Antes de
começar o texto, acho justo alertar que Saint of Paul Oco é um país fictício e
que quaisquer semelhanças com eventos que ocorram em algum país real é mera
coincidência!
Em algum
momento, num logínguo século, possivelmente ao redor de 1400 ou 1500, quando as
práticas mercantilistas estavam em voga, os conselheiros do Rei em Saint of
Paul Oco perceberam que o país deles estava sendo alvo de uma guerra cambial,
cujo objetivo maior era destruir a indústria do país. Naquela
época a taxa de câmbio era ao redor de P$ 1,60 (1,60 pauls por dólar).
E ninguém questionou muito, pois quase todos concordavam que aquela taxa
de câmbio estava exagerada. Os pauls estavam mais firmes do que deviam.
Foi então que
o Conselheiro Bufão decidiu contra-atacar e disparou sua metralhadora contra os
especuladores. E, como os tiros eram disparados à esmo, algumas balas perdidas
ricochetearam contra o próprio sistema produtivo. De qualquer forma, ainda que fossem
questionáveis alguns dos tiros disparados, em parte se caminhava para um
equilíbrio mais saudável.
Aos agentes
dos “mercados”, investidores, empresários e especuladores a grande pergunta
era: Qual a taxa de câmbio desejada pelo conselheiro Bufão, que às gargalhadas,
além de tiros, disparava anátemas em direção dos agentes de mercado e da mídia?
Ninguém tinha
certeza. Analistas mais atentos
percebiam que, embora uma posição mais ofensiva na guerra cambial fosse
razoável, a política de desvalorização cambial era inútil sem o acompanhamento
de uma política monetária ativa (que evitaria a elevação da inflação, que por
si só anularia o efeito da desvalorização) e de uma política fiscal também
contracionista ( que ajudaria na contenção da inflação, com menor custo
monetário, e reduziria a absorção doméstica ).
Enfim o
Conselheiro Bufão e a equipe do Banco Central de Saint of Paul Oco estavam
fechados com a Rainha e decidiram continuar baixando os juros, pois assim
reduziriam o déficit nominal do setor público, diminuiriam a atração de capitais
especulativos que para lá iam se aproveitar dos juros elevados, criando um novo
equilíbrio mágico com câmbio desvalorizado, crescimento forte e nenhuma
inflação. Afinal, Saint of Paul Oco,
além de uma terra lendária, também era uma terra de faz-de-conta !
Faltava-lhes
entender a inconsistência do conjunto de medidas. Lá eles não conseguiam entender muito a
diferença entre real e nominal e entre o que era real e o que era
faz-de-conta...
Voltemos
às taxas de câmbio de Saint of Paul Oco, cujos registros foram encontrados em
um esgoto, por historiadores que acreditam que o tal esgoto vem direto de Saint
of Paul Oco, que como vocês sabem teria chafurdado na M... há séculos
atrás. Os registros mostram que os agentes
econômicos acompanhavam as medidas do BC de St of Paul Oco em busca de
sinalizações sobre qual a taxa de câmbio desejada.
Haviam sinais
de mudança de regime cambial, de flutuante para “bandas móveis”. Mas, ninguém sabia ao certo qual seria esta
banda. Mas, como dito, os agentes no mercado
tentam observar qual o nível de taxa de câmbio, para tomarem decisões, a partir
das sinalizações do BC e do conselheiro Bufão.
Assim foi... A
taxa de câmbio foi subindo de P$ 1,60 (1,60 pauls por dólar) para, 1,80, depois
1,90 e finalmente ultrapassaram os 2 pauls por dólar. A preocupação dos agentes com a inflação
começou a crescer, pois uma desvalorização cambial desta monta,
simultaneamente ao relaxamento cambial e à expansão dos gastos públicos, era
inconsistente. Mas, aos agentes e à mídia não cabia reclamar mas tentar
entender as sinalizações.
Por volta de
agosto de xx12 (o século deixamos em aberto pois registros encontrados estavam
rasurados, provavelmente era ao redor de 1400 ou 1500), o dólar já custava
mais de 2 pauls, e o BC e o Conselheiro da Rainha haviam parado de atuar, então
a taxa de câmbio começou a cair. Em 12
de setembro daquele distante ano, quando a taxa de câmbio ameaçou romper a
barreira de 2 pauls para baixo o BC fez um leilão de swap, “comprando dólar” e
contendo a valorização cambial. Parecia
certo: embora não pudesse se dizer de que forma alguma haveria mais
valorização, a sinalização era de a taxa de câmbio deveria ficar acima de 2
pauls.
