quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Trade-offs da Política Econômica



Apenas poucas coisas são consensos absolutos entre economistas, que em geral adoram o debate.   Uma destas coisas é que os recursos são escassos e as necessidades infinitas.   Em outras palavras, o cobertor é curto.  Não dá para cobrir o corpo inteiro.  Se cobrir os pés, as costas ficam descobertas e vice-versa...

Dada a escassez de recursos e os desejos infindáveis todos nós  somos forçados a fazer escolhas, assim como  o governo.  Escolher um objetivo sempre significará sacrificar outros.  Não dá para desvalorizar o câmbio, baixar os juros e gastar mais simultaneamente sem que a inflação aumente.   

Não bastasse o cobertor curto a adoção de medidas gera consequências. O que me faz lembrar outro consenso entre os economistas: “There is no free lunch!”  Normalmente as consequências da política econômica são percebidas nos preços, no consumo e no investimento.

Quando alguém do tesouro nacional diz que haverá em 2013, R$ 85 bilhões em desonerações, pensando na ideia de cobertor curto, isto implica que alguns estão sendo beneficiados as custas de outros.  Então, de certa forma, é como dizer que comer carne é melhor do que ter uma mecânica, ou que produzir IPADS é melhor que aumentar o número de vagas em faculdades... É apenas uma questão de escolha.

O problema é que ao fazer escolhas há consequências ou trade-offs.  Poderia voltar ao exaustivo caso dos preços de energia elétrica. Quando se decide baixar estes preços, a consequência imediata é um aumento no consumo e uma redução dos incentivos para se investir no setor.  Poderia citar o caso do preço da gasolina.  Quando se decide mantê-lo baixo, também se incentiva um maior consumo, que provoca mais importação e que diminui o resultado das empresas produtoras.

Quando se decide desonerar a folha de pagamentos de um setor ao invés de outro, você sinaliza preferência.

Há um trade-off implícito da intervenção que é a conturbação do sistema alocativo.

Além das discussões apaixonada entre  capitalistas e socialistas, parece claro que a falência do segundo se deu pela dificuldade crescente do planejamento econômico e pela ausência do mecanismo de mercado na alocação dos recursos.  A vantagem do livre mercado é permissão das pessoas escolherem o que querem consumir ou produzir, e o resultado destas escolhas é visto nos preços das mercadorias determinados pela oferta e demanda.

Vale um pequeno aposto, com o objetivo de manifestar que não sou um “capitalista ferrenho”, citando 2 livros interessantes novamente: Salvando o Capitalismo dos Capitalistas e  A Sociedade Afluente.  Que são dois livros que abordam de maneira inteligente os defeitos do capitalismo e merecem ser lidos.

Os preços, no livre mercado, sinalizam as vontades dos consumidores vis-a-vis os recursos escassos.  Um exemplo de produtos substitutos pode ser bem ilustrativo do funcionamento dos mecanismos de preços.  

Eu, por exemplo, gosto mais de manteiga do que de margarina.  Mesmo assim, quando vou ao mercado vejo o preço dos dois produtos. Se a manteiga custar R$ 3,00 e a margarina R$ 2,50, eu compro a manteiga que eu prefiro. Contudo, se por alguma razão o preço da manteiga subir para R$ 5 e o da margarina ficar estável, eu vou comprar margarina.  Quando faço isso, reduzo a demanda de manteiga, diminuindo a pressão sobre o preço. Por outro lado, o eventual aumento na lucratividade do produtor da manteiga, atrairá novos investidores que vão ofertar mais produtos.  Então é provável que em algum momento futuro, o preço da manteiga, dada a ação de produtores e consumidores volte a cair um pouco.  Enfim, produtores e consumidores vão provocar um ajuste natural no mercado, que resultará em novas quantidades e preços negociados no mercado de manteiga e da margarina, que possivelmente, também terá um pequeno aumento em seus preços.

Agora, imaginem que, por alguma razão, algum ache que a R$ 5 a manteiga é muito cara e por esta razão decidem dar um subsídio aos 2 maiores produtores de manteiga, para que ela continue sendo vendida a R$ 3.  Neste caso, eu continuaria comprando manteiga, e, portanto, não haveria um ajuste na demanda.  Por outro lado, outros investidores que não receberam o mesmo benefício, não vão produzir mais manteiga...  Além disso, o produtor de margarina, que poderia ser beneficiado pelo aumento da demanda em seu produto deixou de sê-lo.  A consequência é que a quantidade consumida de manteiga e margarina será diferente nesta situação.  O engraçado desta situação é que os trade-offs ou consequências não são claramente percebidos pelos consumidores, já que eles não sabem como seria o mercado sem intervenção. A sensação do consumidor é que ele foi beneficiado, pois é assim que ele se sente.

Entretanto, um trade-off claro desta política é uma redução nos investimentos, não um aumento.  Assim, haverão no futuro menos empregos e menor crescimento.  Posto assim, talvez fique mais fácil de entender o que tem acontecido no PIB brasileiro.

No caso Brasileiro dá-se para tomar a liberdade de adjetivar as intervenções como excessivas, comparando o total de desonerações previstas face ao superávit nominal deste ano: é quase o mesmo valor!   Há uma outra consequência nisto, fatal para os investidores, que é a perda de referências, o que, no mínimo, dificulta o planejamento.

O conselho que eu venderia (afinal não existe nada de graça) é que ao invés de se fazer desonerações pontuais o governo podia iniciar um processo de desarme do que aparentemente fazia parte da herança maldita, que é começar a reduzir o número de tributos e alíquotas para todos.  Por exemplo, com apenas uma parte dos R$ 85 bi, poder-se-ia extinguir o PIS, beneficiando a todas empresas.  Poderiam ainda reduzir a alíquota da  COFINS. A sinalização seria a oposta a que está sendo dada agora.

Se é uma meta do Governo reduzir custo dos empréstimos, por que não zerar a alíquota de IOF para as empresas?

O simples é melhor que o complicado !!

Quando se complica e se administra de forma voluntarista fica fácil entender por que as coisas não andam. No caso do Brasil é fácil entender o IBOVESPA patinando muito longe de suas máximas históricas !

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