quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Preço da Energia, Competitividade e Investimentos



Hoje, logo cedo, como sempre, abro o jornal. A notícia em destaque é que o setor público vai adotar medidas análogas ao do setor elétrico para reduzir o preço do gás. Fico com vontade de rir.  Penso se estudar economia não imbeciliza.  Digo isso, principalmente por que eu sou economista e estou me sentindo um imbecil.

Certo fez meu irmão, que estudou história, se não a esquecêssemos não cometeríamos tantos e erros e perceberíamos a incongruência em certas políticas e no tratamento as empresas.  Vejamos o caso do setor elétrico, a apenas alguns anos, o governo brasileiro negociou um aumento no preço da energia elétrica de Itaipu, comprada do Paraguai. Esqueceram-se que por muitos anos compramos esta mesma energia, as vezes sem termos uso para ela, por preços acima do justo para remunerar nosso “parceiro”. Mas, isso é história e já nos esquecemos.  Agora, punimos empresas nacionais dizendo que elas já foram suficientemente remuneradas pelos seus investimentos e, portanto, devem cobrar menos pela energia.  Dá para entender?

A questão do gás é similar.  Renegociamos preços com a Bolívia de seu gás, e agora, talvez, venhamos a punir o produtor nacional. Tsc, tsc, tsc...

Infelizmente, eu estudei economia. Então, voltemos aos aspectos meramente econômicos. 

Tem uma Lei de Mercado – inquestionável – que diz que o preço de um produto no mercado em equilíbrio deve ser igual ao custo marginal de se produzir mais uma unidade.  Traduzindo, se para produzir 1 Megawatt a mais custar R$ 200, o preço da energia deve ser de R$ 200.  Por que isso?   Por duas razões.  A primeira, sob a qual se baseia parte das medidas, é que o empresário tenta maximizar seus lucros, então, independentemente do seu custo (que por exemplo pode ser de R$ 100) ele vai vender seu produto a R$ 200, pois sabe que até este preço não haverá aumento da oferta. Porcos Capitalistas!  A segunda razão, a que o governo parece não perceber, é consequência da primeira: se o custo de se produzir mais energia é de 200, e o preço de mercado for de 100, ninguém vai investir para produzir mais, poiscada unidade adicional de energia produzida vai gerar uma perda de 100 !   E, assim, não há investimentos.....

            Então, reduções no preço da energia, que preservem o retorno dos novos investimentos, através da redução de impostos e encargos são benéficos.  Canetadas, não !

            Se pensarmos no petróleo, aquele produto líquido negro que seríamos autossuficientes na produção e que importamos um montão, vemos que a política de preços é prejudicial.   A autossuficiência não foi atingida por várias razões, mas, uma delas é que a queda no retorno da principal empresa reduz o ritmo de investimentos. 

Enfim, a relação preço de energia e investimentos é uma questão de escolha: podemos ter preços baixos e menos investimentos ou preços de mercado e mais investimentos.

Tenho um amigo ecomarxista, ao qual simpaticamente apelidamos de Nikita – mas vale dizer que é um economista de rara inteligência – que, quando discutimos este assunto sempre me lembra de outro aspecto do preço da energia: suas externalidades.  Economistas chamam de externalidade as consequências econômicas indiretas de um ato.  Por exemplo, quando se desmata uma floresta para produzir soja, há consequências, as vezes não óbvias, deste desmatamento, tais como o aquecimento global.   Em síntese, o preço de um produto deve refletir não só as condições econômicas diretas (equilíbrio oferta x demanda) mas também as consequências que o consumo e ou a produção daquele bem pode trazer à sociedade.

Para ficar clara a questão da externalidade, vamos à mais um exemplo: o cigarro.  Suponha que o preço de um maço de cigarro – já embutido o lucro econômico da empresa produtora - seja de R$ 0,50. Ao preço de R$ 0,50 possivelmente mais pessoas fumariam.  Empresas produtoras de cigarro e fumantes estariam felizes.  Entretanto, com mais gente fumando, o número de doentes aumenta, criando a necessidade de mais hospitais e médicos, gerando um custo para a sociedade. Então, neste caso, a intervenção do governo é bem vinda.  O governo cria tributos de tal forma que o número de fumantes se reduza e a receita adicional seja capaz de cobrir seus os gastos com saúde.

De volta à questão energética.  A energia é um bem escasso, cuja produção adicional enseja grandes impactos ambientais.  Então, o raciocínio de Nikita – meu amigo ecomarxista – é que o preço da energia tem de se alto o suficiente para desincentivar o  consumo ineficiente e o desperdício.

Já diria o Bardo, “há mais entre o céu e a terra do que pode sonhar nossa vã filosofia...”. O preço da energia precisa ser suficientemente alto para viabilizar investimentos e reduzir desperdícios e ao mesmo tempo precisa ser suficientemente baixo para não impactar o custo e a competitividade das outras indústrias.   Atingir o ponto ótimo não é fácil.  Fácil é dizer que uma ou uma dúzia de medidas provisórias não resolvem a questão, principalmente se usadas como bandeiras ideológicas ou partidárias.

Para mim, que me julgo um liberal, eu acho que a melhor opção é agir apenas na redução dos custos fiscais da energia e principalmente para energia destinada à indústria, pois, a melhor forma de se atrair e criar investimentos é deixar o mercado se ajustar.



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