Por alguns
dias, já que a taxa de câmbio não subia, o BC continuou a fazer swaps e a rolar
sua posição comprada. Parecia
inequívoco, a taxa de câmbio desejada era acima de 2 pauls.
Como parecia
uma certeza, os agentes passaram a se planejar, baseados na nova realidade. Empresas investiram, algumas montaram equipes
para exportar... A inflação começou a
subir, mas isto era culpa das pessoas que continuavam a comer apesar da safra
ruim no hemisfério norte. O conselheiro
bufão, chegou a pensar em decretar uma dieta compulsória para reduzir o consumo
de grãos e segurar a inflação... Foi
quando o Lobo Mal, de nosso país de faz-de-conta, outro conselheiro da Rainha
deu a ideia: vamos baixar o preço da energia elétrica, assim, além de
melhorarmos a competitividade, vamos também baixar a inflação. A rainha decretou três dias de festa, por
conta desta maravilhosa ideia, apesar dos baixos investimentos no setor
elétrico e na certa escassez de oferta de energia...
A taxa de
câmbio continuou a subir e chegou a bater 2,10 pauls por dólar. Foi quando o BC
decidiu vender um pouco os dólares que havia comprado. Os agentes pensaram entender o recado, o
câmbio de “conforto” era entre 2 e 2,10 pauls.
Mas, aí a
surpresa !! O BC que comprara três meses
antes o dólar a 2,01, 2,02 pauls, e vendera ao redor de 2,10, 2,07 - e por isso se vangloriavam de sua mega
hyper máster esperteza – e que conseguira que a taxa de câmbio momentaneamente
se estabilizasse ao redor de P$ 2,03 – P$ 2,04, decidiu “rolar” suas vendas,
sinalizando aos estúpidos agentes que pensavam que tinham entendido a política
cambial, que a taxa de câmbio ainda não havia caído suficientemente... Recado
dado, recado entendido: a taxa de câmbio em Saint of Paul Oco caiu abaixo de 2
pauls !!!
Os
historiadores ainda estão analisando os registros encontrados e não sabemos ao
certo como a estória do câmbio em Saint of Paul Oco acabou. Mas, até onde eles
puderam apurar, naquela época, as empresas que pensavam em começar a exportar,
começaram também a rever seu planejamento...
Não bastasse a
confusão no câmbio, a confusão da política econômica já havia se espalhado em
relação as políticas monetária e fiscal.
Quanto a política monetária, já havia ficado claro que o enredo da ópera
bufona ignorava os instrumentos clássicos (taxas de juros e compulsórios) dando
ênfase a administração de preços.
Historiadores mais experientes, mas que ainda não tinham conseguido
descobrir evidências sobre o que aconteceria posteriormente em Saint of Paul
Oco, lembravam que histórias similares em países da superfície acabaram muito
mal.
Em relação à
política fiscal, embora os resultados reais não fossem ruins, o que assustava a
todos era a falta de clareza. Todo o tipo de artifício para torná-los mais
atraentes foi utilizado para cumprir com as metas almejadas. O Jeca Tatu, personagem de um importante
escritor brasileiro, e que parece ter passado por Saint of Paul Oco, em sua
simplicidade sagaz perguntava a si mesmo: não era mais fácil simplesmente dizer
a verdade !!
O consenso
entre os estudiosos das lendas de Saint of Paul Oco e de economistas que
desenvolveram teses a partir delas diz que o maior problema era a perda de
credibilidade. Além dos aforismos óbvios do tipo credibilidade é difícil
conquistar, fácil de perder, impossível recuperar, o problema da credibilidade
relacionada à política econômica era muito mais simples: quanto menor a
credibilidade maior o esforço necessário da política econômica.
A questão da
credibilidade funciona mais ou menos como no caso de um pai e um filho. Quando
o filho entende claramente a educação que recebe e acredita no seu pai, um
simples olhar basta para que ele pare de fazer arte. Quando o pai não tem moral, não adianta
esbravejar e gritar que o moleque não para. Por fim o pai agride o filho que
pára, mas fica achando que o pai é um fdp
e fica a espera do pai sair da sala para voltar a se comportar mal. Na política econômica, se por exemplo o
Banco Central goza de credibilidade, assim como no Brasil (né?), para controlar
as expectativas inflacionárias é necessário apenas uma pequena ação. Num país onde o BC não goza de credibilidade
para conter as expectativas ele possivelmente terá de realizar grandes
movimentos nas taxas de juros...
Imaginem o que
aconteceu em Saint of Paul Oco ....
Sensacional, Sidão!!!
ResponderExcluirLuisinho