terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O Cãmbio, os Juros e a Política Econômica em Saint of Paul Oco



Antes de começar o texto, acho justo alertar que Saint of Paul Oco é um país fictício e que quaisquer semelhanças com eventos que ocorram em algum país real é mera coincidência!

Em algum momento, num logínguo século, possivelmente ao redor de 1400 ou 1500, quando as práticas mercantilistas estavam em voga, os conselheiros do Rei em Saint of Paul Oco perceberam que o país deles estava sendo alvo de uma guerra cambial, cujo objetivo maior era destruir a indústria do país.   Naquela época a taxa de câmbio era ao redor de P$ 1,60 (1,60 pauls  por dólar).  E ninguém questionou muito, pois quase todos concordavam que aquela taxa de câmbio estava exagerada. Os pauls estavam mais firmes do que deviam.

Foi então que o Conselheiro Bufão decidiu contra-atacar e disparou sua metralhadora contra os especuladores. E, como os tiros eram disparados à esmo, algumas balas perdidas ricochetearam contra o próprio sistema produtivo.  De qualquer forma, ainda que fossem questionáveis alguns dos tiros disparados, em parte se caminhava para um equilíbrio mais saudável.

Aos agentes dos “mercados”, investidores, empresários e especuladores a grande pergunta era: Qual a taxa de câmbio desejada pelo conselheiro Bufão, que às gargalhadas, além de tiros, disparava anátemas em direção dos agentes de mercado e da mídia?

Ninguém tinha certeza.  Analistas mais atentos percebiam que, embora uma posição mais ofensiva na guerra cambial fosse razoável, a política de desvalorização cambial era inútil sem o acompanhamento de uma política monetária ativa (que evitaria a elevação da inflação, que por si só anularia o efeito da desvalorização) e de uma política fiscal também contracionista ( que ajudaria na contenção da inflação, com menor custo monetário, e reduziria a absorção doméstica ).

Enfim o Conselheiro Bufão e a equipe do Banco Central de Saint of Paul Oco estavam fechados com a Rainha e decidiram continuar baixando os juros, pois assim reduziriam o déficit nominal do setor público, diminuiriam a atração de capitais especulativos que para lá iam se aproveitar dos juros elevados, criando um novo equilíbrio mágico com câmbio desvalorizado, crescimento forte e nenhuma inflação.  Afinal, Saint of Paul Oco, além de uma terra lendária, também era uma terra de faz-de-conta !

Faltava-lhes entender a inconsistência do conjunto de medidas.  Lá eles não conseguiam entender muito a diferença entre real e nominal e entre o que era real e o que era faz-de-conta...

Voltemos às taxas de câmbio de Saint of Paul Oco, cujos registros foram encontrados em um esgoto, por historiadores que acreditam que o tal esgoto vem direto de Saint of Paul Oco, que como vocês sabem teria chafurdado na M... há séculos atrás.  Os registros mostram que os agentes econômicos acompanhavam as medidas do BC de St of Paul Oco em busca de sinalizações sobre qual a taxa de câmbio desejada.

Haviam sinais de mudança de regime cambial, de flutuante para “bandas móveis”.   Mas, ninguém sabia ao certo qual seria esta banda.  Mas, como dito, os agentes no mercado tentam observar qual o nível de taxa de câmbio, para tomarem decisões, a partir das sinalizações do BC e do conselheiro Bufão.

Assim foi... A taxa de câmbio foi subindo de P$ 1,60 (1,60 pauls por dólar) para, 1,80, depois 1,90 e finalmente ultrapassaram os 2 pauls por dólar.  A preocupação dos agentes com a inflação começou a crescer, pois uma desvalorização cambial desta monta, simultaneamente ao relaxamento cambial e à expansão dos gastos públicos, era inconsistente. Mas, aos agentes e à mídia não cabia reclamar mas tentar entender as sinalizações.

Por volta de agosto de xx12 (o século deixamos em aberto pois registros encontrados estavam rasurados, provavelmente era ao redor de 1400 ou 1500), o dólar já custava mais de 2 pauls, e o BC e o Conselheiro da Rainha haviam parado de atuar, então a taxa de câmbio começou a cair.  Em 12 de setembro daquele distante ano, quando a taxa de câmbio ameaçou romper a barreira de 2 pauls para baixo o BC fez um leilão de swap, “comprando dólar” e contendo a valorização cambial.  Parecia certo: embora não pudesse se dizer de que forma alguma haveria mais valorização, a sinalização era de a taxa de câmbio deveria ficar acima de 2 pauls.

