No Brasil o debate sobre a
inflação já foi mais intenso. Depois
do Plano Real e principalmente após a
implantação do Regime de Metas para Inflação parecia que finalmente o monstro
estava sendo domado e, por isso, fugiu dos holofotes da mídia econômica.
Infelizmente, o 2º ano do novo
governo vai chegando ao fim e constata-se que inflação parece ter ganho um novo
patamar entre 5,5% a.a. e 6%. A média da
inflação destes dois anos, medida pelo IPCA, ficará perto de 6%. Isso é ruim?
O objetivo deste post é trazer,
no dia da divulgação do novo Relatório de Inflação pelo Banco Central (este
texto foi escrito antes de eu ler o relatório – são 7:15hs da manhã), uma luz na
discussão sobre o tema.
Embora economistas divirjam na
forma e intensidade como os fatores afetam a inflação, algumas relações são
indiscutíveis:
a) A
inflação depende do Hiato do Produto e da velocidade de crescimento da
economia;
b) A
inflação, salários e taxa de desemprego estão interligados;
c) A
taxa de câmbio e atividade externa afetam a inflação;
d) A
inflação depende das expectativas dos agentes econômicos;
e) O
nível de indexação afeta a inflação;
f) A
taxa de inflação tem uma relação inversa com as taxas de juros reais;
Quanto ao “Hiato
do Produto” a discussão é complexa. Primeiro a questão de como calcular o tal
hiato, que, grosso modo, é o quanto o produto efetivo está distante, acima ou abaixo,
do produto potencial.
Para ficar
mais claro, vamos lançar mão de um exemplo simples (ainda que com algumas
falhas de rigor teórico). Imaginemos que
na economia há só uma fábrica e que durante o horário normal de funcionamento
ela consegue produzir 10 unidades. Estas 10 unidades são o produto potencial,
isto é, o quanto em situação normal a economia consegue produzir. Se supusermos que em determinado momento a demanda é de apenas
8 unidades (logo a fábrica produzirá só 8 unidades = produto efetivo) é fácil
imaginar que pode haver uma queda nos preços, já que a fábrica gostaria de
vender 10 unidades. Por outro lado, se
imaginarmos que a demanda seja de 11 unidades, a fábrica precisará pagar horas
extras, para produzir acima da sua capacidade normal, logo haverá uma tendência
de aumento de preços.
O problema é
determinar qual é o verdadeiro produto potencial de uma economia (serão 10, 12
ou 9 unidades?). Para isso, economistas
usam métodos matemáticos (econométricos) para tentar determiná-lo, e óbvio, que
estes métodos estão sujeitos a grandes erros. Mas, no caso Brasileiro, que é o
que importa, aparentemente o produto efetivo está abaixo do seu potencial e,
portanto, a inflação deveria cair...
Apesar de
alguns indicadores – marcadamente a produção industrial – levarem a crer que o
produto está abaixo do seu potencial o que pesa mais é a segunda relação:
inflação, salários e desemprego.
Economistas intelectualizados, neste momento trariam a baila a curva de
Phillips, Lei de Okun, NAIRU e de novo, um monte de cálculos
econométricos. Nós não precisamos
complicar. É fácil imaginar que quando o
desemprego está baixo, os sindicatos conseguem negociar aumentos maiores de
salários. Também é claro que, quando há
falta de mão de obra os salários sobem.
Salários são parte fundamental dos custos das empresas e, portanto, dos
preços. No caso atual do Brasil é claro
que a situação é essa, o que pode ser visto no crescimento da massa salarial
real.
Enfim, apesar
da produção industrial abaixo das expectativas, há pressões sobre os preços
advindos de gargalos no mercado de trabalho.
Voltando ao exemplo de nossa economia de uma fábrica só, é como se a
fábrica fosse capaz de produzir 10 unidades, mas só houvesse mão de obra para
produzir 7. Inflação 1 X 0!
A relação taxa
de câmbio e inflação tem uma linha direta em uma economia aberta (apenas para
deixar claro a economia brasileira não é muito aberta) através dos preços dos
bens tradeables (comercializáveis). Os
bens tradeables são aqueles que podem facilmente ser importados ou exportados
e seus preços são fixados pelo mercado global.
Então, se o dólar sobe, já que o preço do trigo é fixado internacionalmente
em dólares, o preço do trigo no mercado interno sobe. O mesmo acontece com o açúcar,
a soja, o milho, o arroz, o feijão, etc... Outro canal de contágio é o de
insumos. Por exemplo, grande parte dos componentes dos automóveis produzidos no
Brasil são importados, portanto, uma alta no dólar aumenta os custos de
produção, pressionando igualmente os preços.
Como contraponto à taxa de câmbio, a influência externa também se dá
pelo nível de atividade da economia mundial.
