sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

A CORTE DE SAINT OF PAUL OCO



A lendária Saint of Paul Oco teria um regime político inovador, difícil de se descrever. Embora presidencialista, ela era administrada como uma monarquia provincial. Os três poderes viviam harmonicamente em conflito.  Como assim? Os três poderes fingiam se digladiar, para a plebe imaginar que existia fiscalização, enquanto os mesmos se perpetuavam no poder.

O Presidencialismo Monárquico Provincial é uma espécie de “feudalismo colonial”, que em muitos aspectos remetem a idade média.  Lá ainda se discutia a posse de terras entre índios e colonos, se discutia o desmatamento mas não se acabava com o usucapião, que permitia aos “capitães hereditários” se apossarem da terra.  Os conflitos pela terra tinham a participação da igreja (muitas vezes com interesses econômicos), duques e lordes pertencentes a famílias de longa linhagem política, bárbaros e nativos.  A plebe coitada, que vivia sob a lei ficava alijada desta briga, geralmente morando em periferias abandonadas pelo poder público.

A corte de Saint of Paul Oco, segundo documentos achados, cuja veracidade ainda não foi confirmada, em seus últimos tempos era comandada por uma Rainha. Daí  surgem algumas dúvidas sobre a veracidade, pois a descrição da Rainha parece muito com aquela de um conto de Lewis Carrol.  Enfim, a Rainha teria herdado o trono diretamente de Netuno – o DEUS REI desonipresente (afinal ele nunca estava lá e nem sabia de nada).  

O judiciário era comandado pelo chapeleiro maluco que era endeusado pela plebe que acreditava quase cegamente nele. O chapeleiro maluco fazia do judiciário uma extensão do seu humor.  A lei era um detalhe para ser interpretada conforme sua conveniência. Dizia ele que o “sistema judiciário de Saint of Paul Oco não poderia ser “laughable”, mas, parecia não entender que risível era o indulto de natal dado a presos que poderiam piorar ainda mais a violência na principal cidade de Saint of Paul Oco.  Risível é ele definir uma pena não prevista na lei.  Risível é ele criticar um colega por atrasar o julgamento e em seguida suspender a sessão para ir ao velório de um artista da corte. Que risível era o sistema carcerário, onde presos tinha acesso a sistemas de vídeo conferência, televisão, festas, etc...  Risível era a centena de milhares de processos por julgar ...

Por falar em artista, dizem que em Saint of Paul Oco morrera um grande arquiteto, que houvera projetado Oquisília, a capital de Saint of Paul Oco, cujo mapa parecia um submarino, o que servia para lembrar a todos que um dia aquelas terras afundariam na lama, o que de fato, aconteceu.   Mesmo neste aspecto Saint of Paul Oco, lembrava a idade média aqui das terras emersas: quando haviam de fato grandes artistas, que contratados pela realeza e pela elite produziram obras maravilhosas – outras terríveis – que custaram altas somas, enquanto o povo não tinha comida, nem casa para morar.  Óbvio que o artista não tinha culpa por isso, mas era ridículo.  Os sarais de música clássica que deliciavam os nobres serviam para encobrir o som das lamúrias do povo.

Falando do funeral deste artista de Saint of Paul Oco, a Rainha decidiu emprestar o Barco 51 para buscar o corpo que estava longe da capital, para poder vela-lo em sua maior obra. O Barco 51 que custou milhões aos cofres, foi, buscou e depois levou o corpo de volta para a terra onde o nobre artista viveu a maior parte de sua vida.  Quanto aos “camudongos’ como eram conhecidos os milhares (ao redor de 60 mil) trabalhadores que suaram e trabalharam arduamente para construir Oquisília, quando morriam mal tinham direito à uma vala comum e um caixão de  papelão. Afinal, eles serviam apenas para isso, para construir, depois podiam ser esquecidos.

Me faz lembrar uma música clássica da MPB (mas que fique muito claro Saint of Paul Oco não tem nada a ver com o Brasil e em nada se assemelham):

Tá vendo aquele edifício moço?
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição
Eram quatro condução
Duas pra ir, duas pra voltar
Hoje depois dele pronto
Olho pra cima e fico tonto
Mas me chega um cidadão
E me diz desconfiado, tu tá aí admirado
Ou tá querendo roubar?
Meu domingo tá perdido
Vou pra casa entristecido
Dá vontade de beber
E pra aumentar o meu tédio
Eu nem posso olhar pro prédio
Que eu ajudei a fazer
Tá vendo aquele colégio moço?
Eu também trabalhei lá
Lá eu quase me arrebento
Pus a massa fiz cimento
Ajudei a rebocar
Minha filha inocente
Vem pra mim toda contente
Pai vou me matricular
Mas me diz um cidadão
Criança de pé no chão
Aqui não pode estudar
Esta dor doeu mais forte
Por que que eu deixei o norte
Eu me pus a me dizer
Lá a seca castigava mas o pouco que eu plantava
Tinha direito a comer
Tá vendo aquela igreja moço?
Onde o padre diz amém
Pus o sino e o badalo
Enchi minha mão de calo
Lá eu trabalhei também
Lá sim valeu a pena
Tem quermesse, tem novena
E o padre me deixa entrar
Foi lá que cristo me disse
Rapaz deixe de tolice
Não se deixe amedrontar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asas
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asas
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar’
Resta dizer que sonho com a lição que esta fábula mal contada por mim seja aprendida.
Artistas não são melhores, nem piores que o povo, que o mendigo que sem esperança morreu de fome esquecido na esquina.  Podemos admirá-los, odiá-los, tanto faz. Podemos achar a obra deles boa ou ruim, também não importa.  Mas, num mundo de recursos escassos, de pessoas passando fome, de trabalhadores que caminham quilômetros para chegar num emprego mal remunerado, o culto aos mortos é uma ofensa !!

2 comentários:

  1. Concordo Sidão!! Na época dos Faraóis tbm, escravos morriam para construir túmulos grandiosos. Bom dia!

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  2. O cara so pensava na estetica e nao na praticidade e funcionalidade. Terrivel ouvir uma pessoa dizer que era como um pai para ela? coisa louca isto. Povo idiota! Já foi mneu bem. vida que segue. Meninos jovens, que nem sabem quem foi o cara. Minutos de fama, hipócritas!
    Arte, sim arte. mas sem aplicabilidade. E quem paga tudo isto meu caro colega. Nos reles mortais, mas como diz outra musica: aqui embaixo as leis são diferentes, eu sou do povo, eu sou um zé ningué.
    Vampire, vulgo zé ninguém

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