Por alguns dias, já que a taxa de câmbio não subia, o BC continuou a fazer swaps e a rolar sua posição comprada.  Parecia inequívoco, a taxa de câmbio desejada era acima de 2 pauls.

Como parecia uma certeza, os agentes passaram a se planejar, baseados na nova realidade.  Empresas investiram, algumas montaram equipes para exportar...  A inflação começou a subir, mas isto era culpa das pessoas que continuavam a comer apesar da safra ruim no hemisfério norte.  O conselheiro bufão, chegou a pensar em decretar uma dieta compulsória para reduzir o consumo de grãos e segurar a inflação...  Foi quando o Lobo Mal, de nosso país de faz-de-conta, outro conselheiro da Rainha deu a ideia: vamos baixar o preço da energia elétrica, assim, além de melhorarmos a competitividade, vamos também baixar a inflação.   A rainha decretou três dias de festa, por conta desta maravilhosa ideia, apesar dos baixos investimentos no setor elétrico e na certa escassez de oferta de energia...

A taxa de câmbio continuou a subir e chegou a bater 2,10 pauls por dólar. Foi quando o BC decidiu vender um pouco os dólares que havia comprado.  Os agentes pensaram entender o recado, o câmbio de “conforto” era entre 2 e 2,10 pauls.

Mas, aí a surpresa !!  O BC que comprara três meses antes o dólar a 2,01, 2,02 pauls, e vendera ao redor de 2,10, 2,07  - e por isso se vangloriavam de sua mega hyper máster esperteza – e que conseguira que a taxa de câmbio momentaneamente se estabilizasse ao redor de P$ 2,03 – P$ 2,04, decidiu “rolar” suas vendas, sinalizando aos estúpidos agentes que pensavam que tinham entendido a política cambial, que a taxa de câmbio ainda não havia caído suficientemente... Recado dado, recado entendido: a taxa de câmbio em Saint of Paul Oco caiu abaixo de 2 pauls !!!

Os historiadores ainda estão analisando os registros encontrados e não sabemos ao certo como a estória do câmbio em Saint of Paul Oco acabou. Mas, até onde eles puderam apurar, naquela época, as empresas que pensavam em começar a exportar, começaram também a rever seu planejamento...

Não bastasse a confusão no câmbio, a confusão da política econômica já havia se espalhado em relação as políticas monetária e fiscal.  Quanto a política monetária, já havia ficado claro que o enredo da ópera bufona ignorava os instrumentos clássicos (taxas de juros e compulsórios) dando ênfase a administração de preços.  Historiadores mais experientes, mas que ainda não tinham conseguido descobrir evidências sobre o que aconteceria posteriormente em Saint of Paul Oco, lembravam que histórias similares em países da superfície acabaram muito mal.

Em relação à política fiscal, embora os resultados reais não fossem ruins, o que assustava a todos era a falta de clareza. Todo o tipo de artifício para torná-los mais atraentes foi utilizado para cumprir com as metas almejadas.  O Jeca Tatu, personagem de um importante escritor brasileiro, e que parece ter passado por Saint of Paul Oco, em sua simplicidade sagaz perguntava a si mesmo: não era mais fácil simplesmente dizer a verdade !!

O consenso entre os estudiosos das lendas de Saint of Paul Oco e de economistas que desenvolveram teses a partir delas diz que o maior problema era a perda de credibilidade. Além dos aforismos óbvios do tipo credibilidade é difícil conquistar, fácil de perder, impossível recuperar, o problema da credibilidade relacionada à política econômica era muito mais simples: quanto menor a credibilidade maior o esforço necessário da política econômica.

A questão da credibilidade funciona mais ou menos como no caso de um pai e um filho. Quando o filho entende claramente a educação que recebe e acredita no seu pai, um simples olhar basta para que ele pare de fazer arte.  Quando o pai não tem moral, não adianta esbravejar e gritar que o moleque não para. Por fim o pai agride o filho que pára, mas fica achando que o pai é um fdp  e fica a espera do pai sair da sala para voltar a se comportar mal.     Na política econômica, se por exemplo o Banco Central goza de credibilidade, assim como no Brasil (né?), para controlar as expectativas inflacionárias é necessário apenas uma pequena ação.  Num país onde o BC não goza de credibilidade para conter as expectativas ele possivelmente terá de realizar grandes movimentos nas taxas de juros...

Imaginem o que aconteceu em Saint of Paul Oco ....

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