 3 meses, ganhando comissões de um ou outro banco.

Enquanto isso, no Banco XYZ, os pepinos crescem.  Cada vez mais, o Banco precisa fazer mais cessões para cobrir seus prejuízos. 
--------------------  FIM

A LENDA DOS CONSIGNADOS EM SAINT OF PAUL OCO

Lá na lendária Saint of Paul Oco, aquela terra que teria submergido num mar de merda, também havia créditos consignados.  A estória era muito parecida, apenas no início, com a que acontecia em um país do hemisfério sul.

Só que lá, alguns correspondentes bancários eram amigos de políticos e militares.  Outros eram amigos dos executivos dos bancos.  Assim, em Saint of Paul Oco, muitas vezes as comissões eram muito elevadas. Nem sei por que coloquei esta informação, que é irrelevante para nossa estória.  Mas, vamos lá...

Enfim, como é uma lenda e eu não conheço direito a estória, tudo que sei é que haviam pessoas que realmente ficavam ricas lá em Saint of Paul Oco com este modelo de operação.   Executivos e políticos, ficavam ainda mais felizes, pois contribuíam para o crescimento econômico de Saint of Paul Oco.

O problema é que lá em Saint of Paul Oco, o BC não percebia, embora recebesse o balancete mensalmente de todos os bancos e realizasse auditorias periódicas, que o risco do sistema crescia. E que, alguns bancos, na impossibilidade de crescerem suas carteiras e volume de cessões o suficiente para cobrirem os prejuízos acumulados começaram a adotar métodos pouco ortodoxos de contabilização.  

A coisa mais comum que acontecia, lá em Saint of Paul Oco, é que, como as cessões de crédito para grandes bancos era feita com coobrigação, os bancos menores ao invés de repassar os valores recebidos devido a liquidação antecipada de suas operações, se atinha ao fluxo de caixa original da cessão, liquidando-a em dia, mas como se nenhum evento tivesse ocorrido na carteira.  Assim, aparentemente alguns bancos deixavam de informar àqueles que compraram suas carteiras que alguns créditos já haviam sido liquidados e, que, portanto não existiam mais.

Embora não nevasse em Saint of Paul Oco, a situação era uma bola de neve.  Quanto mais prejuízos precisavam esconder, mais criativos eram os banco pequenos.

Submergidos em merda que estavam, as autoridades de Saint of Paul Oco, decidiram tomar medidas subprudenciais.  Decidiram que o FGM (fundo garantidor marítimo) daria dinheiro – que deveria ser usado como garantia para depósitos – para ajudar os bancos que estavam atolados. Além disso, grandes financistas de Saint of Paul Oco, alguns com mestrados e doutorados em instituições da superfície, elaboraram grandes operações de salvamento, através de avançadas (tão avançadas que um idiota como eu, jamais entenderá) técnicas de estruturação, que basicamente se constituíam de grandes créditos fiscais.  Uma velhinha de Saint Of Paul Oco – favor não confundir com a velhinha de Taubaté – muito chata e ignorante cismou de achar que no final das contas quem pagava a conta era ela, que nunca tinha tomado empréstimo consignado.

Infelizmente, os livros sobre a Lenda de Saint of Paul Oco se perderam e a estória é passada apenas oralmente, se perdendo muitos detalhes e precisão.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

A LENDA DE SAINT OF PAUL OCO


Saint Paulo Oco é um país imaginário.  Esta é uma estória que não passa de um conto de fadas.  Qualquer semelhança com algum país real é mera coincidência.

