terça-feira, 24 de julho de 2012

O ANUÁRIO DE SAINT OF PAUL OCO


              Lá em Saint of Paul Oco havia uma tradição secular: ao final de todos os anos os políticos sentavam-se em uma roda, colocavam ao centro tudo que roubaram durante o ano e dividiam entre si.  Os critérios da divisão não são muito claros, ainda que alguns sejam óbvios. Ganha mais quem sabe mais, ganha mais quem teve mais votos e acima de tudo, ganha mais quem conseguir ludibriar mais.

                Esta tradição, em Saint of Paul Oco, começou há muitos séculos, talvez na época dos Corais Hereditários.  De qualquer forma, sua origem não importa.  O que importa são os contornos atuais, segundo os especialistas em lendas das terras submersas.

                O primeiro fato relevante é que para o sistema funcionar é necessária a ausência de ideologia. Então fica claro que, ninguém será capaz de diferenciar um partido do outro, exceto pelas cores e símbolos das suas bandeiras.   A segunda condição é que os meandros da justiça sejam confusos e complexos suficientemente para que a ralé não os compreenda e para que haja subterfúgios suficientes para que ninguém seja condenado.

                Enfim, Saint of Paul Oco estava submerso, tal qual Atlântida, em local desconhecido. A única maneira de achá-la seria através do faro, não muito aguçado, capaz de reconhecer o parfum L’eau de Merde 13-45.  Segundo especialistas em perfumes e lendas de Saint of Paul Oco o L’eau de Merde já teve várias nuances de odores com números variando entre 11 e 51.  Dizem que, na época da Nova Maré, período como ficou conhecido o governo  após a ditadura submarina, o preferiro era o L’eau de Merde 15...
                O que sabemos é que o nome Anuário, apesar de inapropriado, foi escolhido pois o apelido que ameaçava pegar “ANUZÃO”, passava a sensação de que os políticos estavam “cagando e nadando” na cabeça da ralé marinha.

             Eis que, reflexo de uma nova maré marinha, resultado talvez do El Nino ou do aquecimento global, o anuário chegou aos ouvidos do povo.  Especialistas maledicentes do folclore de Saint of Paul Oco dizem que, na verdade, o escândalo teria emergido pois certo amigo, ex-pseudo-combatente exorcista dos males capitalista,  do Polvo Ignóbius, teria tentado tomar posse de todo o bolo. Evidente que estudiosos sérios do folclore Pauloquino sabem que esta teoria é mentirosa, já que nem Anuário existia, o que existira foi, apenas e tão somente, recursos não contabilizados de campanhas.

                Como resultado do suposto vazamento das falcatruas, que não existiam, em resposta ao clamor público, o STM (supremo tribunal dos mares) teria sido obrigado a levar a julgamento alguns dos protagonistas da estória.    Sabia-se que a mídia classificara o julgamento como o julgamento do ano, e que a glória e a honra do STM estariam em jogo (não que alguém duvidasse da glória e da honra do STM).  Infelizmente, de novo, se perderam os Tomos da estória que relatavam o resultado do julgamento, deixando os estudiosos em polvorosa.

                Felizmente, Jeca, um capiau mineiro, possuidor de grande sabedoria, conhecedor e contador de causos e lendas, depois de termos tomado algumas pingas (6 ou 7 cada um) me confidenciou: a busca pela descoberta do resultado do julgamento é uma grande bobagem, já que nenhum Rei de Saint of Paul Oco seria condenado (posto que nenhum estava relacionado entre os réus) e o status quo  dos políticos e da política seriam mantidos.   Apenas o Anuário mudaria de nome para FPC (financiamento público de campanhas)....

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