quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Alguns Fatos Sobre a Inflação e a Política Econômica



     No Brasil o debate sobre a inflação já foi mais intenso.   Depois do  Plano Real e principalmente após a implantação do Regime de Metas para Inflação parecia que finalmente o monstro estava sendo domado e, por isso, fugiu dos holofotes da mídia econômica.

    Infelizmente, o 2º ano do novo governo vai chegando ao fim e constata-se que inflação parece ter ganho um novo patamar entre 5,5% a.a. e 6%.  A média da inflação destes dois anos, medida pelo IPCA, ficará perto de 6%.  Isso é ruim?

    O objetivo deste post é trazer, no dia da divulgação do novo Relatório de Inflação pelo Banco Central (este texto foi escrito antes de eu ler o relatório – são 7:15hs da manhã), uma luz na discussão sobre o tema.
Embora economistas divirjam na forma e intensidade como os fatores afetam a inflação, algumas relações são indiscutíveis:

            a)      A inflação depende do Hiato do Produto e da velocidade de crescimento da economia;
            b)      A inflação, salários e taxa de desemprego estão interligados;
            c)       A taxa de câmbio e atividade externa afetam a inflação;
            d)      A inflação depende das expectativas dos agentes econômicos;
            e)      O nível de indexação afeta a inflação;
            f)       A taxa de inflação tem uma relação inversa com as taxas de juros reais;

Quanto ao “Hiato do Produto” a discussão é complexa. Primeiro a questão de como calcular o tal hiato, que, grosso modo, é o quanto o produto efetivo está distante, acima ou abaixo, do produto potencial. 

Para ficar mais claro, vamos lançar mão de um exemplo simples (ainda que com algumas falhas de rigor teórico).  Imaginemos que na economia há só uma fábrica e que durante o horário normal de funcionamento ela consegue produzir 10 unidades. Estas 10 unidades são o produto potencial, isto é, o quanto em situação normal a economia consegue produzir.  Se supusermos que  em determinado momento a demanda é de apenas 8 unidades (logo a fábrica produzirá só 8 unidades = produto efetivo) é fácil imaginar que pode haver uma queda nos preços, já que a fábrica gostaria de vender 10 unidades.  Por outro lado, se imaginarmos que a demanda seja de 11 unidades, a fábrica precisará pagar horas extras, para produzir acima da sua capacidade normal, logo haverá uma tendência de aumento de preços. 

O problema é determinar qual é o verdadeiro produto potencial de uma economia (serão 10, 12 ou 9 unidades?).  Para isso, economistas usam métodos matemáticos (econométricos) para tentar determiná-lo, e óbvio, que estes métodos estão sujeitos a grandes erros. Mas, no caso Brasileiro, que é o que importa, aparentemente o produto efetivo está abaixo do seu potencial e, portanto, a inflação deveria cair...

Apesar de alguns indicadores – marcadamente a produção industrial – levarem a crer que o produto está abaixo do seu potencial o que pesa mais é a segunda relação: inflação, salários e desemprego.   Economistas intelectualizados, neste momento trariam a baila a curva de Phillips, Lei de Okun, NAIRU e de novo, um monte de cálculos econométricos.  Nós não precisamos complicar.  É fácil imaginar que quando o desemprego está baixo, os sindicatos conseguem negociar aumentos maiores de salários.  Também é claro que, quando há falta de mão de obra os salários sobem.   Salários são parte fundamental dos custos das empresas e, portanto, dos preços.  No caso atual do Brasil é claro que a situação é essa, o que pode ser visto no crescimento da massa salarial real.

Enfim, apesar da produção industrial abaixo das expectativas, há pressões sobre os preços advindos de gargalos no mercado de trabalho.  Voltando ao exemplo de nossa economia de uma fábrica só, é como se a fábrica fosse capaz de produzir 10 unidades, mas só houvesse mão de obra para produzir 7.         Inflação 1 X 0!

A relação taxa de câmbio e inflação tem uma linha direta em uma economia aberta (apenas para deixar claro a economia brasileira não é muito aberta) através dos preços dos bens tradeables (comercializáveis).  Os bens tradeables são aqueles que podem facilmente ser importados ou exportados e seus preços são fixados pelo mercado global.  Então, se o dólar sobe, já que o preço do trigo é fixado internacionalmente em dólares, o preço do trigo no mercado interno sobe. O mesmo acontece com o açúcar, a soja, o milho, o arroz, o feijão, etc... Outro canal de contágio é o de insumos. Por exemplo, grande parte dos componentes dos automóveis produzidos no Brasil são importados, portanto, uma alta no dólar aumenta os custos de produção, pressionando igualmente os preços.    Como contraponto à taxa de câmbio, a influência externa também se dá pelo nível de atividade da economia mundial.  Se a economia mundial está mais aquecida há uma tendência de alta nos preços, principalmente das commodities, que se refletem no mercado interno.  Em situações normais, no Brasil que é um grande produtor de commodities, a taxa de câmbio age  no sentido inverso, assim, quando os preços de commodites sobem, normalmente a taxa de câmbio cairia.  Por escolha de política econômica, isto não acontece mais.   Inflação 2 X 0!