UMA BREVE ESTÓRIA A GUISA DE INTRODUÇÃO
A terra de Saint of Paul Oco, jamais foi descoberta e diz a lenda que, tal qual Atlantida, ela afundou no mar.  A diferença seria que, enquanto Atlantida estaria sob as águas do mar, Saint of Paul Oco estaria sob um mar de mentiras.
Por estar afundada, Saint of Paul Oco seria uma grande exportadora de commodities marinhas e o maior motivo maior de orgulho de seus habitantes foi ter descoberto que logo abaixo deles haviam grandes reservas de petróleo. 
Até umas 2 décadas atrás, Saint of Paul Oco além de afundada em mentiras, estava também afundada em dívidas.  Eis que o príncipe Namor, assumiu o governo e iniciou uma série de reformas.  Alguns de seus conselheiros foram afogados por que agiam no limite da irresponsabilidade. Para se reeleger, coisa que era proibida, foi preciso molhar a mão de muitos, o que não era difícil já que Saint of Paul Oco ficava debaixo do mar.   Mesmo assim, a situação de Saint of Paul Oco e de seus habitantes, que já desconfiavam que o mar teria virado esgoto e que, portanto, eles estavam mergulhados na merda, não melhorava.
Já cansados de tanta crise, decidiram, após 8 anos, eleger Netuno. Netuno, um rei barbudo, empunhava um tridente e foi candidato pelo partido da Asteroidea.  Quando eleito, embora os indicadores econômicos Saint of Paul Oco estivessem ruins, o cenário global melhorava rapidamente, já que o principal país (a Atlantida do Norte) adotara uma política monetária extremamente expansionista, enquanto certo país do Oriente aumentava fortemente seu consumo de commodities marítimas, o principal produto de Saint of Paul Oco.
Foi um período de imensa alegria, o tsunami monetário, expressão inventada pela Pequena Sereia, principal assessora de Netuno, associado ao grande consumo de commodities marítimas mergulharam o país num mar de dinheiro, embora, os cidadãos mais expertos, percebessem que eles ainda estavam sob um mar de merda.
Para acelerar o crescimento, Netuno teve 2 grandes sacadas.  Primeiro percebeu que 40% da população de Saint of Paul Oco dependia do Estado, seja por que eram funcionários públicos ou aposentados. Assim, ele pensou: se eu criar um “novo tipo empréstimo”, especial para estes, eu consigo deixá-los mais felizes, aumento minha popularidade e aumento o consumo impulsionando a economia (sobre este assunto voltaremos a falar mais a frente).  Segundo, ele descobriu que ajudar a população mais pobre, sem exigir nada em troca, custaria apenas 0,5% do PIB.  Ou seja, gastando apenas 0,5% ele garantia o pão para todo mundo.  Quem não conhece a estória de Saint of Paul Oco pode lembrar-se de Roma e pensar: para o governo se fortalecer não é preciso pão e circo ?  Onde está o circo ?   É que eu esqueci de contar que um dos poderes de Netuno era transformar as pessoas de Saint of Paul Oco em palhaços.
Enfim, o tempo passou e chegamos mais próximos dos dias atuais.  Netuno fez sua sucessora, a Pequena Sereia.   A pequena sereia, não tinha percebido que o tsunami monetário era justamente o que ajudava a diluir o mar de merda em que Saint of Paul Oco estava afundada.  Ela e seu ministro da Guerra, o Sr. Banha, decidiram entrar em guerra contra os países da superfície. 
Assim foi o decreto: 1 santo não poderá comprar mais do que 0,59 dólares (mais ou menos 1,7 santos por dólar) da superfície. E assim criaram uma série de medidas para conter o tal tsunami.
Lá em Saint of Paul Oco a torcida do Flamingo, principal time de polo aquático – esporte favorito dos Saintpauloquences – aplaudiu e ficou feliz com a desvalorização do santo.  E tanto a pequena sereia e seu ministro da guerra fizeram, que agora era preciso 2 santos para comprar um dólar. O pessoal da FIS (federação das indústrias submarinas) também aplaudiu.  Até aí, tudo bem.  A discussão ao redor da taxa de câmbio sempre foi acalorada, por séculos, mesmo em países da superfície.

INTERVENÇÕES DO CENTRAL BANK OF SAINT OF PAUL OCO
                Eis que, enquanto o Ministro da Guerra comemorava com a torcida do Flamingo, a cotação do dólar começou a fugir do controle.  O presidente do BC de Saint of Paul Oco, o Sr. Tromba d’água decidiu intervir no final do dia 18 (ver a seguir um gráfico hipotético, onde consta a cotação do Santo contra uma cesta de moedas).   Embora, a atuação tivesse ocorrido enquanto a festa rolava na piscina da flamingo, era se justificava já que as coisas pareciam sair de controle.