Se a economia mundial está mais aquecida há uma tendência de alta nos
preços, principalmente das commodities, que se refletem no mercado interno. Em situações normais, no Brasil que é um
grande produtor de commodities, a taxa de câmbio age no sentido inverso, assim, quando os preços
de commodites sobem, normalmente a taxa de câmbio cairia. Por escolha de política econômica, isto não
acontece mais. Inflação 2 X 0!
As expectativas
também afetam a inflação. Se todo mundo acredita que a inflação ficará ao redor
de 4,5% há uma tendência de nas negociações, orçamentos, etc... dos agentes se
balizarem nesta ideia gerando uma convergência para este patamar. Quando as expectativas dos agentes começa a
subir, digamos para 5,5%, o mais provável é que a inflação convirja para este
novo patamar. Inflação 3 x 0!
A indexação de
preços também atua no sentido de se criar um patamar para inflação. Quanto mais indexada for a economia, mais
provável será que a inflação do ano seguinte será maior ou igual a do ano
interior. O Brasil ainda tem sua
economia com alto nível de indexação, o que torna a inflação mais resiliente,
ou difícil de cair. Então, quando a
inflação se acelera por estas bandas é mais difícil ela voltar para seu patamar
anterior. Inflação 4 x 0 !
O papel da
política monetária, executada principalmente através da fixação das taxas de juros,
é tentar controlar a inflação. A relação
juros e inflação se dá por vários canais.
O mais óbvio – sem recorrer ao excesso de teoria econômica que nos faria
dar muitas voltas para chegar a este resultado – é que quanto maiores as taxas
de juros, menor a demanda. Menor demanda
= preços mais baixos. Se as taxas de
juros são próximas de zero (e não houver armadilha de liquidez), as pessoas
tendem a buscar ativos reais e a consumir mais, pressionando os preços. Inflação 5 X 0 !
Até agora
vimos que a inflação está dando uma goleada na economia. As perguntas são o que o governo tem feito
para segurá-la e por que apesar do patamar mais alto a inflação ainda não saiu
de controle?
A inflação
ainda não saiu de controle graças a “desgraça” da economia mundial, cujo
crescimento em 2013, será novamente pífio, o que segurou os preços de grande
parte das commodities. Ufa! Inflação 5 x 1 !
A principal
ferramenta de controle da inflação utilizada pelo governo tem sido o
intervencionismo em suas mais diversas formas.
Congelamento dos preços de combustíveis, afetando o resultado de certas
empresas, renegociação de concessões do setor elétrico tentando reduzir os
preços da energia na porrada, desonerações setoriais de impostos, etc. O que de mal tem nisso? Simples, a longo prazo o crescimento
potencial da economia é reduzido, pelos desincentivo aos investimentos (ver
meus posts passados) e por reduzir a produtividade da economia. Enfim, com estas políticas pode-se conter a
inflação no curto prazo, mas no longo prazo possivelmente a pressão
inflacionária aumentará.
A propósito,
as expectativas inflacionária e mesmo a inflação corrente voltaram a subir. Há uma descrença razoável quanto à
queda nos preços da energia ano que vem, fruto dos gargalos e do uso intenso de
energia termelétrica. É possível que a
alardeada queda de 20% no preço da energia (na geração hidrelétrica) se reflita
numa queda menor de 5% para o consumidor se houver. Há analistas que creem que não haverá queda
nenhuma. Para piorar, geralmente em anos
subsequentes às eleições municipais, geralmente ocorrem aumento nas tarifas de
ônibus, que puxarão a taxa de inflação (a prefeitura do Rio já anunciou seu
aumento e a assembleia legislativa de SP, por exemplo, já aprovou uma redução
no subsídio às tarifas para o orçamento de 2013, o que implica que as tarifas
vão subir).
Embora eu não
acredite, há a possibilidade de aumento de gasolina no começo de 2013,
também.
Estas
expetativas com a inflação já se refletem na taxa da NTN_B de 2013, que ontem
era ofertada com taxa de -0,10% (isso mesmo: MENOS 0,10). Ou seja, o mercado já trabalha com juros
reais – antes do IR – negativos !
É para se
preocupar, embora haja quem acredite que a inflação vai convergir de forma não
linear para a meta!
que bom, ano novo, tudo velho!
ResponderExcluirprecisamos arrumar um novo jeito de crescer, um novo pensamento, uma nova maneira de viver, porque esta meu caro economista já não serve mais.
Até quando vão tentar as mesmas coisas, as mesmas fórmualas ultrapassadas, velhas, desgastas com o tempo. Será que ainda não entenderam que o tempo corroi tudo, que precisamos ter coisas novas, novas adaptações, novas fontes, novas pessoas, novas coragem, novos conceitos. O tempo é de mudança, mudança com consciência. Novos tempos requerem novos reforços, novos pensamentos!
Vampire
Sidão, excelente!!!
ResponderExcluirVocê me deixou realmente preocupado. rsrs
Abraço,
Cazé