As expectativas também afetam a inflação. Se todo mundo acredita que a inflação ficará ao redor de 4,5% há uma tendência de nas negociações, orçamentos, etc... dos agentes se balizarem nesta ideia gerando uma convergência para este patamar.  Quando as expectativas dos agentes começa a subir, digamos para 5,5%, o mais provável é que a inflação convirja para este novo patamar.    Inflação 3 x 0!

A indexação de preços também atua no sentido de se criar um patamar para inflação.  Quanto mais indexada for a economia, mais provável será que a inflação do ano seguinte será maior ou igual a do ano interior.  O Brasil ainda tem sua economia com alto nível de indexação, o que torna a inflação mais resiliente, ou difícil de cair.  Então, quando a inflação se acelera por estas bandas é mais difícil ela voltar para seu patamar anterior.  Inflação 4 x 0 !

O papel da política monetária, executada principalmente através da fixação das taxas de juros, é tentar controlar a inflação.  A relação juros e inflação se dá por vários canais.  O mais óbvio – sem recorrer ao excesso de teoria econômica que nos faria dar muitas voltas para chegar a este resultado – é que quanto maiores as taxas de juros, menor a demanda.  Menor demanda = preços mais baixos.    Se as taxas de juros são próximas de zero (e não houver armadilha de liquidez), as pessoas tendem a buscar ativos reais e a consumir mais, pressionando os preços.   Inflação 5 X 0 !

Até agora vimos que a inflação está dando uma goleada na economia.  As perguntas são o que o governo tem feito para segurá-la e por que apesar do patamar mais alto a inflação ainda não saiu de controle?

A inflação ainda não saiu de controle graças a “desgraça” da economia mundial, cujo crescimento em 2013, será novamente pífio, o que segurou os preços de grande parte das commodities.  Ufa!   Inflação 5 x 1 !

A principal ferramenta de controle da inflação utilizada pelo governo tem sido o intervencionismo em suas mais diversas formas.   Congelamento dos preços de combustíveis, afetando o resultado de certas empresas, renegociação de concessões do setor elétrico tentando reduzir os preços da energia na porrada, desonerações setoriais de impostos, etc.  O que de mal tem nisso?  Simples, a longo prazo o crescimento potencial da economia é reduzido, pelos desincentivo aos investimentos (ver meus posts passados) e por reduzir a produtividade da economia.  Enfim, com estas políticas pode-se conter a inflação no curto prazo, mas no longo prazo possivelmente a pressão inflacionária aumentará.

A propósito, as expectativas inflacionária e mesmo a inflação corrente voltaram  a subir. Há uma descrença razoável quanto à queda nos preços da energia ano que vem, fruto dos gargalos e do uso intenso de energia termelétrica.  É possível que a alardeada queda de 20% no preço da energia (na geração hidrelétrica) se reflita numa queda menor de 5% para o consumidor se houver.  Há analistas que creem que não haverá queda nenhuma.  Para piorar, geralmente em anos subsequentes às eleições municipais, geralmente ocorrem aumento nas tarifas de ônibus, que puxarão a taxa de inflação (a prefeitura do Rio já anunciou seu aumento e a assembleia legislativa de SP, por exemplo, já aprovou uma redução no subsídio às tarifas para o orçamento de 2013, o que implica que as tarifas vão subir). 

Embora eu não acredite, há a possibilidade de aumento de gasolina no começo de 2013, também. 

Estas expetativas com a inflação já se refletem na taxa da NTN_B de 2013, que ontem era ofertada com taxa de -0,10% (isso mesmo: MENOS 0,10).  Ou seja, o mercado já trabalha com juros reais – antes do IR – negativos !

É para se preocupar, embora haja quem acredite que a inflação vai convergir de forma não linear para a meta!

2 comentários:

  1. que bom, ano novo, tudo velho!
    precisamos arrumar um novo jeito de crescer, um novo pensamento, uma nova maneira de viver, porque esta meu caro economista já não serve mais.
    Até quando vão tentar as mesmas coisas, as mesmas fórmualas ultrapassadas, velhas, desgastas com o tempo. Será que ainda não entenderam que o tempo corroi tudo, que precisamos ter coisas novas, novas adaptações, novas fontes, novas pessoas, novas coragem, novos conceitos. O tempo é de mudança, mudança com consciência. Novos tempos requerem novos reforços, novos pensamentos!
    Vampire

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  2. Sidão, excelente!!!
    Você me deixou realmente preocupado. rsrs
    Abraço,
    Cazé

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