No dia seguinte os Santos se desvalorizaram de novo.  E o BC nada.  Foi um pouco confuso entender, já que de novo a moeda de Saint of Paul Oco parecia sair de controle. No dia 22, o santo abriu praticamente estável em relação a cesta de moedas. Mas, por volta de 11hs e de 12h o BC decidiu atuar.  Ainda no dia 22, no final do dia, a cotação do dólar disparou.  Desta vez, nada de BC.
No dia 23,  a abertura dos mercados globais sinalizava um dia terrível, mas, estranhamente houve algumas vendas no mercado futuro de dólares.  O BC demorou a atuar. Mas,  por volta de meio-dia, anunciou uma carga pesada,  e os Santos voltaram a se valorizar frente a cesta de moedas.  No dia 24, o santo abriu estável em relação a cesta de moedas, mas por via das dúvidas o BC voltou a vender.  No dia 25, apesar de certa calmaria e do santo estar estável contra a cesta de moedas o BC atuou de novo.  Derrubando ainda mais a cotação dos dólares da Atlantida do Norte.
O difícil de entender nestas atuações é  como conciliar a festa da torcida do flamingo, os desejos do ministro da guerra e os objetivos da BC de Saint of Paul Oco, que segundo o Sr. Tromba d’agua seria preservar o bom funcionamento dos mercados.  Um especialista em lendas  de Saint of Paul Oco, lembra-se que na época de Namor, houve um presidente de Saint of Paul Oco, que defendia bandas cambiais e que para preservá-las entendia que ele deveria impingir prejuízos àqueles que operavam contra o santo. Enfim, diz este especialista em folclore, se o objetivo era causar prejuízos e como contrapartida, alguns terem lucros, o BC de Saint of Paul Oco foi perfeito.
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Dizem os folcloristas que certo dia um banco de Saint of Paul Oco, o banco da Ursa Maior, sofreu intervenção.  Teria sido ele o terceiro banco envolvido naquela modalidade de empréstimo que se tornara popular durante o governo de Netuno que teria apresentado problemas. Os outros dois, o Atchim e GranAtlantidano, foram salvos e adquiridos por outros bancos, graças a benefícios fiscais e aos recursos do FGM (fundo garantidor marítimo).   Nestes casos, ao contrário do que houve no mercado cambial, onde o BC de Saint of Paul Oco e o ministro da Guerra demonstraram grandes preocupações e agiram sempre rapidamente, parece que houve certo desleixo, já que os problemas nestes bancos parecem remontar à era netuniana.  Mas, este pessoal dos contos da carochinha adoram inventar coisas que na realidade nunca acontecem.
A propósito destes empréstimos da era netuniana amanhã contaremos mais.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

ECONOMIA E POLÍTICA: A CRISE REAL


        Nós, economistas, somos tentados a nos ater aos dados e estatísticas econômicas,  e com base nelas e nas políticas econômicas projetar a catástrofe que se avizinha.  Verificar os dados de desemprego, déficits públicos e crescimento medíocre, principalmente dos países periféricos na Zona do Euro, face as medidas econômicas que tem sido tomadas, deixam pouca margem à esperança: um novo mergulho vem aí!

       Normalmente, ante o desenho de uma crise profunda, cuja origem quase sempre remete aos anos de euforia, os governos adotam fortes medidas de socorro.  Os mais ortodoxos reagem vociferando contra o moral hazard, afinal, a certeza do socorro é o que alimenta a imprudência dos agentes econômicos.  Do outro lado, economistas e analistas ligados principalmente aos mercados financeiros aplaudem as medidas salvadoras, afinal, seus empregos serão salvos às custas da sociedade.   Se de um lado, a salvação é execrável, e neste sentido os ortodoxos estão corretos, de outro é necessária. 

       Evidente que o “moral hazard” se perpetua. As crises e pacotes de salvação se sucedem.  Assim, é natural que atualmente se discutam medidas fortes de prevenção as crises, tais como a "Volcker Rule", Basiléia III, etc...  É de se estranhar, contudo, que o debate sobre medidas de penalização  daqueles que cometem os excessos e estão ou estavam no epicentro gestacional das crises fique em segundo plano.  Bônus gigantes continuam sendo pagos, operadores, CFO’s, CEO’s de instituições falidas continuam ricos e se enriquecendo, enquanto no lado de baixo, o desemprego cresce, cidadãos perdem suas casas...

       O objetivo deste texto não é o debate filosófico sobre culpas e perdões.  O objetivo é olhar para a crise – ou a segunda pernada da mesma crise – que se avizinha.  O ponto focal deste texto é mostrar porque esta crise pode acontecer.

        Do ponto de vista da conjuntura econômica os problemas são claros e já foram citados: desemprego  e dívidas públicas elevadas, bancos com baixa solvência e baixo ou negativo crescimento econômico.  Embora, estas condições estejam mais em evidência na Zona do Euro, em parte ela acontece em vários países com algumas nuances diferentes. 

        Do ponto de vista da teoria e da história econômica sabemos que a adoção de ajustes fiscais em meio a recessão só a aprofunda. Logo, ajustes fiscais não são a solução. Contudo, parece legítima a ideia que os países da periferia do Euro, mantendo os atuais níveis de déficits públicos caminham para a total insolvência, devido às expectativas dos agentes.  Daí surge o debate entre economistas, uns sugerindo o ajuste fiscal já, supondo que isto melhoraria às expectativas dos agentes levando-os a voltarem a investir, e de outro lado, economistas sugerindo que nada seja feito no lado fiscal e que sejam dados mais incentivos monetários.     O meio caminho, que parece mais razoável, está na ideia da sinalização.  Os governos adotam e divulgam planos críveis de redução dos déficits que ocorreriam apenas daqui a alguns anos, garantindo suporte para a demanda no curto prazo, enquanto os Bancos Centrais continuam provendo liquidez aos mercados. Parece simples.  Mas, as tais expectativas são “geniosas” e difíceis de serem domadas.  Como consequência, o custo de financiamento dos déficits públicos são crescentes tornando praticamente impossível a redução dos níveis de endividamento dos países da periferia do Euro. A solução seria garantir-lhes o financiamento barato de suas dívidas.  Em alguns casos, a renegociação das dívidas, parece inevitável.  

       Em síntese, a solução para o problema exige que nenhum ajuste fiscal seja feito imediatamente, que os Bancos Centrais garantam liquidez aos mercados e que sejam criados mecanismos importantes de redução dos custos das dívidas.  O problema verdadeiro começa aqui: esta solução exige coordenação dos países.
Algumas lições das crises das décadas de 1980 e 1990 ficaram claras,  a principal é que o quanto antes e quanto maior o volume do pacote de ajuda, menor e mais rápida seria a crise e suas consequências.  O protelamento da ajuda ou o minimalismo eram pecados capitais,  que simplesmente levavam ao agravamento e ao aumento do custo de salvamento.

          Vamos nos ater a Zona do Euro que está no epicentro da crise. 

       A Europa abusa do minimalismo e da protelação. O custo ficou enorme.  Em geral, uma regra econômica é sempre aplicada: uma instituição ou país sempre será salvo se o custo de salvá-los for menor do que o custo de deixá-los quebrar.  Até pouco tempo atrás, eu tinha convicção que o custo de salvar a periferia do Euro era menor do que o custo de deixar o Euro desintegrar. Hoje, esta minha convicção diminuiu, e a cada volta que a Terra dá ao redor do Sol, o custo de salvar aumenta.  Então, a chance de salvar a economia global de uma nova recessão está na capacidade de articulação rápida dos governos.

       O novo problema é que os governos estão fracos. Fracos politicamente, sofrem de falta de apoio. Mas, principalmente, estão fracos de liderança.  Em meio a todo noticiário catastrófico uma das coisas que mais me assustou foi uma notícia aparentemente boba sobre uma gafe de Angela Merckel, a chanceler alemã: “ Primeira-ministra da Alemanha derrapa na geografia e diz que Berlim fica na Rússia. Alunos de escola caíram na gargalhada.” ( http://migre.me/9hAj7 ) .  Assusta pensar que o destino da Europa está nas mãos de uma pessoa incapaz de encontrar em um Mapa a cidade sede de seu próprio governo...

        Assusta-me pensar que muitos economistas se preocupem com o “tsunami monetário”, cujas águas são necessárias para ajudar na limpeza da sujeira do passado.  Assustam-me líderes de vários países acharem que estão “em guerra econômica”.  Assusta-me perceber que os presidentes da maioria dos países não percebam os custos da inação.   Assustam-me os economistas que aproveitam a situação para um debate ideológico inútil.

         A crise econômica é importante.  Mas o que vai torná-la pior, fazê-la acontecer, é a crise política.  As vezes, me pergunto se as bestas do apocalipse já estão trabalhando, dominando o mundo.  Assusta-me pensar que uma destas bestas pode estar aqui, no Brasil.